Embora a passagem de dois milênios no campo eclesiástico tenha produzido drásticas alterações na visitação pastoral, o essencial permanece. O tema da visitação pessoal do próprio Deus a Seu povo encontra-se profusamente no texto sagrado. Através dos tempos dos patriarcas, reis, e profetas encontramos Deus envolvendo-Se constantemente nos negócios humanos a ponto de tornar-Se uma realidade pessoal. Por mais que pesquisemos, jamais encontramos Deus escondendo-Se de Seu povo detrás de um manto administrativo funcional ou qualquer aparelhamento organizacional.

Os símbolos apresentados no serviço do tabernáculo — o fogo à noite e a coluna de fumaça de dia — traziam constantemente à lembrança do povo a presença real de Deus. Desde a época da criação do homem Deus tem procurado apresentar ao homem uma imagem clara e distinta de Sua divina presença através de Seus muitos profetas Ele revelava Sua presença. Eram eles Seus representantes.

Após a entrada do pecado, Deus usou Seus muitos profetas, sacerdotes, pastores para manterem na mente do povo o conhecimento de Sua existência. É da mais importância que sempre levemos diante do povo a imagem e o caráter do amorável Deus. O melhor processo deste trabalho é evidentemente realizar contatos pessoais íntimos com o povo de Deus e com aqueles a quem Deus deseja revelar-Se.

A grande emoção que ocorre quando alguém se liga pessoalmente com Cristo, ou o repentino estímulo que se origina do conhecimento das profecias cumpridas, torna-se o elo que liga a Deus nas mãos de um pastor devidamente preparado.

Nos tempos de Cristo, o Mestre andava junto com o povo e entre as multidões, jamais se esquivando como o faziam os sacerdotes. Estes perdiam-se numa forma organizada de sistemáticas. Ocupavam-se constantemente com os pormenores do funcionamento administrativo, abandonando a pessoa, quer como indivíduo, quer como filho de Deus. Punham desmedida ênfase sobre os dogmas, e milhares de minúcias eram concebidas pela mente destes homens que pareciam dedicados em tornar mais pesada a lei. O caráter divino que eles apresentavam era confuso e obscuro por causa de suas obras. Deus era considerado tão exigente como certos chefes de repartição.

Cristo e Sua vinda, destruíram todas estas concepções, não tanto pelos Seus ensinos como pela dinâmica das relações humanas. Ele Se envolvia pessoalmente com cada pessoa que encontrava, no caminho, no lar, ou onde quer que encontrasse uma alma necessitada de cuidado e afeto de alguém fora do comum. Nosso Mestre caminhava com o coração aberto a todos os que necessitavam de Sua ajuda especial.

Muitos expositores da Bíblia declararam que foi a preocupação pessoal de Cristo pelo povo que tornou Sua doutrina e seu ensino de tão grande significação. À beira do mar com Seus discípulos, no lar de algum parente, numa festa de bodas, ou na vertente de uma colina, Jesus lá Se encontrava, misturado com o povo, procurando levar-lhes o amor e a segurança de que necessitavam nos dias de dificuldade que tinham diante de si.

Ao enviar Seus apóstolos de dois em dois, Cristo lhes disse que fossem a todas as casas e visitassem todas as cidades. Este trabalho deveria continuar depois de Sua morte. Paulo de Tarso encontrava as pessoas, estudava com elas as verdades de Deus onde se encontravam – num lar onde as mulheres realizavam as tarefas seculares do dia; na sinagoga onde as Escrituras Sagradas eram lidas; no mercado, onde se faziam os negócios do dia; em locais pecaminosos e diante de templos de deuses pagãos. Paulo ia encontrá-los onde estivessem.

A Visitação Tradicional

Nos dias primitivos da igreja cristã não havia uma praxe, organização ou determinado procedimento na visitação pastoral. À medida que a igreja crescia surgiram tradições e procedimentos para o trabalho pessoal. Os antigos pais da igreja, muitos dos quais faziam visitas de casa em casa e de aldeia em aldeia, achavam ser vantajoso esse trabalho, as igrejas cresciam e tornavam-se ricas, sendo preciso estabelecer vários cargos eclesiásticos para manterem contato pessoal com o povo. Algumas destas igrejas o faziam em linguagem simbólica de ritos e cerimônias. A confissão foi estabelecida na Igreja Romana para ajudar o povo a falar face a face com o sacerdote fazendo-o crer que esta relação pessoal com o sacerdote equivalia a uma relação com Deus.

Cada vez mais estreita e tacanha se tornava a idéia do sacerdote e dos oficiais da igreja da última parte do primeiro milênio depois da morte de Cristo. Constantemente estabeleciam ordens de homens e mulheres que eram enviados de casa em casa, visitando, procurando trazer ânimo e conforto aos sofredores e acalmar os temores que perturbavam a consciência dos homens.

Na Idade Escura — como se, em doutrina e ensino — muitas luzes brilhantes surgiram. Eram elas homens singulares que criam em encontrar o povo onde êste estivesse. Wycliffe, Jerônimo, Huss, Zwínglio e Lutero empenharam-se muito nas necessidades do indivíduo. Alguns iniciaram traduções da Bíblia na língua comum do povo, e que trouxe êste povo a uma relação mais pessoal com Deus. Boa parte do ministério de Martinho Lutero consistiu em conversas de mesa de jantar com seus vários amigos. Visitava o povo em seus lares e observava suas necessidades. Foram êstes contatos pessoais que o inspiraram a traduzir a Bíblia para a língua alemã.

Visitação Pessoal na História Adventista

No início do movimento do advento os crentes iam aos lares do povo e os visitava, levando inspiração e incentivando o desejo de estudar as Escrituras num esfôrço de encontrarem a verdade. Nossos pioneiros neste movimento, como os antigos pregadores etinerantes metodistas, viajavam milhas e milhas para levarem o Evangelho ao povo em seus lares e igrejas.

A gloriosa e bem-aventurada esperança era levada não apenas pela literatura mas por aquêles a quem denominamos evangelistas pessoais. Homens e mulheres, na última parte do século XIX e especialmente nos primórdios do século XX, iam de casa em casa dando e vendendo literatura religiosa. Nos escritos de Ellen G. White há muitas referências às necessidades de nossos irmãos, admoestando-nos a irmos em busca do pecador onde êle estiver, e levar o Evangelho à tôda alma necessitada.

Visitação Pastoral Hoje

Hoje em dia em nossas igrejas infelizmente fomos arrastados a uma concepção um tanto administrativa e organizacional que não requer muita visitação pessoal. Contudo as igrejas que apresentam sólido desenvolvimento são geralmente aquelas em que o pastor visita seu povo.

Há dois objetivos na visita pastoral: um de ordem geral; outro de ordem especial. O primeiro é tomar conhecimento das necessidades e esperanças das pessoas que pertencem a congregação. Neste caso o pastor não precisa falar sôbre alguma coisa especial, mas falará da igreja em geral e alguns tópicos pessoais como o trabalho da pessoa visitada, os problemas domésticos da espôsa, as aspirações dos adolescentes do lar, que freqüentam escolas e colégios. Êle conversará com a criança que deseja brincar e ser amável com o pastor, com o jovem em seu nôvo carro, com o jardineiro lidando com as flôres, etc. Esta visita de caráter geral estabelece um ambiente favorável para uma relação cordial e amistosa que, em tempos de angústia e necessidade, fará com que o membro busque seu pastor, pois com êle já mantém compreensiva relação.

Em tôdas as ocasiões o pastor deve lembrar-se de que o membro é seu amigo em Cristo, de que êle, pastor, é o pastor do rebanho. Poderia parecer uma conversa ociosa, porém assim não é, pois “onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome, Eu estarei no meio dêles.”

Ora, poderia parecer que a visita de caráter geral é feita exclusivamente no lar. Não precisa ser. Bons lugares para se fazerem visitas são também a escola, o local do trabalho ou do brinquedo, enfim onde as pessoas podem ser encontradas. Às vêzes a visita incomum do pastor na escola, ou falando com os filhos da família, ou no local do trabalho, falando com o chefe da família, impressiona os corações com o cuidado e a preocupação que o pastor tem pelas pessoas, infundindo mais confiança e esperança de que às vêzes pensamos.

Como devemos fazer a visita? As instruções são simples. Seja amável, cordial e cortês. O pastor deve amar seu povo sem levar em conta as predilições de sua casa. Deve demonstrar interêsse em todos os objetos do lar, mesmo para as coisas humildes mas que são da maior importância para os que recebem a visita.

Preparo Para a Visitação

Antes de mais nada o pastor deve estar certo de sua própria relação pessoal com Deus. O conhecimento que recebeu na escola e pela experiência o habilitará a comunicar esta relação pessoal que êle sente junto de seu Deus. Sem uma comunhão íntima com o Senhor não será possível ao pastor alimentar seu rebanho, e as preocupações e interêsses do povo serão passadas por alto.

Ao fazer a visita, deve-se vigiar os próprios hábitos pessoais, os pequenos gestos nervosos que podem demonstrar tensão. Não chupe balas, nem as unhas. Evite bater com o lápis, sacudir a Bíblia ou esfregar os pés. Deve ser bem acomodado e calmo, mas não sossegado; interessado, mas não excitado.

Finalmente, e o mais importante, é a aparência pessoal do pastor, deve estar sempre limpo e asseado, dando especial atenção à higiêne corporal.

Antes do apêlo deve se fazer oração, porque sabemos que necessitamos do auxílio de Deus para empenhar nosso interêsse na pessoa, que no momento constitui problema separado dos da igreja. Em uma aula que dava num seminário não adventista um jovem me trouxe o caso de um provável membro cuja espôsa havia sido membro da congregação por muitos anos. Ao analisarmos sua conversação descobrimos que as preocupações e angústias do pastor são maiores do que a do marido desta mulher. Eis o diálogo:

ESPÔSO: Sim, pastor, estou muito interessado na sua igreja.

PASTOR: Sem dúvida, minha igreja está crescendo. É certo que as necessidades financeiras são bem grandes. Este fato me tira o sono às noites, pois me deixa muito preocupado, e isso me faz orar bastante. Oro frequentemente a Deus para que venham mais pessoas para nos encorajar e fortalecer e ajudar-nos a levantar esta igreja.

ESPÔSO: Sim, sei disso pastor. A última vez que o senhor esteve aqui disse-me a mesma coisa. Sinto muito. Desejaria poder ajudar, mas não temos muito dinheiro.

PASTOR: Oh, não fique com a ideia de que vim aqui por causa de dinheiro. Isto está muito longe da verdade. Vim aqui para visitá-lo e falar-lhe sobre o que lhe interessa.

Podemos ver as esperanças e aspirações do pastor, mas quão ciente estava ele dos interesses e preocupações da pessoa que visitava? Dá-se isto conosco?

A melhor maneira de nos interessarmos pelas pessoas é simplesmente nos identificarmos com o que elas sentem, verificamos o que elas nos procuram dizer não raro em decorações não muito claras. Procurando entender o que a pessoa se esforça em dizer, e qual é sua necessidade verifica-se um incremento de amor no pastor e estabelece uma relação cordial entre ele e sua paróquia, e ver-se-á a congregação crescer. Isto não requer debates dogmáticos ou doutrinários, mas sim um interesse fraternal, e devemos sempre ter em mente que a pessoa que tem um pastor a cuidar dela e que confia nela, em retribuição será mais dedicada à sua igreja. Haverá uma confiança mútua e nunca unilateral.

O tempo é breve e não sabemos o que nos trará o amanhã; mas há uma coisa e que continuará através da eternidade — a relação cordial, fraternal e pessoal que se inicia aqui entre nós e o próximo.

É maravilhoso estarmos pessoalmente relacionados com Deus. Podemos experimentar parte dessa relação celestial aqui na terra, e levá-la àqueles com quem diariamente entramos em contato. Ela nos fortalecerá quando o mundo estará prestes a desmoronar-se, e segurança quando não sabemos o que nos trará o dia seguinte. Façamos mais trabalho de visitação pessoal.