Como servos de Deus devemos aprender que a única maneira de promovermos os fins mais elevados do ministério é começá-los em nós mesmos. De fato, confessamos que os melhores entre nós, em geral, são mais espirituais no púlpito do que no lar.

Freqüentemente descobrimos que é mais fácil pregar contra os pecados dos outros do que mortificá-los em nosso próprio coração, mas não podemos viver espiritualmente só por alimentarmos outras pessoas. É impossível curar a nós mesmos simplesmente por curar o povo.

Nosso primeiro e mais importante dever é cuidar da santificação de nossa própria alma.

Conforme a Bíblia, o ministro deve ser um “HOMEM DE DEUS” (I Tim. 6:11). Ele deve pregar a si mesmo todos os sermões antes de pregá-los ao povo; deve orar por si mesmo, antes de orar pelo povo; necessita revestir-se “de toda a armadura de Deus”, para ser fortalecido “no Senhor e na força do Seu poder” (Efés. 6:10 e 11). O mais sério empecilho para um ministério eficaz é a falta de uma experiência religiosa pessoal.

O orador romano, Cícero, certa vez observou que homem algum pode ser verdadeiramente eloqüente num assunto a respeito do qual nada conhece.

Do mesmo modo, nenhum pastor ou membro da igreja pode responder à pergunta: “QUE DEVO FAZER PARA SER SALVO?”, se ele próprio está entre os perdidos. Preparo teológico nunca em si fornecerá a resposta. Quantidade alguma de filosofia pode resolver este problema.

Na maioria de suas epístolas, o apóstolo Paulo usou o termo “EVANGELHO” (Rom. 2:16; 16:25). Isso mostra que ele estava perfeitamente identificado com a mensagem de salvação que ele pregava. Proclamou: “Eu cri, por isso é que falei, também nós cremos, por isso também falamos.” II Cor. 4:13.

Como “HOMENS DE DEUS” necessitamos reconhecer diariamente nossas fraquezas, como Martinho Lutero confessou uma vez: “Eu tenho mais medo do meu coração do que do papa e todos os seus cardeais. ”

Que tragédia é, para o cristão, correr a corrida cristã com os pés pesados; pregar um Deus desconhecido, um Cristo desconhecido e um desconhecido estado de santidade! Quão triste é para as ovelhas estarem salvas no aprisco enquanto o seu pastor está perdido!

O lamento de Cantares 1:6 explica isto: “… e me puseram por guarda de vinhas; a vinha, porém, que me pertence não a guardei.”

Como os troianos, muitos cristãos se enganam pensando que os seus inimigos estão fora, quando na verdade estão dentro. Nossa maior preocupação não deve ser com os de fora, mas com o pecado que vive dentro do nosso coração!

Precisamos hoje de menos sermões teóricos, construídos com palavras agradáveis; necessitamos de sermões sobre Jesus Cristo e também mais, muito mais CRISTIANISMO PRÁTICO. Como o famoso pregador Charles Kingsley costumava dizer no início de um sermão: “Aqui estamos novamente para conversar acerca daquilo que realmente está acontecendo na vossa e minha alma.”

Há alguns anos, dois estudantes americanos, Ernst Troletsch e Max Weber, fizeram um estudo sociológico das igrejas. Descobriram que todos os movimentos religiosos passam por três fases distintas:

  • 1. A primeira fase chamaram de “SEITA” — surge como um protesto contra a frouxidão espiritual e moral.
  • 2. Ao segundo estágio chamaram “DENOMINAÇÃO” — onde existe menos protesto e a consciência de crescente popularidade.
  • 3. O último estágio desta metamorfose foi chamado de “IGREJA”. Por tal termo entende-se uma instituição financeiramente próspera, cujos interesses exigem a manutenção do “status”.

Tal evolução aplica-se à igreja primitiva e a todas as igrejas da Reforma protestante; e nós, como movimento adventista, onde ficamos? Raras vezes um movimento religioso é válido por mais de uma geração. Pouco freqüentemente a segunda geração mantém rigorosamente as condições da primeira geração.

Por que é assim? É porque a segunda geração cresce com orgulho pela igreja organizada por seus pais, fundada pelos pioneiros. Constroem-se até mesmo monumentos a eles; livros são escritos exaltando-os, quando pouco se vê da fé e da experiência religiosa que estes homens tiveram.

Geralmente a segunda geração torna-se mais casada com a IGREJA do que com JESUS CRISTO. No seu livro Beyond Ourselves, páginas 47 e 48, Catherine Marshall conta que certo pastor na África do Sul procurou por longos anos o verdadeiro significado do cristianismo, mas sem êxito. Finalmente, certa noite acordou com uma voz misteriosa em seu ouvido: “Deus não tem neto.” Outra vez a voz: “Deus não tem neto algum.” Saindo da cama, pegou a

A ESPOSA DO PASTOR,

sua concordância bíblica e procurou a palavra “neto”, mas não achou. Havia, porém, muitas ocorrências da palavra filho. “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, ao ponto de sermos chamados filhos de Deus.” I S. João 3:1. “A todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus.” S. João 1:12. “Pois todos os que são guiados pelo ESPÍRITO DE DEUS são FILHOS DE DEUS.” Rom. 8:14.

Mas não achou ocorrência alguma da palavra NETO. Então entendeu: “Não existe tal coisa como ‘experiência cristã herdada”’.

Não podemos crescer espiritualmente apenas por tomar como exemplo a fé dos pioneiros. Uma experiência cristã de segunda mão não tem valor. Todos nós, individual, pessoal e vitalmente, devemos ter nossa experiência diária com Deus. “O mundo necessita de ver nos cristãos uma evidência do poder do cristianismo.” — Obreiros Evangélicos, pág. 29. “Aonde quer que formos, devemos levar conosco Jesus, e revelar a outros quão precioso é nosso Salvador.” — O Desejado de Todas as Nações, pág. 108.

Precisamos ser os líderes do rebanho nesse processo de revelar Jesus ao mundo. A Bíblia diz em S. João 10:4: “[O pastor] vai adiante delas, e elas o seguem porque lhe reconhecem a voz.” A água nunca sobe acima da caixa dágua. A igreja nunca superará a espiritualidade de seu pastor.

Não podemos pregar, efetivamente, o reino da glória de Deus, a não ser que o Seu reino da graça já se tenha tornado realidade em nosso coração. Não podemos convidar outros a serem santos, quando nós mesmos nunca visitamos o MONTE DA TRANSFIGURAÇÃO. Precisamos viver o que pregamos, para que o que pregamos possa viver naqueles a quem pregamos. “O mundo necessita atualmente daquilo que tem sido necessário já há mil e novecentos anos: a revelação de Cristo.” — A Ciência do Bom Viver, pág. 143. (Grifo acrescentado.)

Posso eu, e podeis vós outros mostrá-lo ao mundo? “Cristo pousa para ser reproduzido em cada um dos Seus discípulos.” Mas precisamos ter tempo, fabricar tempo para a contemplação de Cristo. Contemplando-O seremos tansformados à Sua imagem, ao ponto de podermos dizer ao nosso rebanho, como o apóstolo Paulo disse: “Sede meus imitadores como eu sou de Cristo.” I Cor. 11:1.