De modo análogo, cremos que o grupo do Advento de 1844, com os olhos fixos em outro aspecto do “tempo” — o fim dos referidos 2.300 dias-anos — erradamente esperou que Cristo aparecesse então como Rei dos reis e Senhor dos senhores, para ocupar o trono e reinar eternamente. Mas semelhante expectativa também era destituída de fundamento, tanto na promessa como na profecia. Cristo, nosso mediador e sacerdote celestial, simplesmente devia iniciar o juízo no tempo designado, ou a etapa final de Seu duplo ministério sacerdotal, indicada pelo aspecto purificador, vindicador ou justificativo que assinala o término dos 2.300 anos — antes de Sua vinda como Rei dos reis, em poder e grande glória. E esta vinda, segundo nossa compreensão, não ocorrerá antes da terminação do tempo de graça para os homens e o fim do ministério sacerdotal de Cristo.

Achamos que o desapontamento dos crentes adventistas de 1944 foi, em certo sentido, semelhante ao dos discípulos em sua expectativa de que Cristo estabelecería Seu reino por ocasião do primeiro advento. Ambos estavam certos no tocante a sua respectiva ênfase ao tempo, baseada no cumprimento dos períodos proféticos, mas ambos estavam plenamente errados quanto ao evento que devia ocorrer. Todavia, o grande plano divino de completa redenção por meio de Jesus Cristo prosseguiu em direção a sua majestosa conclusão, cumprindo meticulosamente cada uma das múltiplas predições, que têm sido realizadas sem divergência, de acôrdo com o eterno propósito de Deus em Cristo.

Não concordamos, portanto, que a Igreja Adventista resultasse de uma concepção errônea por parte de milhares de pessoas, espalhadas através das principais igrejas do Velho e do Nôvo Mundo, acêrca da iminência do segundo advento, assim como não admitimos que a igreja apostólica se originou de uma concepção errônea dos eventos que assinalaram o primeiro advento de Cristo.

Em ambos os casos, a transitória interpretação falsa foi apenas um incidente efêmero, que prontamente deu lugar às duradouras verdades fundamentais que constituem a causa e proporcionam plena justificação para os desenvolvimentos que se seguiram. Em cada uma das ocorrências, redundou em melhor compreensão de nosso Senhor e de Sua obra redentora em favor do homem.

A ênfase sôbre o tempo era justificável em ambos os casos, pois a Palavra profética indicara que algo de grande importância estava para acontecer. Em cada uma das ocasiões a verdade foi obscurecida pelo falso conceito humano. Após o desapontamento inicial, porém, logo houve esclarecedora luz. Em cada episódio, apesar das errôneas expectativas iniciais, realmente teve lugar um extraordinário cumprimento na maravilhosa operação da atividade redentora de Cristo em favor do homem.

Assim é que o primitivo êrro no tocante à ordem dos eventos, sem demora foi substituído por perdurável conhecimento e verdade. O breve engano inicial de cada grupo, ràpidamente cedeu lugar à mais clara compreensão do propósito de Deus. A confusão sôbre a seqüência dos eventos no desenrolar do divino plano de redenção, depressa se dissipou por meio de mais nítida compreensão do sublime esbôço do perfeito plano de redenção. A doutrina adventista baseia-se, pois, na perfeição do plano e propósito revelados por Deus, e não na imperfeição do conhecimento e compreensão humanos.

Nossa esperança está fundada sôbre certezas divinas, e não sôbre fragilidades humanas. Fundamenta-se nos sólidos fatos da revelação divina, e não na transitória má aplicação do homem. Baseia-se sôbre o invariável e supremo propósito de Deus, e não sôbre as defeituosas e limitadas concepções humanas. Tal é o sólido fundamento de nossa esperança do advento. É a isso que damos ênfase — à onipotente e imutável fidelidade de Deus, e não às titubeantes limitações humanas. Não censuramos os apóstolos por seu equívoco, pois vemos a mão divina atrás de tudo isso, conduzindo-os para fora da escuridão. Tampouco censuramos nossos próprios antepassados, pois novamente vemos a mão de Deus guiando-os através de seu desapontamento inicial. O que a princípio era um terrível empecilho, logo se tornou um movimento assinalado pela bênção do Céu.

Eis, portanto, em que consiste a nossa fé: Cristo tem avançado de etapa em etapa em Sua todo-abrangente obra em prol da redenção da humanidade perdida e extraviada pelo pecado. Nenhum aspecto, ou evidência, falhou ou irá falhar. Nossa esperança e nosso triunfo estão inteiramente nÊle. — Questions on Doctrine, págs. 248-251.