Tendo chegado à fase de conclusão de seus estudos doutorais, um jovem teólogo foi consultado sobre a possibilidade de pastorear uma grande igreja. Sem titubear, colocou-se à disposição, mas decretou: “Não pretendo ser babá de membros de igreja.” Pode-se discutir a elegância dos termos da condição apresentada, mas, ao explicá-la para seus futuros líderes, ele deixou claro que daria prioridade à prática dos princípios de crescimento de igreja, área na qual estava se especializando. Assim, estaria voltado mais para a expansão da igreja, deixando com os líderes voluntários, devidamente treinados e equipados, a maior parte da responsabilidade pelo cuidado interno da congregação.
De fato, esse ideal apenas revelava o que, segundo eruditos no assunto, é o perfil do pastor moderno: treinador, discipulador, plantador de igrejas, o que não é novidade. Esse perfil é delineado pela grande comissão e visto no ministério dos apóstolos. Ellen G. White também aconselhou: “Em vez de conservar os pastores trabalhando pelas igrejas que já conhecem a verdade, digam os membros das igrejas a esses obreiros: ‘Vão trabalhar pelas pessoas que perecem nas trevas. Nós mesmos levaremos avante os trabalhos da igreja. Nós realizaremos as reuniões e, estando em Cristo, manteremos vida espiritual. Trabalharemos pelas pessoas que estão ao nosso redor…’” (Evangelismo, p. 382).
Porém, o imperioso dever missionário, razão da existência da igreja, não exige que o pastor renuncie àquilo que ele essencialmente é: Pastor. Nada existe na Escritura que o isente da sagrada tarefa de pastorear o rebanho. Descrito na Bíblia como “ovelhas” ou “rebanho”, o povo de Deus está sempre em necessidade de ser pastoreado. A imagem do relacionamento pastor-ovelha é vista na maneira pela qual o próprio Deus é descrito (Sl 23), e em Cristo como o “Bom Pastor” (Jo 10:11, 14) e “Supremo Pastor” (1Pe 5:4). Tanto no Antigo como no Novo Testamento, aqueles que são chamados para ser pastores precisam se compreender como tais (Jr 3:15; 10:21; 23:2, 4; Ez 34:2, 7, 8; 1Pe 5:2).
O ministério pastoral é multifacetado, requerendo que o pastor seja pregador, conselheiro, instrutor, treinador, evangelista, administrador, entre outras coisas, e o Senhor espera que sejamos fiéis na execução de cada tarefa envolvida nessa vocação sagrada. Lembremo-nos de que “por todas as partes há lares despedaçados e corações feridos. E esses exigem o cuidado de um pastor… Pastores eloquentes, organizadores minuciosos, e ocupados executivos, todos eles têm seu lugar na igreja de Deus, mas o rebanho cresce na graça e na piedade sob o delicado toque do pastor” (Roy A. Anderson, O Pastor Evangelista, p. 481). A prioridade máxima do pastor é ser pastor. Tudo o mais está inserido nessa moldura.
Zinaldo A. Santos