Dez medidas preventivas que você pode utilizar contra o desânimo e a frustração no ministério pastoral

Eduardo estava pensando seriamente em deixar o ministério pastoral. Ele se sentia pressionado pelos administradores e membros da igreja, pela família e por suas próprias expectativas irrealistas. Renunciar parecia ser a única maneira de evitar entrar em depressão.

Felizmente, um pastor veterano percebeu a difícil situação de Eduardo e entrou em contato com ele a fim de analisar a função do pastor e ajudá-lo a reajustar as prioridades dele. Depois disso, Eduardo não demorou a redescobrir as alegrias do pastorado.

Não sei se você é alguém que está pensando em deixar o ministério pastoral. Espero que não. Porém, se algum dia isso lhe passar pela mente, considere os seguintes conselhos que podem devolver a você a satisfação de cumprir o elevado chamado que Deus lhe fez.

Compreenda sua função

Warren foi convidado para fazer parte da equipe pastoral de uma grande igreja. Durante a entrevista, o pastor titular deu a ele uma lista de responsabilidades que ele assumiria, caso fosse o escolhido. O pastor deixou a sala, de modo que Warren ficou bem à vontade para examinar a lista. Quando o pastor voltou, disse ao associado em perspectiva: “Como você deve ter percebido, estou procurando alguém para cuidar das minúcias do corre-corre da igreja.”

O corre-corre da igreja pode ser uma infalível maneira de erodir a função do pastor como homem de oração, estudante, instrutor, discipulador, conselheiro, encorajador, evangelista, esposo, pai e pregador. Os membros da igreja podem até mesmo aplaudir você pelo fato de dirigir todas as reuniões de comissões, elaborar orçamentos, gerenciar a manutenção do patrimônio da igreja, captar fundos, consertar portas, placas e fechaduras da igreja e assumir os débitos. Eles podem até se orgulhar de você, como pastor, por causa de tudo isso, mas o conceito deles a respeito da função pastoral está errado.

Por experiência própria, Eugene H. Peterson descobriu que o corre-corre da igreja pode ser prejudicial à função do pastor. Quando ele falou aos líderes de sua congregação que estava pensando em renunciar ao chamado divino, os irmãos apresentaram uma solução brilhante: dispuseram-se a assumir as minúcias da igreja, deixando-o livre para cumprir sua função de pastor (Subversive Spirituality [Espiritualidade Subversiva], p. 217). Eles tinham recursos e condições para cuidar das atividades diárias da igreja, enquanto ele poderia desfrutar o prazer de orar com as pessoas, aconselhá-las, animá-las, confortá-las, além de estudar, pregar, discipular, capacitar missionários e evangelizar.

Compreender a função pastoral e preservá-la a todo e qualquer custo é um modo de prevenir o desânimo e a depressão, bem como de vencer a tentação de renunciar a um sublime chamado divino, infinitamente recompensador.

Seja paciente

Alguns líderes da igreja têm adotado a paixão que o mundo tem para conseguir que as coisas sejam feitas com pressa e precipitação. Eles enfatizam a necessidade de que os pastores se apressem e terminem o trabalho. Continuamente, são realizados seminários e palestras com desmedido esforço para apressar a vinda do Senhor.

Pressa! Pressa! Pressa permanece como inimiga da função do pastor. Você não pode esperar que os membros de sua igreja repousem no Senhor e esperem pacientemente nEle, enquanto você vive em uma interminável agitação.

Na região em que moro, o comércio de galinhas é muito forte. Milhares de galinhas são alimentadas com hormônios de crescimento, para que estejam em condições de ser abatidas em sete semanas. Como resultado disso, o corpo das galinhas cresce mais rapidamente que o coração. Por isso, centenas delas morrem e são queimadas antes de alcançar o objetivo proposto. À semelhança desse fato, a síndrome da pressa não contribui para o bem-estar espiritual nem do pastor nem dos membros da igreja.

Os pastores não são, necessariamente, iniciadores do trabalho de conversão de uma pessoa. Muito antes de o pastor estabelecer contato com alguém, Deus já está trabalhando no coração desse alguém. Na verdade, os pastores são engajados no que Deus já está fazendo e devem vibrar com esse privilégio. Então, a prece deles será: “Senhor, mostra-me como posso andar em sintonia com o que Tu estás realizando!” Aconselha o salmista: “Espere no Senhor. Seja forte! Coragem! Espere no Senhor” (Sl 27:14).

Se você for fiel à sua função de pastor, trabalhar diligentemente e confiar os resultados a Deus, será capaz de superar as pressões. Espere no Senhor e evite o estresse que pode afastá-lo do ministério.

Estabeleça prioridades

Antes que alguém tente estabelecer prioridades para você, primeiramente faça-o você. Estabeleça suas prioridades. Com respeito e humildade cristãos, seja claro quanto a isso. Se lhe for oferecida a oportunidade de assumir determinada função, exponha o que você sabe serem suas habilidades, seus talentos e suas iniciativas ministeriais mais importantes. Como seus avaliadores, ao elaborar programas para seu trabalho, os administradores da igreja têm o direito de conhecer o que você sente e pensa. Afinal, nem sempre eles estão plenamente familiarizados com a realidade particular de sua igreja e da comunidade em que você está inserido.

Mantenha viva a chama

Certo pastor metodista me revelou o segredo de manter viva a sua chama. Ele costumava separar tempo para recreação, reflexão, compartilhar em família, rejuvenescimento, descansar um dia cada semana e tirar férias anuais. Também reservava tempo especial para a devoção, à parte do tempo dedicado ao preparo de sermões. Onde quer que fosse realizado um seminário destinado a motivar e a ensinar como aprofundar o relacionamento com Deus, ele estava presente. As rodas do corre-corre da igreja têm que continuar girando, mas elas não podem apagar a chama da amizade que o pastor mantém com Jesus.

Seja eloquente

Pastores que praticam a arte de utilizar palavras agradáveis e eloquentes para os membros de suas respectivas igrejas vivem a alegria de manter a Bíblia sempre viva e atraente. Transformar eloquência em sermões memoráveis ajuda a manter os ouvintes ansiosos pelas obras-primas que serão proferidas nos sermões das semanas seguintes e dos meses vindouros.

Desde que fui jubilado, tenho ouvido muitos pregadores, mas poucos são mestres da palavra. Algumas vezes tenho saído da igreja com o sentimento de que fui enganado. Penso que tais pregadores perdem a verdadeira alegria do ministério. Para eles, a pregação parece ter-se tornado uma tarefa sem a qual facilmente podem viver.

Desde minha infância, fui admirador do pastor Harold M. S. Richards, que foi orador do programa A Voz da Profecia nos Estados Unidos, e sempre o considerei um estudante e mestre de palavras agradáveis.
Em 1957, assisti a uma série de palestras sobre pregação bíblica, na qual o pastor Richards foi o orador. Naquela ocasião, ele destacou o papel do pastor, e enfatizou que, se podemos escrever, podemos pregar. A arte de escrever requer pensamento e pesquisa, protege-nos contra a pregação desleixada e alimenta em nós o desejo de continuar pregando pelo restante da vida.

Tendo o sermão escrito no papel, ele precisa ser escrito no coração do pregador. Levar ao púlpito o sermão escrito ou apenas esboçado significa ter um bom roteiro para uma apresentação organizada. Pastores dotados de excelente memória podem pregar sem esboço ou qualquer outro tipo de anotação. Isso é realmente admirável, desde que ele não perca o rumo nem misture assuntos.

A igreja da qual faço parte compartilha seu pastor com outras congregações. Quando ele não está presente, outros membros são escalados para pregar. De fato, eles têm habilidade natural para falar em público, mas o pastor sabiamente controla o desempenho deles na pregação da Palavra de Deus. Pregadores mais jovens, por isso mesmo sem muita experiência, não devem se sentir constrangidos em buscar opinião, avaliação e orientação dos pregadores mais experientes.

Jesus foi um Mestre da eloquência, que não é sinônimo de barulho. Suas parábolas não significavam respostas para todas as perguntas, mas Seus ouvintes saíam processando na mente Suas palavras e tudo o que ouviam. Para eles, era impossível esquecer os quadros de pensamentos intrigantes que Jesus pintava com Suas palavras. Ele não usava linguagem complicada. Apenas empregava palavras simples, curtas, que, como pincéis na tela, gravavam na mente dos ouvintes belíssimas imagens que se perenizavam.

Ame sua família

Quando os membros e as atividades da igreja absorvem a maior parte do tempo do pastor, sua família sofre bastante e a vida no lar deixa de ser uma bênção. Aliás, essa pode ser uma das razões pelas quais alguns pastores renunciam à vocação. Pastores que constroem e desfrutam famílias felizes não ficam desejosos de abandonar o ministério. A família desses pastores estará sempre no topo de suas prioridades.

Sempre tivemos o costume de nos divertir em família, em nosso dia livre semanal. Cedo, saíamos de casa para fazer alguma excursão, passar o dia em um piquenique, ou jogando badminton no parque. Fazíamos isso religiosamente, estando o dia ensolarado ou chuvoso.

“As rodas do corre-corre da igreja têm que continuar girando, mas elas não podem apagar a chama da amizade que o pastor mantém com Jesus”

O pastor e sua família são sermões vivos para a congregação. A maior realização do pastor está centralizada na missão em seu lar. Os membros da igreja precisam de um modelo; eles necessitam ser convidados à casa do pastor, para que possam testemunhar o estilo de vida que existe em um ambiente cristão.

Evite a síndrome da solidão

A maioria dos pastores adventistas do sétimo dia trabalha solitariamente, a menos que eles façam parte de uma equipe ministerial múltipla. Isso, às vezes, cria um problema que a igreja não tem resolvido bem. Solidão no lugar de trabalho é uma realidade na igreja.

Durante um concílio pastoral, tive o privilégio de realizar um seminário sobre a solidão pastoral. Não consegui convencer os pastores a falar sobre isso durante as reuniões. Mas, à noite, alguns deles me procuraram para abrir o coração. Um deles me falou que se sentia muito sozinho e sabia de mais dois outros colegas que haviam deixado o ministério por falta de companheirismo. A solidão pastoral também atinge a esposa do pastor. Sei disso porque passei cinco dias em uma reunião campal ouvindo dolorosas histórias de solidão, contadas por esposas de pastores.

Tenho advertido alguns administradores da Igreja a respeito dessa síndrome, mas o número de pastores que se sentem solitários parece não ter diminuído. Pastores bem qualificados têm perdido incentivo e disposição para o trabalho, pelo fato de esse problema ainda não ser adequadamente abordado. Porém, aqui estão algumas ideias que você pode colocar em prática a fim de evitar a solidão.

  •  Procure intensificar a interação com outros colegas vizinhos do seu distrito pastoral.
  •  Planeje encontros sociais com eles, envolvendo as respectivas famílias. Orem juntos. Formem um pequeno grupo de pastores.
  •  Convide colegas próximos a fim de pregar em sua igreja.
  •  Inclua em seu círculo de amizades os pastores de outras denominações. Geralmente, eles apreciam e agradecem esse gesto.

Certa ocasião, desenvolvi amizade com um pastor de outra denominação evangélica e nos tornamos bons amigos. Partilhávamos livros, ideias e até fui convidado a realizar um seminário na igreja dele. Era muito bom quando nos encontrávamos. Um sacerdote católico de quem me aproximei também me convidou para apresentar palestras sobre a morte, na escola de enfermagem na qual ele dava aulas. Por causa disso, construímos um ótimo relacionamento.

Use sua criatividade para evitar a síndrome do ministério solitário. Não espere que as providências sejam tomadas apenas pelos administradores. Faça sua parte.

Prepare-se para enfrentar dificuldades!

Lembro-me das pouquíssimas vezes em que cheguei a considerar a possibilidade de deixar o ministério. Uma delas foi quando um diácono me disse: “Odeio você!” Fiquei como se estivesse em um lugar sem chão. Com o passar do tempo, tornei-me desperto para os fatores que levavam a esse tipo de ira, mas, inicialmente, questionei se o estresse pastoral valia a pena. Outro membro de igreja me encurralou no canto da parede e raivosamente me acusou de estar arruinando a igreja. Depois que ele me deixou, precisei de meia hora para me recompor.

“O pastor e sua família são sermões vivos para a congregação. A maior realização do pastor está centralizada na missão em seu lar”

Nenhum membro da igreja devia contribuir para a saída de pastores do ministério. Acredito mesmo que a função dos administradores da Igreja inclui a tarefa de defender os pastores que estão sendo atormentados. Eles devem se reunir com a igreja em questão, ouvir o que os membros têm a dizer, ouvir o pastor envolvido no assunto e tratar o problema tendo como base a indispensável ética ministerial. Os pastores necessitam saber que podem contar com defensores.

Evidentemente, não podemos esquecer que há muitas igrejas respeitosas e bondosas para com os respectivos pastores. Conheço um que é tratado quase como realeza pelas cinco igrejas de seu distrito. Em cada igreja que ele visita, os irmãos lhe provêm hospedagem e alimento. Pais o procuram em busca de conselhos para os filhos, estudantes partilham com ele situações difíceis encontradas na escola, recém-casados lhe contam sobre a felicidade experimentada bem como o procuram em busca de aconselhamento para tomar decisões difíceis. Todos o procuram para fazer batismos, casamentos e outras cerimônias especiais.

Encontre um ombro amigo

Tornei-me familiarizado com os pastores de uma megaigreja. A comissão dessa igreja pagava um conselheiro para atender individualmente aqueles pastores. O conselheiro nunca presta relatório sobre os assuntos tratados na comissão, o que significa um porto de segurança para os pastores que eventualmente necessitem de ajuda no trato de problemas pessoais ou congregacionais.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia tradicionalmente nomeia secretários ministeriais. Esses homens não têm o papel exclusivo de apoiar os pastores. Em muitos casos, eles também estão envolvidos na coordenação do evangelismo e outras atividades. Entretanto, se a Igreja deseja levar a sério a manutenção da saúde emocional e espiritual dos pastores e respectivas famílias, ela deve indicar pessoas especializadas para realizar exclusivamente esse trabalho.

Um ombro profissional certamente impediria que pastores altamente qualificados trocassem o ministério por um trabalho secular ou por outras atividades ligadas à Igreja.

Domine sua arte

Pastores são ordenados para pregar, assim como Jesus fazia. Se eles aprimorarem a arte da pregação, pela graça de Deus, estarão acima de qualquer aspecto negativo do chamado. Meu coração vibra quando ouço um pastor dizer: “Amo pregar!” Quando o pastor investe tempo diário, estudando, pesquisando, escrevendo e refletindo, a pregação se torna o escudo que mantém longe o pensamento de renúncia ao ministério.

O aprimoramento da arte da pregação requer instrumentos próprios. Anos atrás, isso requeria investir uma pequena fortuna em livros. Mas em nossa época tecnológica, o acesso a esses instrumentos é fácil e barato.

O pregador bem pode ser comparado a um chef de cozinha, utilizando sempre novos ingredientes na receita para o sermão. Uma das minhas fontes era o envolvimento com a comunidade e, como resultado, partilhei o amor de Deus e descobri material para sermões. Essa experiência me manteve longe da pregação livresca, pedante, e também serviu como exemplo para os membros da igreja.

Pregação significa levar as boas-novas contidas nas Escrituras. Os sermões devem ser cheios das Escrituras, o que resulta em congregações familiarizadas com a Bíblia.

Mestres da pregação não esbravejam com expressões faciais e vozes iradas. Também não desperdiçam tempo tentando ser humoristas. Como Jesus fez, o pregador leva os ouvintes a pensar, e também lhes transmite esperança, conforto e encorajamento.

O preparo do sermão, efetuado com oração fervorosa, e a entrega dele banhado na presença do Espírito é algo empolgante. À medida que você percebe Deus tocando corações, semana após semana, você se torna mais e mais devotado à pregação e desejará fazê-la a tempo e fora de tempo.

À vontade, em casa

Lembra-se de Eduardo? Ele descobriu que não podia modelar seu estilo de ministério conforme o modelo promovido por outras pessoas, nem mesmo por modelos preconizados por ministros de reconhecido êxito. Felizmente, compreendeu que o ministério pastoral é diferente para cada pastor. Quando ele, pela graça de Deus, aprendeu a ser ele mesmo, com os talentos que Deus lhe deu, peculiares à sua personalidade, os pensamentos de renúncia ao ministério fugiram da sua mente.

Certa vez, meu filho me perguntou: “Pai, o que você acharia se eu decidisse ser pastor?” Respondi-lhe: “Se você pode ser imaginativo, criativo, inovador e leal à pessoa que você é, eu ficaria feliz com sua decisão.” Esse tem sido meu conselho a muitos jovens que me pedem opinião sobre a possibilidade de se tornar pastores.

O ministério frustrante é comparável a alguém que se muda para uma casa que tem a cozinha muito apertada, quartos muito pequenos, sala de estar e sala de jantar tendentes a entediar convidados. Você nunca se sente em casa. Remodelar a própria casa ou a que foi comprada resulta em histórias diferentes. Você personaliza os espaços existentes. Então, você se muda para a sua casa e se sente em casa. Você deseja permanecer nela.