A conquista de almas é a mais elevada de tôdas as ciências. Sôbre êste grande tema, escreveu a mensageira do Senhor:
“A mais elevada de tôdas as ciências é a de salvar almas. A maior obra a que podem aspirar criaturas humanas, é a obra de atrair homens, do pecado para a santidade. Para a realização desta obra, é mister lançarem-se sólidos fundamentos. . . . Pede-se mais alguma coisa além da cultura do intelecto. A educação não se acha completa a menos que o corpo, a mente e o coração se achem igualmente educados. O caráter deve receber a devida disciplina, para seu inteiro e mais elevado desenvolvimento.” — A Ciência do Bom Viver, págs. 349 e 350.
Isto significa que o ministro deve estudar ardorosamente a maior de tôdas as ciências: a conquista de almas. Muitos ministros são peritos na teologia sistemática, mas deram pouca atenção ao estudo da teologia prática, que abrange a ciência de ganhar almas. Um médico precisa estudar vinte anos em diferentes escolas antes de habilitar-se para o exercício de sua profissão. Mas isso não é ainda tudo. Tem êle que manter-se a par dos progressos da ciência médica e seguir cursos de aperfeiçoamento a fim de ser médico mais competente e assim prolongar uns poucos anos mais a vida de seus pacientes. Quanto mais importante é que o ministro estude a ciência de salvar almas, pois está lidando, não com esta vida temporária de “oitenta anos”, mas com a vida eterna, quando a humanidade há de ser redimida de tôdas as enfermidades e da morte.
O ganhador de almas, à medida que avançam O Ministério Adventista os anos, está obrigado a fazer estudo de pesquisa e a trabalhar diligentemente a fim de ganhar mais pessoas para Cristo. Temos uma desafiadora declaração em Prov. 11:30: “O que ganha almas sábio é.” O eficiente ganhador de almas possui o atributo de ser sábio. Significa isso que êle é perito na arte de ganhar almas por meio do estudo sempre progressivo e de constante experiência prática.
Enfrentamos hoje dificuldades crescentes no campo da conquista de almas. Crêem algumas pessoas ser inútil perder tempo, energia e dinheiro na tentativa de ganhar almas que não querem ser salvas. Em resultado disso alguns desanimaram e pediram para serem transferidos para outras espécies de trabalho denominacional que não esteja diretamente ligada à atividade de ganhar almas. Êsse é o produto natural da falta de estudo e de experiência na ciência de salvar almas. Em alguns casos, esta decisão é tomada porque um ministro tentou ganhar almas mediante suas próprias fôrças e capacidade.
Quando estive em Londres faz agora dois anos, notei o seguinte lema na fachada de uma igreja presbiteriana: “As dificuldades são apenas escadas para o êxito das pessoas pensantes.” Para o homem que tem amor às almas, as dificuldades e as perplexidades no evangelismo são apenas um repto para galgar maiores alturas na escada do êxito evangélico.
Por que o Ganhar Almas é uma Ciência?
Ganhar almas é uma ciência porque “a fim de guiar as almas a Jesus tem que haver um conhecimento da natureza humana e um estudo da mente humana.” — Testimonies, Vol. IV, pág. 67. Os pontos essenciais aí mencionados claramente indicam que o ministro tem que ser fervoroso estudante da psicologia cristã. Tem êle que prevalecer-se de todos os meios possíveis para compreender o comportamento humano, e por que os homens se decidem a seguir certas filosofias de vida e crenças religiosas.
Do livro Evangelismo aprendemos que o tratar com a mente humana é “o mais belo trabalho já confiado ao homem mortal.”—Pág. 348. Por “o mais belo” entende-se o trabalho mais delicado, mais desafiador e mais emocionante. Tratar com almas por quem Cristo morreu é um traba-lho muito delicado. Compreender a atuação da mente humana e o comportamento da natureza humana significa trabalho e estudo estafantes e, sobretudo, experiência prática. O conhecimento desta ciência é de importância capital na conquista de almas. Romanos 12:2 dá-nos o segrêdo — sòmente quando a mente do homem é transformada e renovada será êle capaz de compreender e aceitar a perfeita vontade de Deus.
O fator importante na conquista de almas, portanto, é saber por experiência própria como transformar e renovar o entendimento do homem pelo poder do Espírito Santo, de forma que o Espírito o leve a querer ser filho de Deus. Noutras palavras, o homem que se dedica à conquista de almas, será estudante e observador aplicado da natureza humana e da intrincada mente hu-mana, e estudará para conseguir o melhor meio de pôr essa mente sob a influência do Espírito de Deus.
O Problema do Livre Arbítrio Moral
A mente do homem foi dotada por Deus da faculdade da livre escolha. Possui êle vontade livre. Só o homem pode, em última instância, decidir a quem seguirá e obedecerá — o Cordeiro de Deus ou a satânica serpente. É-nos dito em Efésios 6:11 e 12 que o homem é constantemente assaltado pelo espírito das trevas. Satanás sutilmente busca induzí-lo a rebelar-se contra a vontade de Deus. Simultâneamente, o Espírito Santo também está lutando com a mente do homem para persuadi-lo no sentido do uso acertado de sua livre vontade, para resistir aos desejos da mente carnal e das influências malignas. Deus não compelirá o homem a obedecer-Lhe; Satanás não pode forçar o homem a seguir o seu ardil. Tão sòmente o homem é quem tem que fazer a decisão final em favor de Deus ou centra Deus.
Examinemos uma vez mais a mente humana. Inspirado pelas ardilosas sugestões de Satanás, diz o homem de si para si: “Não há Deus; portanto, não preciso obedecer-Lhe.” Sua mente consciente regista Não, a mente subconsciente regista Sim, porque todo homem nasce com a idéia inata de um Ser Supremo. Um conflito mental resulta desta contradição íntima, e o homem está em guerra consigo mesmo. O homem pode vencer essa luta e suas resultantes desordens emocionais e nervosas, e restaurar a paz da mente sòmente na medida da restauração da harmonia entre êle e seu Criador. Em essência, a rebelião, que é pecado, está rompendo uma relação com Deus. A salvação é a reconciliação.
Empatia Evangélica
A fim de salvar uma alma tem a pessoa que estudar a condição espiritual, social e econômica do indivíduo que o ganhador de almas busca encaminhar para Cristo. Êste problema espiritual de salvação pessoal é analisado em Efésios 2:1 a 3, 11 e 12: “E vos vivificou, estando vós mor-tos em ofensas e pecados, em que, noutro tempo, andastes segundo o curso dêste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência, entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.” “Portanto lembrai-vos . . . que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo.”
Por natureza, o homem é dominado pelo espírito do príncipe das potestades do ar. É desobediente, alienado da igreja, estranho às promessas de Deus, e sem esperança no mundo. Neste ponto é que o ministro tem que usar a empatia, ou seja, a arte do desvio da vida interior própria para aceitar conteúdo psíquico diferente. A fim de compreender a mente e os sentimentos do outro homem, e por que êle atua como o faz, o verdadeiro ganhador de almas tem que situar-se na posição dêsse homem e tratar de olhar através de seus olhos. Deve êle considerar a vontade divina para com êsse homem, conforme está descrita em Apoc. 18:4: “Sai dela, povo Meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas.” Sòmente por meio de estudo secundado de oração, podemos nós adotar um plano de ação que levará os homens à mais alta norma descrita em Apoc. 14:12: “Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.”
É uma ciência maravilhosa que nos ensina a tirar o pecado, a indiferença pela salvação ou o preconceito contra a verdade, e modificar a atitude da mente para a de ativo amor a Deus e obediência aos Seus mandamentos. As experiências científicas podem ser demonstradas em tubos de ensaio; mas a ciência de salvar almas, que é a vitória de Deus sôbre o poder satânico de dominar a mente humana, é diariamente demonstrado pelo evangelismo.
Métodos Satânicos de Obstar a Salvação de Almas
A fim de desviar o homem da beleza da har-monia com a vontade de Deus, Satanás atua na mente do homem — a sede das livres vontade e escolha. Emprega êle dois métodos diversos de cegar e paralisar a mente humana, segundo seja o tipo da pessoa com que lida. O primeiro é encontrado em II Coríntios 4:4. “Nos quais o deus dêste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo.”
A razão apresentada por que os incrédulos não podem ver a luz do evangelho é que Satanás lhes cegou a mente, e o cego não pode ver. Como realiza Satanás isso? “Nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos, porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Dêstes afasta-te, porque dêste número são os que se introduzem pelas casas e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências: que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade. E como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também êstes resistem à verdade, sendo homens corrutos de entendimento e réprobos quanto à fé” (II Tim. 3:1-8).
O apóstolo enumera aí uma lista de vinte pecados com que a mente das pessoas está contaminada e cegada. O pecado separa de Deus. O pecado desorganiza e desvia as belezas e alegrias de uma consciência esclarecida e de uma vida feliz. O homem que é dominado por alguns dêsses vinte pecados ou por todos, está tão cegado que se oporá à verdade porque sua mente está corrompida. Mesmo que uma mente semicontaminada ouça a verdade, nunca a compreenderá e muito menos aceitará a mensagem.
Observai o pecador do século XX, cegado por Satanás. É êle, inconsciente ou conscientemente, transgressor da lei de Deus. Fuma, bebe e viola impunemente todos os mandamentos de Deus. Sua vida familiar é infeliz porque tem de recorrer à falsidade a fim de encobrir a sua infidelidade à espôsa. Como resultado dessa espécie de vida tem os nervos alquebrados, é intolerante, impaciente, impuro, e a família inocentemente sofre com isso. Os pecadores sempre se escondem de Deus, como fizeram Adão e Eva, porque o pecado os separa de Deus. Essa espécie de homem é, via de regra, indiferente para com os assuntos religiosos e desviará os passos para evitar as reuniões religiosas. O pecado cegou-o para as suas necessidades espirituais. Que pode o ganhador de almas fazer para influenciar para o bem essa mente pervertida?
Por outro lado, muitas pessoas há que são moralmente sinceras e odeiam o pecado, e a quem Satanás não pode induzir a deliberadamente pecar com o fito de rebelarem-se contra a verdade. Para essas pessoas possui êle um segundo método sutil. Em vez de cegar-lhes o entendimento, paralisa-lhes a mente. Achamos isto em Apoc. 14:8 e 17:2. “E outro anjo seguiu, dizendo: Caiu, caiu Babilônia, aquela grande cidade, que a tôdas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição.” “Com a qual se prostituíram os reis da Terra; e os que habitam na Terra se embebedaram com o vinho da sua prostituição.”
Satanás embebedou os habitantes do mundo com o vinho da “prostituição” de Babilônia. A pessoa que está sob a influência de vinho ou álcool não pode raciocinar lúcidamente nem com-preender com clareza.
Analisemos a significação dêste passo de Apoc. 17:2: “se embebedaram com o vinho da sua prostituição.” Que simboliza o vinho adulterado? Em I Coríntios 11:27 e em S. Mat. 26: 27-29 encontramos que o vinho puro é símbolo do sangue de Cristo, que foi vertido para a salvação dos homens. Êste símbolo do sangue de Cristo, o vinho puro, no sentido bíblico representa a verdadeira doutrina de salvação de Cristo. Satanás leva as pessoas a beberem o vinho da “prostituição.” Êle os embebeda com um plano de salvação adulterado, e as pessoas crêem que o êrro seja a verdade, e a verdade, êrro. Êste é o motivo de, quando o evangelista apresenta a verdade, tantas pessoas cultas, da chamada alta classe, rejeitarem-na. Beberam elas avidamente e por longo tempo da fonte do êrro que lhes incute um senso de salvação. Isso lhes faculta viverem como lhes aprás, e incapacita-os para verem a verdade, porque estão embebedados com doutrinas falsas.
“Satanás tem operado com poder enganador, introduzindo uma multiplicidade de erros que obscurecem a verdade. O êrro não pode subsistir por si mesmo, e se extiguiria de pronto, não se apegasse como parasita à árvore da verdade. O êrro tira sua vida da verdade de Deus. As tradições dos homens, como germes que pairam no ar, agarram-se à verdade de Deus, e os ho-mens as consideram como parte da verdade. Mediante falsas doutrinas, Satanás consegue terreno onde firmar-se, e cativa a mente dos humanos, fazendo com que se apeguem a teorias que não têm fundamento na verdade. Os homens ensinam ousadamente como doutrinas mandamentos de homens; e à medida que a tradição caminha de século para século, vai adquirindo poder sôbre o espírito humano. O tempo, todavia, não torna o êrro verdade, nem tampouco seu pêso opressivo faz com que a planta da verdade se mude em parasita. A árvore da verdade dá seu próprio, genuíno fruto, mostrando sua verdadeira origem e natureza. A parasita do êrro também produz seu fruto, e torna manifesto que seu caráter é diverso da planta de origem celeste. É pelas falsas teorias e as tradições, que Satanás obtém poder sôbre a mente do homem.” — Evangelismo, pág. 589. (Grifo nosso.)
Tomai por exemplo uma típica senhora protestante, fiel membro de sua igreja. Conquanto haja aceitado com prontidão uma falsa doutrina de redenção, sua religião oferece a salvação e o céu sem muito esfôrço nem sacrifício da sua parte. Oportunamente entra ela em contato com a verdade de Deus. Ela não se oporia a ser adventista se a igreja fôsse popular. Mas o pensamento de ser desprezada pelos amigos, por ingressar nessa igreja impopular, que observa o chamado sábado judaico, é mais do que ela possa suportar. Além disso, a questão do viver sadio e do vestuário modesto não lhe faz apêlo algum ao gôsto nem à vaidade. O Espírito de Deus prossegue apelando ao seu coração para seguir a luz recebida. Assim é que, para acalmar a consciência, examina ela a Bíblia, não para encontrar a ver-dade, mas para provar que a verdade é êrro. Agora, o problema é o seguinte: Como tratará o ganhador de almas com essa mente, paralisada com a falsa doutrina da pseudosalvação? Como pode ela ser guiada para ver a verdade em sua beleza ampla, tal como é em Jesus, nosso Senhor?
Em todo processo de ganhar almas entramos em luta aberta com Satanás, que é poderoso e sábio, e opera com tôda a subtileza e inteligência para enganar tantos quantos possa. Satanás também trabalha para, se possível, impressionar as comissões com as supostas dificuldades intransponíveis, a fim de evitar que os planos de evangelização sejam executados. Impressiona os obreiros para desviá-los do desejo de se empenharem no evangelismo. Também faz com que os ministros se empenhem de maneira tal com obrigações de menor importância, embora necessárias, que negligenciem a atividade de conquista de almas.
Vemos, assim, que a ciência de salvar almas abrange o conhecimento da natureza humana e o estudo da mente, como vencer o poder de Satanás, e como ganhar pessoas para Cristo. Significa estudo árduo e constante, muita oração, trabalho ardoroso e incessante.
(Na próxima edição de O Ministério buscaremos uma solução para frustrar os dois métodos de Satanás, apresentados neste artigo. Precisamos aprender a tratar com as pessoas cuja mente ficou cegada pelo pecado).