PAUL OMAR CAMPBELL
(Pastor-Evangelista, Associação Southern Califórnia)
As, palavras prece e precário pertencem ao latim eclesiástico e são palavras cognatas. Situação precária é a em que os fatôres controláveis ficaram grandemente diminuídos. Muitas vêzes os homens esperam por uma tal situação antes de orarem. Conseqüentemente, a oração é definida na mente de alguns como “uma petição para as nossas necessidades enquanto estamos pendentes de circunstâncias desconhecidas e da vontade de outrem.” De fato, nossa vontade é um fator nas orações atendidas. Disse Jesus: “Tudo o que pedirdes, . . . crede que o recebereis, e tê-lo-eis.” (S. Mar. 11:24). Êste passo indica que a vontade de quem ora é um fator importante.
A vontade de Deus é atender às orações, mas nossa vontade precisa ser educada e ter dilatados os seus horizontes. Quando a vontade é assim reeducada e fortalecida é que “a oração é ordenada pelo Céu como meio de alcançar êxito.” — Atos dos Apóstolos, pág. 564.
A oração pública é mais formal do que a particular, mais organizada, menos pessoal e mais curta. Envolve a atitude de adoração de quem a profere e dos ouvintes, bem como o conteúdo da própria oração.
Muitas ocasiões há de oração pública, além das invocações, ofertórios, orações pastorais e bênçãos dos cultos habituais da igreja. A escola sabatina, reuniões de oração, reuniões de jovens, casamentos, funerais, dedicações de igrejas, dedicação de crianças, reuniões cívicas, etc., são, tôdas, ocasiões para oração pública. Há, também, orações para cura, orações nos cultos domésticos, e orações no lar durante as visitais pastorais e nas reuniões dos grupos de oração. As orações em cada uma dessas diversas ocasiões terão suas próprias conotações espirituais específicas.
O Propósito da Oração
Um dos principais propósitos da oração é levar-nos conscientemente à presença do Deus vivo. A oração pública visa a prover a comunhão coletiva com Deus. Essa comunhão exige de nós decôro, organização, reverência, consagração e brilho de pensamento.
Outro propósito da oração é o de agradecer a Deus Suas bênçãos abundantes. Se mais orações nossas fôssem uma expressão de gratidão a Deus, teríamos mais de que ser gratos. A ação de graças é em geral pouco expressada em nossas orações. Êste fato é salientado pela Sra. Ellen G. White em Review and Herald de 1o. de nov. de 1881, pág. 274: “Não deveriamos nós com mais assiduidade render graças ao Doador de tôdas as nossas bênçãos? Precisamos cultivar a gratidão.” Também em Parábolas de Jesus: “Se … o coração transbordar em ações de graças e louvores a Êle, teremos frescor contínuo em nossa vida religiosa.” — Pág. 129.
Ainda um propósito para a oração é o de suplicar as bênçãos divinas. Infelizmente, com demasiada freqüência presumimos que esta parte da nossa oração é a única razão de orarmos. Não obstante Deus muito Se agrada de escutar as súplicas dos homens. “Êle [Deus] Se agrada muito quando [o Seu povo] Lhe fazem os maiores pedidos.” — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 498.
Provàvelmente o mais importante propósito da oração é o de capacitar-nos para experimentar o gôzo da sociabilidade da presença de Deus. A bênção suprema dessa sociabilidade coletiva não pode ser bem aquilatada.
A Ocasião Específica
Cada ocasião de oração é diferente, e naturalmente, devemos nela proceder de maneira condizente com a ocasião e com suas necessidades especiais. Todo momento é tempo para oração, quer mentalmente quer audivel-mente, a sós ou em público, pois devem os homens “orar sempre” (S. Luc. 18:1). De maneira especial “tôda dificuldade [é] um convite para a oração.” — Profetas e Reis, pág. 31.
Orações Improvisadas
As orações improvisadas não devem ser desprezadas quando não é possível fazer-se preparação; mas uma preparação deve ser feita para uma determinada oração, assim como nos preparamos para outra parte qualquer do culto público. Mesmo as orações extemporâneas são em geral melhores do que as improvisadas. A oração improvisada é feita num repente, sem preparação. A extemporânea pode não ser escrita, mas serem dedicados alguns momentos de meditação para a sua organização prévia.
Evidentemente, quem ora deve estar espiritualmente preparado para orar. E assim, quando se prepara, sua oração será verdadeiramente uma oração feita a Deus, e não simplesmente palavras afáveis para serem ouvidas dos homens.
Orações Escritas
Uma oração não tem porque perder a sua fôrça simplesmente por haver sido escrita. Os hinos e os passos bíblicos são escritos antes de serem usados. São os hinos e os textos bíblicos mais necessários para o culto público do que a oração? Se qualquer um dêles pode ser escrito prèviamente por que não o podem ser as orações?
Poderá fazer-se a objeção de que a oração escrita é demasiado formal. Existe alguma coisa errônea nessa espécie de organização ou forma? A forma assemelha-se a uma taça — nela é pôsto o néctar a ser servido. Se a forma, ou taça, se torna mais importante do que o néctar, então a forma ou taça usurpou um falso uso. Por outro lado, o néctar poderia ser servido numa maneira rústica, como de um recipiente de lata, mas ser muito mais apreciado de que de uma bela taça.
Uma oração que se aproxima demais da formalidade pode ser melhor do que a oração inteiramente desorganizada e desorientada. A leitura de orações escritas ajudaria a maior parte dos homens a absorver alguma idéia de formas de oração. A oração escrita, mesmo que nunca fôsse lida, muito ajudaria a muitos. “Há uma ciência divina na oração, e … [Cristo] apresenta-nos princípios que todos necessitam compreender.”—Parábolas de Jesus, pág. 142. Precisamos, todos, aprender a orar com mais eficácia.
Forma de Oração
A forma da oração não deve ser complexa no mínimo que seja. Deve a oração ser estudada, não apenas quanto à eficácia, mas quanto à forma. Em geral “nossas orações terão a forma de um colóquio com Deus.” — Idem, pág. 129. Deve também a forma ser estudada quanto à seqüência. Sugere-se a ordem seguinte:
- 1. A saudação expressa com reverência e adoração vem em primeiro lugar, e deve ser breve e simples. Não parece ser recomendável a repetição do nome do Senhor através de tôda a oração como na saudação.
- 2. Seguem-se o louvor e a ação de graças. Isto é mais importante do que possam pensar alguns. A ação de graças aumentará o atendimento da oração, que recebemos porque a oração nos prepara o coração com a capacidade para receber essas respostas.
- 3. Segue-se, então, o pedido de perdão. Todos necessitamos de perdão. Neste ponto deve ser lembrado que a prática do louvor e da ação de graças no espírito de um coração submisso também capacitará para a recepção do perdão proferido por Deus.
- 4. Depois da busca do perdão devem seguir-se pedidos específicos. Nossos pedidos em oração não prontificam a Deus para dar, mas capacitam-nos a nós para receber. O proferi-las com a ajuda divina dá-nos atitude mais receptiva.
- 5. A oração termina com um Amém. Essa palavra é repetida com demasiada leviandade. A palavra possui significado profundo. Quando perguntados sôbre o seu significado, dizem algumas pessoas: “Assim seja.” Verdade é que a proferimos com muita facilidade. Ao dizermos Amém, devemos compreender que isso significa: “Nós não interferiremos; nós não nos interporemos no caminho do atendimento de nossas orações; nós não estorvaremos conscientemente o atendimento — assim seja.” Como se torna assim potente essa palavra, e quão perigosa, se realmente não agirmos com sinceridade!
Bem faremos com analisar a forma da oração do Senhor. Em primeiro lugar está a saudação, que é breve. Seguem-se os itens de louvor, honra e submissão. Depois disso vêm os pedidos de auxílio físico e espiritual. Segue-se a admiração pelo poder de Deus. Por fim vem o Amém. Que singeleza e brevidade tem essa oração!
O Comprimento das Orações Públicas
Não deveria ser necessário abordar o assunto do tédio das longas orações públicas, pois como ministros bem conhecemos o efeito, na congregação, das orações longas. Entretanto, convém-nos fazer um inventário de quando em quando. Possuímos conselho valioso neste assunto, de que destacamos os seguintes :
“Aprendam os homens a proferir .. . ora-ções breves e ferindo a tecla justa.”—Testi-monies, Vol VIII, pág. 147.
“Nossas súplicas não necessitam ser longas e. em voz alta.” — Mensagens, pág. 247.
“As orações feitas . . . são freqüentemente longas e inadequadas. … Irmãos, levai convosco o povo em vossas orações. Ide … ao Salvador…. Dizei-Lhe do que necessitais nessa ocasião.” — Test. Sel., [Ed. mundial], Vol. II, pág. 60. (O significado desta citação é que as orações longas não levam a con-gregação com quem ora, ou com a oração.)
“As orações longas numa congregação são cansativas para quem as escuta, e não preparam o coração para o sermão que se lhe segue.”— Ellen G. White, em The Review and Herald, de 28 de maio de 1895, pág. 1.
“Acontece em geral que quanto menos vitalidade celeste existe numa oração, tanto mais longa é ela.” — Idem, 14/1/1902, pág. 17.
A intensidade da oração é um fator importante, porque a oração sincera produz resultados. Isto é salientado em S. Tia. 5:16: ”A oração do justo pode muito em seus efeitos.”
A Posição na Oração
A posição em oração é muito significativa. Nós, como adventistas do sétimo dia, cremos que a posição ajoelhada é a mais adequada para a oração. A prática bíblica confirma esta opinião. Entretanto, vêzes há em que não é possível ajoelhar durante a oração, o que nos não. deve privar de orar.
“Temos que aprender a elevar ao alto o nosso olhar com desejo sincero, elevando orações ao Céu em todo lugar e sob quaisquer circunstâncias.” — Ellen G. White, em Signs of the Times, de 14 de abril de 1890.
“Nem sempre pode o cristão assumir a posição de oração, mas os seus pensamentos e desejos podem sempre estar nos Céus.” — Ellen G. White, em The Youth’s lnstructor, de 5 de março de 1903.
Como regra geral é aconselhável orar com os olhos fechados, mas esta regra poder-se-á ter que quebrar algumas vêzes. Por exemplo, pode a pessoa querer orar quando, juntamente com outras pessoas, guia um automóvel, mas certamente não fecharia os olhos nessas circunstâncias. Sempre que possível, melhor é fechar os olhos, para que mais completamente excluamos o mundo e nos confinemos à presença de Deus.
Atitudes Mentais na Oração
Em primero lugar, deve haver boa disposição para aprender a orar. “Aprendam os homens a orar.” — Testimonies, Vol. VIII, pág. 147. “Devemos educar a mente de forma que mantenhamos comunhão com Deus constantemente.” — Ellen G. White, em The Signs of the Times, de 14 de abril de 1890.
Deve haver voluntariedade para relaxar espiritualmente ao confiarmos com fé simples na promessa: “O Deus eterno te seja por habitação, e por baixo sejam os braços eternos” (Deut. 33:27).
Deve haver sincera boa disposição para participar mais das ilimitadas bênçãos que poderemos auferir da presença de Deus.
Deve necessàriamente haver de nossa parte boa disposição para enfrentar a época atual e seus problemas específicos. Vêzes sem conta não nos dispomos a encarar a vida em tôda a sua realidade.
A boa disposição para aceitar a solução divina, mesmo antes de sabermos o que essa solução possa ser, é uma atitude imperativa em tôda verdadeira oração. Essa é uma manifestação de fé. Para quem a pôs a prova é uma fé alicerçada em anterior experiência com Deus.
A sinceridade, a honestidade e o fervor são atitudes vitais, ou a oração nada mais será que uma pretenção de crença. Quem ora deve estar interessado naquilo por que ora, caso espere que a congregação se interesse. Um dos pré-requisitos de ser interessante é estar interessado.
Sobretudo, deve haver vivo desejo da comunhão divina, não somente da parte de quem ora, mas também da congregação, Êles sentirão essa comunhão mais rapidamente se elevarem o coração em oração silenciosa enquanto está sendo proferida a oração audível.
Nunca deve a oração pública ser usada para expressar apenas necessidades pessoais ou de família, ou para expor agravos pessoais. A oração pública não é o momento de pregar, reprovar, ser pomposo ou confessar pecados cometidos. É o momento de amalgamar em culto coletivo e amor fraternal tôda a congregação mediante o levá-la à imediata presença de Deus.
O grande desejo fundamental de tôda verdadeira oração é o anseio de conformar nossa vida com o modêlo cristão de viver e servir.
Devemos “proceder em harmonia com nossas orações.” — Testimonies, Vol. VI, pág. 61. Devemos “orar na intenção e no Espírito de Jesus, ao mesmo tempo que procedemos como Êle procedeu.” — Sra. Ellen G. White, em Bible Echo, de Dez°. de 1887, pág. 178. A oração consagrada e o procedimento cristão estão intimamente relacionados. Seja a nossa vida um Amém vivo às nossas orações. Isto é verdadeiro culto.
Para tôda verdadeira oração Jesus é o Amém personificado. “Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira” (Apoc. 3:14). Sua vida foi um testemunho de Sua identificação com a vontade de Seu Pai. Nunca impediu a resposta dada pelo Pai. Foi e é, tanto em obras como em palavras, o Amém vivo.