No início da outra seção do livro de Walter Martin, é-nos dito o seguinte: “Em mais de um lugar, o Nôvo Testamento comenta desfavoravelmente sôbre a prática de qualquer tipo de observância legalista de dias,” e também que o apóstolo Paulo “declarou que o sábado assim como ‘a lei’ cumpriu-se na cruz e não era obrigatório aos cristãos.” (Página 161.) De boa vontade concordamos que o Nôvo Testamento desacredita qualquer forma de legalismo, que definimos como o ato de procurar a pessoa obter a salvação através de seus próprios esforços, ou de tornar-se justa por observar conjuntos de regras ou modelos de ação. Perguntamos, porém: Constitui legalismo o moldar voluntária ou prazerosamente a vida em harmonia com as palavras de Deus em que Êle nos declara como deseja que Seus filhos procedam? Ou é legalismo descansar e prestar culto no dia que o Senhor separou explicitamente em Sua Palavra, para tôda a humanidade o santificar?
É significativo notar que a palavra hebraica para lei, Torah, provém do verbo que quer dizer “ensinar.” Na realidade a lei divina é a instrução divina; é o ensinamento de Deus a Seu povo, concernente a Sua vontade para com êles, e como deseja que ordenem a vida. O Decálogo é o definido ensino e instrução do Senhor para Seu povo, apresentando os princípios diretrizes que devem governar sua existência diária. Tudo o que na Palavra de Deus expressa os ensinamentos divinos para benefício de Seu povo, nesse sentido é lei.
Partes da lei de Deus expressavam Sua vontade para Seu povo durante uma época específica e sob certas condições. Algumas porções do ensino divino perderam o valor ao haver passado o tempo peculiar ao qual Deus as designou. Após a cruz alguns ensinamentos (leis) da Palavra de Deus não eram mais aplicáveis, devido a haver-se tornado realidade o que estavam destinadas a prefigurar. Outras porções das leis divinas instituídas especialmente para a nação judaica, tornaram-se irritas e nulas quando a nação deixou de ser o povo escolhido do Senhor. Entretanto, os grandiosos e eternos princípios do Decálogo e do restante da Bíblia, que expõem o procedimento que Deus espera de Seu povo em tôdas as épocas, não foram abolidos na cruz, pois representam ainda a vontade divina para a humanidade. Por isso declara o apóstolo Paulo: “Anulamos, pois, a lei, pela fé? Não, de maneira nenhuma, antes confirmamos a lei.” Rom. 3:31.
O Sr. Martin afirma que o sábado como lei cumpriu-se e não é obrigatório aos cristãos. O apóstolo Paulo diz que por meio da fé cristã estabelecemos a lei. Solicitar-nos-ia o autor que crêssemos não ter de dirigir a vida em harmonia com o primeiro mandamento do Decálogo, ou o terceiro, o sexto ou o sétimo? Com certeza êle diria que os cristãos devem viver de acôrdo com êstes princípios duradouros do Decálogo. Quão incoerente é, pois, dizer que embora o cristão deva moldar a vida em harmonia com nove dos mandamentos, o quarto não tem valor e que os cristãos não precisam pô-lo em prática! Como pode alguém dizer isto, se o quarto mandamento é tanto a vontade de Deus como os outros o são? Observar o quarto mandamento não constitui mais legalismo do
A cruz causou completa transição do judaísmo para o cristianismo. O judaísmo com seu complicado sistema de sacrifícios e ritos cerimoniais estava no fim. Além disso, a condenação legal de tôda a raça foi obliterada. A vinda de Cristo como Salvador para ser portador dos pecados do povo fizera-se absolutamente necessária, não pela lei, mas pela transgressão da lei. Homens e mulheres, reconhecendo sua inaptidão para guardar a lei como desejavam e deviam fazer, aguardaram a chegada de um Libertador por cujo exemplo e pelo poder do Seu Espírito, êles seriam capazes de viver da maneira como Deus intencionava que fizessem. Agora que seu liame de obrigação fôra removido e pregado na cruz, e as leis especiais que tinham que ver com a nação judaica e as que prefiguravam a obra redentora do Messias estavam para acabar, deviam êles confiar em Cristo pela fé, não sòmente para perdão dos pecados passados mas também para obter fôrças a fim de levar uma nova vida. Nesta nova vida cumpria-lhes servir a seu Senhor em novidade de espírito e não na velhice da letra; contudo, podiam dizer com o apóstolo Paulo: “Anulamos, pois, a lei, pela fé? Não, de maneira nenhuma, antes confirmamos a lei.’’ Rom. 3:31.
Por Sua morte Cristo triunfou sôbre Satanás e seus anjos. Proveu um meio de escape para os homens. Na nova dispensação os cristãos deviam resistir aos falsos mestres que insistissem que o sistema cerimonial judaico ainda lhes era obrigatório. As ofertas de comidas e bebidas do sistema sacrifical, os vários dias santos, como a Páscoa, a Festa dos Pães Asmos, o Pentecostes, o Dia da Expiação, a Festa dos Tabernáculos, as festividades da Lua nova e os sábados anuais, todos os quais eram sombras que apontavam para a vinda de Cristo, não eram mais obrigatórios aos cristãos. Ademais, os cristãos não deviam ser transviados pelos instrutores gnósticos que visitavam as igrejas de Colossos, Éfeso e de muitos outros lugares, recomendando com insistência regras austeras aos crentes, no tocante ao comer e ao beber. Os cristãos eram pessoas perdoadas, e daí em diante deviam moldar a vida segundo o exemplo de Cristo e em harmonia com os claros ensinamentos das Escrituras Sagradas.
A chave para Colossenses 2:14-16 é a frase: “Porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo” (verso 17). A alegação de Martin, no entanto, é que o sábado semanal do sétimo dia está incluído na sombra das coisas que haviam de vir. Sem dúvida êle não pode apontar para qualquer construção contextual ou gramatical que justifique sua asserção. O sábado do sétimo dia era um memorial do poder criador de Deus, apontando para Cristo no passado, não no futuro. Da mesma forma, os outros nove mandamentos do Decálogo de maneira alguma contêm quaisquer ‘sombras’ que apontam para Cristo no futuro. São princípios duradouros, expondo o modo como Deus quer que Seu povo viva. No esfôrço, porém, de provar que o sábado do Decálogo está incluído nos ritos que não são mais impostos aos cristãos, Walter Martin cita vários comentaristas que sustentam ser conveniente traduzir no singular a palavra “sábados” de Colossenses 2:16. A realidade da questão é que no grego êste vocábulo está no plural, sabbaton, sendo que a forma nominativa é sabbata. Admitimos o fato de que a palavra aramaica para sábado no singular era pronunciada schabbatha e que muitos dos escritores do Nôvo Testamento, cuja língua materna era o aramaico, usavam esta forma da palavra para se referirem ao sábado no singular. Não queremos negar isto, mas simplesmente reiterar o fato gramatical de que em Colossenses 2:16 o vocábulo se encontra no plural e que Walter Martin não pode apresentar nenhuma razão gramatical por que esta palavra não deva ser traduzida por “sábados,” segundo aparece nas principais versões. Só é possível decidir esta questão pelo contexto, principalmente pela frase sôbre que se baseia tôda a interpretação desta passagem: “Que são sombras das coisas futuras” (Trad. de Almeida, clássica). No grego a palavra que está no plural, concordando com o plural “sábados.” Contudo, a decisão final fundamenta-se neste fato — que os sábados anuais do sistema judaico eram sombras das coisas por vir, mas que o sábado semanal do sétimo dia de modo nenhum era sombra das coisas futuras, e por conseguinte não pode ser incluído na declaração de Paulo. É por esta razão que salientamos ser o propósito do apóstolo empregar a palavra no plural. Walter Martin afirma que “a erudição moderna e conservadora estabelece a tradução singular de ‘sábado’.” A realidade é que a erudição não estabelece a tradução singular, mas meramente que ela poderia ser tanto singular como plural. Todavia, o contexto demonstra que a palavra não poderia estar no singular.
Finalmente, Martin resume seu argumento declarando que em Números 28 e 29, onde são mencionadas as ofertas de comidas e bebidas a que se faz alusão em Colossenses 2:16 e 17, é incluído o sábado do sétimo dia. A análise desta passagem revela apenas que é incluída a descrição das ofertas de manjares e bebidas que eram efetuadas no sábado, bem como as ofertas nos sábados anuais ou dias de descanso. Isto podia ser esperado na menção detalhada das ofertas de manjares e de bebidas, mas não indica absolutamente que o sábado semanal fôsse uma sombra apontando para a obra do Messias vindouro, como sucedia com êsses numerosos sacrifícios e ofertas descritos nos dois capítulos. (Ver a página 14 do livro de Martin para uma declaração adicional sôbre Números 28 e 29.)
O autor conclui seu argumento com esta afirmação: “Visto que estas ofertas e festividades se dissiparam como a sombra (skia), cumpridas na substância (soma) da cruz de Cristo, como pode ser conservado o sábado do sétimo dia? A luz dêste trecho apenas, o autor afirma que o argumento da observância do sábado se desfaz, permanecendo o cristão sob ‘a lei perfeita da liberdade,’ que o capacita a cumprir ‘a justiça da lei’ pelo imperativo do amor.” (Página 166.)
Estamos perplexos para compreender como nosso amigo Walter Martin poderia com seriedade redigir semelhante declaração. Em primeiro lugar, êle não provou de maneira alguma que o sábado do sétimo dia era sombra das coisas futuras, ou que êle de alguma forma apontasse para a vinda do Messias. As Escrituras declaram enfàticamente que o sábado do sétimo dia é um memorial dá Criação, e que em vez de apontar para a cruz, êle aponta para o ato criador de Deus no passado, fazendo a Terra em seis dias; e portanto Deus solicitou que a humanidade observasse o sétimo dia como período de descanso e adoração, dedicado ao Criador de nossa existência e de tudo o que desfrutamos. Perguntamos: Há alguma coisa na cruz que exigiría fôsse abolido o sábado do sétimo dia?
O autor assevera que o argumento da observância do sábado se desfaz, permanecendo o cristão sob a perfeita lei da liberdade, que o capacita a cumprir a justiça da lei pelo imperativo do amor. Não nos é possível ver qualquer lógica neste raciocínio. Também cremos que o observador do sábado se encontra sob a perfeita lei da liberdade e que a graça de Cristo o capacita a cumprir a justiça da lei, não por qualquer esfôrço para merecer o Céu por suas próprias obras, mas pelo cabal imperativo do amor. Não existe valor algum na afirmação de que o imperativo do amor exigiría a supressão do sábado, nem tampouco em que o imperativo do amor exigiría que a pessoa não honrasse mais o pai e a mãe, ou que o imperativo do amor conferisse aos homens a liberdade de roubar, mentir ou cometer adultério. Deus quer que todos os Seus filhos considerem Sua lei como a lei da liberdade, e compreendam que não se encontram sob um jugo de servidão ao observá-la, mas que devem cumprir a correta maneira de viver descrita na lei, por amor a seu Criador. Ficamos admirados de que alguém pudesse declarar sèriamente que o imperativo do amor ou a lei da liberdade exigisse que observássemos nove dos mandamentos, mas que o quarto mandamento, encorporado no centro do Decálogo, devesse ser rejeitado.
Gálatas 4:9-11
Achamos que teria sido bom se Walter Martin houvesse examinado o contexto dessa passagem, como êle tantas vêzes aconselha os adventistas a fazer. Mesmo uma leitura apressada do livro de Gálatas revela que o apóstolo Paulo escreveu esta epístola em razão de os membros das igrejas da Galácia, sob a influência de certos mestres judaizantes, pensarem que poderiam obter aceitação e justificação diante de Deus por cumprirem as obras e minúcias do judaísmo (Gál. 2:16; 3:1-6). O apóstolo afirma explicitamente que ninguém pode ser justificado e salvo por suas próprias ações, mas que a salvação se manifesta como dom gratuito de Cristo. Muitos dos judeus achavam poder pelos próprios esforços guardar as leis de Deus, e tôda a sua religião consistia em observâncias legalísticas. Paulo declara que as violações da lei por parte do homem, colocaram-no debaixo da condenação, e que era necessário Cristo morrer a fim de pagar o débito de nossas transgressões. Um dos objetivos da lei é mostrar aos homens suas deficiências e convencê-los de que não viveram como o Senhor desejava que fizessem. Nesse sentido, a lei torna as pessoas cônscias da necessidade que têm de um Salvador, para liquidar a dívida de seus pecados e auxiliá-las a viver segundo a vontade divina (Gál. 3:23-25).
Ademais — e isto é o ponto crucial do argumento para a passagem em aprêço — o apóstolo explica que certas partes da própria lei apontavam para Cristo e sua morte vicária para pagar pelas transgressões dos que desde o pecado de Adão se rebelaram contra Deus. Paulo salienta que em virtude de haver vindo o Salvador, as porções da lei divina designadas a servir como instrumentos de ensino para dirigir a atenção dos homens à vinda de Cristo, havendo agora completado sua função, não tèm mais parte alguma na dispensação cristã. O apóstolo dá ênfase a haver ensinado tôdas estas coisas aos gálatas. E admira-se de que se deixassem seduzir, de modo que após iniciarem sua peregrinação espiritual pela fé em Cristo, e por confiarem no poder do Espírito Santo, aceitassem agora os ensinos dos legalistas judeus, com o sentido de que os homens podiam fazer-se aceitáveis a Deus por suas observâncias da lei, e que todos os elementos do sistema sacrifical ainda estavam em vigor.
Dentro dêste contexto, pergunta o apóstolo aos gálatas: “Agora, que conheceis a Deus, ou antes sendo conhecidos por Deus, como estais voltando outra vez aos rudimentos fracos e pobres, aos quais de nôvo quereis ainda escravizar-vos? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós tenha eu trabalhado em vão para convosco.” Era como se dissesse: “Agora que Cristo veio, ainda continuais a insitir em observar os feriados judaicos, como a Festa dos Tabernáculos, a Festa dos Pães Asmos etc., cuja finalidade era apontar para Cristo? Cristo veio, e êstes indicadores e prenunciadores do Messias que foram de utilidade para as pessoas em séculos passados, não têm absolutamente significado ou relevância para os cristãos!” Nossa vida consiste na fé, pela qual confiamos em Cristo, como nosso divino Substituto, para perdão dos pecados e para encontrar fôrça e poder, mediante Seu Espírito Santo, a fim de observar Suas eternas leis morais. Observamos essas perpétuas leis morais não como quaisquer meios de obter nossa salvação, mas porque, sendo salvos unicamente pela graça, amamos nosso Senhor e desejamos viver em harmonia com Sua vontade para nossa vida. Esta, diz êle, é a liberdade da fé cristã. E não ousamos submeter-nos servilmente a um sistema obsoleto, mas antes permanecer “firmes na liberdade com que Cristo nos libertou,” e não tornar a colocar-nos “debaixo do jugo da servidão” (Gál. 5:1).
A despeito dêste claro desígnio do livro de Gálatas, Walter Martin mais uma vez procura demonstrar que os cristãos não têm necessidade de observar o sábado do sétimo dia, mesmo que observem os outros nove mandamentos. Após haver deixado de considerar o amplo objetivo do livro de Gálatas, êle nos acusa, ao examinar esta passagem, de ignorar “a gramática, o contexto e a comparativa análise textual.” Diz êle, além disso: “Para concretizar sua interpretação das declarações de Paulo, êles não fazem exegese (explicação correta), mas eisegesis (extrair um sentido não explícito) dos textos.” Já examinamos as declarações de Paulo em Gálatas, e verificamos que a posição adventista está em plena harmonia com o contexto e a análise fidedigna do livro de Gaiatas.
É afirmado ainda que a tradução de Números 28 e 29 pela Versão dos Setenta, refuta nossa doutrina do sábado. Examinamos cuidadosamente êstes capítulos nessa Versão, e admiramo-nos de que nosso amigo Martin não especificasse os pontos a que se referiu. Recorre novamente a suas declarações gerais e impetuosas, sem usar provas, e procura convencer os leitores por suas francas asserções de que êle está certo.
A minuciosa examinação de Números 28 e 29, tanto no hebraico como na Versão dos Setenta, demonstra que aí são mencionados pormenorizadamente os vários sacrifícios que deviam ser oferecidos no santuário em diversas ocasiões durante o ano. Primeiro são descritos os holocaustos diários, e é feita a declaração de que no sétimo dia a oferta diária de cordeiros era dobrada. Isto fazia parte dos regulamentos do santuário, e nada tinha que ver com a questão de deverem ou não os cristãos observar o sábado semanal. O sábado do sétimo dia foi instituído na Criação e foi observado durante séculos antes de ser estabelecido o ritual do santuário como provisão temporária, dirigindo a atenção do povo para o futuro, à vinda do Cordeiro de Deus que morreria para fazer expiação pelos pecados dêles. É completamente irrelevante apresentar êste argumento da maneira como o faz o Sr. Martin, dizendo que desconhecemos a gramática e a comparativa análise textual. Investigando o restante dêstes dois capítulos, encontramos descrições adicionais das ofertas que deviam ser feitas por ocasião da Lua nova, nos sábados anuais e nas diversas festas cerimoniais. Nenhuma outra menção é feita do sábado do sétimo dia. Evidentemente o Sr. Martin julgou haver outras referências ao sábado do sétimo dia nestes dois capítulos, como em Números 28:15 e 29:32. Se êle olhasse para o contexto, verificaria que a alusão ao “sétimo dia” nestas passagens diz respeito ao sétimo dia da Festa dos Pães Asmos e ao sétimo dia da Festa dos Tabernáculos. Ambos eram sábados anuais e podiam cair em qualquer dia da semana. As santas convocações realizadas nada têm que ver com o sábado do sétimo dia. Eram precisamente os dias, meses, tempos e anos a que o apóstolo aludiu em Gálatas 4:10. O estudo dêstes dias de festa revelará que sua finalidade era apontar para a vinda de Cristo, e que após Cristo haver vindo não tinham mais utilidade alguma. Eram leis transitórias designadas a servir de ensino às pessoas que viveram antes da chegada do Messias. Agora não fazem parte da vontade de Deus para com Seu povo.
Destarte a acusação de que nossa exegese é inexata, cai completamente por terra. Não ignoramos a gramática, o contexto ou a análise comparativa. Desejamos salientar afável mas enfàticamente que foi o Sr. Martin que desconsiderou o contexto e a análise comparativa. Com efeito, êle faz o apóstolo Paulo contradizer a si mesmo em I Coríntios 7:19, onde o apóstolo afirma que a circuncisão também fazia parte do judaísmo e que não tem importância para os cristãos, no que diz respeito à religião. Diz o apóstolo: “A circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas sim a observância dos mandamentos de Deus.” O grande apóstolos não viu contradição alguma em cumprir os mandamentos divinos por amor e devoção a Deus. Assiduamente ensinou ao povo que em razão de Jesus haver vindo, deviam êles abandonar, como formas antiquadas que preencheram sua finalidade, essas leis cerimoniais do Velho Testamento; mas acentuou que as leis divinas, descrevendo a maneira em que o Senhor deseja que Seus filhos vivam, foram estabelecidas e reforçadas pela fé que temos em Cristo (Rom. 3:31). Dizendo aos crentes de Corinto que a circuncisão nada era, mas que a questão de real valor era a observância dos mandamentos de Deus, concordou êle plenamente com o nosso Salvador, o qual afirmou a Seus ouvintes: “Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas: não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a Terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra. Aquêle, pois, que violar um dêstes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos Céus; aquêle, porém, que os observar e ensinar, êsse será considerado grande no reino dos Céus.” Nossa posição é coerente, devido a concordar com as outras afirmações do apóstolo Paulo e com os ensinos de nosso Senhor.
Martin conclui suas considerações sôbre Gálatas 4, afirmando que os adventistas do sétimo dia “não compreendem que ao procurar impor a observância do sábado aos outros membros do Corpo de Cristo, incorrem no grave perigo de transgredir o evangelho da graça.” Gostaríamos de perguntar ao nosso amigo Walter Martin se quando persuadimos as pessoas a não cometer adultério, que é o sétimo mandamento do Decálogo, e quando instamos com elas para não roubar, que é o oitavo mandamento, estamos também transgredindo o evangelho da graça e tornando legalistas essas pessoas? Indubitàvelmente êle respondería que não. Não conseguimos entender, pois, como ao ensinar o quarto mandamento estejamos transgredindo o evangelho da graça ou tornando legalistas aquêles que instruímos.
Walter Martin declara que devemos guardar na memória que a lei em sua conotação mais ampla inclui o Pentateuco. Isto é certo; em sua significação mais ampla ela também inclui todo o Velho Testamento, pois o próprio Paulo cita o livro de Isaías e se refere a êle como lei. (Ver I Coríntios 14:21 e Isaías 28:11.) Martin prossegue dizendo que o indivíduo está “debaixo da lei” quando se esforça por observar qualquer parte do Pentateuco, pois os cristãos foram libertados da lei. Acaso quererá êle dizer que nenhuma parte do Pentateuco representa a vontade de Deus para Seu povo hoje em dia? Não nos compete amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a nós mesmos? Ou devemos rejeitar êste preceito em razão de se encontrar no Pentateuco? Se a pessoa estiver livre para violar o sábado do sétimo dia, por que não estará livre para infringir os outros nove mandamentos do Decálogo?