A índole de nosso tempo parece conferir certa distinção — se não admiração — à pessoa que ataca a Igreja e os métodos tradicionais de administração. Sem dúvida, a ênfase à pesquisa, a sede de conhecimento e novos métodos de análise que caracterizam o mundo moderno causaram essa condição. Ela não deixa de ter os seus méritos; no entanto, essa situação também intensificou a pressão sobre os pastores e oficiais das associações para se entregarem à racionalização ao chegar a decisões. A menos que resistamos a essa pressão, tenderemos a tomar a decisão que suscite menos reverberações e que nos coloque sob a luz mais favorável diante de nossos mesários ou membros.
A idéia de tomar decisões está presente em numerosas passagens da Escritura. Por exemplo, Paulo chegou a uma decisão final depois de avaliar muitas filosofias e métodos de pregação do evangelho. Disse ele: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e Este crucificado.” I Cor. 2:2. Oxalá todas as decisões tomadas pelos pastores da Igreja Adventista se baseiem na decisão de Paulo; tudo que fazemos e dizemos deve refletir a entrega a Jesus Cristo. Se O conhecermos e Lhe dermos a primazia, isso influirá sobre todas as nossas decisões. De suma importância na vida de todos os adventistas do sétimo dia que têm de tomar decisões deve ser a relação com Jesus Cristo que os habilita a transcender meramente a sabedoria humana com suas decisões que muitas vezes são falíveis e ineficazes.
Falando da liderança, diz Ellen G. White: “Sem sabedoria divina, seu próprio espírito será entretecido nas decisões tomadas por eles. Se esses homens não estiverem em comunicação com Deus, Satanás certamente estará presente em seus conselhos e tirará proveito de seu estado não consagrado.” — Testimonies for the Church, vol. 5, pág. 560.
Tomar decisões dessa natureza está se tornando cada vez mais difícil para os administradores de igreja, quer sejam pastores ou presidentes. Vivemos num mundo de crescente conflito e opiniões divergentes, num mundo de interesses especiais em competição. Até mesmo dentro da igreja encontramos essas pressões, devido à ampla variação em educação, experiência e habilidade entre os membros da igreja. A maioria desses indivíduos realmente são sinceros em crer que o modo condizente com seu interesse especial é melhor para a igreja. Mas o administrador fiel e honesto precisa olhar além desses interesses especiais, examinar todo o campo e encarar objetivamente toda a situação. Então, depois de buscar sinceramente a orientação divina, ele precisa ter a coragem de tomar uma decisão tendo em vista os melhores interesses de toda a igreja, da maneira como ele compreende os fatos. Naturalmente, é muito mais fácil tomar decisões com base no que será aceito com mais facilidade e que parece ser menos perturbador. Mas, como homens e mulheres chamados por Deus, não podemos adotar semelhante procedimento.
Como Igreja, temos sido grandemente favorecidos pelas mensagens especiais que nos advieram de Deus. Esse comentário divino delineia, às vezes pormenorizadamente, certos procedimentos e princípios que a Igreja precisa seguir em sua promulgação do evangelho. Um de nossos maiores perigos é a tentação de racionalizar nossas decisões de acordo com o que for mais fácil, em vez de enfrentar, pela fé, o procedimento ditado pelo Espírito do Senhor, mesmo que pareça impossível. É tão fácil tomar decisões de acordo com o que parece ser razoável para nós, posto que, ao fazê-lo, tenhamos de desprezar a explícita instrução de Deus. A objetividade é uma qualidade tão rara que a maioria de nós só a emprega esporadicamente.
Nestes tempos decisivos, os dirigentes da Igreja devem ser extremamente cuidadosos para que suas decisões não sejam contrárias a um “assim diz o Senhor”.
Nem sempre é fácil, em todas as ocasiões e circunstâncias, determinar se realmente há um “assim diz o Senhor”. Afigura-se-me que a Inspiração, ao acompanharmos suas atuações através da Bíblia e do Espírito de Profecia, tem pelo menos duas fases. A primeira trata da natureza dos planos de Deus, da natureza de Sua justiça e da santidade de Seu caráter, amiúde expressos em princípios alusivos ao que é certo e ao que é errado. Na segunda fase, esses princípios de justiça freqüentemente se refletem em métodos. Os métodos para alcançar esses princípios duradouros talvez não sejam aplicáveis a todos os tempos. Os princípios de Deus nunca sofrem alteração, mas Seus métodos para alcançar esses princípios num mundo cambiante sempre estão sujeitos a modificações.
Ellen White muitas vezes traçou métodos que creio serem conselho inspirado e cujos princípios ocultos devemos procurar descobrir. Por exemplo, ela recomendou que as associações em seu tempo conduzissem cada ano reuniões gerais de lugar a lugar, de cidade a cidade. As antigas reuniões gerais eram em grande parte de natureza evangelística, e isso constituía um método para realizar o plano divino de evangelizar as cidades. Hoje talvez tenhamos de alcançar esse mesmo alvo de evangelizar as cidades por outros métodos. Os princípios dados por Deus permanecem firmes, mas os métodos se modificam. Naturalmente, isso de maneira alguma deprecia a inspiração do conselho dado como método para um tempo anterior.
Como pode o dedicado dirigente de igreja que sinceramente procura tomar decisões baseadas num “assim diz o Senhor” realmente determinar qual é a vontade de Deus em determinada situação?
Tentarei empreender a arriscada tarefa de mencionar alguns princípios breves de hermenêutica para o Espírito de Profecia. A maioria deles também pode aplicar-se à interpretação da Escritura, mas de maneira alguma são exaustivos para interpretação da Escritura.
- 1. Deve-se afirmar e reconhecer que todo o conjunto do Espírito de Profecia é inspirado por Deus e tem plena autoridade.
- 2. O leitor deve encarar esses escritos com a máxima objetividade possível.
- 3. Deve-se considerar o significado das palavras e o uso corrente nos dias em que foram escritas.
- 4. As declarações sempre devem ser lidas em seu contexto.
- 5. Toda declaração deve ser interpretada à luz de tudo que Ellen White escreveu sobre esse determinado assunto.
- 6. As condições existentes quando foi dado o conselho devem ser um fator em toda aplicação interpretativa.
- 7. Devem ser determinados os princípios básicos que se encontram detrás de certos métodos recomendados.
- 8. Deve-se determinar se o método e o princípio são inseparáveis. Com freqüência isto só pode ser efetuado mediante o conhecimento da configuração histórica.
- 9. Deve-se determinar se a passagem sob consideração é uma instrução específica a determinado indivíduo ou grupo, na qual o tempo e o lugar, as circunstâncias e condições fazem com que a instrução tenha uma aplicação mais restrita do que geral.
- 10. Deve-se considerar cuidadosamente o idealismo expresso nos princípios, procurando determinar então se o profeta, na aplicação, permitiu um equilíbrio ditado por uma abordagem pragmática. Creio que o estudo tanto da Bíblia como do Espírito de Profecia revelaria ocasionalmente um belo equilíbrio entre o idealismo e o pragmatismo.
Havendo concluído qual deve ser a devida decisão, o dirigente de igreja necessita de fortaleza para seguir sua convicção. A qualidade mais necessária neste tempo de pressões e grupos de pressão é a coragem. Não me refiro à coragem física, e, sim, à espécie de coragem que habilita um homem ou uma mulher a colocar-se à altura das responsabilidades e tomar uma posição quando a situação o requerer. A falta desse tipo de coragem amiúde exclui de posições de liderança a muitas pessoas que de outro modo seriam bem qualificadas. Mais administradores fracassam por falta de coragem para tomar decisões impopulares mas corretas, do que por falta de conhecimento técnico ou habilidade.
Às vezes é a falta de tomar alguma decisão que lança uma nuvem sobre a liderança de uma pessoa. Em geral, as pessoas hesitam em tomar decisões; parece ser mais confortável permanecer na indecisão. A procrastinação em tomar uma decisão é uma doença de demasiados dirigentes de igreja. Alguns agem como se os problemas desaparecerão sem que seja necessário tomar uma decisão, se for permitido que decorra o tempo suficiente. Mas o preço da liderança envolve o risco de tornar decisões. Um dirigente às vezes tem de arriscar seu futuro por causa de decisões ousadas, justas e imparciais. Ellen White escreveu para um indivíduo: “Muito se pode fazer no sentido de exercitar a mente para vencer a indolência. Há ocasiões em que se tornam necessárias cautela e grande deliberação; a precipitação seria loucura. Mas mesmo nesses casos, muito se tem perdido por demasiada hesitação. Exige-se até certo ponto, cautela; mas a hesitação e a prudência em determinadas ocasiões, têm sido mais desastrosas do que teria sido um fracasso devido à precipitação. Meu irmão, precisas cultivar prontidão. Chega de sua maneira hesitante!… Sua morosidade de decisão em conexão com a causa e a obra de Deus às vezes é dolorosa. Ela não é absolutamente necessária. Ação imediata e decisiva pode realizar grandes resultados…. A habilidade de realizar as coisas com presteza, e não obstante, fazê-lo cabalmente, é uma grande aquisição.” — Testimonies for the Church, vol. 3, pág. 498.
Os dirigentes na Igreja de Deus hoje em dia precisam tomar claras decisões com prontidão. Devem decidir as questões, não com base na conveniência nem nas pressões que incidem sobre eles, mas na convicção de que a decisão a que chegaram está em harmonia com a vontade de Deus e que é mais correta para o êxito de Sua obra total. As perguntas que seguem, aplicadas às decisões que tomamos, podem ajudar-nos a ser essa espécie de dirigente:
- 1. Deus falou sobre o assunto, e examinei a Palavra inspirada, incluindo o Espírito de Profecia, para obter informações que podem influir sobre minha decisão?
- 2. Busquei a Deus em oração, para que minha decisão possa ser tomada à luz da vontade de Deus e com imparcialidade em relação a meus irmãos?
- 3. Se minha decisão se baseia em específico conselho espiritual, tenho fé para crer que Deus agirá, Providencialmente se necessário, para vindicar Sua Palavra?
- 4. É minha decisão, nalgum sentido, um afastamento dos princípios?
- 5. Minha decisão estará em harmonia com os melhores interesses da Igreja de Deus e de Seu povo?
- 6. Esta decisão é tomada à luz da “Regra Áurea”?
- 7. Minha decisão será justa para com todas as pessoas envolvidas?
- 8. É minha decisão, nalgum sentido, afetada por interesses pessoais ou egoístas, desejo de popularidade, favor ou remuneração financeira?
- 9. Estou tomando uma decisão para o benefício de grupos com especial interesse, meramente para evitar críticas?
- 10. Minha decisão é punitiva sem causa justa?
- 11. Posso manter o respeito pessoal com semelhante decisão?
- 12. Esta decisão produzirá resultados duradouros e permanentes, ou apenas ocasionará alívio temporário?
- 13. O preconceito pessoal influiu em minha decisão?
- 14. Esta decisão é tomada para amparar e fortalecer minhas conjeturas, em vez de estar baseada em evidências disponíveis?
- 15. Minha decisão se baseia em pesquisas adequadas, sendo aberta e objetivamente considerados todos os fatos da questão?
- 16. Minha decisão é influenciada por pressões alheias?
- 17. Examinei as provas para ver que minha avaliação dos fatos é estritamente honesta?
- 18. Minha decisão é influenciada por preconceitos culturais ou raciais?
- 19. Esta decisão resistirá à prova decisiva de exposição ou publicidade, sendo ainda considerada objetiva?
- 20. Minha decisão é tomada por um coração compassivo que evita ofender pessoas, de preferência a aderir a estrita integridade?
- 21. Esta decisão é necessária para o avanço do projeto?
- 22. Outro método ou outro procedimento seria tão bom como o meu? Poderia eu causar maior unidade com um método alternativo?
- 23. Minha decisão seria desnecessariamente divisória?
- 24. Esta decisão é tomada princípalmente para mostrar minha autoridade?
- 25. Estou disposto a sofrer as possíveis conseqüências de minha decisão?
- 26. Escolhi conselheiros ou designei indivíduos para uma comissão que irá tomar alguma decisão por causa de seu preconceito em minha direção ou sua disposição para inflar meu ego?