Presente no batismo de Cristo, a Terceira Pessoa da Divindade trabalha para libertar cativos do pecado

Qual é a razão pela qual o Espírito Santo aparece representado por uma pomba, no relato do batismo de Jesus, conforme descrito nos evangelhos (Mateus 3; Marcos 1; Lucas 3; João 5)?

Exegetas do Novo Testamento admitem que a origem desse simbolismo provavelmente tenha sido o texto de Gênesis 1:2. Ao descrever a atividade do Espírito de Deus no momento da criação do mundo, o autor de Gênesis utilizou o verbo hebraico rahap (pairar, voejar). Esse é um verbo raro no Antigo Testamento. Além do texto de Gênesis, rahap também foi utilizado em Deuteronômio 32:11, onde o autor ilustra o cuidado de Deus com Seu povo no deserto, comparando-o ao de uma águia que paira (rahap) sobre o ninho, transmitindo dessa forma a ideia de proteção.

Em todos os textos disponíveis em ugarítico, idioma semítico ocidental com muitas semelhanças com o hebraico bíblico, rahap está sempre relacionado com pássaros, mais especificamente, águias. A importância disso é que tal verbo descreve a atitude de um ser vivo, não uma força ou energia.1 Negar a personalidade do Espírito Santo é o mesmo que ignorar a evidência linguística que esse texto oferece.

Observando rahap em outras línguas antigas, podemos apreciar melhor a beleza dessa passagem bíblica. Por exemplo, em siríaco, rahap significa geração. No árabe antigo, a ideia é de um pássaro suspenso, com asas abertas, demonstrando proteção e cuidado para com o respectivo ninho.2 Curiosamente, no talmude babilônico (B. Hahigah 15a), existe uma passagem que afirma o seguinte: “O Espírito de Deus estava chocando sobre a face das águas como uma pomba choca seus filhotes, embora não os toque.” De fato, há muito sentido na afirmação de que a imagem da pomba no batismo de Jesus teve origem no evento da criação.

Sendo assim, as testemunhas desse evento, que estavam familiarizadas com o relato de Gênesis 1:2 e com a literatura judaica da época, entenderam que o Messias estava iniciando uma nova criação. Em outras palavras, quando Jesus foi batizado, teve início uma nova era, e Deus, através do Espírito Santo, começou um processo de restauração espiritual de Seu grande trabalho na criação.3

Para o teólogo Ángel Manuel Rodriguez, jubilado ex-diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica da Igreja Adventista, a imagem da pomba também deve ser vista como símbolo de amor e libertação. No caso do amor, tal simbolismo é notado no livro de Cantares (2:14; 4:1; 5:2) bem como em Mateus 10:16. Quanto à ideia de libertação, Rodriguez cita os seguintes textos: Salmo 55:6; Isaías 60:8; Oseias 11:11 e Gênesis 8:10-12. No caso desse último texto, a pomba foi um sinal de paz, anunciando que o Dilúvio havia terminado.4

Tão importantes como são essas informações para nosso conhecimento, também é importante o significado delas para o cristão no século 21. Em nossas igrejas, muitas pessoas estão lutando contra a escravidão do pecado. Algumas estão experimentando a destruição que ele provoca, quer seja de forma secreta ou pública, inconsciente ou deliberadamente. Para essas pessoas, a grande solução é a presença do Espírito Santo de Deus, o mesmo Ser divino que esteve presente na criação do mundo, no batismo de Jesus Cristo, e deseja estar com todos os que buscam o amor e a libertação que somente podem ser alcançados por meio de um relacionamento com a maravilhosa pessoa de Cristo. O Espírito Santo nos desperta, motiva e conduz para essa experiência. Não podemos descartá-Lo, sequer minimizá-Lo em nossa vida e pregação, e ainda pretender desfrutar êxito no ministério pastoral.

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