8. A setuagésima “semana” confirma o concêrto. — Existem atualmente duas traduções diferentes de Daniel 9:27. Uma afirma que “Êle confirmará o concêrto” (K. J. V.); e a outra, tomando “semana” como sujeito, declara: “Uma semana estabelecerá o concêrto” (LXX e a Versão Grega de Teodócio). Parece haver idêntico apoio lingüístico para cada uma destas traduções. Um hebraísta refere-se a elas como divisão, em partes iguais, de evidência determinativa. A histórica opinião protestante aplica a palavra “Êle” a Cristo.

A outra tradução: “Uma semana estabelecerá o concêrto,” baseia-se na versão de Teodócio. E semelhante versão conta com positivo apoio dos eruditos. Zöckler (Lange’s Commentary, sôbre Daniel 9:27) menciona que Hävernick, Hengstenberg, Auberlen, Dereser, Von Lengerke, Kitzig, Rosenmüller e Hofmann consideravam “uma semana” como sujeito. Keil (op. cit., pág. 365) afirma que “muitos” defendem êste ponto de vista, e cita alguns dos nomes acima. Young menciona dois que tinham essa opinião (The Prophecy of Daniel, pág. 208). E Biederwolf (The Millenium Bible, pág. 223), embora êle mesmo não aceitasse êsse ponto de vis-ta, admite que: “Muitas autoridades empregam a palavra ‘semana’ como sujeito da frase — ‘uma semana confirmará o concêrto para muitos’.”

Cremos que esta última semana seria assinalada pelo supremo evento de tôdas as épocas — a morte redentora de Jesus Cristo. O que foi realizado durante essa derradeira “semana,” ou hebdomad, confirmou o nôvo concêrto e motivou a cessação de todo o sistema de sacrifícios designado para os tempos do Velho Testamento, por meio da morte de Cristo, como o definitivo e todo-suficiente sacrifício pelos pecados.

Cristo é aquêle que confirma o nôvo concêrto por Sua morte. Assim, não importa qual o sujeito — “Êle” ou “Semana” — Cristo é a figura central dessa setuagésima semana. Quer se dê ênfase à própria pessoa de Cristo, que confirma o concêrto, ou à semana em que ocorrem extraordinários eventos, centralizados em Cristo e na transação do Calvário que confirma o concêrto, Cristo permanece como a figura central do verso 27. Êste ponto de vista confere à última das setenta semanas a importância que deve ter, e que é exigida pela profecia como um todo, porquanto tôdas as predições do verso 24 dependem dos concomitantes eventos dessa derradeira e decisiva semana.

Outro ponto fundamental no texto é que a duração dêsse concêrto não seria meramente “por” uma semana, mas que êle havia de ser confirmado para sempre como ponto histórico nessa última hebdomad. E êste concêrto — o concêrto eterno de Deus — foi confirmado pelo sangue do divino Filho de Deus (Heb. 13:20), quando Se deu a Si mesmo pelos pecados do mundo, “na metade da semana.”

9. Término da setuagésima hebdomad. — Os expositores durante muito tempo têm estado à procura de algum evento incontrovertível para assinalar o término das setenta semanas de anos do verso 27. Não poucos sugeriram o apedrejamento de Estêvão (Atos 7). Mas isto é marcado diferentemente, como tendo ocorrido em 32, 33 ou 34 A. D. Outros têm considerado a conversão de Saulo (Atos 9), ou a declaração: “Eis que nos voltamos para os gentios” (Atos 13:46). A especificação da data dêstes episódios, entretanto, não é absolutamente segura. Em relação a isto, surge a pergunta: É realmente necessário destacar algum evento para assinalar o término das 70 semanas? Nenhum evento específico é predito na profecia; parece, portanto, que nenhum evento histórico é realmente evocado para indicar seu término.

Considerai a forma e a ênfase dessa profe-cia singular. Nas 70 “semanas de anos’’ — totalizando 490 anos, como em geral se reconhece — a ênfase não é colocada sôbre os anos componentes, em separado, mas sôbre as 70 unidades de sete anos. Estas unidades comumente são chamadas hebdomads (do grego hebdomas, um grupo de sete), ou heptads (com o mesmo significado). Como foi notado, há 70 destas hebdomads na profecia, reunidas em três grupos — 7, 62 e 1 — que juntos formam as 70. A profecia trata de eventos a ocorrerem em cada um dêstes grupos ou divisões principais: As 7 hebdomads (totalizando 49 anos) e as 62 (equivalendo a 434 anos) juntas formam 69 hebdomads (483 anos), antes de chegar à setuagésima hebdomad, ou última unidade de 7 anos. Young salientou de maneira interessante que a profecia está dividida nestas unidades de 7 anos, com determinadas coisas a ocorrerem em cada divisão principal. — Questions on Doctrine, págs. 288-290.