Glorioso privilégio de ser pregador do evangelho da salvação é apropriadamente salientado pelo apóstolo Paulo. Êle mesmo se chamou “servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus” (Rom. 1:1).

Ser apartado para a pregação do evangelho de Deus é uma nomeação superior: uma relação de Senhor-e-servo. Essa não é geralmente a relação do servo, em que todos os cristãos se mantêm para com Cristo, seu Senhor, mas uma relação especial de ofício, de serviço no reino de Cristo. Os servos de um rei são oficiais de classe elevada. Nesse sentido a relação de “servo” expressa dignidade e honra. Assim é aplicada aos profetas (Deut. 34:5; Jer. 25:4), e a Moisés (Isa. 42:1; 43:10), o Príncipe dos pregadores. Mediante a aplicação dêste título Paulo reconhece a autoridade do Senhor Jesus Cristo, a cujo serviço estava.

A cristandade entrou hoje numa grande nova era. Ela se tornou conhecida como uma Nova Reforma, talvez “a reforma mais profunda e de maior alcance que a igreja já experimentou.” — Robert S. Bilheimer.

A maneira em que esta Nova Reforma se está processando confere preeminência sem precedente à doutrina da segunda vinda de Cristo. É, portanto, de suprema importância que os ministros adventistas do sétimo dia, e outros obreiros, descubram sua relação de pregadores para com os êxitos doutrinários e espirituais que envolvem o crescimento e o desenvolvimento dêste movimento religioso.

Alguma coisa incomum está ocorrendo na vida da igreja hoje. A pressão dos acontecimentos está a ensinar ao mundo que os homens precisam viver juntos como uma família, ou desaparecer da Terra inteiramente. Alguma coisa semelhante está acontecendo na igreja. Sob a poderosa guia do Espírito de Deus uma grande aceleração do eterno propósito está em processo de insofismável evidência, compelindo a igreja para os derradeiros movimentos da graça divina. Pela primeira vez na História, com todo o mundo habitado despertando-se e tornando-se-nos notoriamente acessível, podemos ver o cumprimento do plano divino para o mundo, tanto na sua vastidão como na aceleração.

“Vivemos no tempo do fim. Os sinais dos tempos, a cumprirem-se ràpidamente, declaram que a vinda de Cristo está próxima, às portas. . . . As fôrças do mal estão-se arregimentando e consolidando-se. Elas se estão robustecendo para a última grande crise. Grandes mudanças estão prestes a operar-se no mundo, e os acontecimentos finais serão rápidos.” 1

A igreja em sua existência entre os movimentos revolucionários do presente, luta para reaver a pureza e fortaleza originais de sua mensagem transcendente. Está ela determinada a não perder a mensagem da graça divina oferecida aos pecadores. Nessa luta estão as pesesoas tomando partido quer a favor quer contra a vontade de Deus. Por um lado, as verdades pelas quais têm pautado sua vida nos séculos precedentes são rejeitadas no interêsse de compromissos. Por outro, grandes princípios da Reforma Protestante estão sendo revividos com fé e zêlo que prometem grandes desenvolvimentos em futuro imediato.

Como outros grandes movimentos de reavivamento religioso do passado, a Nova Reforma é identificada por certas características peculiares. Surgiram estas num período de muitos anos, e podem ser agora definidamente manifestas. São elas de importância suprema para o pregador e instrutor da verdade bíblica presentemente.

1. A Autoridade da Palavra de Deus

O primeiro e talvez mais significativo acontecimento que caracteriza a Nova Reforma é o redescobrimento da Bíbla como “um Livro de Proclamação, o portador da mensagem, o comunicador de alguma coisa para ser exposta.” 2 “A Bíblia, em sua totalidade foi restituída ao pregador.”

A volta do Livro de Deus ao pregador tornou-se, após longo período de “aridez evangélica”, uma característica do novo despertamento religioso. Tal como a Reforma do século dezesseis, a Nova Reforma é assinalada por uma “intensa, expectante e profundamente séria volta à Bíblia.”2

Os trabalhos de eruditos e teólogos abriram fronteiras de compreensão bíblica, cuja exploração é uma aventura excitante por sendas estranhas. Além disso, a preocupação contemporânea com a significação da História tem levado muitas pessoas perspicazes ao profundo reconhecimento da urgência e relevância da mensagem bíblica.” 4

Nada aconteceu na vida da igreja desde o comêço do grande Segundo Movimento Adventista que se destine a pôr tanto incentivo na pregação da tríplice mensagem angélica quanto a recuperação da Bíblia em sua totalidade como o único Livro do pregador. Êste fato por si só deve resultar numa volta à pregação bíblica da parte dos adventistas do sétimo dia de maneira ainda desconhecida em nossa história. Esta é a nossa oportunidade áurea para proclamar todo o conselho de Deus para uma geração que está anelante de ouvir e aceitar a Bíblia como autoridade máxima em assunto de fé. Proclamar a mensagem da Bíblia, segundo a esperança adven-tista, deve tornar-se o motivo primário e absorvente de todo pregador e instrutor do Movimento Adventista.

Esta volta da Bíblia ao pregador tanto é libertadora, como constrangedora. Libertadora, porque a fidedignidade e autoridade da Palavra de Deus foram vindicadas pelas descobertas dos melhores eruditos tanto no terreno bíblico como no científico. Constrangedora porque se descobre que a Bíblia contém a única mensagem de salvação para um mundo perplexo e desorientado. Deus Se desvendou a Si mesmo através de Sua Palavra. O objetivo de Sua revelação expandiu-se até atingir os confins da Terra. Ao defrontar-se com Deus nestas circunstâncias, o pregador toma-se no arauto de Sua revelação. Havendo apanhado uma visão do vasto e descortinador propósito divino, o verdadeiro mensageiro da Palavra vê-se constrangido a proclamar as boas-novas da divina graça salvadora com grande zêlo e resoluta fidelidade.

2. Cristo como Senhor e Salvador

Fêz alguém a observação acertada de que “o mais importante fato acêrca da teologia contemporânea norte-americana é a desintegração do liberalismo.” 5 Essa observação foi feita há mais de vinte anos. Afirmam hoje categoricamente os teólogos: “O liberalismo, como sistema de teo-logia, fracassou.” Nova e profunda apreciação de Jesus Cristo —Sua pessoa e trabalho — veio à existência.

“Não mais é Êle para nós, sobretudo, o Supremo Instrutor em cujas palavras se poderia ler a súmula de tôda a sabedoria. Nem é Êle principalmente o Grande Exemplo, que “andou fazendo bem” numa maneira que devemos tratar de imitar. Êle ainda nos inspira respeito como o maior de todos os instrutores religiosos, e infunde-nos temor respeitoso e adoração como Aquêle por quem Deus operou o maior e mais decisivo de todos os Seus poderosos atos, que desviou o curso da História e formou uma nova raça de homens. Para nós, como para São Paulo, Seu nome apropriado não é Rabino nem bom Mestre, mas Salvador.” 6

Assim fala alguém que está fazendo a peregrinação espiritual e intelectual do liberalismo para a fé apostólica em Cristo, o Salvador do mundo. O testemunho de outra pessoa dá pertinente expressão a uma recém-adquirida fé em Cristo como Senhor e Salvador. Diz êle:

“A mensagem do Novo Testamento se reduz a estas duas reivindicações: (1) Jesus foi um personagem real e histórico cuja aparição e carreira atingiu o clímax de uma série de acontecimentos de que o Velho Testamento é a testemunha; e (2) Jesus reptou os homens com o poder e verdade eternos e divinos, não simplesmente em Sua mensagem, mas em Sua vida, atos e pessoa. O homem estava em Cristo — o homem tal como Deus pretendeu que fôsse na criação; e Deus estava em Cristo, reconciliando consigo Sua extraviada criatura. Ambas estas coisas devem ser ditas confidentemente, se quisermos fazer justiça à fé dos que foram atraídos pela revelação de Deus em Jesus.” 7

Neste monumental apanhado do registo da humanidade o historiador Amold J. Toynbee se concentra no reconhecimento da figura de Jesus Cristo, tal como aparece por sôbre as lides do mundo. “E agora”, cisma êle “ao fixarmos o olhar na praia distante, um novo vulto surge do dilúvio e logo avulta no horizonte. Ali está o Salvador; ‘e o bom prazer do Senhor prosperará na Sua mão. O trabalho da Sua alma Êle verá, e ficará satisfeito’.”

Êste novo reconhecimento da figura de Jesus como Senhor e Cristo também assinala a Reforma de nossos dias. Ao varrerem a Terra as duas guerras devastadoras, estruturas teológicas liberais esboroaram-se no chão e foram consumidas em chamas. Teorias e filosofias de origem humana ficaram reduzidas a cacos, “como coisas feitas, para que as imóveis permaneçam” (Heb. 12:27).

Por sôbre as ruínas e escombros de uma era que passou, emergiu a transcendente figura de Jesus Cristo. Durante os dias agitados da Grande Guerra II, Adolfo Keller viu a majestade de Cristo, resplendente de glória e honra, reaparecendo no pensamento dos cristãos europeus pensantes. Escreveu êle, então, a camaradas cristãos que estavam fora da Europa:

“Na pregação do presente, a cruz se situa no centro. … A Majestade e a indescritível soberania de Deus sôbre todo o mundo é um assunto favorito. … A pregação moderna não tem necessidade daquelas receitas moralísticas triviais nem daquele perfeccionismo utópico que eram o corolário natural de um idealismo cristão otimista. Redescobriu ela as velhas verdades transcendentais acêrca de Deus — o que Êle faz, o que Cristo significa, em quanto importou a Sua cruz para os pecadores, como a Sua ressurreição e o Seu reino estão revelando seu poder redentor neste mundo que se está aproximando de seu fim para que possa começar o reino de Deus.” 8

Assim outra “grande porta, e eficaz, se me abriu” (I Cor. 16:9) para o mensageiro do evangelho. “Cristo como Salvador que perdoa os pecados, Cristo como portador dos pecados, Cristo como a brilhante estrêla matutina,” 9 tem que ser o tema principal e favorito de todo ministro e instrutor. O conceito que do Salvador tinha Martinho Lutero, tem que ser ampliado e proclamado.

Disse Lutero: “Em Sua vida, Cristo é um exemplo, mostrando-nos como viver; em Sua morte, é um sacrifício propiciatório por nossos pecados; em Sua ressurreição, é um conquistador; em Sua ascenção, um Rei; em Sua intercessão, um Sumo Sacerdote.”

Salva-te Jesus de teus pecados?

Chama-O Salvador!

Liberta-te Êle da escravidão de tuas paixões? Chama-O Redentor!

Instrui-te Êle como ninguém mais o fêz? Chama-O Mestre!

Ilumina-te Êle o caminho que te é escuro? Chama-O Guia!

Revela Êle Deus a ti?

Chama-O Filho de Deus! Revela Êle o homem?

Chama-O Filho do homem!

Ou por segui-Lo, emudeces por não poder defini-Lo nem explicar a Sua influência sôbre ti?

Chama-O pelo nome, mas segue-O!

3. Reafirmação dos Princípios Básicos da Reforma

Membros da “velha guarda das igrejas protestantes” observam a varonilidade apostólica e o zêlo evangelísticos de outros cristãos a quem arrogantemente taxaram de “seitas de franjas”. Estão descobrindo com consternação que as “seitas” foram muito bem-sucedidas no suscitar e edificar igrejas precisamente onde as “igrejas protestantes da velha guarda” fracassaram; e que muita da fôrça das seitas modernas surgiu da fraqueza das velhas formas do protestantismo.

Na Nova Reforma está surgindo o que é chamado de “protestantismo ecumênico”, de um lado, e “protestantismo não ecumênico”, de outro. As profundas ilações dos três principais pilares da fé protestante — a Bíblia como autoridade, a justificação pela fé, e o sacerdócio de todos os crentes — estão sendo tanto reptados como experimentados pela Nova Reforma. O resultado é que um novo protestantismo está sendo criado, com ambos os protestantismos, ecumênico e não ecumênico, ajudando na contribuição para o movimento.

Os cristãos sinceros nas igrejas da reforma estão-se lembrando de que o cristianismo exige sacrifício, que o caminho para o reino do Céu é reto e estreito. Estão êles chegando à compreensão de que o porte do cristão deve ser perceptível em contraste com o do não cristão. Estão descobrindo, também, a natureza ofensiva e traiçoeira do pecado; que a vitória final sôbre o pecado, o mal e a morte pertence a Jesus Cristo, e a realização da derradeira esperança do homem situa-se além da História, no sempiterno reino de Deus.

No “grande grêmio dos verdadeiros seguidores de Cristo” que “ainda estão por ser encontrados nas várias igrejas cristãs, muitos há que nunca tiveram conhecimento das verdades especiais para êste tempo. Não poucos se acham descontentes com sua atual condição e anelam mais clara luz. Debalde olham para a imagem de Cristo nas igrejas a que estão ligados. Afastando-se estas corporações mais e mais da verdade, e aliando-se mais intimamente com o mundo, a diferença entre as duas classes aumentará, resultando, por fim, em separação. Tempo virá em que os que amam a Deus acima de tudo, não mais poderão permanecer unidos aos que são ‘mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela!’ ” 10

“Por tôda parte estão as pessoas tomando partidos; todos se estão arregimentando, quer sob a bandeira da verdade e justiça, quer sob a dos poderes apóstatas que lutam para alcançar a supremacia. Neste tempo, a mensagem de Deus para o mundo deverá ser pregada com tanta ênfase que o povo seja pôsto face a face, mente a mente, coração a coração com a verdade. Deverão ser levados a ver-lhe a supremacia sôbre a multidão de erros que buscam pôr-se em evidência, e minar, se possível, a Palavra de Deus para êste tempo solene.” 11

4. Reavivamento da Esperança do Advento

A escatologia, ou a doutrina concernente às “últimas coisas” —o fim do mundo, a segunda vinda de Cristo, a ressurreição — mudou, de lugar secundário no pensamento cristão, para uma posição em que se tornou um fator central e determinante na compreensão da fé. Parte do novo pensamento que está em processo na igreja se fixa no fim do mundo e no estabelecimento do reino de Cristo, no final da História.

Eclesiásticos de várias comunhões manifestam abertamente sua fé na segunda vinda de Cristo como sendo a bendita esperança do cristão. Em geral reconhecem que as condições tais como se apresentam na Terra hoje em dia, não podem perdurar. Espera-se que ocorra algum cataclisma ou desastre, algum acontecimento que sacudirá a velha Terra, até os seus alicerces. Buscam êles nos múltiplos sinais dos tempos, inclusive no total fracasso da sabedoria humana de achar uma solução para os problemas da raça, a irrefutável prova de que “a vinda do Senhor está às portas.”

A crescente convicção de que Jesus logo virá novamente, a poderosa manifestação do Espírito de Deus no coração dos que buscam a luz da salvação, e o reconhecimento de que o povo de Deus está hoje “de posse do pão da vida para um mundo faminto”, grandemente intensifica a urgência da apresentação da final mensagem da misericórdia divina. Há anos a mensageira do Senhor insistiu com êste povo para que não mais se delongasse na proclamação da verdade presente.

“À medida que transcorre o tempo, torna-se mais e mais evidente que os juízos divinos estão no mundo. . . . Numerosos são ainda os que não ouviram acêrca da verdade que deve prová-los neste tempo. O Espírito de Deus contende ainda com muitos. O tempo dos destruidores juízos divinos é o tempo de graça para os que não tiveram a oportunidade de conhecer a verdade. … A misericórdia divina manifesta-se com grande indulgência. Está Deus retendo os Seus juízos a fim de que a mensagem de advertência alcance a todos.” 12

“Não temos tempo para preocupar-nos com assuntos destituídos de importância. .. . Logo uma surprêsa terrível sobrevirá aos habitantes do mundo. Imprevistamente, com poder e grande glória, Cristo virá. Não haverá, então, tempo de preparo para encontrá-Lo. Agora é o tempo de proclamarmos a mensagem de advertência.” 13

5. A Busca da Igreja Verdadeira

Entre as múltiplas doutrinas com que se relaciona a nova reforma, está a da igreja. Que constitui a verdadeira igreja? Existe ela já, ou ainda se espera o seu surgimento? Há salvação fora da igreja? Estas e outras perguntas correlatas clamam por uma resposta definida.

Vozes no movimento ecumênico anunciam o surgimento de uma grande igreja unida. Especifica-se, porém, que o surgimento da grande igreja não se efetuará enquanto uma grande quantidade de cristãos continue a insistir em que as necessárias formas de organização já tenham sido encontradas e já existam na sua própria denominação. João Knox, que efetuou muita pesquisa no assunto referente à igreja, adverte-nos de que — a igreja unida está no futuro, e não no passado; e se alguma coisa há bem clara essa é que as formas de sua vida não foram ainda totalmente determinadas. . . . Tão certamente falso seria identificar o surgimento da grande igreja com o catolicismo romano, com a ortodoxia oriental, ou com o anglicanismo, quanto com o luteranismo, congregacionalismo, presbiterianismo, metodismo ou outro culto denominacional. A igreja unida será uma organização nova, e seremos verdadeiramente muito irrefletidos se buscarmos artificialmente limitar-lhe as possíveis formas que tomará.” 14

No que concerne ao ponto de vista católico romano da igreja, não há dúvida alguma. Pretende o catolicismo ser a igreja de Cristo. Em conformidade com Roma, “não existe igreja verdadeira fora da comunidade romana, não impor-ta em que circunstância qualquer corporação cristã se tenha separado da igreja papal. Neste sentido, a mais ritualista igreja anglicana não difere muito dos cientistas cristãos ou dos adventistas do sétimo dia. Estão tôdas fora do aprisco e terão que, a seu tempo, a êle ser trazidas de volta.” 15

Ao prosseguir no exame do surgimento da nova igreja, as circunstâncias que dividiram as igrejas históricas estão-se tornando cada vez menos importantes para muitas pessoas. Em seu livro, The Strangeness of the Church, escreve Daniel Jenkins:

“Dir-se-ia poder-se confiantemente predizer que o futuro não confirmará as reivindicações feitas por algumas corporações religiosas de serem a única, exclusiva e verdadeira Igreja de Jesus Cristo.” 16

As seitas protestantes, tão cônscias de sua própria e distintiva pureza que se recusam a manter comunhão com outras corporações cristãs, não se comportam como se sèriamente cressem que sua reivindicação será generalizadamente aceita entre os cristãos, e o perceptível fio da História, certamente não lhes fornece base para incentivo.” 17

Abundantemente claro é que existe hoje uma ávida busca da verdadeira igreja de Cristo. Em tôda parte são as pessoas forçadas a tomar decisão. Será ela influenciada pela verdade ou por esperteza? A menos que a verdade divina para êste tempo seja clara e destemidamente proclamada, muitas pessoas sinceras não estarão capacitadas para decidir onde se unirem com o povo de Deus. Esta busca universal da igreja verdadeira apresenta um novo repto àqueles a quem foi confiada a proclamação da última e final mensagem de misericórdia a um mundo desorientado.

6. Nova Pregação de Reforma

Do que ficou dito, claro é que a pregação dês-te tempo presente precisa estar sincronizada com os sucessos do chamado Novo Movimento de Reforma. Grande parte da pregação de nossos dias parece estar muito apartada de qualquer coisa que as pessoas estão ansiosas por compreender. Uma jovem, típica de incontáveis outras, queixou-se recentemente de que seu ministro insiste em pregar sôbre temas sociais, entretanto os jovens querem estudar religião básica, o problema do pecado, a certeza da salvação e os assuntos realmente importantes. Reconhecem as pessoas as necessidades da alma e sabem que essas necessidades somente podem ser atendidas pelo que chamam “um cristianismo vertebrado.”

Um homem versado nos assuntos da vida diária, fêz esta observação a um ministro amigo: “A dificuldade que tenho quando o senhor começa a falar acêrca dos homens, é que nenhuma das coisas que diz a respeito dêles parece aplicar-se aos homens com quem eu me encontro.”

O que Paulo Blanshard disse recentemente acêrca da literatura religiosa, também se aplica a grande parte da pregação contemporânea: “A literatura religiosa” diz êle, “sofre de demasiada brandura; falta-lhe vitalidade e vigor. Está ela envôlta no penso de algodão esterilizado do hipócrita respeito humano.”

A tendência presente situa-se no sentido das cerimônias, formas e práticas exteriores. Como sempre ocorreu no passado, o profeta uma vez mais tende a degenerar no sacerdote. O homem que fala por Deus inclina-se a deixar-se transformar no homem que por Êle celebra cerimônias. Os ministros estão propensos a serem piedosos no público, desempenhando-se de sua responsabilidade de igreja profissionalmente, em vez de como porta-vozes e servos do Senhor a quem representam.

Em certos quadrantes, foi mesmo feita a sugestão de praticar-se uma “moratória de pregação.” Em lugar da pregação, dar-se-ia uma série de “mensagens” sôbre “Como Encontrar Recursos para o Domínio da Vida”. Um boletim de igreja convidava o público para ir escutar palestras sôbre “Ajudai-vos a Alcançar Serenidade”, “Deixai na Igreja Vossas Preocupações”, “A Religião Pode Vencer a Tensão Nervosa”, etc. Um ministro que esgotara seu repertório psicológico, divorciando-se do evangelho, começou a “pôr ênfase na liturgia”. “Reviramos o mobiliário da igreja” confessou êle mais tarde. “Mudámos o púlpito, do centro para o lado direito, depois para o esquerdo, e mais tarde para um lugar entre o soalho e o teto, e surpreendemo-nos de verificar que não havia correlação ne-nhuma entre a localização do púlpito e a eficácia da mensagem dêle proclamada.”

Os diplomados de nossos colégios e seminários são, em grande maioria de casos, bons para o cargo de professôres ou para a atividade de pesquisas, mas ineficientes no púlpito como pregadores da Palavra de Deus. Sua espécie de pregação é bem descrita pelo que um oficial britânico disse de seu capelão: “Ao sentar-me eu entre a tropa e escutar o que diz o nosso muito consagrado capelão, verifico que é por não possuir êle a mínima nem mais remota idéia acêrca das cogitações de um soldado, que deixa de colher um êxito sequer.”

Queira Deus que tais coisas nunca venham a ser ditas, com verdade, a nosso respeito e de nossos ministros. De todos os tempos da história cristã, agora é o momento para a mais enérgica pregação já escutada pelos pecadores. Neste tempo em que a Bíblia foi reposta integralmente nas mãos do pregador, deve haver um reavivamento da verdadeira pregação bíblica. Dessa forma não haverá falta de interêsse da parte do público, e o pregador nunca ficará sem uma mensagem. “Dai-me a Bíblia e o Espírito Santo”, declarou Spurgeon, “e eu nunca cessarei de pregar”.

A situação mundial presente — tanto secular como religiosa — é ideal para a proclamação da tríplice mensagem angélica. As grandes verda-des que caracterizam o movimento do segundo advento, o ministério medianeiro de Cristo e a perpetuidade da Lei de Deus, constituem uma resposta às necessidades especiais do homem para êste tempo de juízo. As mensagens de Apocalipse 14 “constituem uma tríplice advertência que deve preparar os habitantes da Terra para a segunda vinda do Senhor. O anúncio: ‘Vinda é a hora do Seu juízo’, aponta para a obra finalizadora do ministério de Cristo para a salvação dos homens. Anuncia uma verdade que deve ser proclamada até que cesse a intercessão do Salvador, e Êle volte à Terra para receber o Seu povo.” 18

“Uma grande obra há a fazer em apresentar aos homens as verdades salvadoras do evangelho. É êste o meio estabelecido por Deus para represar a onda da corrução moral. É êste o meio de restaurar no homem a imagem divina. É êste o Seu remédio contra a dissolução universal. É o poder que impele os homens para a unidade. Apresentar estas verdades é a obra da mensagem do terceiro anjo. O Senhor determinou que a proclamação dessa mensagem fôsse a maior e mais importante obra do mundo para o presente tempo.” 19

Finalmente, a busca contemporânea da igreja verdadeira precisa ser lembrada na pregação da Nova Reforma. Existe uma grande hoste de verdadeiros seguidores de Cristo disseminada entre as várias comunidades religiosas. Estão êles esperando pelo gracioso convite da terceira mensagem angélica, e só mediante a potente pregação desta mensagem atenderão ao convite de se unirem com o remanescente povo de Deus. “Muitos, tanto ministros como leigos, aceitarão alegremente as grandes verdades que Deus providenciou fossem proclamadas no tempo presente, a fim de preparar um povo para a segunda vinda do Senhor.” 20

Portanto, como ministros e pregadores, incumbidos da final mensagem divina, nosso trabalho está a calhar-nos perfeitamente. Confiou-nos o Senhor uma verdade especial para êste tempo de emergência.

“Quem ousa recusar-se a publicá-la? Êle ordenou a Seus servos que apresentem o último convite de misericórdia ao mundo. Êles não podem permanecer silenciosos, a não ser com perigo de sua alma. Os embaixadores de Cristo nada têm que ver com as conseqüências. Devem cumprir seu dever e deixar os resultados com Deus.”21

Referências

  • 1. Ellen G. Whte, Test. Sel. , [Ed. mundial] Vol. III, pág. 280.
  • 2. Truman B. Douglass, Preaching and the New Reformation, pág. 19.
  • 3. Idem, pág. 17.
  • 4. Bernard W. Anderson, Rediscovering the Bible, pág. 8.
  • 5. John Bennett, Christian Century, 8 nov. , 1933
  • 6. W. M. Horton, Theology in Transition, Vol. II, págs. 133 e 134.
  • 7. B. W. Anderson, op. cit. , pág. 205.
  • 8. Adolph Keller, Christian Europe Today, pág. 142.
  • 9. Ellen G. White, Testimonies, Vol. VI, págs. 20 e 21.
  • 10. Ellen G. White, O Conflito dos Séculos, pág. 390.
  • 11. Ellen G. White, Test. Sel., [Ed. mundial], Vol. III, pág. 150.
  • 12. Idem, pág. 333.
  • 13. Idem, pág. 220.
  • 14. John Knox, The Early Church and the Coming Great Church, págs. 136 e 137.
  • 15. G. A. Barrois, em Theology Today, abril 1949, pág. 76.
  • 16. Daniel Jenkins, The Strangeness of the Church, pág. 170.
  • 17. Idem, págs. 172 e 173.
  • 18. Ellen G. White, O Conflito dos Séculos, pág. 435.
  • 19. Ellen G. White, Test. Sel., [Ed. mundial] Vol. II, pág. 365.
  • 20. Ellen G. White, O Conflito dos Séculos, pág. 464.
  • 21. Idem, pág. 609.