Qualquer que seja a verdadeira definição de pregação ela é, por certo, uma ocupação importante. Não lemos nós no primeiro capítulo dos mais curtos dos evangelhos que imediatamente depois de Seu batismo e de Sua vitória sôbre a tentação no deserto “Veio Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho do reino de Deus” (S. Mar. 1:14)? “O primeiro aparecimento público do Salvador o foi como pregador?”
Se Jesus começou o Seu trabalho público no mundo como pregador, então a pregação deve ser supremamente importante.
A palavra correspondente a “pregação”, neste passo, significa “proclamar”, “apresentar”, “gritar bem alto”. E o âmago da mensagem de Cristo era: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crêde no Evangelho” (S. Mar. 1:15).
Esta pregação de Jesus era definida, bíblica, profética. Não se baseava em alguma teoria sutil ou em argumento filosófico. Tinha por base fatos. — a Sua presença, a circunstância de que a profecia proferida havia muito tempo, estava tendo cumprimento, bem como chegara o tempo de se cumprirem grandes coisas. Em Sua pregação convidava Êle — “arrependei-vos, porque o reino de Deus está próximo.” Sua pregação era um apêlo para a ação: “Arrependei-vos,” portanto, era definida e pessoal.
Vemos do exemplo de Jesus que a verdadeira pregação é uma comunicação de um homem para homens. Como define Phillips Brooks, “é a comunicação da verdade, de um homem para homens.” Portanto, os dois elementos essenciais da pregação são a verdade e a personalidade. Deus poderia haver escrito a Sua mensagem em letras de fogo no céu, mas isso não teria sido pregação. É preciso que um homem se apresente perante outros e profira as Palavras de Deus para êles.
A Verdade Divina e a Personalidade Humana
Poderá haver pregadores que interessem as pessoas, que os maravilhem com retórica oratória, filosofem e exponham intrincadas especulações; mas isso não é pregação porque não é a verdade. A verdadeira pregação precisa ter atrás de si um verdadeiro homem. A verdadeira pregação sem-pre implicou tanto uma personalidade como a verdade; e existe um terceiro elemento — pre-cisa ser a verdade bíblica. Assim Jesus pregava. Êle era um verdadeiro homem, o Filho do homem; pregava a verdade, a verdade divina; e ela provinha da Bíblia. Êle iniciou Sua pre-gação citando o Velho Testamento.
Se ocorre uma falta de interêsse em nossa pregação hoje em dia, bem faremos com, antes do mais, examinar a nossa personalidade. Quem somos? Vivemos e cremos a verdade que pregamos? Está ela em nosso coração? Somos nós a personificação da mensagem que proclamamos?
Em segundo lugar, devemos perguntar-nos qual é a nossa atitude para com essa mesma verdade. Regamo-la nós ou revestimo-la de loquacidade, ou tornamo-la de difícil compreensão, ou talvez até a adulteramos com nossas idéias e filosofias humanas? Lembrai isto —a verdadeira pregação nunca morrerá. Nunca se-rá invalidada enquanto um verdadeiro homem, guiado pelo Espírito Santo, pregar a verdadeira mensagem. Pregadores tais sempre terão alguém para escutá-los. Quando o homem de Deus surge com a mensagem divina no tempo estabelecido por Deus, sempre haverá corações prontos para arderem quando êle lhes abrir as Escrituras (ver S. Luc. 24:32).
A verdade e a personalidade não podem ser separadas. As mensagens divinas são sempre proclamadas por uma pessoa, estão realmente encarnadas numa pessoa. Como adventistas, falamos muitas vêzes da “mensagem.” Cremos nós na mensagem? Ouvimos nós a mensagem? Se assim fôr, temos que sair e pregar a mensagem. No tempo do Novo Testamento, houve sempre uma mensagem e um homem. “Esta é a mensagem que dÊle ouvimos, e vos anunciamos,” diz o apóstolo João (I S. João 1:5).
O Pregador, Testemunha de Cristo
Todo verdadeiro pregador é uma testemunha, uma testemunha de Cristo. Disse Jesus: “Recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sôbre vós; e ser-Me-heis testemunhas” (Atos 1:8). Não disse: “Sereis Meus defensores”, mas “Minhas testemunhas.” Uma testemunha conta o que sabe, descreve o que viu. Quando jovem, fui chamado certa vez como testemunha em juízo. Antes que eu me apercebesse, estava expondo a minha opinião. O juiz imediatamente advertiu-me de que eu fôra ali convocado para dizer o que vira, e não o que pensava.
A pregação não é primàriamente uma argumentação ou comentário nem filosofia acêrca da verdade. Nem é uma urdidura artística de linguagem a tecer um belo bordado de sons. A pregação é dar testemunho, contar alguma coisa do que sabemos a outras pessoas que, ou querem ou devem saber, ou ambas as coisas. Por isto é que a pregação está ligada à personalidade. Nunca pode haver pregação sem uma pessoa, sem um pregador. Não pode haver testemunho sem as testemunhas.
A fim de sermos verdadeiros pregadores precisamos ser bons filhos de Deus e falar a língua da família. Lembrai-vos de que não somos primàriamente discursadores, mas pregadores. Precisamos primeiro que tudo ser cristãos, filhos de Deus em meio a uma geração pervertida. O pregador tem que ser um homem de Deus. Pode haver sido diplomado pela mais importante das escolas terrestres, haver recebido a ordenação da igreja; mas a menos que haja nascido de novo com o testemunho do Espírito no coração, nunca pode ser verdadeiro pregador nem portador de uma mensagem que atinja o coração dos ho-mens com o poder de Deus.
Nosso Cometimento de Pregar
Nossa incumbência, da parte de Cristo, de pregarmos vigora “até a consumação dos séculos” (S. Mat. 28:19 e 20).
E é “a tôda a criatura” (S. Mar. 16:15). Jesus não apenas comissionou os Seus discípulos para pregarem mas esboçou-lhes a atividade até ao fim do mundo e deu-lhes, também, a mensagem que deviam pregar. “Os discípulos deviam ensinar o que Cristo ensinara. O que Êle falara, não só em pessoa, mas através de todos os profetas e mestres do Velho Testamento, aí se inclui. É excluído o ensino humano. Não há lugar para a tradição, para as teorias e conclusões dos homens, nem para a legislação da igreja. Nenhuma das leis ordenadas por autoridade eclesiástica se acha incluída na comissão. Nenhuma dessas têm os servos de Cristo de ensinar. … O evangelho tem de ser apresentado, não como uma teoria sem vida, mas como fôrça viva para transformar a vida.” —O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 615.
A pregação é uma missão solene, elevada, santa e importante. A ocupação do ministro não é meramente apresentar a verdade mas, pela apresentação dessa verdade, transformar a vida.
Se vós, como ministro, devêsseis falar a duzentas pessoas durante uma hora, uma vez por semana, utilizarieis em cada sermão o total de cem horas do tempo dos ouvintes. Isto equivale a doze dias de oito horas, por pessoa. Existe suficiente material de valor em vosso sermão? É êle de suficiente importância para justificar que vades a todo homem ou mulher da congregação e lhe digais: “Eu gostaria de tomar-lhe duas semanas de tempo para transmitir-lhe algumas verdades e bênçãos que tenho entesouradas no coração”? Pensai na quantidade de vida humana gasta em apenas um sermão, pois a vida equivale a tempo. Como disse Benjamim Franklin: “Amas tu a vida? Então não esbanjes o tempo, pois êsse é a matéria de que a vida está feita.” Imaginai a quantidade de vida — o número de palpitações, as oportunidades de mercês, os momentos de decisões, os tijolos do destino — que subtraístes a êsse homem ou a essa mulher, a todos êles! É um pensamento que humilha e alarma, mas inspira.
Não obstante, apesar de tudo isto, alguns homens são culpados de ocupar o tempo com uma porção de parlatório pio, com gracejos sem importância, com um montão de invenções humanas, insignificantes, insossas, inúteis! Sem dúvida, ao conceder-me um homem parte de sua vida, devo usá-la para comunicar-lhe as grandes coisas da lei de Deus, as importantes revelações de Sua Palavra, as promessas eternas do santo Evangelho.
Não tenho o intuito de usurpar a autoridade dos instrutores capazes desta instituição que vos desvendam a ciência e a arte de pregar. Tendes aqui homens que poderão ministrar-vos a mais excelente instrução em homilética. Vossa biblioteca contém livros, ou podeis comprá-los para uso pessoal, e nêles aprender o que de melhor existe sôbre o assunto de pregação desde as eras primitivas até ao presente.
O Tema Central da Pregação Cristã
Faço-vos o apêlo para que observeis hoje algumas das influências mais expressivas e as mais amplas acepções da verdadeira pregação. Os ser-mões têm sido agrupados sistematicamente em: expositivos, de assunto, de fatos, práticos, etc.; mas concordo com Phillips Brooks em que essa classificação pouco significa. A grande necessidade da pregação cristã é que Cristo seja pregado. Disse Êle: “E Eu, quando fôr levantado da Terra, todos atrairei a Mim” (S. João 12:32). A verdadeira pregação cristã atrai os homens pa-ra Cristo. Só o magnetismo da cruz pode tomar irresistível a pregação.
O próprio centro de todo o nosso ministério deve ser: “o grande, magno monumento de misericórdia e regeneração, a salvação e redenção — o Filho de Deus erguido na cruz.” — Obreiros Evangélicos, pág. 315.
“A grande pregação só brota de um coração profundo e fértil de uma grande teologia. Deve ela provir de grandes convicções da verdade. Não é de muita teologia que a igreja sofre, mas de demasiadamente pouca.” — John R. Mott, em Claims and Opportunities of Christian Ministry, págs. 70 e 71.
A verdadeira pregação adventista do sétimo dia, pregação que fêz êste movimento, pregação que identificou a igreja, pregação que deu direção à nossa marcha, é a espécie de pregação que levará a mensagem à vitória no fim. Conhecem-se alguns homens que pregaram sermões compostos princípalmente de histórias comovedoras ou, até, de anedotas humorísticas. Outros se deleitam em apresentar acontecimentos mundanos tão conhecidos do público quanto do ministro, e de outros assuntos que ninguém verdadeiramente conhece. Existem sermões acêrca de discos voadores e de horrendas descrições de fissão atômica. Alguns passos bíblicos são usados como pretextos. Devemos lembrar que, às vêzes, sermõezinhos há que produzem cristãozinhos. Impossível é produzir caracteres do porte de uma Sequoia Gigantea com simples enxertos de recapitulações. Não haverá, no pecador, grande convicção de coração, a menos que, no coração do pregador, haja grande convicção da verdade.
Nenhum verdadeiro pregador pode seguir o exemplo daquele bajulador que, ao ver presente na congregação o senhorio do prédio, abrandou o seu apêlo final com estas palavras: “A não ser que de algum modo vos arrependais e de alguma maneira vos convertais, sereis de alguma forma condenados.”
Quando pregamos, precisamos pregar para alcançar ação, uma decisão nesse mesmo momento e lugar. Precisamos de pregação como a dos apóstolos no dia de Pentecostes, quando os ouvintes ficaram de coração tão compungido que disseram: “Varões irmãos, que devemos fazer?” (Atos 2:37).
Viver de tal maneira e de tal maneira falar que a igreja seja reconstruída e os pecadores convertidos a Deus — isso é pregação!