Dois erros mui censuráveis têm sido perpetrados por muitos que foram chamados por Deus para o ministério da Palavra. São erros que, desafortunadamente, debilitam o poder da pregação e militam contra os triunfos da causa de Cristo.
O primeiro consiste no fato de alguns pregadores, fugindo ao dever e à responsabilidade de pregar o poder redentor de Cristo, em linguagem simples e compreensiva, transformarem o púlpito em uma tribuna comum para uma exibição pedante e sofisticada de uma cultura livresca.
Com efeito, o púlpito não é o lugar próprio para exibições culturais, nem mesmo para o emprego de uma linguagem erudita, que esteja acima da capacidade perceptiva e assimilativa dos ouvintes. Ao revés. É uma tribuna através da qual nos é dado o privilégio de exaltar a Deus e magnificar a mensagem da cruz.
“Jesus — diz a irmã White — não usava palavras difíceis em Seus discursos; Servia-Se de linguagem simples, adequada ao espírito do povo comum. Não ia, no assunto que expunha, mais longe do que êles O podiam acompanhar.” — Obreiros Evangélicos, pág. 165.
Paulo, o maior e mais erudito dos pregadores escreveu: “E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propuz saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e Êste crucificado.” I Cor. 2:1-2. Na sua preocupação por instruir os conversos Coríntios nos rudimentos da fé cristã, êle declarou logo depois: “Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não porém a sabedoria dêste mundo, nem dos príncipes dêste mundo, que se aniquilam. Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistérios, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória.” I Cor. 26 e 7.
Anunciar, pois, “a sabedoria de Deus”, pregar “as boas-novas da salvação”, em linguagem simples, despretensiosa, porém escorreita e elegante, eis a responsabilidade de todos quantos são chamados a pregar o evangelho.
Mas, insurgindo-nos contra a retórica pomposa e condenando a exibição vaidosa de conhecimentos universitários, denunciamos também o segundo êrro, não menos ruinoso à obra da pregação: a negligência e o despreparo, tão evidentes na vida de muitos que pretendem falar aos homens em nome de Deus.
Certa vez João Wesley recebeu uma carta cujo autor com evidente atrevimento, assim se expressava: “Deus não necessita dos seus conhecimentos de grego e hebraico. Êle fará prosperar a Sua obra mesmo sem a sua cultura.” A esta, Wesley respondeu dizendo: “Recebi a sua carta, e valho-me da oportunidade para dizer-lhe que o Senhor também não necessita de sua ignorância.”
“Ê um fato lamentável que o progresso da causa seja prejudicado pela falta de obreiros educados. Muitos carecem de requisitos morais e intelectuais. Êles não exercitam a mente, não cavam em busca de tesouros ocultos. Visto que apenas tocam a superfície, adquirem unicamente o conhecimento que à superfície se encontra.” — Obreiros Evangélicos, pág. 90.
Interpretando erroneamente certos textos da inspiração, alguns ministros são levados até a combater de maneira extremada o cuidadoso preparo, tão indispensável à realização de uma obra eficaz.
Pregadores de reconhecido talento desavisadamente seguem a Gregório Magno, que assim se expressou: “Não me esquivo ao solecismo, não evito a corrupção do barbarismo, não cuido de observar a colocação pronominal e não me preocupo com a propriedade das proposições, considerando indigno que as palavras do celeste oráculo se submetam às regras de Donato (o gramático’).”
Jamais a beleza e o brilho da mensagem do evangelho deveriam ser ofuscados pelos solecismos e barbarismos de um negligente mensageiro. Portador da melhor mensagem, deve o pregador apresentá-la com a melhor linguagem.
Paulo, o evangelista das nações, tão apreciado por sua notável erudição e por sua simplicidade na exposição dos grandes princípios do evangelho, não era infenso à cultura ministerial. Ao contrário, exortando ao jovem ministro Timóteo, escreveu: “Convém pois que o bispo seja . . .apto para ensinar.” E um pouco adiante, nesta mesma epístola, êle acrescentou: “Persiste em ler …
Êle mesmo não foi indiferente ao manuseio dos bons livros pois em sua última carta a Timóteo, êle solicita: “Quando vieres traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, princípalmente os pergaminhos.”
Concluindo, dois são os males a evitar na pregação da mensagem redentora.
De um lado, o perigo do exibicionismo pretensioso de conhecimentos acadêmicos. Do outro lado, a ausência de preparo, a mediocridade, a ignorância.
Dois extremos censuráveis.
No meio têrmo está o caminho da virtude!