Quando a igreja perde a solicitude, perde a Cristo. Nosso Salvador bem podia ser chamado de O Solícito, pois a solicitude é a nota tônica de Seu trato com a humanidade. A cruz reflete esta qualidade fundamental do Seu caráter. “A alma que se entregou a Cristo é mais preciosa a Seus olhos do que todo o mundo. O Salvador teria passado pela agonia do Calvário para que uma única alma fôsse salva no Seu reino.” — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 362.
O pastor deve manifestar esta solicitude em seu ministério, pois o verdadeiro ministério está centralizado nAquele que é solícito. Ao fazer isto, estará êle dando importante passo em despertar o mesmo interêsse no coração de seus membros. E no mundo despreocupado de hoje é esta uma contribuição necessária. Constitui um incentivo para o espírito de avivamento ambicionado por muitas congregações. Quando os membros percebem interêsse por parte do pastor, quando a solicitude inunda as mensagens no sábado de manhã, quando a necessidade humana é satisfeita através da pregação de Cristo e Sua plenitude, quando se manifesta desvêlo por meio do olhar, do tom da voz e das palavras proferidas junto à porta, quando a preocupação pelas almas impele o pastor a visitar os lares necessitados — efetuou-se um sólido início.
Mecanismos em Ponto Morto
Quando os membros começam a experimentar certa solicitude uns pelos outros, é provável que ocorra algo. Poderá ser alguma ação definida, ou então a cabal repressão dêste renovado interêsse na condição espiritual dos outros. Alguns, por decisão própria, começarão a visitar os fracos, os desanimados, os doentes e os faltosos. Mas a maioria não o fará. A semente da ação poderá estar ali, talvez exista a resolução de fazer algo “na semana que vem,” mas o veículo da solicitude deter-se-á aí, belo em sua aparência, poderoso em sua energia latente — mas com o mecanismo em ponto morto! Alguém terá de engatar essas engrenagens! Freqüentemente é a mão do pastor que suave, mas firmemente, faz esta mudança essencial. O signatário teve esta experiência.
Mais de 20% de nossos membros encontravam-se em visível regressão espiritual. Isto não incluía os que eram inválidos ou que compareciam esporadicamente quando experimentavam grandes responsabilidades pessoais ou mesmo certa apatia espiritual. A posição do pastor era clara — pela graça de Deus precisava recompor êsse quadro!
Orando Pelos Apostatados
Seguiram-se meses de fervorosa e penetrante pregação. Nestas mensagens foram incluídos sermões sôbre indiferença, técnicas de Satanás para arruinar a alma, a insensatez duma religião nominal, inventário espiritual, depressão, desânimo, o devido lugar da personalidade, o amor de Deus, estabilidade cristã, santificação, a Segunda Vinda, a vida e o ministério de Jesus, normas cristãs, e outros. No decorrer dêstes meses manifestou-se bastante solicitude pelas ovelhas tanto dentro como fora do rebanho. Constantemente trocávamos idéias a respeito da necessidade de reaver nossos membros ausentes, animando os desanimados, estimulando os inválidos, conquistando para Cristo nossa cidade de meio milhão de habitantes, sempre imaginando empenhar-se numa tentativa cristã para salvar o maior número possível de pessoas. Ocasionalmente era feita discreta referência aos mais de vinte membros que seriam submetidos à disciplina da igreja a menos que nos interessássemos em auxiliá-los. Podeis imaginar as fervorosas orações que ascendiam ao Céu em nossos pequenos grupos de oração, tôdas as quartas-feiras à noite, à medida que foi crescendo nossa solicitude.
Organização sob Medida
Quando a Comissão Missionária de nossa igreja se reuniu a fim de elaborar os planos para o ano seguinte, estávamos preparados. Como dirigentes na igreja, êles desde o início manifestaram solicitude cristã, mas agora êsse espírito se aprofundara e todos sabíamos que esta semente de cristianismo do Nôvo Testamento atingiría cabal desenvolvimento. Podeis ter certeza de que o pastor se dirigiu àquela reunião com uma prece nos lábios e um plano na mente!
Consideramos minuciosamente o plano. Precisávamos de organização, mas sem excessos. Sabíamos também que necessitávamos dum programa coordenado que abrangesse os principais departamentos da igreja, fazendo-os trabalhar unidos em vez de se sobreporem e rivalizarem entre si. A Comissão Missionária, composta dos diretores das atividades missionárias, dos anciãos, do presidente da Escola Sabatina e do diretor dos Missionários Voluntários, foi uma excelente comissão orientadora.
Como Impedir os Membros de Dormir nos Sábados à Tarde
Eis os principais pontos do plano que adotamos: Deveria ser um consistente e contínuo programa de visitação, cada semana. Não desejávamos nada que fôsse esporádico, de pouca duração e de diminuta utilidade. À noite já havia tantas atividades da igreja, que escolhemos os sábados à tarde como o melhor tempo disponível para isso. Adotamos o plano de que todos os que desejassem participar do programa de visitação, trouxessem lanche cada sábado. As famílias trariam um ou dois pratos de alimento, e nós os repartiriamos para a refeição de sábado numa das dependências da igreja. Êste companheirismo nos uniria mais firmemente ainda, fortalecendo-nos para a tarefa de fortalecer os outros. Asseguraria maior número de obreiros em prontidão para realizar visitas, pois muitos com excelentes intenções nunca conseguiam resistir ao convidativo sofá após a refeição tomada em casa, no sábado. A fim de facilitar o regresso dos que tinham de ir para casa após o culto, marcamos para as duas horas da tarde o tempo de nos reunirmos.
Após a merenda em conjunto, congregávamo-nos no santuário, Cantávamos um ou dois hinos apropriados e orávamos sôbre os nomes e as condições dos que constituíam objeto de nosso interêsse. Analisávamos então os problemas que surgiam em nosso trabalho, semana após semana. Isto levava quinze a trinta minutos, e então eram distribuídos os endereços das pessoas a serem visitadas.
Um grande mapa da cidade foi montado num pedaço de Celotex. O mapa foi dividido em amplos distritos geográficos, contendo unidades menores, e cada família era indicada por um alfinête numerado. Isto possibilitaria a rápida localização das famílias a serem visitadas pelas equipes.
Os nomes e as indicações das pessoas visitadas foram guardados num arquivo. Os nomes e os endereços das famílias da igreja eram anotados em ordem alfabética nos cartões. No canto direito, ao alto, foi colocado um número designativo, como por exemplo: IV-2 (3). Êste código fazia alusão, respectivamente, ao número do distrito, à unidade dentro dêsse distrito e ao número do alfinête dessa família especial dentro da unidade. Atrás desta lista completa das famílias havia divisões de particular interêsse para nossas equipes de visitação. Incluíam o seguinte: “Membros Ausentes,” “Inválidos,” “Pessoas que Não Freqüentam a Escola Sabatina,” e “Interessados Evangelísticos.” Nestas divisões colocamos cartões em duplicata, apropriados à condição das pessoas que constituíam objeto de nosso interêsse.
A seção dos “Membros Ausentes” recebia todos os nomes sob disciplina da igreja, além de alguns outros que se ausentavam da igreja durante várias semanas consecutivas. A dos “Inválidos” recebia os nomes de doentes e pessoas idosas que nunca, ou apenas ocasionalmente, freqüentavam os cultos. Na parte do arquivo destinada aos que faltavam à Escola Sabatina, colocávamos cartões para cada membro que não comparecia durante dois sábados consecutivos — isto é, receberíam uma visita no segundo sábado à tarde, após haverem estado ausentes. Os “Interessados Evangelísticos” incluíam colegas e amigos dos membros da igreja, que tivessem algum interêsse na Verdade, e outras pessoas mais. (Entretanto, o programa de visitação devia começar “na casa de Deus,” com simples visitas de interêsse e solicitude, demonstrando vigorosamente o quanto sentíamos falta dos membros ausentes. Isto revelaria tanto a simplicidade como as recompensas de ganhar almas, e estimularia o desejo de conquistar outras pessoas para o evangelho.)
Quando as Pessoas Não Estão em Casa
Um aspecto que significaria muito, seriam as folhas de papel em branco, medindo uns 7 por 12 centímetros, disponíveis cada sábado. Deviam ser usadas para alguma nota pessoal, escrita a mão, enfiada debaixo da porta, quando ninguém se encontrava em casa. Achamos ser isto muito superior a qualquer cartão impresso e padronizado que pudéssemos produzir. Êste fator pessoal, embora pequeno, seria de inestimável valor. Os ministros muitas vêzes têm considerado uma bênção não encontrar ninguém em casa durante certas ocasiões em que uma mensagem escrita enfiada debaixo da porta preparou o caminho para o posterior encontro pessoal. O mesmo parecia lógico para o nosso programa de visitação.
O passo seguinte foi dar um nome ao nosso programa. Queríamos algo que incentivasse a mente das pessoas, ao mesmo tempo que desse uma idéia de nosso objetivo. Sentimos que Deus no-lo deu: Operação Alastramento.
Deus — Alma — Irmão
Os últimos três meses confirmaram a veracidade da seguinte declaração: “Procurei o meu Deus, mas não O pude ver; procurei minha alma, mas não consegui encontrá-la; procurei meu irmão e achei todos os três.” A linguagem humana é incapaz de descrever o espírito que resultou da Operação Alastramento. Em equipes de duas ou três pessoas, temos visitado dois a quatro lares cada sábado à tarde. A cooperação mantém-se inalterável. Algumas famílias que faltam nalgum sábado ocasional, estão fielmente de volta no sábado seguinte, e se acontece alguém retirar-se, sempre parece haver alguém para preencher seu lugar. Manifesta-se um sentimento de prontidão espiritual que aquece o coração. Mais de um têrço das vinte e tantas pessoas que estavam sob a disciplina da igreja foram recuperadas como resultado direto de nosso esfôrço. Os inválidos recebem a mais cabal atenção. O grande número de membros que participaram da Operação Alastramento possuem mais profunda compreensão das necessidades espirituais da igreja. Além disso, testemunharam por si mesmos os milagres operados pela solicitude pessoal para com os indivíduos. Estamos agora ampliando o trabalho, para incluir os interessados evangelísticos. Já há pessoas freqüentando regularmente a igreja em resultado disso. Até o fim de 1965, foram efetuadas mais de 1.000 visitas pessoais através da Operação Alastramento. E quando houver aquela fatídica reunião de negócios da igreja para considerar os nomes a serem disciplinados, como palpitará o coração do pastor com o pensamento de que certas pessoas não se encontram na lista, em virtude de alguém manifestar solicitude por elas!
Cuidando dos Bebês e das Refeições Especiais
Descobrimos meios de melhorar nosso programa, e procuramos aproveitá-los ao máximo. Por exemplo, temos agora uma senhora responsável para providenciar alguma pessoa competente que cuide dos bebês de casais que desejam tomar parte no programa. Também estimulamos a idéia de que cada família que o puder fazer, permaneça para o lanche em conjunto, mesmo que não lhe seja possível participar da visitação. Há dois motivos para isto: (1) Achamos inestimável o companheirismo na refeição de sábado; e (2) sabemos que bastará apenas uma refeição ou duas para ficarem imbuídos do espírito de evangelismo do Nôvo Testamento, de que se acha impregnada a Operação Alastramento. E insistimos com todos os visitantes para que permaneçam até tomarem o lanche conosco. Êles não sòmente recebem uma refeição especial — ficam também com ótima impressão dos adventistas do sétimo dia.
Naturalmente, há muitas alterações que poderiam ser introduzidas nesta espécie de programa. Contudo, quaisquer que elas sejam, devem caracterizar-se pela solicitude pessoal.
Quando eu era estudante no colégio e seminário, muitas vêzes tinha vontade de saber quais os sentimentos experimentados pelos apóstolos ao transmitirem a mensagem de Cristo, Aquêle que revelava solicitude para com as pessoas. A Operação Alastramento — que consiste em interessar-se na condição espiritual das pessoas — proporcionou-me mais do que uma resposta parcial.