Um dos maiores problemas que pràticamente todos os campos missionários enfrentam é encontrar jovens qualificados que correspondam ao chamado para o ministério. A atmosfera materialista que envolve o mundo e se mostra na igreja é a raiz do problema. O materialismo — narcótico para a vida espiritual da igreja e do indivíduo — tem levado muitos de nossos mais promissores jovens a abraçarem outras profissões em vez de atenderem ao chamado divino para o ministério.

A Sra. Ellen G. White faz esta declaração: “Que os nossos moços não sejam descoroçoados de entrar no ministério. Há perigo de que, mediante brilhantes representações, alguns sejam desviados da vereda que Deus os convida a trilhar. Alguns têm sido animados a tomar um curso de estudos no ramo médico, quando deveriam estar-se preparando para entrar no ministério.”— Obreiros Evangélicos, pág. 63. Notemos estas palavras: “Alguns têm sido animados” não para entrarem no ministério mas para outros ramos da obra. Necessitamos médicos, enfermeiras, professores e técnicos, mas há perigo em animar jovens para preferirem êstes ramos da obra, jovens que têm sido chamados por Deus para o ministério.

Alguém poderá pensar: “Se é Deus quem chama os homens para entrarem no ministério, porque se torna necessário animá-los e inspirá-los a aceitar o chamado? Se são realmente chamados, não corresponderão por si mesmos?” Conta-se a história de um jovem, em Londres, que se achava perplexo quanto ao seu futuro e dirigiu-se a Spurgeon em busca de conselho. Sem hesitar, perguntou:

— O senhor acha que devo ser um pregador?

Ao que o venerando homem de Deus respondeu:

— Não, se pode evitar de o ser.

Necessidade de Estímulo

Esta resposta pode justificar-se sob certas circunstâncias, mas falando de modo geral, nossos jovens carecem de conselho e orientação e, sobretudo, estímulo, quando pretendam aceitar o chamado de Deus para o ministério. Lemos: “Vi que Deus colocou sôbre seus ministros escolhidos o dever de decidirem quem é apto para a obra santa.” — Testimonies for the Church, Vol. 1, pág. 209. É esta uma responsabilidade tremenda. Talvez estivemos a esperar que os jovens se dirigissem a nós para dizer-nos que foram chamados por Deus, quando devíamos nós ir até êles.

Na maior de tôdas as conversões, a de Saulo de Tarso, Deus confiou a um dos líderes da igreja de Damasco o revelar a Saulo que êle fôra chamado por Deus para o ministério. Muitos jovens hoje em dia, em nossas igrejas, estão aguardando por êste mesmo conselho.

Os homens não nascem ministros. Falando disto, Paulo diz em Efésios 3:7: “Do qual fui feito ministro, pelo dom da graça de Deus.” Os pastôres se tornam tais pela graça de Deus. Isto não depende unicamente do talento e da capacidade. Quando Deus se apossa de um homem, Êle refaz êste homem.

Como se demonstrou anteriormente, a raiz do problema é o materialismo; há, porém, outros fatôres que contribuem para manterem muitos de nossos mais esperançosos jovens fora do ministério. Em muitos campos missionários, o ministério não tem sido exaltado aos olhos do nosso povo como Deus queria que o fôsse. Falando por meio de Sua serva, diz o Senhor: “A mais elevada de tôdas as obras é o ministério, em seus vários ramos, e deve ser mantido sempre presente no espírito dos jovens que não há obra mais abençoada por Deus do que a do ministro evangélico.” — Obreiros Evangélicos, pág. 63. Nossa falha em exaltar êste ponto perante nossa mocidade e seus pais fêz com que muitos ministros em perspectiva abraçassem outros ramos do trabalho.

Triste é dizê-lo, mas há muitos hoje no ministério que não se constituem exemplo e inspiração que deviam ser para nossos jovens. O resultado é que muitos de nossos moços dizem: “Se o ministro é isso que vejo, então não pretendo ser ministro.” Em anos que se foram, alguns foram admitidos despreparados e sem suficiente dedicação, sem consagração para compensar a falta. E com o passar dos anos não foram capazes de acompanhar os tempos que mudavam. É imperioso que nossos ministros obtenham a melhor educação nos campos em que vivem, e tenha as mesmas oportunidades para a educação avançada que se provê aos que se acham em outros ramos da obra missionária. Com normas corretas para o ministério, teremos muitos mais de nossos talentosos jovens atendendo ao chamado divino de “pregarem ao mundo.”

A Atitude do Pastor

Uma das mais fortes influências em ajudar um jovem a decidir-se a favor ou contra o ingresso no ministério é a atitude de seu pastor para com o ministério. Está êle absolutamente certo de que Deus o chamou para o ministério? Mantém êle comunhão pessoal, diária e viva com seu Deus e Salvador? Conhece e entende a emoção de ser “pescador de homens”? Regozija-se o ministro em seu trabalho ou êste lhe é penosa carga? Se o relógio do tempo pudesse voltar atrás, ainda aceitaria êle o chamado para o ministério? Se a resposta é Sim a tôdas estas perguntas, então podemos estar certos de que Deus pode usar êste pastor para inspirar jovens a entrarem neste ramo de Sua obra.

É de suprema importância que o pastor ensine aos jovens sob seus cuidados, como “pescar homens.” Se o jovem uma vez sentir a emoção de uma “pesca”, será muito mais fácil ajudá-lo a reconhecer o chamado de Deus quando vier. Ao primeiro homem a entrar para o ministério Jesus disse simplesmente: “Segui-me, e Eu vos farei pescadores de homens.” Já haviam visto a Jesus; já O conheciam, Êle possuía o que êles desejavam, e estavam preparados para abandonar tudo e segui-Lo. É esta a mesma confiança que nós, como representantes de Cristo na Terra, temos que comunicar aos jovens em nossas igrejas.

Muitos de nossos moços que deviam estar estudando para o ministério, encontram-se em outros ramos da obra porque nós, como ministros e ensinadores, deixamos de fazer nossa parte. Notemos esta impressionante declaração, extraída do livro Fundamentais of Christian Education, págs. 113 e 114: “Há muitos que deviam tornar-se missionários, que jamais entram no campo, porque os que estão unidos a êles na posição da igreja ou em nossos colégios, não sentem a responsabilidade de trabalhar com êles, de abrir diante dêles os reclamos que Deus tem acima de todos os poderes, e não oram com êles e por êles; e o período momentoso que decide os planos e o curso da vida passa, e suas convicções são abafadas; outras influências e sugestões os atraem, e a tentação de buscarem posições mundanas que lhes trarão dinheiro, segundo pensam, os arrastam para a corrente do mundo. Êstes jovens podiam ser salvos para o ministério por meio de planos bem organizados. Se as igrejas, nos vários lugares, cumprirem seu dever, Deus cooperará com seus esforços pelo Seu Espírito, e suprirá o ministério de homens fiéis.”

Razões Para a Rejeição do Ministério

Nesta impressionante declaração, há seis razões apresentadas por que estamos perdendo muitos de nossos melhores jovens que poderiam ir para o ministério. Primeiro, porque seus ministros e ensinadores não sentem a responsabilidade de trabalhar com êles. Segundo, não lhes mostramos o reclamo de Deus. Terceiro, não oramos com êles e por êles. Quarto, permitimos que outras influências e sugestões os atraiam. Quinto, devido a essa falta, predomina na vida dêles a tentação de buscarem posição mundana e dinheiro. Sexto, tem havido falta de planos bem organizados em dirigi-los para o ministério. Isto deve ser um desafio a cada pregador e ensinador a dispender esforços consagrados e de todo o coração no sentido de dirigir nossos jovens quando reconhecerem o chamado de Deus para êles, antes que se emaranhem na “teia do materialismo” de Satanás.

E como vimos na citação de Christian Education, é dever do pastor, do ensinador, dos líderes da igreja — sim, da igreja como um todo — ajudar nossos jovens a compreenderem a responsabilidade de atenderem ao chamado de Deus para darem a mensagem a um mundo perdido e condenado. Pela graça de Deus temos que capacitá-los a entenderem que “a maior obra, o mais nobre esfôrço em que se possam homens empenhar, é encaminhar pecadores ao Cordeiro de Deus.” — Obreiros Evan-gélicos, pág. 18.

Deve ser com convicção, com franqueza, com grande responsabilidade pelas almas em nosso coração, que apelamos a nossos jovens e dizemos: “Não vos chamou Deus para fazer soar esta mensagem?” — Idem, pág. 64.