Pergunta 29

Os adventistas do sétimo dia são acusados freqüentemente de ensinar que a expiação não foi completada na cruz. Essa acusação é verdadeira?

A resposta a esta pergunta depende da definição dada ao vocábulo “expiação.” E ta palavra ocorre apenas uma vez no Nôvo Testamento (Rom. 5:11, em inglês), e é a tradução de katallage, que significa “reconciliação,” conforme é vertida em outros lugares (Rom. 11:15; II Cor. 5:18 e 19). O verbo katallasso ocorre seis vêzes, e sempre é traduzido por “reconciliar” (Rom. 5:10; I Cor. 7: 11; II Cor. 5:18-20). Katallage também deveria ser traduzido por “reconciliação” em Rom. 5:11 (como fêz a Edição Revista e Atualizada no Brasil).

A palavra “expiação” é muito mais freqüente no Antigo Testamento. Apresenta-se amiúde na expressão verbal “fazer expiação” (Lev. 1:4; Êxo. 29:36), mas ocasionalmente também aparece na forma do substantivo “expiação” (Lev. 23:27 etc.). O verbo é a tradução duma forma intensiva da palavra hebraica kaphar, que essencialmente significa “cobrir.” A forma simples encontra se em Gênesis 6:14, e embora tenha sido traduzida por “calafetar,” significa realmente “cobrir.” Imagina-se, portanto, que o significado fundamental da “expiação,” da maneira como esta palavra é empregada no Antigo Testamento, seja cobrir o pecado. Disto originaram-se as expressões derivadas: “reparar,” “endireitar,” “expiar,” “fazer expiação.”

Nos círculos teológicos o vocábulo “expiação” recebeu um sentido técnico e em geral é usado para descrever o efeito remidor da encarnação, dos sofrimentos e da morte de Cristo. Nem todos os cristãos estão concordes no tocante ao que foi efetuado por êsses acontecimentos da vida de Cristo, e mantêm portanto diversas teorias acêrca da expiação.

É pois necessário esclarecer qual o aspecto da expiação que é considerado em qualquer declaração concernente ao assunto.

Por via de regra, os que ensinam que na cruz foi efetuada uma completa expiação, encaram a expressão em seu sentido teológico popular, mas em realidade o que querem dizer é que no Calvário foi oferecido por nossa salvação o todo-suficiente sacrifício expiatório de Cristo. Com êste conceito concordam de bom grado todos os verdadeiros cristãos. “Temos sido santificados mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por tôdas.” Heb. 10:10. Aquêles que consideram êste aspecto da obra de Cristo como uma expiação completa, aplicam êste têrmo apenas ao que Cristo realizou na cruz. Não incluem em sua definição a aplicação ao pecador individual, dos benefícios da expiação efetuada na cruz.

No entanto, há os que crêem que a expiação possui um significado muito mais amplo. Concordam plenamente com aquêles que dão ênfase a uma expiação completa na cruz, no sentido de um sacrifício expiatório todo-suficiente pelo pecado, feito uma vez por tôdas. Crêem que nada menos do que isso ocorreu na cruz do Calvário.

Não obstante, acreditam que no antigo ritual alegórico do santuário são apresentados outros aspectos da expiação. No sacrifício da manhã e da tarde êles contemplam uma expiação sacrifical provida para todos os homens. (Êxo. 29:38-42). Na oferta pessoal do próprio pecador êles divisam uma expiação sacrifical apoderada pelo indivíduo (Lev. 4:31). Havia então o grandioso clímax no Dia da Expiação — um dia de juízo — quando se lidava definitiva e terminantemente com o pecado. Êles crêem todos que êstes rituais antigos eram figuras da obra de Cristo. Os sacrifícios da manhã e da tarde e as ofertas individuais pelo pecado apontavam para o sacrifício de nosso Salvador na cruz do Calvário. O ministério do sacerdote nesses rituais apontava para o elevado ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial, onde Êle aplica ao pecador individual os benefícios do sacrifício expiatório. E crêem também que as cerimônias do Dia da Expiação apontavam para a obra a ser efetuada no que êles chamam de Juízo Investigativo, que culminará na definitiva obliteração da iniqüidade, no fim do período de mil anos. — Questions on Doctrine, págs. 339-343.