Ouvimos, de quando em quando, tímidas observações a respeito de sermões excessivamente longos os quais, ao invés de edificar, cansam os ouvintes. Não faltou mesmo quem observasse que os pregadores adventistas, de modo geral, são prolixos e que talvez, em parte, isso se deva à natureza da mensagem de que somos portadores. Se há sermões que entediam ou enfadam, e não alimentam a alma, cumpre apurar se o defeito está na prédica, no orador ou no ouvinte. De fato há sermões que nos parecem áridos, maçantes, rebarbativos e difíceis de serem ouvidos. O defeito não está no tema, porque tôda a mensagem de que somos depositários é viva, espiritual e fascinante. O ouvinte que, fiel à sua crença, vai de boamente à igreja para nutrir-se espiritualmente, não pode ser acusado de não se benèficiar do sermão. O pregador pode ser culto, o tema substancioso. Não haverá talvez falta de seqüência ou de lógica na explanação do assunto. Então, qual a causa de certas pregações exercerem efeito narcotizante sôbre o auditório?

Fizeram-se pesquisas a respeito. Em raros casos se pode atribuir à monotonia do orador, ou à falta de seqüência ou clareza do assunto. O efeito negativo da chamada “oratória narcotizante” se cifra no seguinte: os discursos (ou sermões) são longos, demasiado extensos, compridos demais, quilométricos até. E por isso tornam-se desinteressantes, insípidos, às vêzes até enfadonhos e enervantes. Sim, o mal está na extensão, dizem as pesquisas promovidas pelos técnicos em oratória. Referimo-nos aos sermões proferidos dos púlpitos, às preleções, discursos nas tribunas, tiradas verbais que são feitas de uma só vez. As mesmas pesquisas demonstraram que, havendo variedade de oradores, que falem pouco, os ouvintes suportam bem uma reunião de três horas, porém se cansam com um único orador que exceda de trinta minutos, a menos que tenha muita vivacidade e beleza expressional, e entremeie sua falação com ilustrações muito interessantes em outro tom de voz.

Também está provado por leis psicológicas o seguinte: embora interessante e importante, embora de grande atualidade, uma dissertação prolongada demais não atinge o objetivo. E a razão é simples. A capacidade de atenção dos ouvintes é limitada. Principalmente os que trabalharam durante a semana, em serviço pesado ou extenuante atividade mental, tendem a desviar a atenção por compreensível relaxamento nervoso, não apreendem, não fixam e não aproveitam uma tirada verbal que ultrapasse de meia hora, salvo casos especiais. Porque depois dêsse tempo — provam-no as pesquisas feitas — ocorre o declínio da atenção, o enlanguescimento dos nervos de fixação, seguindo-se o desinterêsse, o alheamento, a vontade de dormir. O orador, a esta altura, estará falando às paredes.

Quando o assunto é, por natureza, extenso ou, para maior clareza, exija explanações mais amplas e pormenorizadas, então se deve variar o modus operandi ao apresentá-lo, quer ilustrando-o com projeções, figuras, mapas, gráficos, quadro-negro, etc., ou fazendo-se interrupção para intercalar números de música ou canto, e a seguir recomeçar a preleção. Essa variação dilata a capacidade de fixação dos ouvintes, porque lhes alivia a tensão. Contudo, ainda é preferível dividir o assunto em duas palestras, fazendo-as em dias diferentes.

O prelecionar mais de trinta minutos (em casos especiais mais uns cinco) exgota a capacidade da maioria do auditório, e é lamentável que nem todos os oradores se apercebam disso. Há oradores que não percebem a evidente apatia do auditório, e vão falando, continuam falando, prosseguem falando, falando sempre, cobrindo à risca tôdas as prolixas divisões e subdivisões homiléticas do esbôço, ainda que isto exija duas horas para ser concluído. E os ouvintes terão que suportar essa falta de habilidade e de preparo de quem prega. Não é raro ver-se, durante a prédica, um e outro irmão que não disfarçam sinais de impaciência, de mal-estar ou nervosismo; alguns abrem a Bíblia e adiantam a leitura do ano bíblico; outros lêem revistas; outros se mexem nos bancos, olham o relógio de pulso, pigarreiam, suspiram; outros bocejam, alguns cochilam, dormem e há até os que roncam. Mas, a despeito de tudo, o pregador continua falando, falando … indiferente a isto, e ainda censurando intimamente o “dorminhoco” que tinha a obrigação de ouvir o sermão até o fim.

Ora, isto não é correto. Pelas leis psicológicas é um abuso. É torturar os irmãos que precisam ouvir, que querem ouvir uma mensagem clara, substanciosa e concisa, e ao invés, tem que “escutar” uma tirada longuíssima que os cansa sobremodo. Diz-se que o cúmulo da delicadeza do pregador é, quando terminar o sermão, descer da plataforma na ponta dos pés, e assim silenciosamente dirigir-se até à porta, para não acordar os membros que estão dormindo no recinto…

Agora, a coisa mais grave: verificou-se que muita gente interessada reluta em freqüentar cultos ao saberem que o pregador é quilométrico na sua falação, e há muitas almas que pouco freqüentam a igreja por causa de ser-mões compridos. Nem todos estão dispostos a esta penitência.

Apesar dêstes fatos, há pregadores da antiga escola que insistem:

— Qual o quê, o pessoal tem que ouvir sermão grande. Então vão à igreja para passear? Os nossos pioneiros falavam bastante nas reuniões. A irmã White falava muito também. Em meia hora não dá para dizer nada. ..

Antes de considerarmos essas objeções, notemos o seguinte: o pregador é o que alimenta a igreja. O sermão é o alimento espiritual. O pregador inteligente, que deseja obter resultados positivos na sua prédica, deve ter em vista, antes de tudo, a capacidade digestiva do auditório. Como ocorre na nutrição fisiológica, que requer bons alimentos, requer também dosagem. Nada de empaturrar! Comer demais traz sérios distúrbios orgânicos. Também o falar demais congestiona os ouvintes; irrita-os. E pode ser tido como uma falta de consideração para com êles.

Com base em casos verificados in loco pode-se dizer, com segurança, que muitas prédicas longas que se fazem em nosso meio, poderiam, com propriedade, ser cortadas ao meio, e algumas até divididas em três porções, e pregá-las uma de cada vez, como aliás sugere a própria irmã White. Disse alguém que os pregadores que não são capazes de controlar o tempo, precisariam de um sermômetro para acusar o tempo exato que a homília deveria terminar…

Não vamos agora ao extremo dos sermões curtos demais. A prédica deve ser concisa e substanciosa, dentro de um razoável espaço de tempo, sem prejuízo de suas partes essenciais. Há exceções, sem dúvida. Há ocasiões especiais que exigem falação mais extensa. Não nos esqueçamos, porém, de que são exceções. A própria Sra. White, de uma feita, precisou falar quase duas horas. Foi um caso especial, especialíssimo. O apóstolo S. Paulo, às vésperas de uma partida, em Trôade, falou demais, “alargou a prédica”, um moço dormiu e veio a cair da janela. Insistimos que há exceções, e ninguém deve argumentar com exceções. A regra é falar num limite razoável de meia hora, se possível menos.

Seria ocioso dizer que noventa por cento dos sermões longos podem ser debitados à falta de preparo de quem os prega. Outros dez, ao hábito da prolixidade. Hábito difícil de de ser vencido, bem o sabemos.

O Espírito de Profecia também dá conselhos valiosos a respeito dêste assunto. Reproduzimos excertos que devem ser lidos, relidos e retidos pelos pregadores que realmente querem cativar os ouvintes. Ei-los:

“Aquêle que é designado para dirigir cultos aos sábados, deve estudar a maneira de interessar os ouvintes nas verdades da Palavra. Não convém que se façam sempre tão longos discursos. … O sermão deve ser freqüentemente breve, a fim de o povo exprimir seu reconhecimento para com Deus.” — Obreiros Evangélicos, pág. 171.

“O sermão proferido do púlpito não deve ser longo, porque não sòmente cansa o povo, mas absorve o tempo e a energia do ministro de tal forma que êle não se sente já tão animado para empenhar-se no trabalho pessoal que se deve seguir.” — Manuscrito 14, 1887.

“Que vossa pregação seja curta e direta no ponto visado, e no momento oportuno apele para uma decisão.” — Carta 8, 1895.

“Que haja sermões curtos, e orações curtas e fervorosas.” — Carta 132, 1898.

“Sejam breves vossos sermões. Sermões compridos cansam tanto a vós como ao povo.” — Manuscrito 8ª., 1888.

“Evitai sermões longos. O povo não pode reter uma metade sequer dos sermões que ouvem.” — Carta 102a., 1897.

É fôra de dúvida que o que as pesquisas modernas revelam, já a Sra. White aconselhava por inspiração. O que vale é a capacidade de retenção dos ouvintes. Que adianta pregar durante uma hora, se depois de trinta minutos as palavras se perdem no ar? Não estará o pregador perdendo seu tempo, sem proveito algum para os ouvintes?

A serva do Senhor aconselhava o preparo do sermão. Diz ela:

“Sei pela extensão do sermão se o pregador estêve em casa durante a semana. Quando não dispôs de tempo para os preparar, seus sermões são maçantemente longos, e é igualmente impossível que algo dêles se fixe na memória.

“Perguntou-se a um hábil ministro, quanto tempo costumava pregar. Respondeu: ‘Quando me preparo convenientemente, meia hora no máximo; quando me preparo pouco, uma hora; quando, porém, subo ao púlpito sem prévia preparação, prossigo o tempo que você quiser. Nunca sei quando parar”’. — Carta 47, 1886.

O livro “Evangelismo”, recentemente editado pela Casa Publicadora Brasileira, traz muito conselho a respeito. Um dêles, à página 176, diz:

“Eliminai Terminantemente os Sermões Compridos. — Alguns de nossos sermões compridos produziríam muito melhor resultado sôbre o povo, se fôssem divididos em três. O povo não pode digerir tanto; sua mente não pode sequer acompanhá-lo, e torna-se cansada e confusa à vista de tanto assunto que se lhe apresenta num único sermão.

“Dois têrços dêstes sermões longos são perdidos, e o pregador fica exausto. Há muitos de nossos ministros que erram a êste respeito.”

Se as nossas mensagens faladas fôssem mais concisas, ganharíamos talvez o dôbro de gente para a verdade.