Vê-se pois que quando Deus não responde mais de maneira alguma às orações do homem, é porque êste, sendo rebelde e transgredindo os mandamentos, suprime o Deus vivo rudemente de sua imaginação, por meio de uma simples notícia de óbito! A filo

sofia antinomiana conseguiu cravar a lei de Deus numa cruz. Agora êles pregaram o Deus Criador na cruz ao lado, e O destruíram. A lei acabou, Deus morreu. Enterrai a lei e esquecei-a; sepultai a Deus e olvidai-O também, dizem êles.

Com o desaparecimento de Deus, a fé também se desvanece. Não é razoável ter fé nos mortos — não, nem mesmo num Deus morto. Num Deus vivo, sim; mas não num Deus morto. Por que crer nÊle? Aquêle cujas promessas davam realidade à esperança, está agora morto e sepultado; desapareceu a finalidade da fé.

Disse Jesus com previsão profética: ‘‘Quando vier o Filho do homem, achará porventura fé na Terra?” S. Luc. 18:8. A frase foi construída de maneira a indicar uma resposta negativa. Não, não haverá muita fé sôbre a Terra, exceto entre os que têm a fé de Jesus, e que guardam os mandamentos de Deus e se mantêm fiéis ao testemunho de Jesus. É êste povo que proclama universalmente a mensagem: “Temei a Deus” (Apoc. 14:7). Para êles Deus não está morto, mas bem vivo!

Impotente Como Uma Imagem Esculpida

Estando os ateus cristãos abolindo a Deus para nós, em quem depositará a humanidade a sua fé? A figura dum Deus morto é ainda mais desconcertante do que um impotente deus de madeira. Uma divindade extinta é tão incapaz como uma imagem esculpida. Nem uma nem outra pode ouvir, ver, sentir ou compreender — nem pode responder às nossas orações. “[O homem] faz um deus e se prostra diante dêle, esculpe uma imagem e se ajoelha diante dela.

Prostra-se, e lhe dirige a sua oração, dizendo: Livra-me, porque tu és o meu deus. Nada sabem, nem entendem; porque se lhes grudaram os olhos, para que não vejam, e os seus corações já não podem entender.” Isa. 44: 15-18. Com o desaparecimento da fé em Deus como centro do culto, o homem volve-se à fé em si mesmo, com o eu como centro. A huma-nidade é aclamada como Deus. Isto é humanismo sem rebuços. O culto do Deus morto é um disfarce ideológico que encobre imperfeitamente a débil fisionomia do homem. É um velho artifício de Satanás — colocando o homem no lugar em que devia estar o Deus vivo. É o mistério da iniqüidade que tem influído historicamente, durante séculos, em cumprimento da afirmação de Paulo de que o homem do pecado haveria de assentar-se “no santuário de Deus, ostentando-se como se fôsse o próprio Deus” (II Tess. 2:3 e 4).

Existem muitos papas no mundo — muitos teólogos obstinados cujo coração se elevou e que corromperam sua sabedoria por causa do seu resplendor, ecoando as palavras do primeiro “astro” a brilhar com luz própria: “Acima das estrêlas de Deus exaltarei o meu trono . . .; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” (Isa. 14:13 e 14). Mas eis que, como com Lúcifer, ver-se-á que são estrêlas cadentes. “Serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo. Os que te virem te contemplarão, hão de fitar-te e dizer-te: É êste o homem que fazia estremecer a Terra, e tremer os reinos?” (versos 15 e 16).

Algumas Flôres Sôbre o Túmulo

Realmente, quando nos detemos a pensar na filosofia de que “Deus morreu,” admiramo-nos de como teólogos reverentes poderiam conceber essa idéia. A sensação da vivida presença do Senhor deve ter-se afastado dêstes homens. Perderam o sentimento de temor. E os que aceitam êste sofisma de Satanás verificarão que a tranqüilidade dos sagrados e ditosos momentos de silêncio no santuário de Deus tomar-se-ão uma vaga recordação. Uma melancolia fúnebre invadirá o coração e o lugar de culto em que o homem dantes obtinha salutar silêncio. De ora em diante ir para a igreja será como visitar a sepultura de entes amados, para colocar algumas flôres sôbre o túmulo. Não haverá porém verdadeira comunhão, nem silêncio restaurador — que encontramos atualmente na adoração do Deus vivo. Haverá apenas deprimente tristeza.

Durante bem mais do que meio século, filósofos e teólogos irreverentes têm-nos deixado confusos quanto a suas idéias acêrca de Deus e de Sua posição nos negócios humanos. Os resultados naturais desta agitação têm sido sombrios pontos de vista a respeito de Deus como uma divindade enfêrma e desesperada. É fácil dizer-se agora que Êle morreu. Refleti, porém, no que isto significa para o culto; que desalentador e lúgubre perspectiva para a adoração de Deus! E com relação a isto, por que prestar alguma forma de culto? Se não há ninguém que ouça as nossas orações, ninguém que deva ser louvado ou em quem podemos confiar, por que prestar culto?

Voltemos, porém, ao assunto da reverência. Com a perda de reverência e a eliminação do temor para com Deus e as coisas sagradas, surge a falta de respeito por tôda autoridade humana. Se Deus morreu, nós não O respeitamos mais. Esperávamos que Êle vivesse para sempre. Ter-nos-á decepcionado? Devia estar vivendo; não devia ter morrido. Que Lhe sucedeu, afinal de contas? Terá sido um mito todo o conceito que se formou de Deus? Como pode Êle morrer? Mas os que pretendem estar bem informados dizem que Êle está morto. Assim dissipa-se o respeito para com Deus.

E se não temos respeito para com Deus, por que respeitar a alguma outra pessoa? Caso o Ser Supremo não possa ser respeitado, será possível respeitar a sêres inferiores? As conseqüências funestas que resultariam na vida social e religiosa não seriam nada agradáveis — perda de respeito pelas autoridades, insubordinação, violação da lei, violência, anarquia. O mundo ainda terá de ver o que acontecerá quando a humanidade eliminar a Deus completamente de sua cogitação.

A Carnificina Francesa

Breve reminiscência propicia um exemplo de irreligiosidade na história duma nação — a carnificina da revolução francesa, na parte final do século dezoito. Lembrai-vos do que ocorreu quando em Paris foi entronizada a deusa da razão em lugar de Deus. E os homens deificaram o símbolo de suas paixões, orgulho e descrença. A República Revolucionária excluiu Deus e a Bíblia, de seus pensamentos. Durante três anos e meio a França proclamou-se uma nação atéia, e devido à sua rejeição de Deus, a nação quase pereceu. Êste exemplo histórico visava a ensinar ao mundo o que sucedería se os homens destronassem a Deus e O excluíssem de suas cogitações.

É o senso da presença divina na vida humana que constitui a maior repressão à prática do mal. Imaginemos que José houvesse sido vitimado pela doutrina do Deus morto. Teria perdido a sensação de temor e reverência que subsiste no homem que vive na presença de Deus. Potifar teria perdido a espôsa; José teria perdido a salvação; e o Egito seria privado de um libertador. “Como, pois, cometeria eu tamanha maldade, e pecaria contra Deus?” (Gên. 39:9) — indagou êle. O conceito de que “Tu és Deus que vê” reprimiu a José e evitou que cometesse adultério.

Daniel e seus três companheiros sentiram a presença de Cristo na fornalha ardente. Esta presença os salvou da mesma maneira que a presença de Deus ainda salva a todos os que crêem.

Apenas os Espectros de Deus

E tudo isto está estreitamente relacionado com a consciência do homem. Se desapareceram a fé, a oração, a reverência e a esperança — se êstes sustentáculos da igreja se tornaram casualidades do ensino de que “Deus morreu” — então a consciência do homem também está morta. Qual a voz que apelará ao homem daqui por diante, dizendo: “Êste é o caminho, andai por êle?” Ela não será a voz de Deus, mas a voz de Satanás, o impostor. Permanecendo sòmente o espectro de Deus para afligir o homem com a ansiedade, o panorama é desolador. A retumbante voz do dever e da responsabilidade moral está silenciosa. Que esperança existe agora no tocante à clara orientação na vida? Estão em silêncio todos os que descem à cova, diz uma voz inspirada. Se Deus morreu, Sua voz também se silenciou. Assim sendo, desaparece a consciência juntamente com a fé, a esperança, a reverência, o amor e tôdas as melhores coisas da vida. As restrições espirituais e os deveres não perturbam nem desafiam mais o homem. Os pobres sêres degenerados são agora deixados a degenerar cada vez mais. Existe, porém, o consolo de que agora as pessoas podem fazer o que bem entenderem. Talvez seja isto o que os ateus cristãos realmente desejam. Até que enfim o homem pode fazer sua própria vontade! Foram rompidos todos os vínculos do dever e da responsabilidade. Afinal chegou a liberdade! Mas com que amargos resultados!

E se Deus morreu, que será da Bíblia? E que sucederá com a igreja do Senhor? É impossível acreditar que Deus tenha morrido, quando se crê na Bíblia. A Divindade não pode morrer. É Deus quem lança a morte e o inferno dentro do lago de fogo (Apoc. 20:14). Portanto, tôdas as coisas estão sujeitas a Deus, a fim de que o Ser Supremo seja tudo em todos. A morte e o inferno submetem-se ao Onipotente. O quadro que a Bíblia apresenta de Deus é o de um Ser triunfante que continua vivendo após a morte do pecado e dos pecadores. Deus, o Criador, sobrevive; o pecador não. E o Filho de Deus declarou: “Eu sou o Alfa e o Ômega.” “[Eu sou] Aquêle que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos” (Apoc. 1:8 e 18). “A morte —diz Paulo — já não tem domínio sôbre Êle” (Rom. 6:9).

Poderiamos Desistir Também

Adoramos a um Deus vivo, não a um Deus morto, e a igreja foi estabelecida para proclamar a tôda a humanidade as boas-novas do Deus vivo. Não sejamos infiéis para com êste dever. Mas que necessidade haverá disto, se Deus morreu? Os novos “ateus cristãos” estão realmente sugerindo que a igreja feche as portas e desista de suas atividades. Os valôres em depósito na igreja são Cristo, Deus o Pai, e o Espírito Santo. Se a Trindade acabou, nosso depósito se exauriu; nada mais temos a oferecer, e nós também poderiamos desistir.

Em conclusão, devo dizer que não sei quem está mantendo unido o mundo físico, se Deus morreu. Existe, porém, certa ligação recíproca nos átomos do mundo material que fazem supor uma fonte contínua de poder, coesão e vida. Numerosos cientistas dizem com reverência que êste poder é Deus. Os novos teólogos privaram êstes cientistas do seu Deus. Os cientistas seculares foram ultrapassados na Secularização pelos chamados mestres religiosos de nosso tempo. A falsa religião traiu seus próprios confidentes.

Durante muito tempo tem Satanás procurado matar a Deus. Disse Jesus a Seus inimigos: “Mas agora procurais matar-Me, a Mim que vos tenho falado a verdade que ouvi de Deus; assim” não procedeu Abraão. . . . Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe aos desejos. Êle foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nêle não há verdade. Quando êle profere a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” S. João 8:40-44.

Jesus foi morto na cruz. Êle ergueu-Se da tumba e afirmou: “Eu sou o primeiro e o último, e Aquêle que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos.” Apoc. 1:17 e 18. Jamais haverá outra cruz para Jesus, nem outro túmulo ou sepultura. A morte não tem domínio sôbre Êle nem sôbre Seu Pai.

O Senhor Rir-se-á Dêles

Precisamos rejeitar êsse nôvo ateísmo cristão, essa nova blasfêmia, com as palavras do próprio Deus. “Ri-Se Aquêle que habita nos Céus; o Senhor zomba dêles.” Sal. 2:4. Os homens realmente “se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos, e mudaram a glória do Deus invisível em semelhança da imagem de homem corruptível.” (Rom. 1:21-23). “É por êste motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do êrro, para darem crédito à mentira” (II Tess. 2:11), “pois êles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura, em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém” (Rom. 1:25).