Tato

Que importância ocupa o tato na obra do ministério? A resposta acha-se na seguinte sentença: “O tato e o critério centuplicam a utilidade do obreiro.” — Obreiros Evangélicos, pág. 119. Que tremendo incremento! Que outra coisa podia realizar tanto?

Define-se o tato como “sensível percepção, viva discriminação, fino discernimento do que é apropriado dizer e fazer ao tratar com outros, especialmente em situações difíceis.” É outra designação para a cortesia, polidez e boas maneiras. É um jeito todo especial de lidar com os outros. É a apreciação intuitiva do que é adaptável, apropriado, ou devido em ocasiões de emergência. É o fazer e dizer o que é correto no momento exato. E quem necessita maior suprimento de tato do que os pregadores que lidam com tôda espécie de gente e problemas? Alguém afirmou que o tato é a capacidade de fazer um homem sentir-se em casa qaundo você deseja que êle o esteja!

Henrique Varnum disse que “o tato é algo mais do que maneiras, porém as maneiras o integram em grande parte. É uma combinação de vivacidade, firmeza, prontidão, bom humor e facilidade. É alguma coisa que jamais ofende, nunca excita ciúme, nunca provoca rivalidade e jamais pisa nos pés alheios.” O arcebispo Temple declarou: “Boas maneiras requerem três coisas: domínio próprio, negação de si mesmo e respeito próprio.” Certos pregadores, à semelhança de muitos, acham difícil distinguir entre palavras que têm som idêntico — tato e rato. São coisas bem diferentes, na verdade.

Outra palavra de som idêntico é fato. Conhecido escritor, em carta a um jovem pregador, afirmou: “Você é entusiasta do fato. . . . Experimente agora ser entusiasta do tato. Alguns ministros são fortes no fato, mas fracos no tato. Seu pastorado é breve. Outros são fortes no tato, mas fracos no fato. Seu pastorado é infrutífero.” — Esdras Rhoades, Case Work in Preaching, pág. 7. Necessitamos de sermões informativos com quantidade de fatos, mas também necessitamos de um liberal suprimento de tato em apresentá-los. É impossível o tato a um pregador com complexo de superioridade, avêsso à humildade. Se possui o eu desenvolvido, e sente que se acha num pedestal donde olha lá em baixo a “multidão comum” à qual fala como patriarca aos filhinhos, não fará senão irritar os ouvintes que se ressentem de tal atitude, e acham difícil ouvir-lhe o sermão.

Jesus é nosso exemplo no tato como em tudo o mais. DÊle disse o profeta: “Não clamará, não se exaltará, nem fará ouvir Sua voz na praça. A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega; em verdade produzirá o juízo.” (Isa. 42:2 e 3.) Diz a versão de Moffatt: “Êle não falará alto nem será barulhento, não gritará em praça pública; não esmigalhará a cana quebrada, nem queimará o pavio que bruxuleia.”

À luz desta declaração e de outras pode alguém pensar de Jesus como não sendo homem sereno quer na vida particular quer na pública, possuindo “espírito manso e quieto” mesmo em Sua pregação? Sermões barulhentos, emotivos, sentimentais ofendem a melhor classe de pessoas, ganhando os instáveis e que, por breve tempo, jornadeiam na igreja. O tato levou Cristo a evitar cuidadosamente machucar e ferir mesmo a alma mais fraca e tenra como a cana trilhada*, ou queimar a torcida espiritual que estava prestes a extinguir, com um bruxuleio tão fraco, em que apenas um fio de fumaça lhe revelava a existência. À semelhança de Jesus, o ministro deve lidar com as pessoas de modo temo e com tato, e procurar tornar a fagulha numa chama. Jamais deve ser culpado de excluir estas pessoas da comunhão da igreja a fim de mais facilmente alcançar certos alvos.

A respeito de Jesus lemos: “Maneiras vulgares, sem polidez, nunca se viram em nosso mo-dêlo, Jesus Cristo. Êle era um representante do Céu, e Seus seguidores devem ser como Êle.” — Obreiros Evangélicos, pág. 91. “Grande tato e sabedoria são necessários no trabalho de ganhar almas. O Salvador nunca suprimiu a ver-bondade quase produziu o arrependimento e relações com outros, exercia o máximo tato, e era sempre bondoso e cheio de cuidado. Nunca foi rude, nunca proferiu desnecessàriamente uma palavra severa, não ocasionou jamais uma dor desnecessária a uma alma sensível. Não censurava a fraqueza humana. Denunciava destemidamente a hipocrisia, a incredulidade, e a iniqüidade, mas havia lágrimas em Sua voz ao proferir Suas esmagadoras repreensões. Nunca tornava a verdade cruel, porém manifestava profunda ternura pela humanidade. Tôda alma era preciosa aos Seus olhos.” — Idem, pág. 117.

Lemos ainda: “A religião de Cristo abranda quanto há de duro e rude num temperamento, e suaviza tudo que é áspero e escabroso nas maneiras. Torna as palavras brandas, e atraente a conduta. Aprendamos de Cristo a maneira de harmonizar o alto sentimento de pureza e integridade com a disposição feliz. O cristão bondoso, cortês, é o mais poderoso argumento que se pode apresentar em favor do cristianis-mo. As palavras bondosas são como o orvalho e brandos chuveiros para a alma. … O cristianismo tornará o homem cavalheiro. Cristo era cortês, mesmo com Seus perseguidores; e Seus verdadeiros seguidores manifestarão o mesmo espírito. … A verdadeira fineza não se revelará nunca enquanto o próprio eu fôr considerado o objeto supremo. Importa que o amor habite no coração. … O amor comunica ao seu possuidor, graça, critério e modéstia na conduta. Ilumina o semblante e rege a voz; afina e eleva o inteiro ser.” — Idem, págs. 122 e 123.

Estas declarações constituem bom sumário do assunto em consideração.

O tato de Jesus foi ilustrado em Sua maneira de tratar a Judas mesmo sabendo que êste O trairia. No cenáculo tratou o traidor como o hóspede honrado lavando-lhe os pés em primeiro lugar, colocando-o à Sua direita à mesa, servindo-lhe em primeiro lugar o pão e vinho, tudo num esfôrço de salvá-lo, e nos é dito que Sua bondade uase produziu o arrependimento e confissão do traidor. Isso era o verdadeiro tato em atividade. Consideremos Seu trato com Pedro. Jesus previra que êste O negaria. Sabia o que estava prestes a acontecer. Ouvira a negação e a maldição, e depois Seus olhos pousaram nos olhos dêle. Pedro esperava um olhar de condenação e desprêzo, mas, ao invés, viu uma expressão de amor e piedade e terna simpatia, e isto quebrantou-lhe o coração. Apressou-se em sair para o jardim onde Jesus havia agonizado em oração, prostrou-se e “chorou amargamente” em arrependimento e confissão, e deixou o jardim como homem diferente.

Na manhã de Sua ressurreição, Jesus dissera às mulheres que contassem aos discípulos “e a Pedro” que Êle havia ressurgido. Imediatamente Pedro e João correram à tumba para confirmar o testemunho das mulheres. Depois Jesus comissionou a Pedro para alimentar Suas ovelhas e cordeiros, e o escolheu como Seu orador no dia de Pentecostes quando um sermão foi o veículo para que três mil almas fôssem ganhas para o cristianismo, o maior número jamais alcançado por um só sermão em tôda a história. Uma comissão das modernas conferências jamais teria permitido a Pedro pregar tão logo após sua queda, mas Jesus podia ler-lhe o coração e sabia que a conversão fôra genuína.

O espaço não permite amplo estudo dos tratos de Jesus com Nicodemos, com a mulher no poço de Samaria, com Maria Madalena, com a mulher apanhada em adultério, com Zaqueu e outros mais. Êle foi além da segunda milha por meio do amor, da simpatia e do tato. Sua pregação era positiva e não negativa. Sua religião não era do “não farás”. Mesma a verdade não deve ser dita sempre, pois há ocasiões em que o silêncio é ouro. Jesus sabia quando devia falar, e quando devia calar. Não é virtude falar tudo quanto nos vém à mente e depois vangloriar-nos de nossa coragem. Isto pode até ser ato de covardia. Não a denúncia do papado, mas a justificação pela fé constitui a mensagem do terceiro anjo em verdade.

Falamos em aumentar e mesmo dobrar nosso número de membros, mas que aconteceria se aumentássemos grandemente nosso tato no lidar com o povo? Eis a resposta: “Se nos humilhássemos diante de Deus, e fôssemos amáveis e corteses, ternos e piedosos, haveria cem conversões à verdade onde agora há apenas uma.” — Test, for the Church, Vol. 9, pág. 189. Que espantoso incremento, não pela congregação feita do púlpito, mas por nos tornarmos epístolas vivas de Cristo, “conhecidas e lidas por todos os ho-mens.” Leiamos também Obreiros Evangélicos, págs. 117 a 120, as quais nos dizem dos grandes resultados que advirão da pregação feita com tato, e como sermões grosseiros e sem tato suscitam “preconceito” e “combatividade” e cerra as portas pelas quais podíamos encontrar “acesso aos corações.”

Em Provérbios 13:15, na versão de Moffatt lemos: “O homem de tato é popular; o caminho que os tolos escolhem agita o descontentamento.” A linguagem indica que a pessoa sem tato é tôla. Alguém declarou o seguinte em relação à conduta do tato: “A aristocracia da mente trata de modo igual o duque e o cavador de valetas — ambos como o duque, embora, à semelhança de Jesus, ligeiramente a favor do abridor de valetas.” Lembremo-nos sempre de que “o tato e o critério centuplicam a utilidade do obreiro,” e possuindo os sete passos essenciais ao êxito no ministério, a cultura livresca, a consagração, a integridade, a inteligência, a diligência, a energia e o tato, o ministro não pode ser inferior mas terá influência dominadora para o bem.