Mensagem devocional apresentada na quinta-feira de manhã, 24 de abril de 1980.
Depois de falar da necessidade de arrependimento em Sua mensagem à igreja de Laodicéia, Cristo diz: 1) “Eis que Estou à porta, e bato; 2) se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, 3) entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo.” Apoc. 3:20.
Os adventistas crêem que as sete igrejas representam a história da Igreja Cristã desde o seu início até à Segunda Vinda de Cristo. De acordo com isso, a igreja de Laodicéia é a última igreja de Deus na Terra. Cristo é impelido a fazer este derradeiro apelo a Sua igreja devido a sua conduta.
- 1. Em Pé Junto à Porta
Jesus é aí retratado como alguém que chegou à porta e está em pé junto a ela, batendo. A porta fechada contra um inimigo significa proteção contra o perigo, e segurança. Essa mesma porta, fechada diante de um amigo, significa desconfiança, desprezo e rejeição. A porta de Laodicéia está fechada para Cristo.
Cristo é um amigo da humanidade. Ele nos amou a tal ponto que deu a vida para remir-nos de nossos pecados. Cristo é um amigo da Igreja, considerando-a como Seu próprio corpo (Efés. 1:23); Ele a ama como Sua esposa (cap. 5:28-30); e morreu para tornar-Se o seu Salvador (verso 23).
Cristo está em pé junto à porta enquanto a igreja de Laodicéia mantém a porta fechada. O Espírito de Profecia fala dos que, na Igreja Adventista, não abrem a porta por serem meros adeptos da religião. Em geral, os cristãos conservam a porta fechada por estarem ocupados com os fardos do mundo e com os seus negócios — os cuidados desta vida. Como meros adeptos da religião, não estão dispostos a examinar seu próprio coração. Abrigam uma falsa esperança. Em vez de uma viva experiência cristã, alguns se apóiam numa velha experiência que tiveram anos atrás, procurando ridiculamente adornar-se com uma rosa estiolada e sem valor, cuja beleza se desvaneceu.
No entanto, Cristo está à porta como um amigo. Ele bate, e toma a bater. Muitos se tomaram alheios a Cristo por não haverem aberto a porta de seu coração para dar-Lhe entrada. “Seu coração não está colocado nas coisas espirituais; eles não se importam com as coisas do Espírito. Muitos, muitos que professam ser cristãos escolhem aquilo que agrada a eles mesmos, e não aquilo que agrada a Cristo. Preferem as coisas do tempo e dos sentidos às invisíveis, o carnal ao espiritual, o temporal ao eterno, e caminham nas faíscas que eles mesmos acenderam. Encontram-se num estado de falsa segurança e, a menos que se arrependam e se cheguem a Cristo, jazerão em tristeza.” — Ellen G. White, em Review and Herald, 14 de junho de 1892.
Conheci um homem que por 18 anos conservara a porta do coração fechada a Cristo. Muitas pessoas falaram com ele: membros de igreja, parentes e pastores. Ele feqüentava a igreja, permitiu que a esposa e os filhos fossem batizados, dava ofertas e prestava favores à igreja, mas nunca aceitara completamente a Cristo. Depois de 18 anos, abriu o coração ao Senhor e convidou-O a entrar em sua vida. Já havia aceito a Cristo quando me tomei o pastor de sua igreja. Um dia, ao falar sobre sua experiência no passado, ele disse-me o seguinte: “Durante esses dezoito anos eu nunca me senti seguro, nunca desfrutei paz interior, nunca fui feliz.”
Cristo está-nos chamando agora porque deseja conceder-nos verdadeira felicidade nEle, porque quer oferecer-nos perfeita tranqüilidade mental e porque almeja prover-nos a única segurança real que é possível neste mundo. Ele ainda está junto à porta, ainda está batendo, ainda está fazendo Seu último apelo a Sua igreja.
A igreja de Laodicéia precisa responder positivamente a Cristo, de duas maneiras: ouvindo Sua voz e abrindo a porta para Ele.
Em nossos dias ainda há os que não estão ouvindo a voz de Cristo. Eles prestam atenção à voz interior do sentimento, à voz da paixão, à voz dos desejos pessoais e egoístas. Só prestam atenção à voz humana, e os sons atroadores da voz desse falso deus causam uma variedade de transtornos emocionais que enchem a vida de insegurança, medo e solidão. O cristão que atende a essa voz despreza a Cristo, o Visitante pessoal que bate à sua porta. Permanece, portanto, sozinho.
- 2. Resposta
Os verdadeiros adventistas ouvem a voz de Cristo. Eles atendem ao Seu apelo. Entram em contato com o Revelador e, como os fiéis filhos de Deus no Velho Testamento, crêem na Palavra. Sua crença não é dominada pelas novidades e fantasias de seu tempo, nem pelas ansiedades desta vida ou pelas especulações teológicas do momento. Baseia-se na Palavra de Cristo. E por isso têm uma fé ativa e uma viva experiência cristã. Obedecem à Santa Palavra de Cristo porque estão convictos de que importa atender à revelação de Cristo por meio de Sua Palavra.
O primeiro passo em nossa resposta ao apelo de Cristo é aceitar a Palavra revelada sem argumentar com ela e sem procurar adaptá-la a nossas circunstâncias atuais na vida, e, sim, harmonizar as circunstâncias atuais com a autoridade da Palavra.
O segundo passo em responder ao apelo de Cristo encontra-se na frase: “abrir a porta’’.
Que significa abrir a porta? Significa deixar que Cristo entre, para que Ele possa salvar-nos do pecado. Significa “esvaziar o templo da alma dos compradores e vendedores. ” Significa “convidar o Senhor a entrar”, dizendo:
‘Amar-Te-ei de toda a minha alma. Praticarei as obras da justiça. Obedecerei à lei de Deus .” — Idem, 28 de agosto de 1888.
Como abrimos a porta? Em primeiro lugar, removendo “o lixo da porta” (Idem, 18 de agosto de 1891), confessando nossos maus sentimentos e inveja, humilhando o coração diante de Deus, tomando a cruz a todo passo, empreendendo nossa jornada pelo mundo como verdadeiros peregrinos e estrangeiros, apegando-nos com viva fé à cruz do Calvário e fazendo uma consagração completa a Deus. “Abramos a porta de nosso coração, para que Jesus possa entrar e o pecado possa sair. Abandonemos o mal e escolhamos o bem, lembrando-nos de que ‘a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes’.” — Idem, 16 de março de 1886.
- 3. Quando Ele Entra
Se cada um de nós individualmente, e a Igreja como um todo, atender da devida maneira ao último apelo de Cristo, o resultado será uma autêntica habitação com o Senhor. “Entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo.” Apoc. 3:20.
É Cristo quem inicia esta experiência de nossa habitação com Ele. Aproxima-Se de nós e nos chama. Por meio de Seu Santo Espírito, Ele entra, estabelecendo pessoal e íntima comunhão conosco. Como resultado, levamos uma verdadeira vida cristã e nos tornamos Suas testemunhas.
Cristo vem habitar com Sua Igreja, como um todo, da mesma forma. Ele bate à porta e aguarda o convite para entrar. Quando a Igreja o Convida a entrar, Cristo lhe envia Seu Santo Espírito, e ela se empenha diligentemente no cumprimento de sua missão, que não é teologizar, mas pregar o evangelho. Nós, como Igreja, devemos dar as boas-vindas a Cristo não somente em Sua segunda vinda (Isa. 25:9), mas em todos os momentos de nossa história denominacional, e especialmente nestes últimos dias. Deveriamos ter agora, “em todos os momentos”, uma ceia com nosso Senhor — uma duradoura Ceia do Senhor — para desfrutar permanentemente Sua comunhão e partilhar constantemente Seu corpo e sangue — a totalidade de Seu evangelho — com todos aqueles com os quais entramos em contato em nossa vida diária (I Cor. 11:24-26).
Embora nossa habitação com Cristo comece com nossa aceitação de Sua Palavra revelada, isto não é uma relação com as doutrinas pelo conhecimento, mas uma relação com a Pessoa de Cristo, o que abrange nossa vida e especialmente o vivo poder de Cristo operando em nós, o qual constitui a luz que comunicamos aos que nos rodeiam, porque, “quanto mais luz recebermos [de Cristo], tanto mais difundiremos luz sobre o caminho dos outros” — Idem, 30 de outubro de 1888.
Esta hora final em que Cristo está fazendo Seu último apelo a Sua Igreja não deve ser gasta em especulação teológica ou discussão acadêmica de doutrinas. Antes, devemos empregar nosso tempo e talentos, nossas instituições e os que trabalham ali, e nossa obra individual e a obra total da Igreja em buscar uma viva experiência cristã e na pregação do evangelho eterno de Cristo.
Falando especificamente dos meros adeptos da religião que não experimentam tal espécie de relação com Cristo, Ellen G. White diz o seguinte: “Parecem pensar que uma profissão da verdade os salvará. ” — Idem, 9 de setembro de 1884. O que tem mais importância não é aquilo que sabemos, e, sim, Aquele a quem conhecemos.
À medida que a Igreja continua a expandir-se e a desenvolver suas universidades e seminários, e o estudo de teologia cada vez se toma mais técnico, há o perigo de que Igreja se absorva na discussão de variações doutrinárias e perca de vista sua missão e a necessidade de viver de um modo que realmente esteja de acordo com o evangelho e a proclamação da verdade a um mundo que perece.
Quando a Igreja passa o tempo debatendo delicados pontos de teologia, a crítica uns dos outros toma-se desenfreada.
Há o perigo de que os teólogos, enfatuados pela dignidade que lhes é conferida por sua posição profissional, se ocupem em criticar sistemas, dirigentes e a própria Igreja. Quer se trate da crítica comum ou da crítica altamente erudita, criticar não é a nossa obra. “Não devemos atentar para os defeitos dos que se acham ao nosso redor. Procedendo assim, colocamo-nos na cadeira de juiz e estamos julgando. Este não é nosso lugar e obra apropriados. ” — Idem, 19 de janeiro de 1905. Segundo o Espírito de Profecia, o que deveriamos estar fazendo é pleitear “pela unidade que Cristo disse devia existir na Igreja. Amai-vos como irmãos e realizai a obra que vos foi confiada. ” — Ibidem.
Habitar com Cristo significa receber Sua vida para partilhá-la com outros. Essa habitação com Ele produz a mais profunda experiência de fé, a verdadeira comunhão de amor, o autêntico senso de tolerância, a segura convicção da esperança e a calma segurança da paz. Habitar com Cristo produz a viva experiência cristã que recebe a Palavra de Cristo, aceita sua autoridade e comunica sua mensagem a outros.
O que a igreja de Laodicéia necessita não é mais discussões teológicas, mas profundo e intenso avivamento. Se a Igreja — seus membros, seus pastores, seus professores de teologia, seus obreiros e suas instituições — se dedicar ao cumprimento de sua missão em perfeita unidade com o Espírito Santo, não será perdido de vista o objetivo da Igreja, não haverá argumentações teológicas que causem divisão, e não será rejeitado o apelo de Cristo à nossa porta.
Cristo está junto à porta, e Ele está batendo. Solicita que Sua Igreja Lhe dê permissão para habitar com eles. Convida Sua Igreja a unir-se com Ele no viver cristão e na proclamação do evangelho. Convida Sua Igreja a conhecê-Lo pessoalmente, vivendo em união com Ele, e a deixar para trás as argumentações teológicas que ocasionaram dificuldades em tantas igrejas através da História.
Cristo está batendo à nossa porta. Está fazendo Seu último apelo a uma igreja morna, que mesmo em sua maneira de debater assuntos teológicos tem adotado os métodos do mundo. Chegou, porém, a hora de respondermos positivamente ao apelo de Deus. Não há um momento mais oportuno para respondermos, como Igreja, ao apelo de Cristo do que aqui nesta assembléia da Associação Geral.
Sentindo a necessidade pessoal da completa habitação de Cristo em minha própria vida, eu gostaria de convidar cada membro da Igreja Adventista e esta Igreja como uma organização a abrirem a porta do coração de tal modo que Cristo possa entrar e estabelecer Sua verdadeira presença no íntimo de cada um de nós.
Quando aceitamos Seu premente apelo, estamos preparados para sair a proclamar o evangelho. Nos setores da Igreja mundial em que cada membro, cada obreiro, cada estudante e cada professor está diligentemente empenhado em atividade missionária, o perigo de especulação teológica fica bem distante. Ousaremos agora, como Igreja, consagrar-nos a Deus, para que esse perigo jamais destrua nossa Igreja? Estamos pessoal e individualmente dispostos e consagrar-nos a novo fervor e zelo missionário, como o que caracterizou os primórdios da história desta Igreja — uma consagração que nos habilitasse de tal maneira que, sob a poderosa influência do Espírito Santo, pudéssemos terminar a obra que Deus nos confiou? Assim logo estaremos junto com Cristo, comendo com Ele em volta da grande mesa a ser estendida no Céu.
Oxalá Deus abençoe a todos nós para que assim seja!