PAULO R. GÓMEZ

(Diretor dos Departamentos da Atividade Missionária, Escola Sabatina e Rádio, da Associação Bonairense)

DEUS pôs nos sêres irracionais por Êle criados, instintos e dons que, às vêzes nos servem de exemplos e deveriamos imitar. No diário argentino “La prensa” de 15 de julho de 1956, lemos o seguinte, em artigo firmado por Antônio de La Tôrre: “Os guanacos são animais inofensivos, gregários, inteligentes, que vivem entre as altas montanhas, pastando nas campinas próximo dos arroios. Vão em manadas, sob a guia de um macho, a que os gaúchos denominam “relincho”. Êste vigia sua manada de uma elevação. É o vigia e o pastor responsável de seu rebanho, a quem todos acatam cegamente; é o herói que aponta o caminho da salvação em caso de perigo, e que encontra as pastagens tranqüilas para a subsistência pacífica. Sempre está alerta, meneando as orelhas, perscrutando as elevações. Quando percebe alguma coisa estranha lança uma espécie de relincho que inicia a repentina fuga da manada. De longe êle aponta o ca-minho salvador e é o último a escapar da morte. Sabem os caçadores que, para exterminar o bando lhes é preciso matar o “relincho”, pois isso provoca o desconcêrto e o espanto de todos que, espavori-dos, e indecisos, correm a êsmo, de um para outro lado, próximo da vítima.”

Não encerra esta descrição um exemplo e um ensino para nós, os pastôres de almas? Creio que sim, e muito bem. Nós, que temos o privilégio de pastorear os que são tão valiosos à vista de Deus, que deu o Seu Filho e êste Se deu a Si mesmo por êles; devemos manter-nos sempre vigilantes, buscando os pastos e as correntes de águas cristalinas e vivificantes da Palavra de Deus, e quando algum perigo acossa o povo de Deus, devemos ser os primeiros a dar o brado de alerta e apontar o caminho da salvação de maneira firme e clara, sem dúvidas nem vacilações.

Não é fácil ser pastor, já que o pastor sempre deve estar em atitude vigilante. Se compreende realmente o privilégio e a responsabilidade de sua missão, nunca pode deixar de velar no cuidado de seu rebanho.

O apóstolo São Paulo foi, talvez, quem mais se aproximou do ideal que Cristo pôs perante nós. As almas realmente pesavam-lhe sôbre o coração. Compreendia cabalmente seu privilégio e responsabilidade. Por isto encontramos nas Sagradas Escrituras essas belas epístolas que dirigiu às várias igrejas que pôde formar com a ajuda do Senhor. Embora estivesse distante e finalmente prêso em Roma, não deixava nem por um momento de nelas pensar, tratando por todos os meios de alentá-las e exortá-las à fidelidade, prevenindo-as contra o inimigo das almas.

Nas epístolas que dirigiu ao seu amado discípulo Timóteo, é revelado o amor que o idoso apóstolo nutria pelo rebanho, e pareceria que quisesse saturar a Timóteo dêsse amor. Especialmente em sua segunda epístola, ao notar êle que seu fim estava próximo, disse: “Conjuro-te pois diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na Sua vinda e no Seu reino, que pregues a Palavra, instes a tempo e fora de tempo, exortes, com tôda a longanimidade e dou-trina. Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas. Mas tu sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra dum evangelista, cumpre o teu ministério.” (II Tim. 4:1-5.) No capítulo 2 e versículo 3, diz: “Sofre pois, comigo, as aflições como bom soldado de Jesus Cristo.” Não há dúvida alguma de que Êle já sabia que logo seria decapitado, e sua mais profunda preocupação era a segurança do rebanho, e, por todos os meios, tratava de instruir a Timóteo quanto ao seu traba-lho de vigilância. Pareceria que o ancião e ativo apóstolo quisesse infundir-se nêle para assim ter a certeza de que as almas não seriam abandonadas à sua própria sorte.

Moisés é outro indivíduo que se aproximou muito do ideal. Sempre alerta, sempre vigilante, sempre buscando a forma de dirigir sàbiamente êsse povo que Deus lhe entregara para guiar à terra prometida, e quando Deus lhe anunciou seu fim próximo, o primeiro pensamento dêsse grande homem de Deos foi pedir um pastor para essa congregação: “O Senhor. Deus dos espíritos de tôda a carne, ponha um homem sôbre esta congregação, que saia diante dêles, e que os faça sair, e que os faca entrar: para que a congregação do Senhor não seja como ovelhas que não têm pastor.” Núm. 27: 16 e 17.

Muitos foram os perigos que assaltaram o povo de Deus no deserto, mas nunca encontraram Moisés desprevenido. Se junto ao Mar Vermelho houvesse faltado fé a Moisés, todo o povo se teria perdido. Se ao pé do Sinai lhe houvessem faltado amor e firmeza, todo o povo teria sido aniquilado. Se em Baal-peor lhe houvesse faltado consagração, todo o povo teria caído na idolatria e na concupiscência. É que tanto Moisés, quanto Paulo, não estavam trabalhando “pelos pães e pelos peixes”; ambos haviam deixado dinheiro, honras e títulos para seguir o Salvador e se sustinham “como vendo o Invisível.”

Estimados colegas no ministério: Os perigos que hoje acossam o rebanho são talvez maiores do que os que tiveram que enfrentar naquela época, e por isto exigem maior vigilância, maior dedicação, maior consagração.

A serva do Senhor nos diz em Obreiros Evangélicos, págs. 264 e 265: “Os mensageiros da cruz se devem armar de vigilância e oração, e avançar com fé e coragem, operando sempre no nome de Jesus. Devem ter confiança em seu Guia; pois tempos tumultuosos se acham diante de nós. Os juízos de Deus se acham espalhados na Terra. As calamidades se seguem umas às outras em rápida sucessão. Em breve Deus Se erguerá de Seu lugar para sacudir terrivelmente a Terra, e punir os ímpios por sua iniqüidade. Então Êle Se levantará em favor de Seu povo, e lhes dará Seu protetor cuidado. Envolvê-los-á nos braços eternos, para os escudar de todo mal.”

Não estamos sós na luta nem na vigília; Deus está conosco. Êle quer salvar Seu povo e dar-nos o privilégio de serem colaboradores Seus, mas só o fará com os que se mantêm alerta e vigilantes.