“E dou graças ao que me tem confortado, a Cristo Jesus Senhor nosso, porque me teve por fiel, pondo-me no ministério” (I Tim. 1:12).

Paulo sabia quem o havia pôsto no ministério. Esta é a chave de sua surpreendente carreira de apóstolo de Deus. Como explicar de outro modo sua incomparável capacidade de suportar indizíveis provações, sua ousadia diante da morte, e o poder de suas penetrantes mensagens? Êste homem de Deus podia pregar com uma convicção vinda do Céu, pois Cristo o pusera no ministério. A incerteza no tocante a êste ponto vital pode significar o naufrágio ministerial de uma pessoa.

Não constitui sacrilégio admitirmos francamente que alguns homens que agora pregam deviam estar em outras profissões. E é igualmente verdadeiro que outros a quem Deus chamou para pregar, desceram, como Jonas, para Jope. Feliz é o homem que não age em função da vigilância da obra, sabe que foi nascido para pregar o evangelho de Deus, e pode dizer como o apóstolo: “Cristo me pôs no ministério”.

Esta convicção torna o amorável Deus o primeiro interêsse do ministro. As pressões humanas são desnecessárias como estimulantes para um tal homem. Êle trabalha “não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus” (Efés. 6:6). Seu motivo não é suplantar seus irmãos, mas agradar a Cristo. Os aplausos humanos o encorajam, porém não fazem inflar seu eu.

O ministro do evangelho ocupa uma posição original entre as profissões existentes. Num sentido que nenhuma outra pode pretender, o ministro pode dizer: “Não sou um empregado. Não trabalho para homem algum”. O ministro trabalha com os homens, mas não paraos homens. Seu trabalho não é exercido por paga em dinheiro nem por pressão, mas pela vontade e amor de Cristo. Se Cristo o pôs no trabalho, homem algum poderá tirá-lo dêle. Embora deva responder perante seus irmãos, êle é exclusivamente servo de seu soberano Deus. Esta convicção produzirá homens sôbre os quais a igreja pode descansar, mesmo não sendo êles vigiados; homens que, embora procurem conselho, não são dependentes de um progra-ma diário; homens que, sabendo de seus deveres, os cumprem.

Estais Certos de que Fostes Chamado?

O ministro chamado por Deus para pregar o Evangelho saberá disto. Para alguns, a voz de Deus é um anseio dominante, um desejo apaixonante de nada fazer a não ser pregar o Evangelho. Isto poderá ocorrer cedo ou tarde na vida, mas ocorre. “Porque, se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o Evangelho!” (I Cor. 9:16). “É-me imposta essa obrigação”, diz o apóstolo. Outra coisa não posso fazer e o ai estará sôbre mim, se o tentar.

“Não tenho necessàriamente que pregar”, vangloriou-se um irmão; “Estou bem capacitado para trabalhar em outros ramos. Se não fôr bem sucedido nisto, sê-lo-ei em outras de minhas muitas habilidades”.

Êste homem nada sabe da estreiteza do vale da decisão. Não é uma avenida bifurcada em rotas alternadas. É uma rua estreita, de uma só mão, não projetada para homens, que queiram voltar em seu caminho. É um juramento absoluto e irrevogável em vigor entre o homem e seu Criador. O profeta Isaías inquiriu ao Senhor a respeito da duração do acôrdo. “Então disse eu: Até quando, Senhor? E respondeu: Até que se assolem as cidades, e fiquem sem habitantes, e nas casas não fique morador, e a Terra seja assolada de todo” (Isa. 6:11).

Para alguns, o chamado para pregar é uma dramática experiência do “caminho de Damasco”. Por contacto direto, Deus alcança Seu homem. Que alguns tenham ouvido uma voz literal e discernido a Presença não é para duvidar-se. Um dêstes mais poderosos pregadores de campanhas recebeu o chamado durante intensa aflição física. Quem na Terra é bastante sábio para resolver como Deus deva escolher seus homens? Êle sabe de quem precisa e como atraí-lo.

Muitos jovens receberam o chamado de Deus através de outros homens. Enquanto o ministro em potencial se sentava no banco da igreja, semana após semana, ouvindo a voz do homem de Deus, a convicção se foi formando. A mais de um ministro o chamado para a conversão foi um chamado para pregar. E outros à semelhança de Balaão tiveram que ser acantoados por um anjo. Contudo o chamado vem, e quando vem é claro e inconfundível. Se há alguma dúvida no espírito de alguém, de que Deus o chamou, pode estar certo de que não foi chamado.

São Dadas Evidências Claras

Há outras provas além dos privilégios denominacionalmente concedidos, que distinguem o ministro do leigo.

  • 1. A inspiração ministerial, a direta inoculação de idéias divinas no espírito do homem, é uma evidência destas. Êste milagre pode’ ocorrer no curso da mensagem, ou durante a preparação do sermão. Êle, porém, ocorre a todo homem chamado por Deus, trazendo-lhe idéias geradas nos Céus, impostas à mente pelo Espírito Santo; pensamentos que emocionam tanto o orador como os ouvintes; idéias divinas dedicadas ao Céu, proferidas na linguagem dos anjos pelos lábios de barro.
  • 2. A posse do Espírito Santo na pregação o ministro saturado pela influência divina constitui ainda outra evidência do chamado. Tem consciência disso ao falar e, estando sob a divina influência, as palavras jorram como águas vivas — palavras que tocam o coração dos homens porque estão ungidas com o fogo divino; e os pensamentos são bafejados com o sôpro do Céu, trazendo lágrimas de arrependimento nos olhos dos ouvintes. E ao concluir a mensagem, ouvir homens dizerem: “O sermão me ajudou”, traz a paz compensadora que nada pode trazer.
  • 3. A prova do apostolado na conquista de almas. O resultado final de tôda pregação é ganhar almas. As orações podem deleitar, as experiências podem instruir, mas a pregação salva. O ministro é mais do que um semeador — é um colhedor. “Assim será a palavra que sair da Minha bôca; ela não voltará para Mim vazia, antes fará o que Me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei” (Isa. 55:11.) O ganho de almas é a primeira obra do ministro. “Portanto ide, ensinai tôdas as nações, batizando-as…” (S. Mat. 28:19). Cristo ordenou que Seus ministros batizassem. Nem o tempo nem as circunstâncias devem desviá-los de seu objetivo principal.

Não há outra razão justificável para a existência do ministro do Evangelho a não ser a de trazer homens a Cristo. Se ano após ano não aparece nenhum fruto de seu ministério, pode estar certo de que está deslocado, e há outros campos necessitados clamando por seu auxílio.

A tragédia dos leigos faltosos repousa pesadamente na consciência do ministro. É importante lembrar-se que seu chamado para pregar é um chamado para educar-se. O Evangelho é proclamado com mais eloqüência em côro do que por solo. Não é bastante acender o fogo; muitas mãos têm que espalha-lo. Todo convertido tem que ser um fazedor de conversos. Para isso também somos chamados.

Deus Envia e Ajuda

“Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João” (S. João 1:6). O Deus do Céu não sòmente chama Seus homens, mas os envia. “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a tôda a criatura” (S. Mar. 16: 15). O ministro não pode ter preferência quanto ao lugar. João pregou no deserto. O povo o ouvia porque Deus o enviara. Ezequiel fêz proclamação a um vale de ossos secos. Houve uma ressurreição porque Deus o enviara. Quando João atingiu Patmos, a ilha tornou-se um púlpito. Para Livingstone, a folhagem da densa floresta era um convite ao serviço. Que êle fôra enviado por Deus é a única explicação da devoção de Hutchinson a um rústico vilarejo da África. Deus envia; os homens vão para onde são enviados. E no seu rastro, a terra ressequida se torna fértil e os desertos florescem como as rosas.

Ao homem chamado e enviado por Deus se dirige esta promessa de companheirismo divino: “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (S. Mat. 28:28). Esta declaração é tanto uma promessa como um lembrete. Promessa da presença do Mestre, e lembrete da completa dependência do homem, de Cristo. Os que têm confiança própria são os que se enviam a si mesmos. Mas os homens de Deus são destituídos do eu, e compreendem sua inteira dependência de Deus para a própria vida. Se se ganha uma alma, é Deus quem opera. “Deus é poderoso para fazer abundar em vós tôda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, tôda a suficiência, abundeis em tôda a boa obra” (II Cor. 9:8). Todo o êxito que envolve os esforços de um homem de Deus é inteiramente devido à Presença que o acompanha. Campos difíceis produzem frutos para o Mestre Jardineiro. Em Sua presença, problemas insolúveis se simplificam. O simples confunde o sábio porque seu Companheiro é perfeitamente sábio. Em Sua presença o fraco se torna forte, o relapso se torna disciplinado. Milagres se sucedem a milagres, em Sua presença. “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aquêles que se haviam de salvar” (Atos 2:47).

Quem vos pôs no ministério? Há uma diferênça abismai entre ser “encarregado do trabalho” e ser “chamado”. Algumas relações religiosas se tornam encargos corriqueiros, e em muitos casos, em emprêgo fixo. O homem chamado por Deus se aflige com intranqüilidades cheias de lutas. Os perdidos e os transviados estão em seu constante pensar, como um desafio. E sua busca dos não salvos não terminará senão quando Deus que o chamou para o serviço, o chamar para o lar celeste. — E. E. C.