CLARK B. McCALL
O HOMEM é por natureza uma criatura adoradora. Uma razão para isso está em que suas inseguranças básicas o induzem à procura de poder externo para auxílio na preservação de sua estrutura instável. O sustentáculo do cristão é o Senhor Deus Jeová, Criador e Governador do universo. Esta apreciação da Realidade invisível para quem êle com tanta naturalidade se volve em busca de comunhão, leva-o ao desejo de erigir alguma espécie de edifício em honra de seu divino Auxilador, algum monumento onde possa com prazer sentir a presença de Deus.
O senso de uma divina Presença nesse santo templo abate o ego humano que está “perdido em conjetura, amor e louvor”. Esta experiência situa-se à base de todo genuíno culto. Tôda espécie de culto genuíno atenderá à exaltada visão e adoração do Ser Infinito.
É de lastimar-se que demasiadas vêzes exista nas igrejas adventistas uma crescente tendência para a perda dêste senso da presença de um Deus Santo, tão essencial ao verdadeiro culto. É o senso perdido da realidade do culto que levou ao uso de expressões substitutivas para o culto divino, tais como “a reunião das onze horas” e “o culto de pregação.” Essas expressões claramente revelam os conceitos errôneos que há na mente de muitos dentre nosso povo no tocante ao culto de adoração, do sábado. Para muitos é apenas uma reunião religiosa. A resultante falta de respeito pela casa de Deus e a crescente irreverência manifestada durante o culto de adoração são uma tendência trágica que nem sempre reconhecemos como deveriamos. Reconhece-se que essa fraqueza não pode ser eliminada da igreja por meio de legislação nem ser trocada da noite para o dia. Mas, muitas vêzes somos forçados a envergonhar-nos, especialmente quando comparamos êsse desrespeito com o respeito pelo santuário de Deus manifestado por muitos outros agrupamentos cristãos. Êsse é um problema que exige nossa máxima atenção e interêsse na busca de uma solução.
Em que consiste a dificuldade? Talvez a história de nosso movimento à luz de nossa doutrina filosófica possa fornecer a chave. Ao procurar remediar um mal há sempre o perigo de que o pêndulo penda para o extremo oposto. É possível que nossa fuga dos aspectos friamente legalistas do culto formal nos tenha levado a produzir um culto público que muitas vêzes se assemelhe ao decôro de uma assembléia que escuta um discurso ou, mesmo, de uma reunião de clube, e não de uma congregação de adoradores. A informalidade desrespeitosa é tão má quanto o frio formalismo. Se bem que a formalidade dignificada não seja o verdadeiro fim do culto público, ela provê, porém, o ambiente para a genuína atmosfera de culto. Assim como as obras são sempre o fruto da verdadeira fé, e a fé sem êsse resultado é morta, também a dádiva de nós mesmos a Deus é um sacrilégio torpe se oferecido sem qualquer aspecto de reverência.
Conversas Sociais Fora de Lugar no Santuário
Numa igreja por mim visitada recentemente, fui à porta para cumprimentar os adoradores à saída. Mas a congregação não se retirou. Passado algum tempo fiquei bastante intrigado e tornei a entrar. Para surprêsa minha, vi as pessoas andarem de um para outro lado nos corredores, entretidas em animadas conversações, e generalizadamente utilizando o santuário de Deus como se fôsse um salão em que se estivesse realizando uma reunião social.
Quando os nossos cultos de sábado não são cultos de adoração, não pode esperar-se que nosso povo saia da igreja com pensamentos elevados acêrca de Deus nem com a verdadeira compreensão da vida. O fracasso do senso da presença de Deus é uma das causas do fracasso da devida compreensão de Deus. Êste fracasso produz o seu fruto na relação impessoal e descuidada com seu Mestre e nas atividades diárias.
Onde tem que começar a necessária reforma? Certamente tem que começar com um plano bem-elaborado de educação no que constitui o genuíno culto aceitável. Muitas pessoas que freqüentam a igreja dir-se-ia nunca haverem realmente adorado. A espécie de culto que presenciaram quando ingressaram na igreja é o modêlo que naturalmente seguiram. Muitas não têm conhecimento de uma espécie de culto mais aceitável. Provavelmente nunca pensaram em que o seu cochicho, a atitude irreverente que se justifica em qualquer outra parte, é inteiramente imprópria dentro da igreja e é realmente um insulto à santa presença de seu Criador. Ao tornarem-se membros da família de Deus, evidentemente os seus instrutores não ministraram o devido exemplo do verdadeiro espírito do culto. Suas atitudes durante o culto de adoração refletem o exemplo irreverente que lhes foi ministrado em sua educação inicial de conversos.
Onde Deve Começar a Reforma
Esta obra de reforma deve começar com quem dirige o culto de adoração. As ovelhas seguem a liderança do pastor. Como líderes, temos que inspirar as modificações necessárias e ilustrá-las com nosso próprio procedi-mento de adoração. Aquêle que tem a seu cargo a direção do culto de adoração deve liderar a sua congregação, dos estreitos atalhos da Terra para as verdades celestiais e apresentá-la com santo temor perante o trono de Deus. Esta guia no assunto do culto necessita da familiaridade pessoal do pastor com o Caminho — uma familiaridade que só pode ser adquirida através de excursões prévias.
Existe uma regra dogmática que governa o procedimento e o conteúdo de um culto de adoração. A organização provê a estrutura do culto, mas não a atmosfera. Não existe regra fixa para a organização, mas sim princípios firmes para guiar o dirigente do culto na escolha e arranjo da diretiva apropriada que resultará num culto aceitável. O culto divino é característico no sentido de que o seu propósito fundamental é guiar homens e mulheres à presença de Deus. Qualquer atividade que contribua para guiar a Deus deve ser considerada uma modalidade aceitável de culto de adoração. Mas qualquer parte do culto que faça a pessoa dirigir para si mesma os seus pensamentos ou desviá-los de Deus amesquinha o verdadeiro objetivo do culto.
As orações centralizadas em Deus e os apelos à adoração com o uso reverente de hinos ajudam a produzir a atmosfera de adoração. Melhor é que os anúncios e interêsses comerciais da igreja sejam tratados antes do comêço do culto, de forma que não haja, depois, interrupções dessa espécie. Muitas vêzes minúcias triviais de interêsse humano se introduzem e destroem o espírito de adoração. Deve o boletim conter tôdas as notícias necessárias para o bom andamento das atividades da igreja. Difícil é distrair os homens de suas preocupações comuns de cada dia para as exaltadas alturas da santa presença de Deus. Mas a desviação rude para os transitórios acontecimentos terrestres com anúncios de um piquenique da igreja, equivale a criar uma atmosfera que será difícil transformar.
O uso do culto como oportunidade para a promoção de campanhas de compromissos e assinaturas deixa muito a desejar. Os visitantes nessas ocasiões ficam muitas vêzes chocados com êsse procedimento e bem podem dispor-se para escutar um discurso e não um sermão. Algumas vêzes não se surpreendem, pois justamente isso é o que ocorre.
Êste princípio da atividade dirigida por Deus definidamente veda ao pastor o uso do culto para a apresentação de assuntos comerciais. A feição apropriada do culto exige que cada momento e cada parte dêle sejam planejados de maneira tal que todos os presentes reconheçam que verdadeiramente adoraram na presença espiritual do eterno Deus.