Deus nos fala em Sua Palavra acêrca de duas grandes ceias, a saber: “A ceia das bodas do Cordeiro” e “a ceia do Grande Deus.” Cada uma é distinta, e não podem ser comparadas e muito menos confundidas uma com a outra.

Ambas são realizadas ao mesmo tempo, mas não no mesmo lugar. Uma é ordenada, solene, luminosa, alegre. A outra é desordenada, fúnebre, lúgubre, desoladoramente macabra.

Em ambas, os convidados nada precisam pagar para ter direito ao banquete. Só lhes é necessário aceitar o convite, visto que tudo o mais será preparado generosa e abundantemente pelo convidador.

O filho de Zebedeu, referindo-se à ceia das bodas do Cordeiro, declara o seguinte: “Bem-aventurado os que são convidados ao banquete das bodas do Cordeiro.” 1 Menciona, além disso, que o prelúdio dêsse acontecimento é cheio de regozijo, tanto da parte dos convidados como da parte do Anfitrião: “Saiu uma voz do trono, exclamando: Dai louvores ao nosso Deus, todos os Seus servos, os que O temeis, os pequenos e os grandes. Então ouvi uma voz de numerosa multidão, como de muitas águas, e como de fortes trovões, dizendo: Aleluia! pois reina o Senhor nosso Deus, o Todo-poderoso. Alegremo-nos, exultemos, e demos-Lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja espôsa a si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. 2

Quem não se enche de regozijo diante de uma perspectiva tão gloriosa? Só há alegria nos corações dos convidados que por séculos têm tido a “bem-aventurada esperança” 3 como seu mais precioso anelo. Que espetáculo suntuoso não será a ceia das bodas do Cordeiro — a volta completa dos pródigos ao celestial lar paterno!

E qual é o número dos convidados ali presentes? Quem são êles? O vidente de Patmos menciona que os convidados para essa ceia das bodas são uma “grande multidão que ninguém podia enumerar, de tôdas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas.”4

Assim, portanto, o número dos convidados ali presentes excede o limite de nossa compreensão. São os remidos de todos os tempos e idades, de cada nação, tribo, língua e povo. São os salvos que em tôdas as épocas “não amaram as suas vidas até à morte.” 5 São aquêles em cujas bocas “não se achou mentira.” 6 São aquêles cujos nomes estão “inscritos no Livro da Vida do Cordeiro.” 7 São os que “dentre os homens foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro.” 8 São os que mediante a graça de Deus alcançaram vitória sôbre a bêsta, e sôbre sua imagem, sôbre o seu sinal e sôbre o número do seu nome.9 São os resgatados do Senhor que voltam a Sião com júbilo. 10 Digna companhia para o banquete celestial das bodas do Príncipe dos Céus, Cristo Jesus, o Cordeiro de Deus!

Deixemos, no entanto, por um momento as alegrias e maravilhas dessa ceia portentosa, e demos uma rápida olhada à outra: “A ceia do grande Deus.”

Para ambas as ceias é feito um solene convite. À primeira não assistem todos os que foram convidados, porque menosprezaram os preparativos, a provisão cruenta e o convite pessoal do próprio Cordeiro. À outra ceia, porém, a do grande Deus, é a única a que assistem todos os convidados. Nesta ceia, cada convidado será um conviva, pois os múltiplos convidados, sem faltar um só, comparecerão ao banquete sem igual.

O mesmo apóstolo amado faz referência ao convite divino para êsse estranho e pavoroso festim. “Então vi um anjo posto em pé no Sol, e clamou com grande voz, falando a tôdas as aves que voam pelo meio do céu: Vinde, reuni-vos para a grande ceia de Deus (a versão de Almeida, antiga diz: ajuntai-vos à ceia do grande Deus).” 11

Assim, os convidados de Deus para Sua ceia, são as aves do céu, as quais sempre têm demonstrado estar mais dispostas a obedecer a seu Criador, do que os sêres humanos. Tal disposição inata de obediência ao Altíssimo foi por elas demonstrada em tempos passados, quando a arca salvadora as convidou a abrigar-se contra a fúria do dilúvio, e, em contraste com a atitude dos homens, obtiveram amparo na proteção divina, por atender obedientemente ao chamado. Agora, portanto, em virtude do convite divino, afluem em bandos incontáveis ao banquete preparado para elas.

O profeta Ezequiel, filho de Buzi, comentando êste chamado, declara: “Assim diz o Senhor Deus: Dize às aves de tôda espécie, e a todos os animais do campo: Ajuntai-vos e vinde, ajuntai-vos de tôda parte para o Meu sacrifício, que Eu oferecerei por vós, sacrifício grande. . e comereis carne e bebereis sangue. Comereis a carne dos poderosos e bebereis o sangue dos príncipes da Terra…. Comereis a gordura até vos fartardes e bebereis o sangue até vos embriagardes. À Minha mesa vós vos fartareis de cavalos e de cavaleiros, de valentes e de todos os homens de guerra, diz o Senhor Deus.12

Nunca dantes as aves do céu e as feras estiveram nem estarão tão bem servidas e com tanta abundância e profusão de alimento. Isto será retribuição justa àqueles que outrora tinham prazer em fazer dos cristãos comida para as feras.

Os imperadores e déspotas que no passado se deleitavam com os sofrimentos dos que expunham às feras, são agora deleite do instrumento que êles mesmos utilizavam para torturar os convidados à ceia das bodas do Cordeiro. Servem de pasto para as feras e as aves do céu na ceia do grande Deus Todo-poderoso.

Mas alguém mais está presente nesse insólito festim. Como figuras tétricas, Satanás e sua hoste de anjos maus deambulam entre os convidados para essa ceia macabra, não se deleitando mais em sua funesta obra realizada durante milênios, porém refletindo trementes e aterrados e talvez arrependidos, embora demasiado tarde, por haverem lançado sua sorte com a rebelião e o engano; e por sua própria determinação e culpa se vêm agora privados de outro festim, que em nada se compara com êsse banquete fétido e macabro do qual êles mesmos são artífices e testemunhas.

Quão diferentes uma da outra são, pois, essas ceias! Aqui desolação e pestilência; no alto, regozijo e felicidade eternamente incomparáveis. Aqui, obscuridade e caos; no alto, luz e perfeição. Aqui, nenhuma expressão de alegria e prazer, nenhum brado de triunfo; só de vez em quando os grasnidos de aves enfastiadas e o rugido abafado de feras que, satisfeitas e saciadas, pisoteiam os que menosprezaram o gracioso convite do Cordeiro e recusaram assistir à ceia de Suas bodas, preferindo ser alimento das feras e das aves do céu na ceia do grande Deus.

Que contraste abismai com a outra ceia, a ceia das bodas do Cordeiro! E pensar que aquêles que servem de alimento no festim horripilante, também tiveram a oportunidade de estar no mesmo tempo sentados como convivas diante da argentífera e reluzente mesa quilô métrica do Cordeiro! 13

Realmente, “bem-aventurados aquêles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro.” 14 Nenhuma sombra de tristeza empana o rosto de convidado algum, porque desta festa “fugirá a tristeza e o gemido,” 15 e o Anfitrião, o próprio Cordeiro, Cristo Jesus, teve o cuidado especial de enxugar tôda lágrima dos olhos de cada um dos convidados. 16 A morte e a dor, o pranto e a aflição que por milênios êles tiveram de suportar, desapareceram agora para sempre, e em lugar dessas aflições, inexprimível alegria inunda a cada um dos assistentes, e a gratidão se torna palpável em suas expressões de júbilo e prazer. Que contraste radical entre um banquete e o outro!

Vejamos como expressam sua alegria e felicidade êsses convivas privilegiados: “A salvação, e a glória e o poder são do nosso Deus…. Dai louvores ao nosso Deus, todos os Seus servos, os que O temeis, os pequenos e os grandes. . . . Aleluia! pois reina o Senhor nosso Deus, o Todo-poderoso.” 17

Um momento, porém! Talvez nos estejamos adiantando demais, sem considerar os preparativos e o grandioso e incalculável preço que essa ceia extraordinária significou para o Invitante.

É verdade que para a divindade nada é difícil, mas essa suntuosa ceia exigiu séculos de preparação, e através dêles, milhares de convidados foram escolhidos, e outros foram rejeitados. Em realidade, como dissera o próprio Cordeiro, “muitos são chamados, mas poucos escolhidos.”18 A realização dessa maravilhosa ceia, depois de cuidadosa preparação, é a culminação feliz de um plano divino, de um plano maravilhoso que custou à Divindade o que havia de mais precioso.

O próprio Cordeiro, por extrema condescendência, teve de vir “buscar e salvar o perdido.”19 Sua graça benevolente foi tal que, por amor de Seus convidados para a ceia de Suas bodas, “sendo rico, Se fêz pobre,” “para que pela Sua pobreza” êles se tornassem “ricos.” 20 Incomparável condescendência essa, de esvaziar-Se a Si mesmo “assumindo a forma de servo” e “tor-nando-Se em semelhança de homens.”21

Essa misteriosa metamorfose é tanto mais admirável quando se considera que “teria sido uma quase infinita humilhação para o Filho de Deus, revestir-Se da natureza humana mesmo quando Adão permanecia em seu estado de inocência, no Éden. Mas Jesus aceitou a humanidade quando a raça havia sido enfraquecida por quatro mil anos de pecado. Como qualquer filho de Adão, aceitou os resultados da operação da grande lei da hereditariedade.”22 De tal maneira o próprio Pai amou os convidados de Seu Filho, que permitiu que Êle viesse como “impotente criancinha, sujeito à fraqueza da humanidade . . ., com risco de fracasso e ruína eterna.” 23

Contudo, essa permuta do glorioso pelo vil, do poderoso pelo débil, do celestial pelo terreno, do divino pelo humano, foi apenas o comêço dêsse sublime drama de resgate, pois o Cordeiro, “reconhecido em figura humana, a Si mesmo Se humilhou, tornando-Se obediente até à morte, e morte de cruz.”24 E que morte foi aquela! Teve razão o apóstolo ao escrever: “Grande é o mistério da piedade.” “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos e quão inescrutáveis os Seus caminhos!” 25

“Jamais poderá o preço de nossa redenção ser avaliado enquanto os remidos não estiverem com o Redentor ante o trono de Deus. Então, ao irromperem as glórias do lar eterno em nossos arrebatados sentidos, lembrar-nos-emos de que Jesus abandonou tudo isso por nós, que Êle não sòmente Se tornou um exilado das cortes celestiais, mas enfrentou por nós o risco da derrota e eterna perdição.” 26

Um cruento caudal carmesim fluiu torrencialmente do Cordeiro de Deus, como preço exigido para a realização dessa ceia, visto que cada convidado teve que passar através dela para a devida justificação e purificação de sua vida,27 condição esta, sem a qual convidado algum poderia participar do banquete celestial. Todos esses ditosos convidados “lavaram suas vestiduras, e as alvejaram no sangue do Cordeiro.”28 “Trajados com as vestes gloriosas da justiça de Cristo, participarão da ceia do Rei. Têm o direito de associar-se com a multidão lavada no sangue.” 29 Essa condição é muito justa e razoável, pois “nenhum traje mundano pode ser usado por quem se assentar com Cristo e os anjos na ceia das bodas do Cordeiro.” 30

Pouco antes de pagar êsse preço incomensurável, o artífice da ceia quis mostrar a alguns convidados uma miniatura de Sua futura festa nupcial. Disse portanto para aquêles que escolheu para essa ocasião: “Tenho desejado ansiosamente comer convosco está páscoa, antes do Meu sofrimento. Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus.” 31

Aquêles convidados nem sequer imaginavam estar representando um acontecimento grandioso: a ceia das bodas do Cordeiro. E o paciente Mestre procurou ensinar-lhes que isso era apenas uma minúscula e pálida representação do que um dia seria a mais grandiosa ceia do universo. “E digo-vos — explicou o Cordeiro — que, desta hora em diante, não beberei dêste fruto da videira, até aquêle dia em que o hei de beber, nôvo, convosco no reino de Meu Pai.” 32

Todavia, até essa representação em nada se iguala à realidade, exceto que em ambas o próprio Cordeiro é o servidor.

Aquela noite, houve doze convidados que, tristes e pesarosos, ocuparam silenciosamente os seus lugares. A inveja roía seus corações orgulhosos, mostrando assim que muito tinham que compreender e percorrer ainda para um dia sentar-se novamente, não no aposento elevado, mas no Reino celestial, na refulgente mesa do Cordeiro. Êsses ditosos convidados desfrutarão da realidade, não com tristeza e inveja, mas alegres e agradecidos; não com o Mestre que estava “profundamente triste até à morte,” mas com o Cordeiro que, “com exultação,” os apresentará “imaculados diante da Sua glória;”33 não mais diante da sombria perspectiva de perderem a Seu amado Mestre, mas alegres e felizes, por saberem que “o Cordeiro que Se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida.” 34 Daí para a frente jamais serão destituídos de Sua presença, pois sempre “contemplarão a Sua face, e nas suas frontes está o nome dÊle.” 35

Um dos doze, porém, não estará presente ao banquete celestial. Embora participasse da representação e ouvisse o amorosso convite pessoal do Cordeiro, desatendeu obstinadamente o chamado divino e o menosprezou. Por isso, seu lugar e sua coroa pertencem agora a outra pessoa, e êle está noutra grande ceia, como pasto para as feras. Esta é uma solene advertência para nós hoje em dia, pois não só Judas Iscariotes estará ali, mas todos aquêles que, como êle, desprezaram o convite. “Os que rejeitam o dom da justiça de Cristo estão rejeitando os atributos de caráter que os constituiríam filhos e filhas de Deus. Rejeitam aquilo que, unicamente, lhes poderia conceder aptidão para um lugar na ceia de bodas.” 36

Quão oportunas são as palavras do apóstolo de Tarso: “Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos.”37 Sim, é necessário, é indispensável que com mais amor, com maior desejo, atendamos o incessante convite do Cordeiro: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com êle e êle comigo.”38 Não é suficiente ouvir o Seu chamado, pois todos o ouvirão; o importante é nossa atitude para com êsse chamado do Cordeiro. “Se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, . . . cearei com êle e êle comigo.” Em outras palavras, êle estará com Jesus na ceia de Suas bodas.

Estas são as duas ceias que Deus revela em Sua Palavra. Só podemos assistir voluntáriamente a uma delas, pois a “pavorosa alternativa para comer na ceia das bodas do Cordeiro é ser comido pelas aves do céu na ‘ceia do grande Deus.’” 39 Se não aceitarmos o bondoso e amável convite do Rei celestial para estar presentes a Sua ceia, teremos de atender invariàvelmente ao chamado imperativo da outra. A qual destas ceias assistiremos nós?

O Cordeiro fêz tôda a preparação necessária para estarmos presentes na ceia de Suas bodas. “O vestido de bodas provido com infinito custo, é oferecido liberalmente a tôda alma. Pelos mensageiros de Deus nos são expostas a justiça de Cristo, a justificação, as excelentes e preciosas promessas da Palavra de Deus, o livre acesso ao Pai por Cristo, o conforto do Espírito, e a bem fundada certeza da vida eterna no reino de Deus. Que poderia Deus fazer por nós, que não tenha feito em prover a grande ceia, o banquete celestial?” 40

Tu e eu também devemos estar presentes com o Cordeiro, na grandiosa ceia de Suas bodas.

Referências

  • 1. Apocalipse 19:9, Versão Católica de Nácar-Colunga.
  • 2. Apocalipse 19:5-7.
  • 3. Tito 2:13.
  • 4. Apocalipse 7:9.
  • 5. Apocalipse 12:11, Versão de Almeida, antiga.
  • 6. Apocalipse 14:5.
  • 7. Apocalipse 21:27.
  • 8. Apocalipse 14:4.
  • 9. Apocalipse 15:2.
  • 10. Isaías 51:11.
  • 11. Apocalipse 19:17.
  • 12. Ezequiel 39:17-20 (Ver também Apocalipse 19:17, 18 e 21.)
  • 13. Ellen G. White, Testimonies, Vol. 1, pág. 69.
  • 14. Apocalipse 19:9.
  • 15. Isaías 35:10.
  • 16. Apocalipse 21:4
  • 17. Apocalipse 19:1-7.
  • 18. S. Mateus 22:14.
  • 19. S. Lucas 19:10.
  • 20. II Coríntios 8:9.
  • 21. Filipenses 2:7.
  • 22. Ellen G. White, O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 33.
  • 23. Idem, pág. 34.
  • 24. Filipenses 2:8.
  • 25. I Timóteo 3:16; Romanos 11:33.
  • 26. Ellen G. White, op. cit., pág. 92.
  • 27. Apocalipse 1:5.
  • 28. Apocalipse 7:14.
  • 29. Ellen G. White, Parábolas de Jesus, pág. 315.
  • 30. Idem, pág. 311.
  • 31. S. Lucas 22:15 e 16.
  • 32. S. Mateus 26:29.
  • 33. S. Judas 24.
  • 34. Apocalipse 7:17.
  • 35. Apocalipse 22:4.
  • 36. Ellen G. White, Parábolas de Jesus, pág. 316.
  • 37. Hebreus 2:1.
  • 38. Apocalipse 3:20.
  • 39. The SDA Bible Commentary, Vol. 7, pág. 875.
  • 40. Ellen G. White, Parábolas de Jesus, pág. 317.