Alguns pensamentos do Espírito de Profecia focalizam bem a importância da doutrina da justificação pela fé para a vida e felicidade do crente:

“Saibamos que nossas igrejas estão morrendo por falta de ensino do assunto da justiça pela fé em Cristo e outros assuntos importantes.” (1) (Grifo nosso.)

“Justificação pela fé e a justiça de Cristo são os temas que devem ser apresentados a um mundo que perece.” (2)

Sendo êste o tema a ser apresentado a um “mundo que perece,” não o deveria ser igualmente às nossas igrejas? pois estão morrendo por sua falta!

Perguntai uma vez aos candidatos ao batismo se o homem pode ser salvo pela guarda da lei, e a porcentagem alta de respostas afirmativas vos convencerá de que de fato é êste um assunto que não está recebendo a atenção que deveria receber. Não há muita compreensão dos passos de nossa salvação. Mas há grande desejo de saber, muita expectativa de conhecer melhor o caminho e como chegar ao “Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo.”

É-nos dito que a mensagem da justificação pela fé é “a mensagem de Deus,” a “mensagem da verdade,” a “verdade como é em Cristo,” a “mensagem que Deus ordenou fôsse dada ao mundo,” a “mensagem que leva as credenciais do Céu,” e a “mensagem do terceiro anjo em linhas distintas e claras.” (3)

Esta é a mais sublime verdade jamais revelada ao homem, e é consolador saber que “um interêsse prevalecerá, um assunto absorverá todos os outros — Cristo, nossa Justiça.” (4) E quando esta verdade fôr mais amplamente compreendida, então nova vida, uma experiência mais profunda permeará tôda a igreja e a preparará para o derramamento da chuva serôdia. Precisamos como nunca esta experiência a fim de poder terminar, com o poder de Deus, a tarefa diante de nós. W. H. Branson pensa que o “Espírito Santo virá em todo o poder quando a igreja de Deus se apoderar da justiça de Cristo pela fé como uma experiência viva e pessoal.” (5)

História de sua Influência

Para compreender melhor o assunto da justificação pela fé, convém têrmos uma breve idéia da na igreja. Naturalmente nós nos recordamos de que os primeiros membros da nossa Igreja eram pessoas vindas de várias igrejas evangélicas: metodistas, batistas, anglicanos etc., e que não sòmente aceitavam esta doutrina e nela criam, mas era-lhes uma experiência feliz, viva e pessoal. Não havia pois problema relacio-nado com esta doutrina. Tôda a sua atenção se focalizava nas doutrinas distintivas do Movimento do Advento: guarda da lei, sábado, imortalidade condicional, vinda de Jesus etc. Não tomavam tempo em discutir o que lhes era ponto pacífico, aceito por todos.

Mas, com o correr dos anos, centenas e milhares de membros novos se filiaram à igreja. Muitos dêles eram filhos de membros da nossa denominação, e talvez nunca tivessem ouvido falar da justificação pela fé. Êste assunto, como já vimos, era tomado como subentendido, e assim, através dos anos, chegou a ficar num lugar secundário, relegado a segundo plano, até quase vir a ser perdido de vista. Surgem, então, da parte da serva do Senhor, advertências quanto ao perigo do legalismo, exortações cada vez mais freqüentes no sentido de dar-se a Cristo uma posição mais central, bem como demonstrações da necessidade de aceitá-Lo e a Sua salvação pela fé. Sua preocupação se acha expressa nas seguintes palavras: “Há verdades há muito escondidas sob o entulho do êrro e que devem ser reveladas ao povo. Muitos que professam crer a verdade do terceiro anjo, perderam de vista a doutrina da justificação pela fé.” (Grifo nosso.) (6)

Examinando-se a literatura dos nossos primeiros anos de existência como igreja, (7) nota-se o que acima foi dito: a aceitação desta doutrina era pacífica, mas pouco ou nenhum destaque se lhe dava. Perdia-se de vista no meio a outros assuntos de mais atualidade para êles, e maior interêsse. O pouco que se escreveu vinha princípalmente da pena de Tiago e E. G. White. Assim em julho de 1849, Tiago White escreveu em The Present Truth que guardar os mandamentos, ainda que importante, “não salvará a ninguém,” e que “devemos ter ativa e viva fé em Jesus.” Em 1852, comentando Gálatas 5:4, fala dos que “esperam justificação sòmente em Cristo,” “que é a única fonte de justificação.” Disse que “alguém poderá observar a letra de todos os mandamentos e ainda, se não é justificado pela fé em Jesus, não ter direito à árvore da vida.” (8)

Em 1882, E. G. White em um APÊLO escrito especialmente para ser lido em reuniões campais, disse que “devemos renunciar à nossa própria justiça e rogar que a justiça de Cristo nos seja imputada” …. “Deus não poupou Seu próprio Filho, antes O entregou à morte por nossas ofensas e O ressuscitou para nossa justificação. Por Cristo podemos apresentar nossos pedidos ao trono da graça.” (9) Um ano depois ela disse em uma reunião da Assembléia da Associação Geral reunida em Battle Creek, que “nada, a não ser a Sua justiça pode habilitar-nos a uma simples bênção do concêrto da graça. Por longo tempo temos procurado obter estas bênçãos, porém, não as recebemos, porque alimentamos a idéia de que pudéssemos fazer algo para tornar-nos dignos delas.” (10)

Apesar de existirem, eram estas referências à justificação pela fé esparsas, e sua análise leva a Norval F. Pease a afirmar que as “revistas e os livros dêste período revelam a pobreza neste assunto (11), e que até êste tempo (1877) os pontos que trataram dêste tema, o mencionaram como importante doutrina teológica, mas não lhe deram muita importância.” (12)

Mudança na Atitude da Igreja

Na década de 1880, porém, operou-se uma notável mudança para melhor na atitude de um número cada vez maior de nossos dirigentes e ministros. Mesmo nossa revista denominacional SIGNS reflete esta mudança na sua política editorial. Em 1884 J. H. Waggoner publica uma série de artigos sôbre REDENÇÃO, e E. G. Waggoner uma sôbre o assunto específico da JUSTIFICAÇÃO PELA fé. Também em reuniões, cada vez mais freqüentemente é abordado êste assunto importante para a vida evangélica da igreja. As pequenas luzes de antes ràpidamente se transformam num caudal imenso a iluminar a mente e a trazer alegria da salvação aos corações aflitos, ainda que não sem lutas e decepções. Após uma série de sermões sem dúvida felizes, sôbre o assunto em foco, E. G. White faz o seguinte comentário: “O Senhor em Sua grande misericórdia, enviou uma mensagem sumamente preciosa ao Seu povo por intermédio dos irmãos Waggoner e Jones. . . . Esta mensagem apresentava a justificação pela fé no Senhor, convidava o povo a receber a justiça de Cristo que é manifestada pela obediência a todos os mandamentos de Deus. Muitos haviam perdido de vista a Jesus. Era necessário que seus olhos fôssem dirigidos à Sua divina pessoa, Seus méritos e Seu imutável amor pela família humana. . . . Esta crença é a vida da Igreja. . . . Êste é o testemunho que deve ir a todo o mundo. . . . Êstes — os que assim crêem — não têm sòmente uma simples crença nominal, uma teoria da verdade, uma religião legalista, mas a sua crença tem um propósito e se apropriam dos maiores e mais preciosos dons de Deus.” (13) Ràpidamente outras vozes se unem a estas e se avolumam até alcançarem seu clímax na reunião da Assembléia da Associação Geral de 1888, em Mineápolis, Minesota, Estados Unidos da América. Existia agora um clima propício ao estudo, e à discussão generalizada desta grande verdade. Nos anos subseqüentes muitos revêm sua posição e se apercebem do perigo de a Igreja enveredar por sendas legalistas. Um grande e maravilhoso reavivamento é o resultado. Não porém — infelizmente é preciso dizer isto — sem lutas e oposição. Há os que se apegam à posição de que devem ser pregados os temas específicos da mensagem adventista. Novamente a mensageira do Senhor faz ouvir sua advertência nas seguintes palavras: “Há, porém, os que desprezam os homens e a mensagem que êles trouxeram. Êles têm sido acusados de fanáticos, extremistas e entusiastas. Permiti-me dizer-vos: A não ser que ràpidamente humilheis o coração diante de Deus e confesseis vossos pecados que são muitos, vereis, tarde demais, que estivestes lutando contra Deus.” (14)

Infelizmente não há tempo nem espaço para entrar mais pormenorizadamente no que foi discutido naquela importante reunião. Mas foi suficientemente importante para mudar o curso da igreja. Resumindo, notemos que:

  • a) A doutrina da Justificação pela Fé foi discutida ampla e livremente, e trouxe seus iniludíveis benefícios.
  • b) Houve vigorosa oposição, baseando-se os opositores no argumento de que a igreja sempre creu na doutrina da justificação pela fé.
  • c)  Houve os que viam perigo em focalizar demais êste tema, pois prejudicaria nossas doutrinas específicas.
  • d) E finalmente houve os que temiam houvesse uma volta ao espírito das igrejas protestantes de onde havíamos saído.

Graças a Deus, a semente lançada em terra, então, brotou e produziu frutos. A doutrina da justificação pela fé foi sublimada de então para cá, como nunca antes. E. G. White e os Pastôres Jones e Waggoner começaram a viajar extensamente, e os resultados foram os mais animadores possíveis. Vejamos alguns

Testemunhos

“Um progresso decidido em espiritualidade, piedade, caridade e atividade, tem sido o resultado das reunõies especiais da igreja de Battle Creek.”

“Houve muitos, mesmo entre os ministros, que agora viam a verdade como é em Cristo, numa luz como nunca antes tinham visto. Viam agora o Salvador como UM que perdoa os pecados, e a verdade como santificadora da alma.” (16)

“Tivemos abundante luz nestas reuniões e devemos andar nela. . . . Não mais devemos pregar sermões destituídos de Cristo, nem viver vidas sem Êle.” (17)

“Quando a doutrina da justificação pela fé foi apresentada em Roma, veio para muitos como água para um viajor sedento.” (18)

Ouçamos sòmente mais um testemunho, o do presidente da Associação Geral, referindo-se às reuniões de Kalamazoo: “O Pastor E. J. Waggoner apresentou o tema da justificação pela fé com muita clareza, e para alegria de muitos, as verdades do terceiro anjo pareciam ainda mais preciosas e repletas de poder.” (19)

Sim, “ela traz as credenciais do Céu.”

BIBLIOGRAFIA

  • 1. Citado por Taylor G. Bunch, em Review and Herald, 28-5-54.
  • 2. The SDA Bible Commentary, Vol. 6, pág. 964.
  • 3. Citado por T. G. Bunch, em Review and Herald, 28-5-54.
  • 4. Our Firm Foundation, pág. 578.
  • 5. Idem, pág. 606.
  • 6. Selected Messages, Vol. 1, pág. 366.
  • 7. Tomamos como base o livro By Faith Alone, de Norval F. Pease.
  • 8. Idem, pág. 108.
  • 9. Testimonies, Vol. 5, pág. 217.
  • 10. By Faith Alone, pág. 118.
  • 11. Idem, pág. 109.
  • 12. Idem, pág. 111.
  • 13. Testimonies to Ministers and Gospel Workers, págs. 91-98.
  • 14. Idem, 97.
  • 15. By Faith Alone, pág. 148.
  • 16. Ibidem.
  • 17. Ibidem.
  • 18. Idem, pág. 149.