Conselhos práticos do apóstolo Pedro, que levam à excelência no pastorado

Na Bíblia, encontramos vários exemplos de pessoas que dedicaram a vida ao ministério pastoral. Entre elas, destacamos Paulo e Timóteo, além do próprio Jesus, o Supremo Pastor, exemplo maior de doação da vida pelas ovelhas. Foi dEle que o apóstolo Pedro recebeu a ordenação ao ministério, enquanto caminhavam, conversando às margens do mar da Galileia: “Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-Me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que Te amo. Ele lhe disse: Apascenta os Meus cordeiros.

“Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu Me amas? Ele Lhe respondeu: Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as Minhas ovelhas. Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João tu Me amas? Pedro entristeceu-se por Ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu Me amas? E respondeu-Lhe: Senhor, Tu sabes todas as coisas, Tu sabes que eu Te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as Minhas ovelhas” (Jo 21:15-17).

A história cristã revela que Pedro cumpriu seu chamado de maneira fiel, poderosa e consciente. Demonstrou que aprendeu e colocou em prática a lição que lhe foi transmitida pelo Mestre. Tanto que, ao escrever sua primeira carta, ele aconselhou os presbíteros da igreja, nos seguintes termos: “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda coparticipante da glória que há de ser revelada: pastoreai

o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor Se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória” (1Pe 5:1-4).

Nessas palavras simples e, ao mesmo tempo, cheias de profundo significado, o apóstolo deixou estabelecidos a identidade, os deveres e a recompensa do verdadeiro pastor. Embora sejam conhecidos, nunca é demais atentar para esse conselho apostólico e sobre ele refletir.

Identidade do pastor

No primeiro verso, Pedro se apresenta aos líderes para os quais destina sua carta. Nessa apresentação, podemos observar claramente ás credenciais com as quais o pastor deve se identificar. O apóstolo usa a expressão “presbítero como eles” (v. 1), ou seja, reconhece que é humanamente igual a seus destinatários. Isso revela humildade, característica que deve ter destaque nas credenciais do pastor. Jamais o pastor deve se considerar superior a seus colegas nem aos membros das igrejas que lidera. Com preocupação e tristeza, certa vez, ouvi o lamento de um irmão que se dizia severamente repreendido pelo respectivo pastor, simplesmente pelo fato de ter a ele se dirigido como “irmão”. Ora, se o pastor não é também um “irmão”, o que é afinal?

Outra expressão utilizada por Pedro em sua apresentação é esta: “testemunha dos sofrimentos de Cristo” (v. 1). Ninguém melhor que ele poderia usar essa expressão. Pedro andou com Jesus, participou de momentos solenes da vida e do ministério do Mestre, testemunhou muitos momentos difíceis e sofrimentos experimentados pelo Salvador, enquanto esteve na Terra. Essa experiência vivida pelo apóstolo deve levar cada pastor a refletir sobre a imperiosa necessidade de ser testemunha de Jesus. Sim, testemunha no sentido de ter algo para falar e proclamar a respeito dEle, pelo fato de conhecê-Lo de maneira íntima e profunda. O pastor vive com os olhos fixos em Jesus, durante todo o tempo, contemplando-O como “Autor e Consumador da fé” (Hb 12:2).

Não temos o privilégio de contemplá-Lo pessoalmente, como teve Pedro, mas podemos fazê-lo pela fé, através das páginas das Escrituras Sagradas e da meditação. O estudo da Bíblia deve ser prática frequente no dia a dia pastoral. O pastor jamais pode se contentar com o conhecimento superficial de Cristo, Sua Palavra e Sua verdade. Ellen G. White comentou: “Fato lamentável é que o progresso da causa seja prejudicado pela falta de obreiros instruídos. Muitos carecem de requisitos morais e intelectuais. Não exercitam a mente, não cavam em busca dos tesouros ocultos. Visto que apenas tocam a superfície, adquirem unicamente o conhecimento que à superfície se encontra” (Obreiros Evangélicos, p. 93). O testemunho do pastor será tanto mais poderoso, quanto mais profundamente ele conhecer seu Mestre.

Continuando sua apresentação, Pedro se autodenomina “coparticipante da glória que há de ser revelada” (1Pe 5:1). Nessas palavras, é possível perceber uma firme esperança no glorioso futuro prometido por Jesus. Além de participar da glória, o apóstolo também entende que é coparticipante dos sofrimentos de Cristo: “Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os Seus passos” (lPe 2:21). E mais: “Alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de Sua glória, vos alegreis exultando” (1Pe 4:13).

A vida pastoral não é um caminho isento de pedras e espinhos. Aflições, certamente, estarão presentes na jornada de todo líder. Porém, ao nos depararmos com elas, a lembrança de que o Supremo Pastor também as experimentou servirá de precioso bálsamo para as feridas e dores por elas causadas. Nessa lembrança, o pastor deve encontrar motivação e ânimo para continuar a jornada.

“A mesa, a vestimenta, as palavras, a maneira de se relacionar, a conduta do pastor, tudo deve ser exemplo para o rebanho”

Deveres

Depois de apresentar as credenciais espirituais do pastor, Pedro compartilha alguns conselhos valiosíssimos. O primeiro deles está expresso nas seguintes palavras: “Pastoreai o rebanho de Deus” (1Pe 5:2). Conselho semelhante já havia sido dado aos anciãos de Éfeso, pelo apóstolo Paulo: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual Ele comprou com o Seu próprio sangue” (At 20:28), bem como pelo próprio Jesus (Jo 21:16). Quando nos volvemos para a figura do pastor, cuidando das ovelhas no campo, entendemos o conselho. Pastorear significa alimentar e cuidar do rebanho.

O pastor alimenta a igreja quando, a partir do púlpito, lhe entrega uma mensagem essencialmente bíblica, retirada das Escrituras. Essa mensagem deve ser guiada pelo conselho de Paulo a Timóteo: “Prega a Palavra” (2Tm 4:2). Histórias engraçadas ou comoventes podem entreter, mas somente a Palavra de Deus contém nutritivo alimento espiritual.

Mas o cuidado pastoral é mais eficazmente exercido no âmbito individual. É no contato com a ovelha que são detectadas as feridas e debilidades desta. A visita pastoral de casa em casa é excelente oportunidade para que isso aconteça. Nenhuma atividade deve ocupar na agenda do pastor o lugar prioritário do cuidado para com o rebanho, pois somos subpastores das ovelhas do Supremo Pastor (Jo 10:14; 21:15)

No seguinte conselho pastoral, Pedro afirma que esse trabalho não deve ser realizado “por constrangimento, mas espontaneamente” (1Pe 5:2). A alegria deve permear a vida pastoral. Realizar o trabalho que Cristo fazia deve ser motivo de intensa felicidade, satisfação e realização pessoal. Se o trabalho não for realizado espontaneamente, com alegria, não será aceito, pois o único serviço aceitável a Deus é o que é realizado com alegria (2Co 9:7).

A lista de recomendações continua, lembrando-nos de que não devemos trabalhar “por sórdida ganância” (1Pe 5:2). Dinheiro não deve estar entre os itens motivadores do pastorado. Deus proverá tudo o que for necessário para a sobrevivência dos Seus servos. O pastor deve se preocupar apenas em salvar pessoas para o reino de Deus. Todas as atividades que realizar devem convergir para esse objetivo.

Finalmente, Pedro arrematou seus conselhos com uma das mais importantes facetas do ministério pastoral que deve ser exercido “não por dominação, mas sendo [os pastores] modelos do rebanho” (v. 3). A liderança do pastor não deve ser desempenhada a partir do modelo autoritário, pois ele não é mandatário da igreja. O pastor é servo de Deus, designado para cuidar do rebanho. Sua autoridade é moral e espiritual, razão pela qual o apóstolo afirma que o pastor deve servir de exemplo. A mesa, a vestimenta, as palavras, as reações, o modelo de relacionamento, a conduta do pastor, tudo isso deve ser modelo a ser seguido pelo rebanho. São muitos os textos bíblicos que enfatizam o fato de que o líder é modelo para os liderados (Tt 1:7; 1Ts 1:7; 2Ts 3:9; lTm 4:12; Tt 2:7). Paulo entendia isso perfeitamente quando afirmou: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co 11:1).

A recompensa

Em meio a tão grandes responsabilidades, seguramente nosso amoroso Pai não deixaria de pensar no prêmio para Seus servos. E isso não se refere simplesmente ao salário ou pagamento do qual é digno todo trabalhador (1Tm 5:18). Há uma recompensa infinitamente superior.

Diz o apóstolo: “Ora, logo que o Supremo Pastor Se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória” (1Pe 5:4). A frase é afirmativa: “recebereis”; é a garantia do galardão a ser concedido por ocasião da vinda de Jesus. Há uma recompensa para os que forem fiéis e, nessa recompensa, os pastores estão incluídos (Mt 5:12; 2Co 4:17; 2Tm 4:8). Sim, o pastor fiel receberá das mãos do Supremo Pastor a “coroa da glória”. Além disso, experimentará a indizível alegria de ver aqueles cujo cuidado Jesus a ele confiou também recebendo a coroa da vida eterna.

AS SETE MARCAS DO PASTOR 

O pastor deve trabalhar no presente tendo o coração no futuro. No glorioso dia da vinda de Jesus, ele será recompensado por todos os desafios, angústias, tristezas, privação, suor e, muitas vezes, lágrimas e sangue derramados. Então, haverá um só Pastor sob cuja liderança viveremos para sempre, longe do alcance do mal.