Apreensão e curiosidade estavam expressas em quase todos os rostos da classe de alunos da Língua castelhana ao começar a primeira aula do pastor Charles E. menos conhecida. (Tratava-se, na realidade, Wittschiebe. Era 3 de janeiro de 1961. Das três matérias que estudaríamos, Psicologia e Orientação Pastoral, indubitàvelmente, era a de dois cursos fundidos: Psicologia Pastoral Orientação Pastoral.)

Com sua habitual cordialidade e bom humor, o Prof. Wittschiebe começou a apresentar na primeira aula os objetivos do curso. Profusamente ilustrada com fatos de sua própria experiência como orientador-conselheiro, esta aula se tornou muitíssimo interessante — assim como tôdas as demais.

Durante as aulas fomos informados que até há poucos anos, alguns de nossos irmãos consideravam que o adventista não necessitava estudar Psicologia. Não escreveu a irmã White contra isto? É interessante, contudo, notar que a irmã White também disse: “Deus pode moldar a mente que Êle criou, sem o poder do homem, porém Êle honra os homens pedindo-lhes que cooperem com Êle nesta grande obra.” 1 Por conseguinte, para trabalhar com a mente é necessário conhecer suas leis. E disto se ocupa a moderna Psicologia.

Lembrou-nos, além disso, que E. G. White escreveu faz uns oitenta anos: “Enfermidades mentais prevalecem por tôda parte. Nove décimos das doenças de que sofrem os homens, têm aí sua base.”2 “Grande parte das enfermidades que afligem à humanidade têm sua origem na mente e podem ser curadas sòmente pela restauração da saúde mental.’’ 3 (Grifo nosso.)

Isto torna ainda mais imperativo o estudo da Psicologia. Esta ciência não é inimiga perigosa, mas sim uma colaboradora eficaz. E, falando de Psicologia e Orientação Pas-toral de modo específico, o professor indicou-nos um parágrafo em Obreiros Evangélicos, pág. 184, que daquele instante em diante adquiriu um novo significado para nós. “Há necessidade de pastôres que, sob a direção do Sumo Pastor, busquem os perdidos e extraviados. Isto significa suportar o desconforto físico e sacrificar a comodidade. Importa numa terna solicitude pelos que erram, numa divina compaixão e paciência. Quer dizer um ouvido capaz de escutar com simpatia narrações que partem o coração, acêrca de erros, degradações, desespero e miséria.” (Grifo nosso).

As dúvidas que porventura hajam na mente de alguns se dissiparam completamente. A seguir — como êle mesmo o confessou — o pastor Wittschiebe teve uma das aulas mais entusiastas e aproveitáveis de sua experiência como professor. Sabíamos que parte de nosso dever como missionários, era o de ser “médicos da alma”, dever e privilégio que todos estávamos ansiosos de poder atender na melhor forma possível.

À medida que transcorriam as oito semanas do curso, estudamos acêrca das relações que existem entre o inconsciente, a consciência e o super-eu (super-ego). Palavras tais como: empatia, repressão, agressão, racionalização, projeção, introversão e outras, tornaram-se mais familiares. Como ocorre acontecer com freqüência aos estudantes de medicina, ao estudar as características de certas enfermidades mentais, não pudemos deixar de descobrir (com ou sem razão) que tínhamos muitas delas. Assim, por exemplo, os que lemos, de Karen Horney, A Personalidade Neurótica de Nosso Tempo, chegamos à conclusão de que, alguns mais outros menos, todos padecemos de neurose.

O fato é que — como muitos se expressaram — um dos grandes benefícios do curso foi o de ajudar a conhecer-nos a nós mesmos.

Aprendemos, além disso, como tratar os doentes em nossas visitas a hospitais, etc. Talvez o que mais nos surpreendeu a êste respeito, foi que não devemos ir e procurar dizer só palavras animadoras. É necessário ajudar o enfêrmo a expressar seus sofrimentos, seus temores e até sua angústia (em face de uma próxima intervenção cirúrgica, por exemplo). É preciso fazer-lhe notar que também outras pessoas corajosas sentiram-se temerosas em ocasiões semelhantes. Isto produzirá o alívio que um: “Não se preocupe, Deus o vai cuidar” jamais poderia conseguir. E depois que o enfêrmo puder expressar seus temores, será mais fácil pedir a ajuda de Deus para êle.

Estudamos também como atender os enlutados. Aqui, como no caso anterior, precisamos aprender mais a ouvir do que falar. E isto em geral se aplica a todos os aspectos do trabalho de conselheiro pastoral. Quantas vêzes falamos e falamos, crendo que nossa tarefa consiste em dar palavras de consôlo ou repetir conselhos, quando a maior neces-sidade do que sofre é de uma pessoa que saiba ouvi-lo!

Que fazer com os que têm problemas conjugais, ou quando há problemas entre pais e filhos, ou com os que têm dificuldades para adaptar-se no meio social em que vivem? Da mesma forma, devemos saber ouvir a exposição de seus problemas. Devemos ajudá-los a descobrir por si mesmos a solução. E, num sentido geral, devemos lembrar que um problema que vem se desenvolvendo durante 2, 5, ou mais anos, não pode ser solucionado em 15 minutos. Três, oito e quinze entrevistas de uma hora inteira talvez, sejam necessárias para que o problema seja finalmente entendido e a solução proferida.

O pastor tem diante de si um campo qua-se inexplorado com vastas possibilidades. Porém, deve lembrar em cada momento que tem também outras funções. Oito a doze horas por semana é o máximo que nos foi

recomendado empregar nestas tarefas de orientação. E outra recomendação sábia que nos foi repetida várias vêzes é: “Lembrem-se que um curso e a leitura de quatro livros não tornam ninguém especialista.” O pastor não é um psicólogo ou um orientador. É, sim, um “médico das almas” que pode empregar com vantagem tudo o que aprender neste sentido.

Talvez muitos já tenham aplicado alguns dêstes princípios sem perceber. Isso é como tocar de ouvido, dizia o pastor Wittschiebe. Porém há muito mais possibilidades de acertar e progredir quando conhecemos as notas.

Não sòmente nossos membros da igreja podem ser ajudados. É verdade sim, que especialmente a êles dedicaremos nossos esforços. Contudo, há não adventistas que de bom grado buscarão o pastor adventista se ouvem que êle sabe ajudar a resolver os problemas. E, como tem acontecido freqüentemente, estas pessoas poderão chegar a ser membros de nossa igreja, inspirados pela compreensão encontrada no pastor.

Na penúltima aula do curso, o professor deu a oportunidade para expressarmos o que pensávamos quanto ao curso. Entre as expressões que se destacaram estavam as seguintes:

1. Tem-me ajudado a conhecer-me um pouco melhor;

2. Tem-me ajudado a ser mais tolerante com o próximo;

3. Fêz-me notar a necessidade de aprender a ouvir;

4. Permitiu-me compreender que hoje é tanto ou mais necessário que antes o amor expresso pelo Mestre ao paralítico de Betesda ou a Maria Madalena.

Referências

1 Medical Ministry, pág. 188.

2 Test. Sel., Vol. 1, pág. 179.

3 Testimonies, Vol. 3, pág. 184.