Enquanto examinava algumas obras curiosas, de propriedade do pastor Henrique Lautaret, fiquei admirado pelos comentários e notas que aparecem no NÔVO TESTAMENTO publicado pela SOCIEDADE AMERICANA DE TRATADOS, da rua 7 West Forty-Fifth, Nova York. A edição pertence ao ano de 1906, e a tanto que saibamos está esgotada. Comentaram os textos mais importantes, destacadas personalidades teológicas que nessa época labutavam em vários países das Américas.

Os três evangelhos sinópticos foram anotados pelo reverendo Daniel Hall, que trabalhava em Córdova, Argentina. O Evangelho de S. João, pelo reverendo P. A. Rodríguez de Nasville, Tenessi, EE. UU. Os Atos dos Apóstolos, pelo Dr. Carlos W. Drees, de Buenos Aires, Argentina. As treze epístolas paulinas receberam o comentário de P. A. Rodríguez, já citado, e do Sr. Carlos Araujo Garcia, de Madri. A epístola aos Hebreus foi comentada pelo Rev. A. R. Miles, que exercia suas atividades em Bogotá, Colômbia. As Epístolas Universais e o Apocalipse, pelo Rev. Guilherme Sloan, do México.

A revisão do manuscrito foi confiada ao Dr. W. W. Rand e ao Prof. Rodríguez.

A seguir transcrevo alguns comentários a certas passagens que têm sido causa de diversas controvérsias. O pensamento expressado nos alegra e demonstra mais uma vez que a teologia adventista está orientada corretamente.

S. Mat. 5:17: “Cristo não veio abrogar nenhum dos princípios morais ensinados pelo Velho Testamento. Êsses princípios são eternos. O que fêz foi ensinar que a Lei é espiritual; explicou com maior perfeição seus desígnios, obedeceu-lhes e cumpriu em Sua própria pessoa o que dÊle estava prefigurado nas cerimônias da Lei, realizando assim as predições dos profetas.”

S. Mar. 2:27: “O dia de repouso foi dado para benefício do homem. Gên. 2:2 e 3; Neem. 9:12-15. A ciência moderna está de acordo com isto: o homem que tem um dia de repouso, não de desenfreamento, em cada sete dias, é mais feliz, vive mais tempo e no fim do ano efetuou maiores coisas que o que trabalha os sete dias da semana … O Nôvo Testamento estabelece o dia de repouso com a declaração do Senhor de que ‘o dia de repouso foi feito por causa do homem.’ Sendo isto assim, enquanto existir o homem, existirá o dia de repouso e a obrigação de observá-lo. Sendo Cristo o Senhor e o dono do dia de repouso, tem o direito de ordenar a época e a maneira em que temos de observá-lo. Todos os dias pertencem a Deus, mas Êle nos dá seis, para trabalhar, e sòmente exige que separemos para Êle a sétima parte do tempo. Onde se guarda devidamente o dia de repouso, ali há maiores bênçãos espirituais, morais e materiais.”

S. João 9:16: “Não o guardava segundo as indicações dos fariseus, mas sim conforme o espírito e a letra do quarto mandamento.”

Rom. 2:6: “À pergunta: Como se justificam os pecadores que têm quebrantado a Lei de Deus?, Paulo responde sempre: Pela fé, e não pelas obras da lei . . . Mas à interrogação: Que caráter aceitará Deus?, responde S. Tiago: ‘Não são os ouvidores da lei que são justos para com Deus, mas sim os obradores da lei que serão justificados.’ A verdadeira fé em Cristo converte sempre os homens em cumpridores da lei. A fé sem obras é morta e será rejeitada por Cristo no último dia.”

Rom. 3:31: “Desfazemos, portanto, a Lei de Deus que é a norma de nossa vida, e que obriga a todos os que a conhecem? O fato de que Deus salve os pecadores por meio da fé em Cristo, diminui a santidade e autoridade da lei que é a expressão de Sua vontade, ou a obrigação que os homens têm de obedecer-lhe? De maneira alguma. . . . Estabelecemos a lei: mostramos sua excelência, as obrigações imutáveis que impõe, e procuramos persuadir os homens a que se esforcem por segui-la e obedecer-lhe. O plano da salvação do gênero humano por meio da encarnação, obediência, sofrimentos, morte, ressurreição e intercessão de Jesus Cristo, e pela fé nÊle, prova que a lei de Deus é justa, santa e boa; que quem a transgride comete uma iniqüidade horrenda, que não pode permanecer impune. Aumentam ao mesmo tempo os motivos que temos para obedecer a ela, a fim de honrar a Deus, mostrar-Lhe nossa gratidão e assemelhar-nos em nosso coração e vida Àquele que é a personificação de sua excelência. Com Sua perfeita obediência à lei divina, Cristo deu aos homens um modêlo de perfeição humana que todos os que nÈle crêem devem imitar fielmente.”

Rom. 4:15: “Porque a lei opera a ira, êste é o efeito que tem nos homens caídos e pecadores. Impõe em suas consciências a autoridade de Deus, sem provê-los da graça necessária para dominar suas paixões. Em vez de santificá-los e torná-los idôneos para o Céu, a lei suscita ira de dois modos: impondo aos homens deveres que não podem executar, e enchendo-lhes a mente com a certeza da culpabilidade e o temor da ira que há de vir sôbre êles. Mas onde não há lei, tampouco há transgressão: I S. João 3:4. Se fôsse possível viver sem lei, seria igualmente possível estar sem culpa: quanto menos claramente se revela a lei divina, menos opera a ira. Em vez de salvar aos que a violam, e ao mesmo tempo procuram justificar-se com ela, a lei os condena. Todos os homens a têm transgredido e por conseguinte ninguém pode salvar-se por ela.”

Rom. 10:4: “O fim da lei é Cristo para justiça; o verdadeiro objetivo da lei é dar a vida eterna; mas aos homens caídos e pecadores é a causa de morte. Ao livrar os crentes da condenação da lei e do domínio do pecado, Cristo os faz herdeiros da vida eterna e cumpre a finalidade da lei. Crendo em Jesus se obtém esta justiça que as obras próprias não podem assegurar jamais. A fé induz a obedecer à lei e a praticar obras que receberão uma recompensa abundante e cheia de misericórdia.

Rom. 14:5: “… o apóstolo não se refere aqui à diferença que a lei moral faz entre o dia de descanso e os outros dias; mas sim às comidas, bebidas, abluções e outras coisas da lei cerimonial.”

Gál. 4:10: “Os dias, os meses, os tempos e os anos, ordenados pela lei cerimonial. Não se refere o apóstolo à guarda do sétimo dia, que Deus mandou que todos os homens observem em tôdas as épocas; mas às festas das Luas novas, e dos sábados da lei cerimonial que obrigavam os judeus e os prosélitos, e que foram abolidos anos antes de Paulo escrever suas epístolas.”

Col. 2:16: “. . . Esta passagem não se refere ao sábado da lei moral, nem aos mandamentos que proibem o roubo, o assassínio e o adultério. Êste sábado semanal nunca prejudicou os homens; antes sempre tem promovido seu bem. Sua observância ajudou-os a conquistar os melhores lugares da Terra, e a possuir a herança do povo de Deus. Isa. 58:13 e 14; Jer. 17:21-27.

S. Tiago 2:25: “Por obras; eram a prova de que ela tinha fé. Existe completa harmonia entre os ensinamentos dêste capítulo e os do apóstolo Paulo. Quando se pergunta qual é o fundamento da justificação perante Deus, responde Paulo que é a fé, e não as obras da lei. Mas quando se pergunta, como aqui, de que caráter deve ser a fé para ser aceita por Deus, ambos os apóstolos dão a mesma resposta: Não é uma fé morta, mas uma fé ‘que opera por amor,’ ou que, em outras palavras, produz bons frutos por meio da caridade, o que é ‘o cumprimento da lei’ (Gál. 5:6; Rom. 13:10). Não há discrepância alguma entre a doutrina dos apóstolos Tiago e Paulo a respeito da justificação. O exemplo de Abraão, citado por ambos os apóstolos, ilustra a doutrina de um e outro. Paulo trata da fé como nos justificando diante de Deus; Tiago considera os frutos, ou seja os efeitos da lei.”