(Continuação)

  • 4. NÃO CORRESPONDE ÀS ESPECIFICAÇÕES DE DANIEL 7. — Os adventistas do Sétimo Dia rejeitam a aplicação a Antíoco da ponta pequena de Daniel 7, por diversas razões:
  • a. Antíoco pertencia ao terceiro império na verdadeira seqüência histórica desde o tempo de Daniel.
  • b. O quarto animal tinha dez pontas (vers. 7, 19 e 20), mas o animal grego-macedônico, a que pertencia Antíoco, teve quatro divisões, que no capítulo 8 são descritas como quatro pontas. Na verdade, os dois símbolos não precisam estar forçosamente de acôrdo, mas a discrepância está entre o número autêntico de divisões que sucederam ao império original.
  • c.  Antíoco não surgiu depois de dez reis (vers. 24). Foi apenas o oitavo na dinastia-selêucida (síria). Além disso, a profecia requer pontas contemporâneas, não sucessivas.
  • d. Êle não era “diferente” de seus predecessores (vers. 24).
  • e. É impossível encontrar três dentre dez reis que foram “arrancados” ou subjugados antes dêle (vers. 8 e 24); os que pretendem fazê-lo, citam apenas aspirantes que nunca foram reis autênticos. *
  • f. Êle não era mais “robusto” do que os demais (vers. 20); não era o maior de sua dinastia; seu pai, não êle, chamava-se Antíoco, o Grande.
  • g.  É verdade que êle blasfemou de Deus, modificou leis referentes ao culto e perseguiu o povo escolhido de Deus, mas sua perseguição não durou, segundo se alega, três tempos e meio (vers. 25).
  • h.  Êle não prevaleceu até o julgamento perante o Ancião de Dias, que devia ser acompanhado pela entrega do reino eterno aos santos (vers. 9-14, 26 e 27).
  • i.  Suas grandes palavras não foram a causa da destruição do animal ou império grego-macedônico (vers. 27).
  • j. O reino que veio depois do macedônico foi o romano, não o reino eterno • dos santos (vers. 27).
  • l. Alguns atribuem êste reino dos santos ao primeiro advento de Cristo no período seguinte, isto é, o romano. Mas o reino e o domínio “debaixo de todo o Céu” não foi estabelecido então, e o reino da graça nos corações dos homens não corresponde às especificações.

m. Numa profecia cujo panorama se estende da Babilônia do tempo de Daniel ao juízo e o reino dos santos, a breve e malograda tentativa de Antíoco para dominar os judeus seria engrandecida de maneira desproporcional pela aplicação dêste símbolo da ponta pequena. Procuramos debalde os importantíssimos acontecimentos do juízo e do estabelecimento do reino eterno de Deus após o domínio de Antíoco.

A conclusão óbvia é que Antíoco não corresponde às especificações no tocante à ponta pequena, nem mesmo as mais iniciais, para não falar da descrição final. Isto torna deveras evidente a derrocada completa da predominante interpretação modernista baseada na suposta ignorância de um pseudo-Daniel do segundo século escrevendo uma profecia falsa durante o tempo de Antíoco, ou depois dêle. E visto não haver outro candidato aceitável do período macedônico que não seja Antíoco, temos de inferir que a ponta pequena de Daniel 7 não pode ser a Grécia, e a única alternativa é que ela se aplica a Roma.

  • 5. NÃO CORRESPONDE ÀS ESPECIFICAÇÕES DE DANIEL 8. — O ponto de vista que faz de Antíoco a ponta pequena de Daniel 8, que se tornou “muito forte,” também merece ser examinado. Existe sedutora plausibilidade no fato de Antíoco provir ou “sair” realmente de uma das quatro pontas ou reinos da cabeça do bode grego-macedônico. Não obstante, além de haver diferenças de opinião a respeito de se a expressão “saiu de um dêles” quer dizer

de uma das pontas ou reinos, ou de um dos “quatro ventos” (vers. 8 e 9), isto é, de um dos quatro pontos cardeais, há obstáculos para considerar Antíoco como cumprimento adequado das especificações proféticas.

  • a. Em primeiro lugar, Antíoco não era uma “ponta.” As quatro pontas do bode eram “quatro reinos” (vers. 22), dos quais o maior foi o reino selêucida ou sírio. Antíoco não era uma ponta ou reino separado, mas um dos reis da ponta selêucida, sendo portanto parte de uma das pontas.
  • b.  Antíoco não “se tornou muito forte” (a King James Version diz “extraordinàriamente grande”) (vers. 9), em comparação com o império grego-macedônico de Alexandre (vers. 8). Antíoco nem sequer foi o mais poderoso rei da divisão selêucida do império de Alexandre.
  • c. Antíoco dificilmente se tornou muito forte através da conquista (vers. 9). Sua arremetida “para o Sul” (Egito) foi obstada pela simples palavra de um oficial romano; sua expedição “para o Oriente” resultou em sua morte; e o seu domínio sôbre a “Terra Gloriosa” da Palestina não perdurou, pois sua perseguição aos judeus impeliu-os à resistência que mais tarde redundou em sua independência.
  • d.  O furor da ponta contra “o exército dos céus” (vers. 10), que evidentemente é equiparado com “os poderosos e o povo santo” (vers. 24) parece ser uma referência plausível à perseguição dos judeus por parte de Antíoco. No entanto, se as especificações apontam para outro poder que também perseguiu o povo de Deus, êste versículo não poderá ser decisivo.
  • e.  Contra que “príncipe do exército” (vers. 11) ou “Príncipe dos príncipes” (vers. 25) se levantou Antíoco? Êsse personagem dificilmente poderá ser um simples sacerdote judeu; o “Príncipe dos príncipes” só poderia ser uma designação excepcional para Deus ou Cristo, cujo culto foi atacado por êle.
  • f.  Antíoco tirou o “sacrifício contínuo” ao Deus verdadeiro, embora não tivesse abolido os sacrifícios do Templo; substituiu-os por outros em homenagem aos deuses pagãos. Contudo, êle apenas profanou “o lugar do seu santuário.” Êste só foi “deitado abaixo” ao ser destruído pelos romanos, em 70 A. D.
  • g.  Suas tentativas para “deitar por terra a verdade” (vers. 12) foram infrutíferas. Sua perseguição redundou no fortalecimento da verdade, unindo os judeus contra a helenização do judaísmo.
  • h. Conquanto Antíoco não fôsse um rei fraco, dificilmente se poderá dizer que sua política ambiciosa tenha prosperado (vers. 12; comparar com o vers. 24); tampouco fêz prosperar Página 22 o engano, por sua astúcia nos seus empreendimentos (vers. 25).
  • i.  As tentativas de computar os 2.300 dias (vers. 14) como sendo o período literal da profanação do Templo por parte de Antíoco não conseguem adaptar a cronologia a qualquer uma das fontes.
  • j.  Antíoco não reinou “no fim” dos reinos helenísticos do império de Alexandre (vers. 23), mas quase no centro dêsse período.
  • l.  Seu “poder” não foi surpreendentemente “grande,” e também não se pode dizer que tal não ocorreu “por sua própria fôrça” (vers. 24). Tais frases pelo menos não confirmam de modo especial a identificação de Antíoco.

m. Antíoco foi “feroz” para com os judeus, mas não se salientou por ser “entendido de intrigas” (vers. 23).

n.  Antíoco não foi “quebrado sem esfôrço de mãos humanas” (vers. 25); não existe indício algum de algo miraculoso ou misterioso com referência ao fracasso que teve com os judeus, ou sua morte.

o. Considerar, como fazem alguns, o Papado como a ponta pequena do capítulo 7, e Antíoco como a ponta pequena do capítulo 8, é tirar o equilíbrio dessas duas profecias — interferir no óbvio paralelo entre as duas seqüências de podêres mundiais apresentados. Se o capítulo 7 segue a seqüência de Babilônia, através da Pérsia, do império de Alexandre e de seus sucessores divididos, do império romano e do papado — até o juízo — então o capítulo 8, que começa com a Pérsia, um passo além, deve abranger a mesma sucessão: Pérsia, Alexandre, as quatro pontas ou reinos que surgiram de seu império, e depois outra ponta, que evidentemente é outro reino. Para preservar a manifesta analogia, esta ponta deve ser logicamente o próximo poder mundial depois das monarquias helenísticas — isto é, Roma; e é de esperar que o alcance da profecia se assemelhe ao do capítulo 7, estendendo-se até o fim, quando a ponta seria quebrada sem esfôrço de mãos humanas. (Isto não significa que as duas pontas pequenas sejam idênticas em todos os seus pormenores.)

Ainda que certos detalhes desta profecia de Daniel 8 possam ser considerados aplicáveis às atividades de Antíoco, a figura dêsse soberano, com seus exíguos triunfos e proeminentes fracassos, é demasiado pequena para corresponder às indicações.

  • 6. AS ESPECIFICAÇÕES REFERENTES AO TEMPO FALHAM TANTO PARA DANIEL 7 COMO PARA DANIEL 8.-As fontes citadas para as especificações do tempo de ambas as pontas pequenas estão em irremediável conflito. Assim, com referência a Daniel 7, as atividades de Antíoco não satisfazem aos requisitos do tempo da profecia. A despeito das afirmações contrárias dos proponentes, de acôrdo com I Macabeus 1:54 e 59, e 4:52, Antíoco suprimiu os sacrifícios judaicos durante exatamente três anos literais. Mas isto não se harmoniza com os três “tempos” e meio de Daniel 7:25, que via de regra são identificados como abrangendo 1.260 dias proféticos. 2 3 Além disso, Josefo, dois séculos mais tarde — em conflito com o relato dos Macabeus — declara (Wars i. 1.1) que êsse episódio durou três anos e meio, embora noutra parte (Antiquities xii. 7.6) êle contradiga a si mesmo, afirmando que foram exatamente três anos! E ainda mais, êle neutraliza ambas essas declarações no prefácio da obra Wars (Guerras), ao dizer serenamente que em realidade foram três anos e três meses. Assim uma declaração anula as outras. Existe, pois, irremediável conflito e contradição nas próprias fontes citadas.

Ademais, tôdas as tentativas de igualar os 1.260 dias da ponta pequena de Daniel 7:24 e 25 com os 2.300 dias, ou “tardes e manhãs,” de Daniel 8:14 —ou com 1.150 dias, se 2.300 fôr dividido por dois, segundo insistem alguns — são manifestamente forçadas. Constituem apenas uma aproximação, pois 2.300 dias (ou 1.150) indubitàvelmente não equivalem a 1.260. E inversamente, os 1.260 dias de Daniel 7 por certo não são iguais aos 2.300 “dias pela metade” ou 1.150 “dias inteiros,” de Daniel 8. Um número não pode ser adaptado para satisfazer aos reclamos dos outros. A diferença é muito grande — pois os algarismos não são elásticos. Bem diferente do princípio de que um dia equivale a um ano, determinar um certo número elimina claramente os outros. Todos estão portanto errados em semelhante esquema.

Concordamos com o Bispo Tomás Newton (Dissertations on the Prophecies, 1796, pág. 217), que escreveu acertadamente no século dezoito:

“Êsses dois mil e trezentos dias de maneira alguma podem ser computados para ajustar-se aos tempos de Antíoco Epifânio, mesmo que os dias sejam considerados dias naturais.”

E o Deão F. W. Farrar, embora defendesse pessoalmente a teoria referente a Antíoco, admite que “não existe a mínima certeza no tocante às datas exatas” (The Book of Daniel, 1895, pág. 266). E êle confessa francamente: “Não há suposição razoável pela qual possamos alcançar rigorosa exatidão.” — Idem, pág. 264. 4

Há meio século, o Dr. Carlos H. H. Wright, do Colégio Trindade, em Dublin e Oxford, declarou o seguinte sôbre os cálculos concernentes aos 2.300 dias de Daniel 8, no livro Daniel and His Prophecies (Daniel e Suas Profecias), 1906, pág. 186:

“Todos os esforços, porém, para harmonizar o período, quer seja interpretado como 2.300 dias, ou como 1.150 dias, com alguma época definida e histórica mencionada no livro dos Macabeus ou nas obras de Josefo, se mostraram inúteis.”

’] Com efeito, o Dr. Wright chega a afirmar: “Não se tem dado nenhuma interpretação satisfatória aos 2.300 dias, que são considerados como referindo-se ao tempo dos Macabeus. É bem provável que êsses 2.300 dias sejam um período de dias proféticos ou anos [literais] que ainda terão de completar o seu curso.” — Idem, pág. 190. +

Independentemente, porém, dêstes aspectos incoerentes e contraditórios no tocante ao cômputo exato do tempo, a interpretação dos três tempos e meio (1.260 dias), ou dos 2.300 dias, como simplesmente êsse número de dias literais, viola a lei fundamental do simbolismo — que consiste em que todos os símbolos representam alguma coisa diferente do que o objeto ou item usado como símbolo. Assim, as “bêstas” de Daniel 7 e 8 não simbolizam animais literais, mas nações especificadas. Semelhantemente, os concomitantes aspectos de tempo devem representar alguma medida de tempo diferente do que a unidade concreta usada na descrição profética. Por isso, na profecia de tempo simbólico um dia profético equivale a um ano em seu cumprimento literal. (Ver Números 14:34 e Ezequiel 4:6.) Portanto, os 2.300 dias não poderiam simbolizar o mesmo número de dias literais, mas sim de anos. Conseqüentemente, quem insistir que Antíoco é simbolizado pela ponta pequena transgride o princípio fundamental do simbolismo, tomando ao pé da letra o inseparável fator do tempo. — Questions on Doctrine, págs. 325-333.

Notai a inexatidão das dez pontas. A fim de tornar Antíoco Epifânio a décima primeira ponta em Daniel 7, os defensores do ponto de vista referente à Grécia pro curam indicar dez reis individuais e sucessivos da Síria, três dos quais deviam ser despojados de sua realeza. Mas não é possível encontrar dez reis sírios legítimos. Os de fensores das diversas listas com freqüência admitem sua incerteza e falam de obscuridade histórica, números redondos e interpretações simbólicas (Delitzsch, Hitzig, Hertzfeld, Zöckler).

Keil afirma acertadamente que a interpretação sugerida é “despedaçada” pelo simples fato de que essas pontas devem encontrar-se simultaneamente na cabeça do ani mal profético, e não uma depois da outra (The Book of the Prophet Daniel, pág. 255). Biederwolf declara rispi damente: “Os que fazem de Antíoco Epifânio a ‘ponta pequena’ e o décimo primeiro rei, não podem descobrir os primeiros dez.” — The Millennium Bible, “Daniel,” págs. 207 e 208.

Zöckler admite francamente o seguinte a respeito das três pontas: “Tôda tentativa para designar os três mo narcas ausentes, que deviam preencher o breve intervalo e a condição de turbulenta anarquia que precedeu a ascensão ao trono de Antíoco Epifânio, resulta em fracasso.” — Lange’s Commentary, pág. 165. Mencionando os três nomes que comumente são citados — Demétrio, Heliodoro e Ptolomeu IV — acrescenta êle: “Na realidade, porém, nenhum dêstes rivais de Epifânio podia ser considerado rei da Síria, pois Heliodoro não passava de um usurpador, que foi destronado após breve reinado, e não existe qualquer relato que demonstre que Demétrio ou Ptolomeu Filométrio aspirassem sèriamente ao trono.”

Além disso, os reis, ou o reino da Síria (abrangendo apenas a quarta parte do império grego original), não poderiam ser classificados como pontas de um animal que representava todo o domínio grego, como o pretenso quarto império.

** A ênfase da Reforma Protestante, em especial a dos tempos posteriores à Reforma, consistia em que êsses 1.260 dias proféticos ou simbólicos requeriam o mesmo número de anos literais para seu cumprimento. E os reformadores buscavam ansiosamente o cumprimento — o qual, no fim do século XVIII, era amplamente considerado como se estendendo do tempo de Justiniano até a Revolução Francesa.

*** Zockler (Lange’s Commentary, sôbre Daniel, págs. 164-166) declara que êsses períodos, baseados nos registros dos Macabeus, “oscilam entre períodos que abrangem de três a seis anos, sem que seja possível demonstrar um período de exatamente três anos e meio.” Êle chega pois conclusão de que os 3 anos e meio devem ser interpretados “como número redondo.” E acrescenta também (pág. 184) que não existe “exata correlação” com os 2.300 ou 1.150 dias — portanto precisam ser considerados simbólicos.

E o Dr. H. C. Leupold (Exposition of Daniel, pág. 355) afirma contundentemente: “De qualquer maneira que sejam computados, não haverá nenhum período bem delineado de uma ou outra extensão. Começa então a prestidigitação dos fatos e dos algarismos.”

E acrescenta: “Existe algo fundamentalmente errado nessas computações.” — Pág. 356.+ Zockler vê-se obrigado a admitir com referência à tese que defende: “Permanece aberta a questão de serem designados anos comuns de calendário ou, o que certamente não é menos provável de per si, se é feita alusão a períodos simbólicos, que são avaliados por um padrão conhecido só por Deus e não pelos homens.” — Lange’s Commentary, sôbre Daniel, pág. 161.