Certo pastor muito culto de uma das maiores denominações evangélicas de nosso país, procurou contestar nossa interpretação da “ponta pequena” de Daniel 7, afirmando não representar ela o papado mas sim um personagem da História, conhecido por Antíoco Epífano. E prosseguiu afirmando que o capítulo 11 de Daniel corrobora as façanhas daquele ímpio rei sírio que profanou o templo, mudou a lei e tirou o sacrifício diário do Templo em Jerusalém, no ano 168 A.C. É verdade que êsse monarca, após uma campanha contra o Egito, fêz um assalto a Jerusalém, saqueou o Templo, ordenando uma terrível carnificina. No lugar santo, se fêz um sacrifício a Júpiter Olímpico.

A teoria de que Antíoco Epífano cumpre a “ponta pequena” de Daniel 7, originou-se com Porfírio — sofista sírio e filósofo neoplatônico, defensor do paganismo. Alarmado com a difusão do cristianismo, percebendo a posição-chave que as profecias ocupavam no antigo pensamento cristão, no fim do terceiro século de nossa era procurou sustar a fôrça da profecia de Daniel. Para levar a cabo seu intento, começou argumentando que o livro não era profecia escrita por Daniel no sexto século A.C., mas mero esbôço histórico sem valor, escrito por alguém em tempo posterior aos Macabeus. Em outras palavras, Porfírio acusava o livro de ter sido forjado depois de terem ocorridos os acontecimentos nêle mencionados, e ter sido redigido ao estilo de predições. Por aí se vê que a teoria porfiriana, de que Antíoco seja a “ponta pequena”, e não o papado, tem origem escusa, pagã e indigna de valor.

E há mais ainda. Esta teoria de Porfírio foi esquecida por muito tempo. Até tempos posteriores à Reforma do século XVI. Aí por volta de 1560 foi tirada da obscuridade por Hugo Bronghton, na Inglaterra. Infelizmente, apesar de sua origem escusa, tem sido largamente aceita por correntes do pensamento evangélico, opondo-se à escola histórica da interpretação, que afirma ser a “ponta pequena” de Dan. 7 o papado histórico emergindo das dez divisões do quarto reino (Roma), prosperando durante a Idade Média. O que faz pasmar é o fato dessa absurda interpretação que aponta Antíoco como cumprimento da profecia ter muita voga entre mesmo os modernistas, e consta em bons comentários críticos. Para destruí-la bastam estas seis considerações:

1a.— Os quatro chifres do bode (Daniel 8: 8) eram reinos. Basta ver o verso 22. É lógico que a pequena ponta seja também um reino. Ora, Antíoco era apenas um rei do império selêucida, portanto, uma parte de uma ponta. Necessàriamente, não podia ser outro chifre completo.

2a. — Esta ponta se desenvolveu em direção ao Sul, ao Oriente e à terra formosa da Palestina (verso 9). Ora, Antíoco avançou para o Egito, terminando em humilhação imposta pelos romanos. Os sucessos de Antíoco na Palestina foram de curta duração, e sua marcha para o Oriente foi cortada pelo seu falecimento. E sua política para dominar o helenismo ruiu completamente, e tampouco seus feitos lhe deram notável “prosperidade” (verso 12) que a profecia reclama.

3a. — Antíoco não atingiu o período final (verso 23) senão em meados da época em que o helenismo se dividiu em reinos. Na verdade sua política foi mais pontilhada de fracassos do que de êxito. (Ver o verso 25.) Êle não cumpre especificações proféticas.

4a. — Antíoco não se levantou contra o “Príncipe dos príncipes” (verso 25). Também nesse particular carece êle de cumprimento.

5a. — Seu “lançar a verdade por terra” (verso 12) foi temporário e completamente inócuo, sem resultado, porque suscitou os judeus a defenderem sua fé contra a influência do helenismo.

6a. — Embora Antíoco proferisse palavras arrogantes, e oprimisse o povo de Deus e, por pouquíssimo tempo profanasse o Templo, é óbvia e flagrante a inadequação dêsse rei em preencher muitos pontos da profecia. Êle não preenche todos os requisitos proféticos.

Para concluir diremos que os defensores da teoria porfiriana, que afirma ser Antíoco a “ponta pequena”, precisam reduzir os 2.300 dias proféticos pela metade, ou sejam 1.150 dias literais (e não anos) porque só mediante êste artifício podem obter um período de 3 anos de devastação do Templo levada a efeito pelo rei invasor.

Velha Acusação Contra a Sra. White

Reedita-se surrada acusação contra o dom profético da serva do Senhor. Lemos, recentemente, em três publicações evangélicas e uma católica a acusação de que nossa irmã declarara em 1856, numa assembléia: “Foi-me mostrado o grupo presente à assembléia. Disse o anjo: ‘Alguns alimentos para vermos, alguns sujeitos às sete pragas, alguns estarão vivos e permanecerão sôbre a Terra para serem trasladados na vinda de Jesus.” E concluem que todos os que na ocasião estavam vivos, já faleceram e, portanto, não se cumpriu a predição, e daí, dizem, se prova ser a Sra. White falsa profetisa.

Isto denota ignorância em relação aos propósitos divinos, e também má fé. Por igual critério, teríamos de averbar de “falsos” muitos profetas e servos de Deus no passado. De relance diriamos que Jonas foi falso profeta, pois como porta-voz de Deus gritara a plenos pulmões: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” (Jonas 3:4). Tal, entretanto, não ocorreu, e o verso 10 explica as razões do não cumprimento da profecia. É que os habitantes da cidade, a quem se destinava a mensagem — arrependeram-se de coração. Isaías, aferido por êsse critério, foi falso profeta, pois, inspirado, declarara a Ezequias: “Põe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás.” (Isa. 38:1). No entanto, Deus revogou a morte, adiando-a para mais quinze anos. Por quê? Os versos 2, 3 e 5 explicam a razão. Elias, segundo êste critério, foi um falso profeta, pois, a mandado divino predissera juízos severos contra Acabe e sua posteridade. (I Reis 21:21 e 22). O juízo foi adiado, e o verso 29 nos dá a razão disso. Os alvos divinos não mudam; mudam os homens em relação a êles. Pesou sôbre Sodoma terrível sentença de destruição total. Abraão interfere. Neste caso o juízo não pôde ser revogado ou adiado. Por quê? Porque não havia lá sequer dez justos. Se os houvesse, a cidade seria poupada por amor dêles. (Gên. 18:32).

É fora de dúvida que as profecias contendo ameaças ou recompensas têm um caráter condicional. Lemos em Jer. 18:7-10: “No momento em que falar contra um reino para arrancar, para derribar, e para destruir, se a tal nação, contra a qual falar se converter da sua maldade, também Eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe. E no momento em que falar de uma gente e de um reino, para edificar e para plantar, se ela fizer o mal diante dos meus olhos, não dando ouvidos à minha voz, então me arrependerei do bem que tinha dito lhe faria.” Exemplo de anulação de promessa feita, devido ao mau comportamento dos filhos de Deus, temos em resumo em Êxo. 6:2, 6-8: “Falou mais Deus a Moisés: ‘Portanto dize aos filhos de Israel . . . Eu vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios e . .. vos levarei à terra, acêrca da qual levantei a Minha mão que a daria a Abraão, a Isaque e a Jacó, e vo-la darei por herança.” Essa promessa de bênção foi revogada, e em Núm. 14:26-34, temos em resumo o seguinte: “Depois falou o Senhor a Moisés e a Aarão dizendo: até quando sofrerei esta má congregação que murmura contra Mim? Dize-lhes .. . neste deserto cairão os vossos cadáveres, como também todos os que de vós foram contados .. . não entrareis na terra, pela qual levantei a Minha mão que vos faria habitar nela … e conhecereis o Meu apartamento [das promessas].” Esta última expressão, na versão revista de Almeida está: “e tereis experiência do Meu desagrado.” Numa versão inglêsa, à margem, consta: “E conhecereis a alteração do Meu propósito.”

Também ao velho sacerdote Eli houve alteração do plano divino, consubstanciado nestas palavras: “Diz o Senhor Deus de Israel: Na verdade tinha dito Eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de Mim perpètuamente; porém, agora diz o Senhor: Longe de Mim tal coisa, porque aos que Me honram honrarei, porém os que Me desprezam serão envilecidos.” (I Sam. 3:30).

A abalizada “The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge”, Vol IX, pág. 277, falando de profecias, de que “se tornam um sinal de que o Senhor falou pelo profeta”, conclui: “Êstes pronunciamentos, porém, não contêm sempre um juízo inalterável de Deus; na verdade, como regra, a profecia de ameaça destina-se a produzir uma mudança no coração do povo; se êste objetivo fôr conseguido, a atitude divina se modifica e Sua sentença não mais se deve executar.”

Sôbre isto diz Strong, renomado teólogo batista: “A conjectura pessoal dos profetas, quanto ao significado das profecias que registraram, pode ter sido incorreta; contudo ainda as profecias, em si mesmas, são inspiradas.” — Systhematic Theology, pág. 235.

A autorizada “The International Standard Bible Encyclopedia”, Vol. IV, pág. 2461, também assim se expressa, sôbre profecias de cumprimento sustado:

“Não é o caso, porém, que uma autêntica profecia tenha que ser cumprida como o édito de um destino. Esta profecia não é um decreto fatal inevitável, mas uma palavra do Deus vivo à humanidade e, portanto, está condicionada, do ponto de vista ético, e, caso se siga o arreendimento, pode Deus retirar a ameaça (Jer. 18:2 e seg. e caso de Jonas) e pode revogar também o castigo (I Reis 21:29). Ainda uma predição pode ser renovada se o povo se demonstrar indigno (Jer. 18:9). Uma predição favorável ou desfavorável pode ainda ser adiada, até que haja interêsse em seu cumprimento, para tempos mais dilatados, se ela pertence aos conselhos definitivos de Deus, como por exemplo o juízo final ou o livramento do último dia . .. Neste caso, o profeta reúne num quadro o que se deve realizar gradualmente num maior desenvolvimento histórico … Não é, por conseguinte, correto exigir um cumprimento pedantemente exato na forma de uma veste histórica da profecia.”

Jamieson, Fausset & Brown, no “Commentary”, sôbre Jer. 18:8, concluem: “O princípio imutável de Deus e fazer o melhor em tôdas as circunstâncias. Se Êle não levar em consideração a mudança moral que se opera em Seu povo (suas orações, etc.) não estará agindo consoante Seu próprio princípio imutável.”

Lemos em “The Pulpit Commentary”: “As promessas de Deus são tão condicionais como Suas ameaças. Não seria justo nem misericordioso para nós o continuar Deus sem restringir Seus favores depois de nos têrmos apartado dÊle. A retirada dêsses favores constitui saudável advertência para nós. Deriva necessàriamente da relação pessoal de Deus com Seu povo, do qual depende simpatia recíproca.”

Diz Adão Clarke: “Êstes versículos (Jer. 18:7-10) contêm o que se pode chamar decreto de Deus pelo qual tôda a Sua conduta para com o homem é regulada. Se Êle propõe destruição a um pecador, e êste se arrepende e volta-se para Deus, viverá, e não morrerá. Se Êle propõe a salvação ao que andar em retidão, e êle se aparta de Deus, voltando ao mundo e ao pecado, morrerá e não viverá.”

Com relação ao dia do juízo, diz a Bíblia: “O Senhor não retarda a Sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.” II S. Ped. 3:9. Aí está o critério de Deus no trato com os pecadores.

Pelos nossos atos podemos apressar ou retardar a segunda vinda de Cristo. O fim só virá quando “êste evangelho do reino” fôr “pregado em todo o mundo, em testemunho a tôdas as nações.” S. Mat. 24:24.

À luz destas considerações poderemos explicar razoàvelmente porque a profecia da Sra. White, feita em 1856, não se cumpriu exatamente nos têrmos em que fôra anunciada. Era plano de Deus que o que ela dissera se cumprisse. No entanto, doze anos depois da visão, escreveu ela: “A longa noite de escuridão está sendo penosa, mas a manhã está prolongando a misericórdia, porque se o Mestre tivesse vindo, tantos seriam achados despreparados. O desejo de Deus, de que Seu povo não esteja em perigo, tem sido a razão de tão longa demora.” — Testimonies for the Church, Vol. 2, pág. 194.

E na Review and Herald, de 6 de outubro de 1896, pág. 629, escreveu ela: “Se os que pretendem ter uma viva experiência nas coisas divinas tivessem feito a obra que Deus determinou, todo o mundo já teria sido advertido, e o Senhor Jesus teria vindo em poder e grande glória.”

E em 1903, exatamente no dia 28 de março, em sermão proferido na Associação Geral, concluiu: “Sei que se o povo de Deus tivesse mantido viva ligação com Êle, se tivesse obedecido Sua palavra, êles hoje estariam na Canaã celestial.” — General Conference Bulletin, 35 th session, march, 30, 1903, pág. 9.

No último volume dos Testimonies (pág. 29), publicado em 1909, escreveu ela estas linhas solenes: “Se cada vigia dos muros de Sião tivesse dado o sonido certo de trombeta, o mundo já podia ter ouvido a mensagem de advertência. Mas a obra está atrazada em anos. Enquanto os homens dormiram, Satanás roubou-nos o avanço.”

Jamais nos esqueçamos de que se uma predição divina não se cumpre, se Deus revoga uma promessa ou susta um castigo, a culpa ou o mérito, neste caso, reside em nós, Seus filhos de vontade livre. Vontade que o próprio Deus respeita.

Como se vê, a acusação contra as credenciais proféticas da serva do Senhor é inteiramente insubsistente.

Cristo e o Cortejo do Céu

Não há muito, alguém nos remeteu um exemplar de certo órgão denominacional evangélico, contendo artigo escatológico — parte de uma série do mesmo autor — sôbre a vinda de Jesus e o início do milênio. O remetente assinalara com lápis vermelho o referido artigo, recomendando-o como expressão da verdade bíblica, em desacordo com as ensinanças adventistas. Lemo-lo com atenção. Não contém novidade alguma além da simples enunciação da teoria pré-milenista na forma esposada pelas igrejas evangélicas mais ou menos conservadoras, porém com seu êrro inicial: que Cristo virá com os santos falecidos e já na glória, além da companhia dos anjos celestiais. Isto consta dos compêndios teológicos de várias ramificações evangélicas, e será ocioso dizer que todo êsse pressuposto se embasa no falso pilar da imortalidade natural do homem e no imediato galardão post mortem. Estando os mortos na sepultura, como ensina a Bíblia, é absolutamente impossível que haja o que o articulista denomina o “cortejo do Céu formado pelos santos”. Há o cortejo sim, mas formado pelos anjos. Afora uns poucos que ressuscitaram ou foram trasladados vivos (Enoque, Moisés, Elias, alguns que subiram com Cristo), ninguém mais de nossa raça se encontra no Céu. Não há galardão que anteceda a vinda de Cristo, e após a morte também não há galardão, porquanto o único acontecimento que virá depois dela é o juízo. Heb. 9:27.

A dialética do articulista fundamenta-se no texto de I Tess. 4:14: “Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com Êle.” Grifamos, de propósito, a parte invocada pelo autor. O ponto focal da argumentação é o fato de o verbo “trazer” nesse texto estar, no Grego, desprovido do prefixo que geralmente dá idéia de algo que sobe. O verbo é ago, trazer. Em Heb. 13:20 o mesmo verbo aparece com o prefixo ana, que dá idéia de ascensão. Lá está literalmente anago que se traduz por “trazer para cima”. Contudo a argumentação não procede. Em I Tess. 4, a contextuação refere-se profusamente aos acontecimentos finais, à vinda de Cristo, à ressurreição dos santos, ao arrebatamento. É a nota dominante do capítulo. Isto dispensa o prefixo ana (para cima) que está implícito no sentido do verbo. O mesmo, porém, não ocorre em Heb. 13:20 onde se faz necessário o prefixo ana, ou melhor, a forma verbal anago, em vista de, na frase, não constar antes referência alguma à ressurreição, ressurgimento, ascensão, subida dos mortos, etc. E sendo a única vez em que ocorre o verbo para significar que Deus tornava a trazer dos mortos a Cristo, tornava-se imprescindível o uso de anago, para realçar o “trazer para cima”, implicando a idéia de ressurgimento que, sem o prefixo, não estaria clara. Notemos ainda a expressão “assim também”. Antes dela há menção clara à ressurreição de Cristo. Portanto o “assim também” (isto é, “da mesma maneira”) Deus os tornará a trazer com Êle (Jesus). A quem? Aos “que dormem”. É fora de dúvida que êsse “assim também” indica “de baixo para cima”. É fatal a conclusão: se já há no verso claríssima alusão à ressurreição (e esta é uma subida dos mortos), e se há ainda a indicação comparativa “assim também”, não havia necessidade do emprêgo da forma anago, mas bastava simplesmente ago. A anteposição do prefixo ana, no caso, é perfeitamente dispensável.

Conclui-se, pois, que, do ponto de vista filológico, não colhe a argumentação dos imortalistas. E a versão Almeida revista assim consigna o texto em lide: “Pois se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará juntamente em Sua companhia os que dormem.” A comparação com a ressurreição não deixa margem para dúvidas.

Temos o testemunho imparcial de Adão Clarke, metodista que, em seu muito citado comentário, assim se expressa em relação a I Tess. 4:14: “Deus trará com Êle — Êle [Deus] os fará subir da mesma forma como Jesus foi ressuscitado dos mortos, isto é, pelo Seu próprio poder e energia eternos; e Êle [Deus] os trará com Êle — com Cristo, por ser Êle a cabeça da Igreja, a qual é Seu corpo.”

Temos nas Escrituras um versículo paralelo, que dissipa qualquer dúvida. É II Cor. 4:14, que diz: “Sabendo que Aquêle que ressuscitou ao Senhor Jesus, também nos ressuscitará com Jesus, e nos apresentará convosco.” Grifamos de propósito a expressão “também nos ressuscitará com Jesus”, pois tal é exatamente o sentido também em I Tess. 4:14.

E, para finalizar, façamos algumas considerações de ordem lógica. A Bíblia ensina que “os que estão nos sepulcros ouvirão a voz de Cristo”, o som da trombeta do Arcanjo, e sairão do pó da terra. Ora, se os santos — como se quer fazer crer —vêm em companhia de Jesus, já estão no Seu cortejo, então não precisariam estar no pó da terra para ouvirem a trombeta. Já estão junto do trombeteiro. Seria uma farsa, pois estariam numa estranha e inverossímel posição em companhia de Cristo, como parte do séquito, como condutores e depois voltariam como conduzidos. Diante de I Tess. 4:16 e S. João 5:28 e 29, essa idéia é inteiramente insubsis-tente.

Questão Domínguísta

Tivemos o privilégio de ler o interessante livro de Joseph Gaer, How The Great Religions Begun, e à página 190, deparamos com êste tópico: “Nos primeiros séculos, os cristãos consideravam-se uma nova raça sôbre a Terra, o verdadeiro Israel — legítimo povo escolhido de Deus. Cada domingo, que êles denominavam dia do Senhor, reuniam-se para orar e ler a Bíblia. Jejuavam às quartas e sextas-feiras.”

Duas coisas se evidenciam neste trecho: 1 — que o primeiro dia da semana foi por êles (cristãos dos primeiros séculos) transformado em “dia do Senhor”. Não o foi por determinação divina nem por autoridade das Escrituras. Confirma-se que a instituição dominguista foi obra de homens; 2 — Além desta prática (o reunirem-se no primeiro dia da semana), havia outras sem apoio escriturístico, como o jejuar duas vêzes por semana. Note-se que o autor dêste livro não perfilha nenhuma religião. O Rev. Dr. Scott, abalizado comentador evangélico, em seu Comment on Acts, considerando o cap. 20, verso 7, conclui: “A troca do sétimo para o primeiro dia parece ter-se efetuado gradual e silenciosamente, pelo exemplo e não por preceito expresso.”

Até há algumas décadas, circulava nos Estados Unidos, uma revista evangélica denominada Christian At Work. Num antigo exemplar (dezembro de 1884), podia-se ler o seguinte: “Ouvimos mais do que devíamos acêrca da origem apostólica da observância do atual domingo.

O fato é que precisamos ir muito depois dos tempos apostólicos para encontrarmos o estabelecimento da observância dominical.”

Domingo e Quarto Mandamento

Lemos, não há muito, numa revista de escola dominical, que a observância do domingo tem como base o preceito do quarto mandamento: “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar.” Será êste um critério unânime das igrejas evangélicas? Não. O Rev. Charles S. Robinson, no Sunday School Times, de 14 de janeiro de 1882, escreve: “Não é sábio basear o argumento do sábado cristão (domingo) sôbre o quarto preceito do Decálogo . . . Ficaremos perplexos, se tentarmos baseá-lo em mandamento legal. Nesses debates, nossa segurança está em considerarmos o caráter gracioso e benevolente da divina instituição do repouso.”

E a publicação Christian At Work, de 19 de abril de 1883, apresenta o seguinte tópico: “Alguns firmam a observância do domingo sôbre o mandamento — o qual ordena explicitamente a observância do sábado, e não de outro dia como sendo o “santo dia do Senhor.” E procuram alguns fundamentar a guarda do domingo sôbre mandamento apostólico, e na verdade os apóstolos não deram nenhum mandamento sôbre êste assunto … A verdade é que, tão logo nos apeguemos ao texto claro da Bíblia, vemos que os sabatistas têm o melhor dos argumentos.”