Era um aprazível domingo quando cheguei àquela cidade. Visitava-a pela primeira vez. Suas tradições históricas, suas ruínas famosas, seus monumentos arqueológicos e suas vetustas igrejas, constituem uma fascinação permanente para o sedento espírito de um forasteiro.

O dia seria mui curto para um tão extenso programa de visitas. E, por isso, sem detenças, iniciei uma exaustiva peregrinação, seguindo um roteiro cheio de atrações e surprêsas. Andei por suas ruas estreitas e sinuosas. Contemplei o estilo barroco de suas edificações, símbolo de uma era de esplendor e fastígio. Visitei os seus velhos e legendários templos, regorgitantes de fiéis. E, após haver percorrido diferentes e variados recantos históricos, regressava ao hotel, pensando naquela multidão de desventurados adoradores que, em densas brumas espirituais, persignavam-se num culto inspirado no mêdo, superstição e idolatria.

Multidões sem luz! Massas humanas sem Cristo! Sem embargo, a semelhança de um lume embaciado e pálido, brilhava naquela imperial cidade a luz da mensagem do advento.

À noite dirigi-me ao Templo Adventista, animado pelo desejo de receber as bênçãos de um inspirado programa de evangelismo. Mas, oh! assombro; oh! decepção. Suas portas estavam cerradas e, através de suas janelas, não vi o brilho de suas luzes.

Naquela noite a Bíblia sôbre o púlpito permaneceu cerrada. A voz do pregador não foi ouvida. Os pecadores angustiados e aflitos não foram convidados ao altar.

Aquela igreja obscura representa a ausência de entusiasmo evangelizador. É o símbolo de uma religião apática, acomodada e tranqüila, indiferente à sorte das multidões que sucumbem sem Cristo e sem esperanças.

Um templo apagado numa noite de tantas oportunidades para o evangelismo, lembra a experiência ocorrida na vida de Pascoal, o negligente guarda ferroviário, responsável pela segurança do tráfego numa perigosa e movimentada encruzilhada.

Rápidos e pesados comboios, com regular freqüência, por ali passavam, interrompendo por instantes o contínuo movimento de veículos que cruzavam o leito daquela ferrovia. Impunha-se a presença constante de um guarda para disciplinar o trânsito e, dêste modo, evitar ocorrências lamentáveis e acidentes fatais.

Pascoal trabalhava durante a noite. Sua responsabilidade consistia em agitar uma lanterna vermelha tôda a vez que o trem se aproximava da encruzilhada.

Certa noite um automóvel repleto de passageiros, no momento em que cruzava a ferrovia, foi violentamente atingido por uma gigantesca locomotiva. O impacto foi ensurdecedor. Seguiram-se gritos de desespêro e dor rompendo o silêncio da noite. Ao serem examinadas as proporções do desastre, encontraram três passageiros sem vida, e um outro em deplorável estado, inspirando cuidados especiais.

Abriu-se um inquérito, e Pascoal que estava de serviço naquela noite trágica foi intimado a comparecer ante o tribunal.

— Moveu o senhor a lanterna advertindo os automóveis da aproximação de um trem? interrogou o juiz sumariante.

— Sim, senhor, contestou Pascoal sob juramento. Movi a lanterna para um e para outro lado, mas indiferentes à minha advertência, não se detiveram e foram tràgicamente colhidos pelo trem.

Após o interrogatório o chefe dos guardas ferroviários felicitava o seu subordinado pelo equilíbrio e correção demonstrados, dizendo-lhe :

— Temi que ficasse nervoso e dissesse algo comprometedor.

— Estava realmente mui nervoso, replicou Pascoal. Temi que o juiz me interpelasse sôbre se a lanterna estava acesa.

Sim, o relapso guarda havia agitado a lanterna, mas — que desídia! — a lanterna estava apagada.

Quantas igrejas apagaram as lâmpadas do evangelismo! Promovem, é certo, algumas campanhas consagradas no calendário denominacional. Conduzem um culto regular, revestido de formas rotineiras, algumas vêzes sem inspiração. Agitam a lanterna, mas esta não tem azeite, nem brilho — apagou-se melancòlicamente o entusiasmo pela obra em favor dos perdidos. selheiros pastorais, mais eficientes pastôres de seus rebanhos, maridos mais compreensivos, mais úteis aos semelhantes, enfim. Cremos que, embora haja mais séries de conferências, ninguém se apresentará como professor, a não ser que seja professor de alguma coisa mais do que de uma classe da escola sabatina, mas munidos do poder do alto, inspirados pelo exemplo do Pacaembu, mais almas sejam ganhas não sòmente para as listas de membros de igreja, mas sobretudo para o reino de Deus. Estamos certos de que, embora todos já tenham lido bom número de livros do Espírito de Profecia, de agora em diante haverá mais compreensão do tempo em que a irmã White viveu e também do tempo em que nós vivemos. Que Deus abençoe abundantemente a todos os que participaram dêste conclave do saber, e que A. L. White, R. A. Anderson venham em breve para uma terceira visita ao Sul, e que C. E. Wittschiebe saiba que todos nós dizemos: Bem Te Vi; nas aulas inspirador, nas conversas amigo, no Brasil saudoso de Berrien Springs; e ainda: Queremos rever-te e a teus dois companheiros no Reino de Deus.

Diante daquele quadro sombrio — um templo obscuro numa aprazível noite de domingo — descobri, em minhas reflexões, o significado profundo contido na sentença bíblica: “Não havendo visão o povo perece”. Com efeito, a ausência de visão evangelística tem sido responsável pelos limitados triunfos verificados em extensas áreas. Multidões estão perecendo em circunstâncias desalentadoras, porque nos falta a visão necessária para um incansável evangelismo “em tempo e fora de tempo”.

Cumprindo extensos e exaustivos itinerários hei visto, com imensa alegria, quão consagradores hão sido os resultados nos lugares onde se faz ouvir, nos domingos à noite, a voz do pregador adventista, estuante de vibração e fé.

Transformemos, pois, os nossos templos e capelas em frutíferos centros de evangelização, capazes de atrair os incrédulos e indiferentes, e guiá-los ao “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.

Portas abertas, luzes acesas, uma mensagem de fé em nossas igrejas, nos domingos à noite, eis o segrêdo de um ministério dinâmico fecundo e realizador.