(Conclusão)

Os Pontos de Vista de White e Smith

A principal diferença entre os pontos de vista dos pastôres White e Smith quanto aos eventos escatológicos, centralizava-se em sua identificação do rei do Norte. Suas opiniões a respeito do rei do Norte e do Armagedom eram as seguintes:

Tiago White cria que antes de fechar-se a porta da graça haveria grande agitação política e sentimentos hostis entre as nações. Parece ter acreditado que antes de Roma pagã e papal (o rei do Norte) chegar ao fim, ela mudaria sua sede para os Estados Unidos. Achava que depois de Jesus haver saído do santuário celestial e fechar-se a porta da graça, seriam derramadas as sete últimas pragas. Estas pragas causariam perturbação entre as nações, o que implicaria em guerra, no entanto, mesmo que tôdas as nações se envolvessem nessa guerra, White achava que ela não seria a batalha do Armagedom. Êle afirmava que na sexta praga a Turquia (o Eufrates) chegaria ao fim, e depois então os espíritos do espiritismo (os três espíritos imundos) sairiam do dragão (paganismo?), da bêsta (a igreja papal), e do falso profeta (o protestantismo apostatado?), para ajuntar os reinos da Terra num ataque contra Cristo. Parece que êle imaginava ser esta uma reunião de mentalidades em oposição a Cristo e Seu povo, e não um ajuntamento de fôrças militares em determinada localização geográfica. Na subseqüente batalha do Armagedom os ímpios seriam derrotados pela terrível glória consumidora de Cristo. De acôrdo com sua opinião, o local do Armagedom era simplesmente a região em que Cristo descería em Sua segunda vinda.

Urias Smith acreditava que antes do término da graça, a Turquia (o rei do Norte) seria compelida a mudar sua capital de Constantinopla para Jerusalém. Esta transferência tornaria a Terra Santa o grande pomo de discórdia entre as corporações religiosas, latinas, gregas e maometanas, e resultaria numa guerra em que a Turquia encontraria ràpidamente o seu fim. Smith não equiparava essa guerra ao Armagedom. Pouco depois do fim da Turquia fechar-se-ia a porta da graça e as pragas começariam a cair. (Alguns anos antes de morrer, Smith mudou sua opinião a respeito dêste ponto e ensinou que o fim da Turquia ocorrería durante a sexta praga.) Sob a sexta praga, tudo o que se relacionava com a Turquia e constituía um obstáculo às nações, podêres e reinos situados ao Oriente da Palestina seria inteiramente consumido, e abrir-se-ia o caminbo para as nações orientais (os reis do Oriente) a fim de se dirigirem a Oeste, em direção à Palestina. Os espíritos de demônios procedentes do paganismo (o dragão), do Papado (a bêsta) e de um protestantismo inerte e apostatado (o falso profeta) instigariam então as nações a convergirem para a Palestina durante a posse dessa terra e dos santos sepulcros. Êste seria o evidente objetivo da reunião das nações na Palestina. O propósito oculto seria para poderem batalhar contra o Senhor dos exércitos na Segunda Vinda. Para Smith, o Armagedom seria um conflito entre o paganismo, o papado e o protestantismo apostatado, por um lado, e Cristo, por outro lado, na ocasião em que fôsse derramada a sétima praga.

É interessante notar que Smith e White estão em virtual acôrdo no que diz respeito ao tempo, aos antagonistas e ao resultado da batalha: Ela realizar-se-ia por ocasião do Segundo Advento, os an agonistas seriam Cristo e Satanás e, como resultado da batalha, os ímpios seriam derrotados. Havia alguma divergência no tocante ao local e o desígnio da reunião dos ímpios para a batalha. Smith afirmava que a reunião ocorreria na Palestina com o evidente objetivo de tomar posse des a terra, mas com o propósito oculto de batalhar contra Cristo. White asseverava que a reunião seria um ajuntamento de mentalidades com o propósito de opor-se a Cristo, e que isto culminaria na destruição dos ímpios no Segundo Advento. Infelizmen e, o Pastor White não enunciou os pormenores de seu ponto de vista com tanta clareza como Urias Smith; portanto, não é possível descrever sua opinião com tanta certeza como a de Smith.

Era a respeito da identificação do rei do Norte que Smith e White discordavam completamente. Conforme foi mostrado, Smith afirmava que êsse poder era a Turquia; White interpretava-o como sendo o papado.

O Período de Smith

Quando Tiago White faleceu, em 1881, os pontos de vista de Smith acêrca do Armagedom e o rei do Norte, que já eram dominantes, continuaram a ser o conceito-padrão dos adventistas do sétimo dia, quanto a êsses ensinos. A bem dizer, todos os nossos escritores, de 1871 a 1940, serviram-se dos postulados de Smith, que declaravam ser a Turquia o rei do Norte e que as nações se ajuntariam na Palestina para a batalha do Armagedom. Isto não significa, porém, que o período de Smith se estendeu de 1871 a 1940. Smith sempre afirmou que as nações se reuniríam simplesmente na Palestina durante a sexta praga e que o Armagedom — uma peleja entre Cristo e as fôrças do mal — não seria travado antes da sétima praga. Êle não ensinava que o Armagedom seria um grande conflito militar na Palestina. Ensinava, porém, que a Turquia chegaria ao fim numa guerra internacional na Palestina, mas acreditava que essa guerra ocorrería antes de fechar-se a porta da graça. Destarte, pode-se dizer que o período de Smith durou até estabelecer-se o ponto de vista de que o Armagedom implicaria um grande conflito internacional na Palestina. Isto sucedeu por volta de 1903.

O Segundo Período de Transição

Durante os últimos dez ou quinze anos do século dezenove houve por parte dos que escreviam sôbre o Armagedom e o rei do Norte, a crescente tendência de salientar a guerra em que a Turquia chegaria ao fim. Entretanto, com ‘raras exceções, êles não igualavam essa guerra com o Armagedom.

Em 1903, o ano em que faleceu Urias Smith, W. A. Spicer, que naquela ocasião era um dos redatores da Review and Herald e que mais tarde foi presidente da Associação Geral, tornou-se o principal defensor do ponto de vista de que o Armagedom abrangia um grande conflito internacional na Palestina, após o término da graça. Êste conceito não sofreu oposição, e pouco a pouco foi aceito pela maioria dos adventistas do sétimo dia. Por volta de 1913 tornara-se o ponto de vista denominacional.

Antes de começar a descrever o terceiro período do ensino dos ASD quanto ao Armagedom, será bom considerar um breve interlúdio.

O Interlúdio de Jones

Alonzo T. Jones foi o redator-chefe da Review and Herald de 1897 a 1901. Durante êsse tempo êle introduziu o conceito um tanto singular de que as nações européias e o Japão, que então procuravam dividir a China, e os Estados Unidos, que então se imiscuíam nas Filipinas, eram os reis do Oriente, e que pela divisão da China estava sendo preparado o seu caminho para a futura batalha do Armagedom. Posteriormente Jones identificou êsses reis do Oriente como sendo os reis da Terra e do mundo todo. Esta opinião não subsistiu nem causou impressão duradoura em nossos ensinos. Logo que Urias Smith reassumiu a liderança do órgão oficial da igreja, em 1901, desapareceu êste ponto de vista.

O Terceiro Período

Embora Spicer ensinasse que o Armagedom era um grande conflito militar e internacional centralizado na Palestina, êle também ensinava que no seu ponto culminante Cristo interviria do Céu, por ocasião do Segundo Advento. No entanto, êle não realçava êste último aspecto, e os que adotaram o seu parecer acêrca de um Armagedom militar realçaram-no menos ainda. Durante a Primeira Guerra Mundial e vários anos depois, êle foi olvidado quase por completo.

Quando irrompeu a Primeira Guerra Mundial, muitos estadistas e observadores políticos referiam-se a ela como o Armagedom. Os dirigentes da Igreja Adventista do Sétimo Dia rejeitaram unànimemente esta identificação. Mas quando a Turquia entrou na guerra, no fim de 1914, e o Lorde Asquith, primeiro ministro britânico, declarou que a Turquia tocou seu próprio dobre de finados, começamos a pregar que o seu fim estava iminente e que a guerra de então se transformaria no Armagedom. Na verdade, parecia que as predições que havíamos feito durante anos estavam a ponto de se cumprir, especialmente durante a primeira parte de 1917. A guerra estava sendo desfavorável para os turcos, esboçava-se uma peleja nas proximidades de Jerusalém, e dizia-se que os turcos pretendiam mudar sua capital para fora de Constantinopla.

Então, porém, Jerusalém foi conquistada em 9 de dezembro de 1917, depois de breve luta, e se tornou evidente que os turcos não conseguiríam transferir sua capital para aquela cidade em futuro previsível. Menos de um ano depois, assinou-se o armistício pelos Podêres Centrais, mas a Turquia reencetou a peleja, primeiro sob a autoridade do • sultão e depois sob os nacionalistas.

Em outubro de 1922 o Império Otomano chegou ao fim, mas de suas cinzas emergiu a vigorosa e desafiante República da Turquia que pugnou pela vitória e impôs os têrmos de paz do Tratado de Lausanne, no verão de

  • 1923.  Finalmente, no início de março de
  • 1924, a Turquia aboliu o califado, repelindo assim a liderança espiritual do maometismo, que ela mantivera durante séculos.

O Terceiro Período de Transição

Esta sucessão de acontecimentos fêz com que alguns de nosso povo reconsiderassem a opinião que então preconizávamos, a saber, que a Turquia era o rei do Norte. Dentro em pouco uma minoria renovou a idéia de que o papado era o rei do Norte. A maioria dos adventistas do sétimo dia continuaram no entanto a manter o outro ponto de vista, mas agora a ênfase em nosso ensino consistia em ser o Armagedom uma peleja militar do Oriente contra o Ocidente, na Palestina, com a intervenção de Cristo no final. Essa ênfase por certo surgiu devido à crescente beligerância do Japão, o despertamento e o tumulto na China durante a década de 1920, e a ameaça do comunismo russo, no mesmo período. Mas na metade da década de 1930, quando começaram a formar-se e consolidar-se as coligações políticas que levaram à Segunda Guerra Mundial, evidenciou-se que as linhas separatórias entre as grandes potências do mundo não eram o Oriente contra o Ocidente, mas o Eixo contra os Aliados. Por isso, salientou-se cada vez mais a parte de Cristo no Armagedom. Afinal alguns excluíram totalmente o conflito militar e interpretaram o Armagedom como a última grande luta entre Cristo e Seus seguidores e Satanás e seus seguidores. Os debates entre os defensores dêsses pontos de vista durante as décadas de 1940 e 1950 foram um tanto acalorados, mas gradualmente o nôvo conceito foi atraindo cada vez mais aderentes, até tornar-se, com certas modificações, o ponto de vista denominacional por volta de 1952.

O Quarto Período

A opinião mantida pela maioria dos ASD desde 1952 é que o Armagedom abrange tanto uma batalha física como uma batalha entre os seguidores de Cristo e os de Satanás, mas que a principal questão é a grande controvérsia entre o bem e o mal. Alguns de nosso povo tendem a realçar os aspectos físicos dêsse ponto de vista, ao passo que outros realçam a luta entre as fôrças do bem e as do mal.

Cuidadosa análise dessas ênfases revela que os seus defensores não querem dizer a mesma coisa ao falarem de batalha “física.” Os que salientam os aspectos físicos do Armagedom comumente indicam um grande combate militar e internacional na Palestina, antes do Segundo Advento ou por ocasião dêle; já os que salientam o conflito entre as fôrças do bem e as do mal indicam em geral a matança dos ímpios sôbre tôda a Terra por mútua peleja entre êles depois que Cristo aparecer nas nuvens do céu. .

Em conseqüência da recente guerra no Oriente Médio, tem havido nôvo interêsse entre nosso povo no tocante ao que ensinamos a respeito do Armagedom e o rei do Norte. Por esta razão, convém que todo adventista do sétimo dia esteja inteirado do que ensinamos sôbre êstes assuntos no passado, bem como do que o Espírito de Profecia diz a seu respeito. Assim fazendo, obteremos uma visão mais clara da natureza dessa batalha. Isto nos ajudará a evitar algumas das ciladas que afligiram nossos antepassados, e nos habilitará ao mesmo tempo a dar relevância a nossa mensagem.