Enquanto frequentava o colégio, trabalhei na fábrica de manteiga da instituição. Tínhamos uma caldeira. Às vezes a pressão subia demais, e tinha de ser diminuída por meio de uma válvula de segurança. Essa válvula de segurança era necessária, pois sem ela a caldeira teria ido pelos ares.
Os conselhos pastorais me fazem lembrar daqueles dias da fábrica de manteiga. O povo, até mesmo os membros da igreja, fica às vezes tão dominado pelas provas e dificuldades que necessita de uma maneira de aliviar a pressão. Deve haver algum jeito de eles soltarem o vapor e assim aliviarem a tensão.
Aí é que entra o conselho pessoal. O pastor é uma espécie de válvula de segurança. A alma atribulada a ele se dirige com o coração sobrecarregado. Se ele estiver ocupado demais, e não der a devida atenção à pobre alma, se não der a essa pessoa oportunidade de desabafar as suas dificuldades, então a pressão continuará subindo até que finalmente algum dia terá de ceder. Se isso acontecer, sua vida espiritual poderá ser despedaçada e arruinada.
Toda esposa de ministro não deve dar sequer a aparência de que domina seu esposo. Tenho observado através dos anos que um dos maiores erros que pode cometer uma esposa de obreiro é revelar fora que o ministro faz o que sua esposa pensa e diz. Fugi disto, esposas de ministros, pois isto significará fracasso para o vosso marido e para vós mesmas.
Lembre-se toda esposa de ministro de que, enquanto seu esposo faz uma boa pregação audível, deve ela fazer a sua pelo exemplo de quietude. Que todas as esposas de ministros se lembrem de quão grande é o privilégio e responsabilidades de sua posição, chamadas que foram para partilhar do ministério evangélico. Às esposas de ministros desejo lembrar que são uma rainha sem coroa, uma não decantada heroína do lar — a mais importante instituição da humanidade. Guardem-no bem. Façam-no forte para servir. Tornem-no uma cidade de refúgio para a alma faminta e desencorajada. Movam-se entre o povo do mundo com aquela simplicidade evangélica e dignificante compostura descritas nos princípios bíblicos, e um dia serão reconhecidas como grandes da Terra.
Faz pouco tempo, um membro da igreja a mim se dirigiu para desabafar as suas dificuldades. Procurei demonstrar simpatia. Era evidente que ela estava ficando aliviada, de modo que a deixei falar. Achar alguém que com ela simpatizasse era tudo de que realmente necessitava. Quase não sei até hoje o que ela disse, mas, ao terminar, exclamou: “Ufa! Que alívio! Isso saiu agora da minha mente”.
O Objetivo de Aconselhar
É muito importante lembrar que o pastor, ao aconselhar, deve levar almas a Cristo. Não é êle uma máquina pela qual o pecador lançado na sua presença é transformado em um santo. Por outro lado, pode o pastor ser um instrumento nas mãos de Deus para dirigir os pecadores a Cristo, quando êstes a êle se dirigem em busca de auxílio espiritual, e Cristo, por Seu turno, pode fazer do pecador um santo.
O pastor não deve tomar o lugar de Cristo. O aconselhar não é confissão auricular. Não é êle autoridade para dizer: “Eu o absolvo”. O pastor não pode perdoar pecados, mas pode dirigir o pecador Àquele que pode perdoar o pecado e o perdoará.
João, o apóstolo amado, diz: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e se alguém pecar, temos um Conselho de defesa na presença do Pai, Jesus Cristo, o justo” (I S. João 2:1, versão de Berkely, em inglês).
Enquanto viajava no trem da grande estrada de ferro Nacional do Canadá, para Winnipeg, para assistir à sessão da Associação União Canadense, entrei em conversa com um dos empregados do trem. Rodámos quilômetro após quilômetro. Finalmente êle tirou o relógio e começou a olhar as horas, com freqüentes intervalos. Então lhe perguntei se estávamos chegando a uma estação. O homem do trem me respondeu que êste logo iria parar, e os empregados iriam mudar as máquinas. Era seu dever ir para a extremidade do carro e soltar tôda a pressão do vapor. A razão para isso, declarou êle, era não deixar que o vapor se condensasse em água e gelasse os canos do vapor. Seria certamente desastroso para o trem e seus passageiros, se êles gelassem.
Eu não poderia deixar de comparar esta ilustração com a pobre alma atribulada que deseja consolo, confôrto e alívio da ansiedade e do pecado. Freqüentemente o pastor está tão sobrecarregado com os cuidados desta vida e a rotina do ministério que quando uma alma cansada a êle se achega em busca de conselho espiritual, êle lhe dá, por assim dizer, friamente às costas. O “vapor” gela nessa alma e ela se perde. Por quê? Porque o pastor está ocupado demais para abrir a “válvula” de segurança.
O maior trabalho de Cristo foi feito em consultas pessoais. A história de Nicodemos é frisante exemplo dêsse fato. Companheiros pastôres, sigamos o exemplo do grande Pastor dos pastôres e Lhe usemos os métodos, e nós poderemos conservar no aprisco muitas das ovelhas que estão agora abandonando as nossas fileiras.
O pastor dos dias idos já foi pôsto de lado. É um homem do passado. Contrariando a tendência geral, é o pastor-conselheiro mais necessário hoje do que jamais no passado. Se nós, como pastôres, despendêssemos, igualmente, tanto tempo em dar conselhos como gastamos em trabalhos de fomentar o avanço, tais como, levantar fundos e conservar as “rodas” da igreja correndo mansamente, não nos teríamos tanto de preocupar quanto a alcançar os alvos da igreja. A alma aliviada, voluntàriamente daria mais do seu tempo e meios. Dar é uma parte do resultado da libertação do pecado.
A falta de conselho fiel e verdadeiro tem resultado na maior onda de abandono da fé e de apostasia que a nossa denominação já experimentou.
O Coração do Homem não Mudou
Os tempos têm mudado, mas o coração do homem ainda é o mesmo de sempre — corrupto e cheio de violência. Mas muitos dêsses pecaminosos e ímpios corações, ainda estão solitários, sim, mais solitários do que em qualquer outro tempo. Almejam um meio de escape de seu fardo do pecado. Quem melhor pode dirigir essas almas solitárias à segurança que o pastor compassivo?
O mundo perece à falta de amor. É Seu êste amor que deve ser canalizado para cada alma faminta? Estai certos de que êle não lhes vai ser levado por prédios de igreja magnificentes e luxuosos, nem por possuir o pastor o mais nôvo modêlo de carro do mercado, nem tampouco pelos perfeitos e magistrais sermões. Não, o amor não será levado à alma sedenta por bem sucedidas campanhas para angariar fundos. Em seu livro The Shepherd Evangelist, diz Roy Allen Anderson: “O rebanho cresce em graça e piedade sob o toque gentil do pastor.” (Págs. 550 e 551).
Como pastôres, precisamos reconhecer nossa sagrada e solene responsabilidade de pastôres do rebanho. Se conhecermos o rebanho que foi confiado ao nosso cuidado êste nos conhecerá como pastôres e a nós virá com os seus fardos. Poderemos salvar ou perder uma alma pela maneira em que a aconselhamos.
Faz apenas poucos dias um homem me visitou logo depois da irradiação da Voz da Profecia. Disse-me que estivera ouvindo a mensagem dada pelo orador da Voz da Profecia. Seu coração fôra tocado. Continuou a me contar que necessitava de auxílio espiritual; então desandou a chorar como uma criança. Nunca dantes me havia eu encontrado com êle. Pediu-me que o visitasse. Eu estava justamente para sair de casa para o culto evangelístico da noite de domingo. Por um instante pensei que não poderia dispor de tempo, mas fui imediatamente. Revelou-me que era um desviado de alguns anos e agora desejava voltar para Deus. Se eu lhe tivesse dito que estava ocupado demais, poderia ter-se êle voltado contra os apelos do Espírito Santo. Mas agora está no caminho de volta a Deus.
Oxalá possa Deus abençoar a todos nós, como pastôres, para que possamos desempenhar nossa sagrada responsabilidade segundo a norma estabelecida pelo grande Pastor — Conselheiro — Jesus Cristo, o Justo.