Este conceito — de que os 490 anos são subtraídos do período de 2.300 anos — parece ser a única conclusão acertada. Que o período das setenta semanas é separado ou subtraído de algum tempo, é indicado pelas duas citações mencionadas atrás. E o tempo de que foi “separado” ou “subtraído” parece ser o período mencionado na visão de Daniel 8, a saber, o período dos 2.300 anos. Guilherme Hales (A New Analysis of Chronology, 1833, Vol. 2, pág. 517) chegou à seguinte conclusão, há mais de um século no passado:
“Esta profecia cronológica . . . evidentemente tencionava explicar a visão precedente [capítulo 8], especialmente a parte cronológica dos 2.300 dias.”
Com êste conceito concordaram plenamente, se bem que de modo independente, dezenas de eruditos em várias organizações religiosas de muitos países, desde o tempo de João Petri, na Alemanha, de 1768 em diante.
4. Setenta “semanas de anos” indicadas pelo contexto e pelo uso”—A palavra traduzida por “semanas,” em Daniel 9:24, é shabuim (singular, shabua’’). Shabua simplesmente denota uma unidade de sete, e pode designar tanto um período de sete dias como de sete anos. O significado deve ser determinado pelo contexto e o uso. Na literatura posterior à Bíblia também pode ser claramente demonstrado o significado de “sete anos.” * Hebdomas, vocábulo empregado na Versão dos Setenta para traduzir shabua, é usado para períodos de sete dias e também para períodos de sete anos. A acepção que lhe é dada ali também precisa ser determinada pelo contexto e o uso. Cumpre observar que êste último emprêgo da palavra pode ser demonstrado na literatura clássica desde o sexto século antes de Cristo. (Consultar o têrmo hebdomas no A Greek-English Lexicon, de Liddell e Scott.)
Somos, portanto, levados a concluir, em harmonia com uma multidão de eruditos, que em Daniel 9:24-27 o profeta usou shabua para designar um período de sete anos literais. Para nós, as seguintes razões são persuasivas:
- a. Shabua’ ocorre seis vêzes em Daniel 9:24-27. Em cada uma delas o substantivo aparece sem qualificação. Noutra parte do livro de Daniel, shabua ocorre apenas no capítulo 10:2 e 3. Nesta última passagem o significado é claramente “um período de sete dias,” pois os versículos descrevem o jejum de Daniel — de três semanas literais, evidentemente. Convém notar, no entanto, que shabua’, da maneira como é usado aí, está qualificado pela palavra yamin, “de dias,” o que na margem da King James Version (inglêsa) é indicado como “semanas de dias.” Ora, o próprio fato de que Daniel, o escritor inspirado, achou necessária essa qualificação quando eram indicadas simplesmente semanas de sete dias, por certo sugere que quando êle usava a palavra sem qualificação, como em Daniel 9:24-27, sua intenção era designar um período de sete anos. E a Versão dos Setenta, neste sentido, segue o exemplo do hebraico. Ela traz apenas hebdomas em Daniel 9:24-27, mas dá-lhe a qualificação “de dias” em Daniel 10:2 e 3. A distinção e o intento são óbvios.
- b. Foi mencionado (ver a Pergunta 24) que um aspecto característico da profecia simbólica é apresentar os componentes períodos de tempo, não literalmente, mas de forma simbólica. Também foi demonstrado que Daniel 9:24-27 é uma seqüência da explicação literal da visão simbólica iniciada em Daniel 8:19-26. Sendo que Daniel 9:24-27 é uma parte da explicação literal da visão simbólica, teríamos logicamente de esperar que os elementos de tempo fôssem dados igualmente em têrmos literais. Tal é o caso se a shabua’ fôr atribuído aí o evidente significado de “sete anos.” De modo geral, entre os eruditos judeus, católicos e protestantes, aceita-se que se shabua’ em Daniel 9:24 tem o significado de “sete anos,” então setenta shabuim indicam claramente um período de 490 anos.
5. Subdivisões de uma unidade global. — Aparece primeiro uma declaração geral da duração do período, e depois os pormenores da maneira em que se daria o cumprimento. As setenta semanas, coletivamente, foram divididas por ênfase em três segmentos desiguais — 7 semanas, 62 semanas e 1 semana, dando um total de 70. Uma explanação ou um evento importante estavam relacionados com cada uma das partes. Cremos serem estas apenas subdivisões de uma unidade cronológica, ocorrendo as três partes uma após a outra, sem interrupção. (As razões para isto serão expostas na Pergunta 26.)
Notai as circunstâncias: Jerusalém estava em cativeiro, e o santuário, ou o Templo, em ruínas. Veio então a “ordem,” ou emissão duma série de decretos, para restaurar e reedificar Jerusalém. De acôrdo com Esdras 6:14, esta ordem abrangeu três decretos progressivos e relacionados entre si, dados em seqüência por Ciro, Dario e Artaxerxes. ** O decreto de Ciro (que apenas ordenou a restauração do Templo) foi emitido em 537 A. C.; o de Dario Histaspes (que confirmou a ordem e continuou a obra da restauração do Templo) foi promulgado provàvelmente em 519 A.C.; e por fim, o decreto culminante saiu em 457 A. C., no sétimo ano de Artaxerxes Longímano, que enviou Esdras à Judéia com novos privilégios e prerrogativas.
O Templo foi concluído em 515 A. C., no sexto ano de Dario (Esdras 6:15). Mas sòmente em 457 A. C. se obteve autorização para a completa restauração da cidade. Isto antevia a nação judaica recebendo plena autonomia, com meios para aplicar suas próprias leis — sujeita, naturalmente, à soberania do Império Persa (Esdras 7:11-26). Foram portanto necessários os três decretos, princípalmente o de Artaxerxes, para completar e constituir a “ordem” ou o propósito de Deus. ***
As sete semanas iniciais (ou 49 anos) possibilitaram a reconstrução das ruas e dos muros de Jerusalém. As 62 semanas adicionais (ou 434 anos) atingiram ao tempo em que devia aparecer o Messias. Êste período de 62 semanas, em contraste, foi uma extensão de anos um tanto calma ou silenciosa, incluindo o tempo entre Malaquias, o último dos profetas, e João Batista, precursor do Messias e aquêle que O batizou. Foi, significativamente, um período em que não houve especiais comunicações proféticas da parte de Deus para o povo.
Contudo, as sete semanas de anos iniciais, juntamente com as 62 semanas, devem ser consideradas como ininterrupta unidade cronológica de 69 semanas (Dan. 9:25), sem lacuna ou solução de continuidade. São um total de 69 “semanas” de anos (perfazendo 483 anos) conduzindo à semana final de sete anos, no meio da qual seria “tirado” o Messias.
Percebe-se que os 483 anos (69 “semanas”), se estendem até à unção de Jesus como o Messias, pelo Espírito Santo em Seu batismo (S. Luc. 3:21 e 22). Cremos que Êle iniciou Seu ministério público em 27 A. D., após Sua unção (S. Mar. 1:14; S. Luc. 4:18; Atos 10:38; Heb. 9:12). Mas as setenta semanas de anos não deviam terminar antes de ocorrer a morte expiatória de Cristo (ver a Seção 9), resultando em seis eventos específicos — indicados pelas seis cláusulas consecutivas do verso 24. Ei-las:
- (1) os judeus completariam sua transgressão através da rejeição de Jesus como o Messias,
- (2) o Messias daria fim aos sacrifícios pelo pecado,
- (3) Êle faria reconciliação pela iniqüidade,
- (4) Êle traria justiça eterna,
- (5) a visão deveria ser selada ou autenticada, e
- (6) deveria ser ungido o Santo dos santos.
Seria, porém, “depois” das 69 semanas de anos — todavia dentro da última ou setuagésima semana — que o Messias havia de ser “tirado,” o que é o ponto focal desta profecia. Cremos que quando nosso Senhor ascendeu ao Céu, e o Espírito Santo desceu como sinal da investidura de Cristo como Sacerdote celestial, nenhuma destas especificações de Daniel 9:24 ficou sem ser plenamente cumprida.
Conforme reconhecem muitos eruditos cristãos, Jesus iniciou Seu ministério público no próprio início da final ou setuagésima semana de anos, declarando: “O tempo está cumprido” (S. Mar. 1:15). E nesta derradeira “semana” de anos, assim iniciada, Êle confirmou por Sua vida e ensinos, e ratificou por Sua morte, o concêrto eterno da graça, que Deus fizera com a família humana. Devido a Sua morte, ressurreição e ascensão na “metade” da setuagésima semana, Êle não permaneceu na Terra durante a segunda metade desta semana. Mas Sua mensagem e missão continuaram a ser pregadas por algum tempo (possivelmente três anos e meio) aos judeus em Jerusalém, pelos primeiros evangelistas. Destarte o prazo de graça para Israel continuou por breve espaço de tempo, e as setenta semanas completaram seu curso designado.
- * Quanto às “semanas de anos,” notai o seguinte dos escritos judaicos:
- 1. Acêrca de que “Êle confirmará o concêrto com muitos por uma semana” (Dan. 9:27), diz Midrash Rabbah: “‘Semana’ representa um período de sete anos.” — Lamentations, Ed. Soncino, pág. 65, nota 3.
- 2. Sôbre “setenta semanas estão determinadas” (verso 24), declara o Talmude: “Esta profecia foi proferida no início do cativeiro de setenta anos em Babilônia. Desde a restauração até à segunda destruição diz-se que houve 420 anos, perfazendo ao todo 490, isto é, setenta semanas de anos.” — Nazir 32b, Ed. Soncino, pág. 118, nota 6.
- 3. No tocante a que “Êle confirmará o concêrto com muitos por uma semana,” afirma o Talmude: “Uma semana em Daniel 9 significa uma semana de anos.” — Yoma 54a, Ed. Soncino, pág. 254, nota 6.
- 4. A respeito das “setenta semanas” — isto é, sete vêzes setenta anos — declara J. J. Slotki: “A fraseologia enigmática pode ter sido sugerida pelo ciclo de sete anos de Lev. XXV. A expressão ‘semana de anos’ ocorre na Mishnah (Sanh. v. 1).” — Daniel, Ezra, and Nehemiah, pág. 77.
- 5. Escreve Isaque Leeser: “Antigos escritores judaicos achavam que o segundo templo permaneceu em pé durante 420 anos, os quais com os 70 anos do cativeiro babilônico, somam 490.” — The Twenty-four Books of the Holy Scriptures (1853), sôbre Daniel 9:24 e 25, pág. 1243, nota 47. Leeser também faz alusão a Rashi e outros comentaristas, que reconhecem aí “semanas-anos” (nota 48). Acêrca das “sessenta e duas semanas” (verso 25), diz Slotki: “Jerusalém será uma cidade plenamente restaurada durante um período de 434 anos.” — Op. cit., pág. 78.
- * * Foram necessários os três decretos — de Ciro, de Dario e de Artaxerxes — para cumprir a “ordem” de Deus (Esdras 6:14). Ao chegar, porém, o ano 457 antes de Cristo, a “ordem” de Deus estava completa. Por conseguinte, cremos que 457 A. C., o sétimo ano de Artaxerxes, constitui a data inicial do período profético mencionado em Daniel 9:24.
*** Quanto a ser 457 A. C. o sétimo ano de Artaxerxes, e portanto a data determinante, ver The Chronology of Ezra 7 (1953), de Siegfried H. Horn e Lynn H. Wood. (A confirmação pormenorizada para esta data aparecerá sob a Pergunta 27.)
6. O Messias “tirado”por morte violenta. — A precisão dos eventos finais das setentas semanas é deveras impressiva. A confirmação do concêrto caracteriza a setuagésima semana, com a morte do Messias “na metade da semana.” E mesmo o lugar, ou a cidade, em que devia ser efetuada a expiação é revelado aí. O Messias, o Príncipe, ou o Príncipe Ungido * (Daniel 9:25; comparar com Atos 10:38) viria, não como glorioso conquistador e emancipador, mas para ser “tirado” (karath) + por morte violenta e vicária (comparar com Isa. 53:8). Esta palavra comumente é usada para a penalidade da morte. Isto não seria em benefício dÊle mesmo (Dan. 9: 26 — K. J. V.) — seria uma morte substituinte. 4- Ocorrería por ordem judicial, ou violência da turba. E isto se daria na “metade” (chasi) da semana (verso 27). O Messias foi tirado pelo homem ou para o homem. Êste era o meio pelo qual deveria cumprir-se a profecia.
Achamos que essa “metade” é peremptória, designando um ponto em que deveria ocorrer algo — a morte de Jesus Cristo, o Messias, que pensamos tenha ocorrido na primavera de 31 A. D., exatamente 3 anos e meio após Sua unção e o início de Seu ministério público. Mesmo que seja tomado o ano 30 A. D. como a data da crucifixão, ainda se encontra no meio desta última semana de anos. A Vulgata de Jerônimo diz dimidio hebdomadis (“na metade da semana”). Essa é igualmente a tradução da K. J. V., de Rau, Boothroyd, Sawyer, Spurrell, Young, Rotherham, Knox, Rheims-Douay, da A. R. V., da Bíblia alemã de Lutero e da francesa de Martin e Osterwald, bem como da Versão Almeida, em português. ** Mesmo a Revised Standard Version(inglêsa) que traduz aí a palavra chasi por “pelo meio da,” em outras partes verte a mesma palavra por “na metade de” (Josué 10:13; Salmo 102: 24; Jer. 17:11).
Ademais, no momento da morte de Cristo como o Cordeiro de Deus, todos os sacrifícios típicos encontraram seu cumprimento antítipo. Soou o seu dobre de finados. A maneira sobrenatural em que se rasgou o véu do Templo (S. Mat. 27:50 e 51) era a declaração do Céu de que os simbólicos sacrifícios e oblações de animais, por parte dos judeus, perderam a eficácia, e haviam para sempre cessado no plano de Deus. A senda de acesso à presença divina foi aberta por Cristo (Heb. 10:19 e 20). Podia o homem aproximar-se agora diretamente de Deus, sem a intervenção de um sacerdote humano, pois Cristo, e Cristo sòmente, constituía o nôvo e vivo “caminho” (S. João 14:6). O cumprimento correspondeu plenamente às especificações da profecia, que declarava: “Êle “fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares” (Dan. 9:27).
Não se atribuiu especial importância ao ponto terminal da setuagésima semana. Ocorrería depois que se cumprissem tôdas as seis especificações. Numerosos eruditos têm afirmado que a rejeição dos judeus, como o povo do concêrto de Deus, não sucedeu antes de apedrejarem a Estêvão, o primeiro mártir cristão (Atos 7: 57-60). Quando terminaram as setenta semanas de anos, irrompeu geral perseguição sôbre a igreja (Atos 8:1). Declarava a profecia que o concêrto seria confirmado durante “uma semana” (Dan. 9:27). Durante a última parte desta profetizada setuagésima semana, os apóstolos pregaram a morte sacrifical, a ressurreição e a ascensão de Jesus Cristo em Jerusalém, até o culminante sermão de Estêvão, sob o Espírito de Deus, resultar no seu martírio, quando a mensagem do Messias finalmente foi rejeitada pelos judeus (Atos 7).
* Concordamos com Keil e F. Delitzsch, Bible Commentary on the Old Testament, The Book of Daniel the Prophet, págs. 354, 355 e 360), em que existe apenas Um que ao mesmo tempo é sacerdote e rei, segundo a ordem de Melquisedeque (Heb. 5:6-10; 6:19 e 20).
A palavra hebraica karath aparece 180 vêzes no Velho Testamento. Na maioria delas é traduzida por “exterminado,” como “os malfeitores serão exterminados” (Salmo 37:9), a “descendência dos ímpios será exterminada” (Sal. 37:28; ver também os versículos 9, 34 e 38).
Sôbre a cláusula “e nada terá” (“e já não estará” — na Ed. Revista e Atualizada no Brasil) (Dan. 9:26, margem), muitos eruditos no hebraico admitem que o significado é: Êle nada possuirá então — nem povo, nem posição, nem reconhecimento, nem reino. Será despojado de tudo. (Entre êles encontram-se: Calvino, Ebrard, Kranichfeld, Kliefoth, Junius, Gaebelein, Morgan, Scofield.) Outras versões são: (1) “não para Si mesmo” — mas para os outros (Vitringa, Rosenmüller, Willett, Hävemick, Bullinger); (2) “não terá adeptos” (Auberlen, Grotius, margem); (3) “não haverá quem O ajude” (Vatalus); (4) “nada haverá para Êle” — nem cidade, santuário, reino ou povo (Pusey); (5) “não é para Êle” — Sua posição como Messias, que não Lhe foi concedida (Keil). Quão perfeitamente se harmoniza isto com a afirmação de que Êle “veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam” (S. João 1:11)!
Seu primeiro advento, não com o segundo. A morte sacrifical do Messias é fundamental, e é o evento culminante desta profecia. E êstes seis cumprimentos surgem dêsse fato consumado. Notai-os:
- (1) Para fazer cessar a transgressão (verso 24). O sentido desta frase é o de levar a transgressão ao máximo. O ato de encherem os judeus a medida da iniqüidade foi mencionado por nosso Senhor, ao dizer: “Enchei vós, pois, a medida de vossos pais” (S. Mat. 23:32; comparar com Gênesis 15:16). Seu pecado culminante foi, naturalmente, a rejeição e crucifixão do Messias. Desta maneira a nação passou a linha de que não haveria retôrno. “Eis que a vossa casa vos ficará deserta,” declarou Jesus (S. Mat. 23:38). Isto cumpriu a profecia do Mestre: “O reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que Lhe produza os respectivos frutos” (S. Mat. 21:43).
- (2) Para dar fim aos pecados, ou ofertas pelo pecado (chatta’th; comparar com Lev. 4:3, 21, 24 e 32). Quando foi efetuado o grande sacrifício no Calvário, e o Cordeiro de Deus, o verdadeiro sacrifício, foi morto para tirar o pecado do mundo (S. João 1:29), isto acabou com as ofertas cerimoniais pelo pecado. Diz Daniel 9:27: “Fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares.” O véu do Templo rasgou-se quando Jesus morreu. No Calvário as ofertas cerimoniais pelo pecado perderam tôda a eficácia, e logo cessaram completamente.
- (3) Para expiar a iniqüidade. Por meio da morte do Filho de Deus, efetuou-se cabal expiação para a redenção do mundo perdido. “Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo” (II Cor. 5:19). Fêz-se a paz pelo sangue da Sua cruz (Col. 1:20). Fomos reconciliados com Deus mediante a morte do Seu Filho (Rom. 5:10), e com os apóstolos nos regozijamos em Deus “por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem acabamos agora de receber a reconciliação” (verso 11).
- (4) Para trazer a justiça eterna. A morte de Cristo não tornou imediatamente justos todos os homens, mas Seu sacrifício proveu os meios tanto para imputar como para comunicar ao pecador penitente a justiça de Sua vida inocente e santa. “Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo Sua misericórdia, Êle nos salvou” (Tito 3:5). E agora podemos “declarar a Sua justiça pela remissão dos pecados que são passados” (Rom. 3:25—K. J. V.). Êle veio “cumprir tôda a justiça” (S. Mat. 3:15). E nÊle temos a certeza de que a justiça logo encherá a Terra, e que o pecado será banido para sempre, quando Êle vier em glória com todos os Seus santos anjos.
- (5) Para selar a visão e a profecia. Esta profecia das setenta semanas, que se centraliza no grande sacrifício de nosso Senhor, constitui o próprio sêlo de tôda a profecia, pois em Cristo convergem a História e a Profecia. Num sentido específico, porém, êste período de 70 semanas constitui o sêlo de tôda a visão dos 2.300 dias-anos. O ato de selar a visão inteira é uma evidência adicional de que a profecia de Daniel 9 é uma continuação da explicação literal da visão de Daniel 8.
- (6) Para ungir o Santo dos Santos. A expressão “Santo dos Santos” é usada exclusivamente com referência a coisas e lugares, e nunca a pessoas. Declara Dean Farrar (The Book of Daniel, 1895, pág. 278): “Nenhuma vez usada concernente a uma pessoa, embora ocorra quarenta e quatro vêzes.” A Tradução Brasileira traz “Santíssimo.” Keil (op. cit., págs. 346, 348 e 349) salienta o ponto de que isto é um “nôvo templo,” um “lugar santíssimo,” o “estabelecimento do nôvo Santo dos Santos,” em que será manifestada a presença de Deus.
Visto que o ministério de Cristo é efetuado no santuário celestial, não no terrestre, achamos ser isto óbvia referência à unção ou consagração do santuário celestial, como passo preparatório para a coroação e investidura de Cristo como rei e sacerdote (Heb. 8:2; 9:23 e 24), ou em conexão com elas — ocorrendo após Sua morte expiatória, ressurreição e ascensão, e antecedendo Seu ministério de intercessão em favor dos pecadores.
No tipo terrestre, o santuário-tabernáculo também foi dedicado solenemente, sendo tôdas as suas partes e instrumentos ungidos com santo óleo antes de se iniciar o ritual terrestre (Êxo. 30:26-28; 40:9). Semelhantemente, o grande antítipo, o santuário celestial, foi ungido e separado para os serviços celestiais e o incomparável ministério de Cristo nosso grande Sumo Sacerdote, no próprio Céu (Heb. 9:23 e 24). Para êste ministério Êle também foi consagrado (Heb. 1:9; 7:28). Assim Cristo veio no tempo predito e realizou as coisas que estavam preditas. Ascendeu ao Seu ministério de intercessão por meio da cruz, e foi exaltado como Príncipe e Salvador. Cremos que Messias, o Príncipe (Mashiach Nagid), ou o “Ungido” (Dan. 9:25), refere-se a Cristo. De Sua crucifixão e ressurreição, dirigiu-Se para o assento do poder à destra de Deus (Heb. 1:3; 8:1; 9:24; 12:2). A aparente derrota da cruz tornou-se assim gloriosa e eterna vitória.
Acreditamos que esta série de cumprimentos confirma plenamente esta interpretação. Segundo nossa maneira de compreender, os eventos iniciais e finais das setenta semanas de anos harmonizam-se portanto uns com os outros, havendo completa unidade e concordância de tôdas as subdivisões que as compõem. — Questions on Doctrine, págs. 275 a 288.