II O Crer em Jesus
Nossa vida cristã deve ser uma constante atitude de crer em Jesus. Começamos pelo crer, e pela graça devemos nos manter crendo. Não devemos apenas nos “entregarmos”, mas mantermo-nos nessa entrega. Devemos “submeter-nos”, e mantermo-nos em submissão. Não devemos apenas “morrer” para o pecado, mas devemos “considerar-nos” mortos para êle, e manter-nos nessa atitude. Devemos “apresentar” nosso corpo a Deus, e mantê-lo nessa postura. Tudo isso é uma obra de graça.
A vida cristã requer constante entrega, constante consagração, constante rendição de coração e vida a Deus. Nós, os que estávamos mortos no pecado (Efés. 2:1), estamos agora mortos para o pecado (Rom. 6:11). Identificámo-nos com Jesus em Sua morte, e dessa forma morremos com Êle (Col. 2:20); de fato, nossa “vida” está escondida com Cristo em Deus” (Col. 3:3).
Êste pensamento é maravilhosamente expresso pelos tempos de verbo empregados pelo Grego no Novo Testamento. Em S. João 3:18 e 36, onde lemos “quem crê”, tem no Grego a forma de particípio presente mas incluindo a idéia de que “quem crê nÊle e continua a crer” e faz “disso um hábito de vida”, será salvo. O tempo verbal presente contendo a idéia de continuação também ocorre na expressão “mortificardes as obras do corpo” (Rom. 8:13). A idéia é a de uma atitude contínua de mortificar os apetites carnais.
Ellen G. White a declara dessa forma:
“Não é seguro ser cristãos ocasionais. Cumpre-nos ser semelhantes a Cristo em nossas ações a todo tempo. Então, pela graça, estamos seguros para o tempo e a eternidade.” — Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes, pág. 439.
E ainda:
“A divina graça é necessária no inicio, divina graça em cada passo do avanço, e unicamente a divina graça pode completar a obra. . . . Podemos ter tido uma medida do Espirito de Deus, mas pela oração e fé, devemos continuamente buscar mais do Espírito.” — Testimonies to Ministers, pág. 508.
III Nenhuma Confiança na Carne
Há uma luta constante na vida cristã. “Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e êstes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis” (Gál. 5:17). Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus (Rom. 8:8), porque o que semeia na carne colherá corrupção (Gál. 8:13). E o fato é que em nossa carne não habita bem algum (Rom. 7:18).
Por isso não devemos “confiar na carne” (Fil. 3:3). Enquanto vivermos neste vale de lágrimas nossa esperança repousa unicamente em Cristo nosso Senhor. Se andarmos “no Espírito” não cumpriremos “a concupiscência da carne” (Gál. 5:16). E mesmo aqui e agora, podemos ter a vitória se passarmos pela experiência de Paulo: “E vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gál. 2: 20).
O crescimento na vida cristã significa íntima comunhão com Jesus Cristo nosso Senhor. Significa alegria e certeza; significa constante gratidão a Deus pelo maravilhoso livramento que Êle operou por nós. Há, porém, um grave as-pecto nessa experiência. Observemos:
Requer diária renúncia — “Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-Me” (S. Luc. 9:23).
Requer diário sacrifício — “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rom. 12:1).
Requer diária consagração — “Apresentai os vossos membros para servirem à justiça para santificação” (Rom. 6:19). “Apresentai-vos a Deus” (verso 13).
E ainda testifica a Sra. White:
“Não é só no princípio da vida cristã que esta entrega do próprio eu deve ser feita. Deve ser renovada a cada passo dado em direção do Céu. Tôdas as nossas boas obras dependem de um poder que não está em nós. Portanto deve haver um continuo almejar do coração após Deus, uma contínua, fervorosa, contrita confissão de pecado e humilhação da alma perante Êle. Só podemos caminhar com segurança por uma constante negação do próprio eu e confiança em Cristo.” — Pará bolas de Jesus, págs. 159 e 160.
V É Imperativa Completa Desconfiança no Eu
Na vida cristã não há lugar para orgulho. Nada temos de que nos vangloriar (Efés. 2:9). Bem poderiamos todos nós aprender a lição de humildade vista na vida de Paulo: “Sou o menor dos apóstolos” (I Cor. 15:9); “A mim, o mínimo dos apóstolos, me foi dada esta graça” (Efés. 3:8).
Afinal de contas, nada podemos fazer de nós mesmos. Disse Jesus: “Sem Mim nada podeis fazer” (S. João 15:5). Nada conhecemos de nós mesmos (I Cor. 4:4; II Cor. 3:5). Bem podemos clamar: “para estas coisas quem é idôneo?” (II Cor. 2:16). Contudo nos é assegurado nas Escrituras que “a nossa capacidade vem de Deus” (II Cor. 3:5). E esta capacidade é tôda-suficiente. Nossa fé deve apoiar-se “no poder de Deus” (I Cor. 2:5). O poder em nossa vida e ministério deve provir “de Deus, e não de nós” (II Cor. 4:7). Vivemos “pelo poder de Deus” (II Cor. 13:4), pois é Seu poder “que opera em nós” (Efés. 3:20). “Deus é o que opera em vós, tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade” (Fil. 2:13), “operando em vós o que perante Êle é agradável por Jesus Cristo” (Heb. 13:21).
Mais uma vez atesta a Sra. White:
“Nenhum dos apóstolos e profetas jamais pretendeu estar isento de pecado. Homens que viveram mais achegados a Deus, homens que sacrificariam antes a vida a cometer conscientemente uma ação injusta, homens que Deus honrou com luz e poder divinos, confessaram a pecaminosidade de sua natureza. Nunca confiaram na carne, nunca pretenderam ser justos em si mesmo, mas confiaram inteiramente na justiça de Cristo. O mesmo se dará com todos os que contemplam a Cristo.” — Parábolas de Jesus, pág. 160.
“Bem-aventurados os que têm e sêde de justiça” (S. Mat. 5:6). Êste é o sinal do verdadeiro filho de Deus. Nada tendo de si mesmo, anseia pela justiça de Deus. Gratos a Deus pela certeza, “serão fartos” (S. Luc. 6:21). Cristo aqui estêve realçando a experiência de Davi no passado: “A Minha alma tem sêde de Ti; a Minha carne Te deseja muito” (Sal. 63:1); “A Minha alma tem sêde de Deus, do Deus vivo” (Sal. 84:2). Esta é a legítima fome do espírito, o anelo do coração humano em ser semelhante a Cristo. É sob estas condições que Deus farta “a alma sedenta” e “enche de bens a alma faminta” (Sal. 107:9).
1. Haverá Genuína Fruição na Vida dos Fiéis Filhos de Deus. — Haverá genuíno progresso no produzir fruto na vida cristã. E isto se desenvolverá à medida que avançarmos de fé em fé. No evangelho de S. João lemos de “fruto” (S. João 15:2), “mais fruto” (verso 2), ainda “muito fruto” (verso 5), e finalmente que “vosso fruto permaneça” (verso 16). Assim devemos prosseguir “de fôrça em fôrça” (Sal. 84: 7) e de vitória em vitória, porque é Deus quem nos dá “a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (I Cor. 15:57). “Graças a Deus que sempre nos faz triunfar em Cristo” (II Cor. 2:14).
Então haverá os “frutos da justiça” (Fil. 1:11; comparar com S. Tia. 3:18). “O fruto do Espírito está em tôda a bondade, e justiça e verdade” (Efés. 5:9). Um sumário mais completo ocorre na epístola aos Gálatas — “O fruto do Espírito é: caridade, gôzo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei” (Gál. 5:22 e 23).
Que maravilhosa descrição! O supremo fruto do Espírito é o amor. Tudo o que se segue são aspectos dessa qualidade divina. Assim como várias côres perfazem a luz solar, assim estas graças juntas constituem o amor. Dessa forma, gôzo é o amor exultante; paz é o amor em repouso; longanimidade é o amor incansável; benignidade é o maor paciente; bondade é o amor em ação; fé é o amor em forma de confiança; mansidão é o amor sob disciplina; enquanto temperança é o amor no domínio-próprio.
Esta fruição deve ser vista na vida do cristão. Estas virtudes não crescem por algum esfôrço nosso, mas se manifestam em nossa vida porque Cristo habita em nosso coração pela fé (Efés. 3:17). Estas virtudes existem em Cristo; e quando Êle habita em nós, Êle faz existir em nós as maravilhosas qualidades de Seu caráter perfeito.
As obras como meio de salvação não têm nenhum lugar no plano de Deus. Não podemos ser justificados de forma alguma por qualquer espécie de obras. A justificação é totalmente um ato de Deus, e não somos senão recipiendá-rios de Sua ilimitada graça.
Mas as obras como fruição da salvação têm um lugar definido no plano de Deus. Isto se manifesta nas graças ou virtudes espirituais que se vêem nos filhos de Deus, como já notamos. Devemos “executar as obras de Deus” (S. João 6:28). Há a “obra da fé” (I Tess. 1:3); e todo aquêle que é “nascido de novo” “pratica a justiça” (I S. João 2:29). As “boas obras” são muitas vêzes mencionadas no Novo Testamento (ver Efés. 2:10), mas deve-se ter em men-te que em tôda a nossa obra de fé (II Tess. 1: 11), nossa fé tem que ser ativada pelo amor de Deus (Gál. 5:6). Assim, em tôdas as coisas “o amor de Cristo nos constrange” (II Cor. 5:14).