Segunda Parte

Por Que Maior Número de Animais Limpos?

Um evidente motivo para colocar dentro da arca maior número de aves e animais limpos, do que de imundos, além da necessidade de preservar algumas dessas criaturas para reprodução e preservação de cada espécie, era que Noé e sua família precisavam de alguns dêles como sacrifício ao Senhor (Gên. 8:20) e outros como alimento (Gên. 9:3 e 4). Animais imundos não eram usados como sacrifícios ou alimento, nem antes nem depois do dilúvio.

Disse o Senhor a respeito do primeiro homem a ser chamado de “hebreu” na Bíblia (Gên. 14: 13): “Abraão obedeceu à Minha palavra, e guardou os Meus mandados, os Meus preceitos, os Meus estatutos e as Minhas leis.” Gên. 26:5. Em vista do que é declarado acêrca dos animais que êle sacrificou a Deus e dos que êle usou como alimento, bem podemos crer que o conjunto de leis sagradas a que Abraão obedeceu tão fielmente abrangia o preceito que fazia distinção entre animais limpos e imundos. Seja como fôr, as provas apresentadas neste artigo mostram que essa lei é mais antiga do que o povo judeu.

Um funcionário do govêrno dos Estados Unidos telefonou-me dizendo que estava almoçando com dois amigos num restaurante em Washington, D. C., e acrescentou: “Em nossa conversação, falamos a respeito dos adventistas do sétimo dia e ficamos com vontade de saber por que êles consideram a carne de porco e de alguns outros animais imprópria para a alimentação. Um de nós julgava saber a razão para isso, e deu sua explicação. O outro amigo apresentou uma explicação diferente. De modo que eu disse: ‘Vou telefonar para êles agora mesmo a fim de deslindar a questão.’ Quer por favor dar-me sua explicação?”

Noutra ocasião, um coronel que ocupa importante posição de comando nas fôrças armadas dos Estados Unidos telefonou dizendo mais ou menos o seguinte: “Desejo que me indiqueis o título de um livro que explique por que os adventistas do sétimo dia crêem que certos animais são próprios para a alimentação, e outros não. Tenho conversado com diversas pessoas de vossa fé, interrogando-as a êsse respeito, mas nenhuma delas pôde dar-me uma explicação clara. Onde posso encontrar um livro que explique claramente a vossa fé e prática quanto a êsse assunto?”

Proteção, Cerimônia, Arbitrariedade

Alguns comentaristas bíblicos ensinam que a lei que fazia distinção entre animais limpos e imundos, no que dizia respeito à alimentação, era um regulamento imposto arbitràriamente por Deus para disciplinar escravos libertados recentemente, que ainda eram pessoas rebeldes. Outros supõem que isso era apenas uma medida cerimonial destinada a ensinar ou ilustrar lições espirituais. Ainda outros afirmam que era um dispositivo legalista dado aos judeus como meio para desenvolverem santidade em resultado da obediência que lhe prestassem. Bem poucos mestres judeus no tempo atul concebem que isso visava proteger ou promover a saúde.

Salvaguarda da Saúde

Os adventistas do sétimo dia crêem que a distinção entre animais limpos e imundos, no tocante a usá-los como alimento, foi estabelecida pelo Senhor como salvaguarda para a saúde de Seu povo. Não cremos que ela fôsse inventada originàriamente para ser arbitrária ou cerimonial em sua aplicação. As Escrituras declaram que “o Senhor dá graça e glória: nenhum bem sonega aos que andam retamente’’ (Sal. 84:11). Em tudo o que Êle exige de nós, e em tudo o que nos proíbe fazer, nosso Pai celestial visa o nosso bem-estar. As seguintes declarações escritas por Ellen G. White expõem a opinião dos adventistas do sétimo dia a respeito do assunto:

“Suas proibições e ordens terminantes não se destinam simplesmente a ostentar Sua autoridade; antes, em tudo que Êle faz, tem em vista o bem-estar de Seus filhos. Êle não exige que êstes abandonem coisa alguma que seria de seu máximo interêsse conservar.” — Patriarcas e Profetas, 2.a ed., pág. 641.

“A distinção entre alimentos limpos e imundos não era um estatuto meramente cerimonial e arbitrário, mas baseava-se em princípios sanitários. À observância desta distinção pode atribuir-se em grande parte a maravilhosa vitalidade que durante milhares de anos tem distinguido o povo judeu.” — Idem, pág. 599.

“Muitos dos artigos de alimentação livremente comidos pelos pagãos que os rodeavam, eram proibidos aos israelitas. Não era que fôsse feita nenhuma distinção arbitrária. As coisas proibidas eram nocivas. E o fato de serem declaradas imundas ensinava a lição de que as comidas prejudiciais são contaminadoras.” — A Ciência do Bom Viver, pág. 280.

“Deus não proibiu que os hebreus comessem carne de porco meramente para mostrar Sua autoridade, mas porque ela não é um alimento apropriado para o homem.” — Counsels on Health, pág. 116.

“Nas instruções dadas por intermédio de Moisés, era proibido comer qualquer coisa imunda. O uso da carne de porco, e da carne de certos outros animais, era proibido, como sendo de molde a encher o sangue de impurezas e abreviar a vida.” — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 460.

“Deus proibiu que se comesse a carne de animais imundos, não para exercer uma autoridade arbitrária, mas para preservar a vida e a saúde de Seu povo. A fim de que retivessem suas faculdades mentais e físicas, era necessário que seu sangue se mantivesse puro pelo uso de alimento simples e saudável. Êle especificou, portanto, os animais menos condenáveis como alimento.” — “Os Pecados dos Fariseus,” em Signs of the Times, 21 de março de 1878, pág. 89.

Não Arbitrário mas Para Nosso Bem

Notai as razões apresentadas nos trechos acima para não se usar como alimento a carne de animais imundos:

  • 1. “As coisas proibidas eram nocivas.”
  • 2. “As comidas prejudiciais são contaminadoras.
  • 3. A carne de porco “não é um alimento apropriado para o homem.”
  • 4. A carne de animais imundos seria prejudicial para os que a ingerissem.
  • 5. As coisas imundas não eram os melhores alimentos.
  • 6. Eram “de molde a encher o sangue de impurezas e abreviar a vida.”

Além disso, a proibição do Senhor no tocante ao uso da carne de animais imundos —

  • 1. Não era uma distinção arbitrária.
  • 2. Não visava a “exercer uma autoridade arbitrária.”
  • 3. Não se destinava simplesmente a “ostentar” a autoridade de Deus.
  • 4. “Não era um estatuto meramente cerimonial e arbitrário.”
  • 5. “Baseava-se em princípios sanitários.”
  • 6. “Para preservar a vida e a saúde de Seu povo.”

O Significado da Visão de Pedro

Um ancião apostatado que se unira a um movimento separado disse-me certo dia, perante um grupo de pessoas, que as referências bíblicas a animais limpos e imundos eram meramente linguagem simbólica. Êle citou a visão de Pedro referente a um lençol cheio de animais imundos (Atos 10:9-15), e como uma voz do Céu lhe disse: “Ao que Deus purificou não consideres comum.” Verso 15. Mais tarde Pedro explicou essa parte, dizendo: “Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo.” Verso 28. “Portanto — disse o ancião apostatado — quando a Bíblia fala de animais imundos, refere-se a pecadores, a pessoas cujo coração é impuro devido ao pecado.”

Comentando a visão de Pedro, declara o Espírito de Profecia: “Alguns têm asseverado que esta visão foi dada para indicar que Deus removera Sua proibição no tocante ao uso da carne de animais que Êle antigamente declarara imundos; e que, portanto, a carne de porco era própria para a alimentação. Esta é uma interpretação muito estreita e completamente errônea, e é claramente refutada no relato escriturístico da visão e de suas conseqüências.” — The Spirit of Prophecy, Vol. 3, págs. 327 e 328. The Story of Redemption, pág. 285.

Pedi que aquêle homem volvesse a atenção para Gênesis 7:2, 3, 8 e 9, e explicasse por que o Senhor queria que Noé preservasse na arca, durante o dilúvio, dois pares de cada espécie de animal imundo, se com semelhante linguagem Êle Se referia a homens e mulheres pecadores. Solicitei-lhe também que procurasse Gênesis 8:20 e explicasse, de acôrdo com a sua teoria, por que Noé, “tomando de animais limpos e aves limpas, ofereceu holocaustos sôbre o altar,”’ se tais animais em realidade eram pessoas cujos corações eram puros. Depois de gaguejar por alguns instantes, o homem confessou que não sabia explicar êsses textos.

Na visão simbólica dada a Pedro (Atos 10:9-15 e 28), os animais imundos purificados pelo Senhor representavam pecadores gentios cujos corações o Senhor purificara do pecado, mas que certos judeus cristãos e não cristãos consideravam comuns ou imundos (Atos 10:28; 11:1-18). Entretanto, o próprio apóstolo Pedro disse: “Jamais comi coisa alguma comum e imunda.” Cap. 10:14. Ao dizer isso, êle era um ministro, que Cristo ordenara para apóstolo uns dois anos antes de Sua morte.

Em S. Mateus 23:24 Jesus fala de certos mestres religiosos que coavam um “mosquito” e enguliam um “camelo.” O significado dessa declaração é muito bem apresentado neste comentário de Ellen G. White:

“Os judeus liam nos preceitos dados por Moisés que não se devia comer coisa alguma que fôsse imunda. Deus especificara os animais que eram impróprios como alimento, e proibira o uso da carne de porco e de alguns outros animais, como sendo de molde a encher o sangue de impurezas e abreviar a vida. Mas os fariseus não deixaram essas restrições como Deus as ordenara. Foram a extremos injustificáveis. Entre outras coisas, tinha o povo que coar tôda a água de uso, não contivesse ela o mais pequenino inseto, o qual poderia ser classificado entre os animais imundos. Jesus, comparando essas fúteis exações de limpeza exterior com a magnitude de seus pecados reais, disse aos fariseus: ‘Condutores cegos! que coais um mosquito e engulis um camelo.’” — The Spirit of Prophecy, Vol. 3, págs. 63 e 64. Ver também O Desejado de Tôdas as Nações, págs. 460 e 461.

“Os dirigentes judeus que se deleitavam em ensinar e ministrar a lei, levaram as proibições de Deus a extremos desarrazoados, tornando a vida um fardo de cerimônias e restrições….”’ — “Os Pecados dos Fariseus,” em Signs of the Times, 21 de março de 1878, pág. 89.