PARTE II

ARTHUR L. WHITE

(Secretário, Escritos da Sra. E. G. White)

Correntes Elétricas

DE quando em quando, ultimamente, têm aparecido nos jornais artigos com referência à electroencefalografia — ciência que trata das correntes elétricas no corpo humano. Os adventistas do sétimo dia que manusearam Scientific American, de junho de 1954, sem dúvida leram com interêsse o artigo de W. Grey Walter, intitulado “A Atividade Elétrica do Cérebro”, e provàvelmente se lembraram de algumas declarações conhecidas, contidas nos livros da Sra. Ellen G. White, algumas das quais de seus primeiros livros. Mas, primeiramente, notemos alguns pontos interessantes apresentados pelo Sr. Walter:

Há vinte e cinco anos Hans Berger, psicanalista alemão que trabalhava com Jena, começou a publicar umas fotografias estranhas que nada mais continham do que linhas sinuosas. Deviam elas ter causado grande excitação entre os colegas, porque êle pretendia que mostrassem a atividade elétrica do cérebro humano. Em verdade, porém, ninguém o levou a sério. Durante muitos anos ninguém se incomodou com repetir seus experimentos.

No quarto de século que medeou desde então, o estudo de suas pequenas linhas sinuosas transformou-se num novo ramo da Ciência, chamado “electroencefalografia.” Hoje, várias centenas de laboratórios nos Estados Unidos, e igual quantidade na Europa, registam e interpretam diagramas de descargas elétricas do cérebro humano. A quantidade total dêsses diagramas, se posta lado a lado, circundaria a Terra. Os hospitais, em todo o mundo, arquivam milhares e milhares de diagramas do cérebro. — Pág. 54.

Discorre então o autor sôbre essas correntes, que não sòmente podem ser traçadas em mapa, mas também medidas em sua quantidade de volts:

Os sinais são em geral classificados pela freqüência de suas vibrações elétricas. As oscilações originais de Berger, a que chamou ritmos alfa, manifestam-se em uma faixa de freqüência de oito a treze oscilações por segundo — isto é, quase tão rápido quanto é possível movimentar um dedo. Seu tamanho, ou amplitude, é cêrca de trinta milionésimos de um volt. Nem a freqüência nem a amplitude são constantes. Cada indivíduo tem seu próprio tipo característico de vibração na freqüência e comprimento de onda. Assim, seu diagrama é tão pessoal quanto a própria assinatura. — Idem, pág. 55.

O Sr. Walter publicou o seu artigo em 1954. Um retrocesso de vinte e cinco anos, ao tempo das experiências de Berger, levar-nos-ia ao ano 1922, catorze anos depois de a Sra. Ellen G. White haver deposto sua pena fecunda. Sessenta anos antes de Berger haver produzido seu trabalho inicial, a Sra. Ellen White escreveu:

“Seja o que fôr que perturbe a circulação das correntes elétricas no sistema nervoso, diminui a resistência das fôrças vitais, e o resultado é um amortecimento das sensibilidades da mente.” — Test. Sel. [edição mundial], Vol. I, pág. 257.

Novamente, em 1872, três anos mais tarde, fêz ela referência à eletricidade no corpo, ao escrever dos que não fazem uso apropriado das faculdades mentais:

“Esta classe sucumbe mais fàcilmente se é atacada por enfermidade, porque o organismo é vitalizado pela fôrça elétrica do cérebro para resistir à enfermidade.” — Testimonies, Vol. III, pág. 157.

Declarações idênticas apareceram em 1903 em seu livro Educação, págs. 197 e 209. Nesses anos longínquos em que a Sra. Ellen White assim escreveu, o conceito de haver correntes elétricas no corpo era absolutamente estranho ao pensamento dos médicos. De fato, pouquíssimo se sabia acêrca da eletricidade naquele tempo. Agora, porém, oitenta e cinco anos depois de que a Sra. Ellen White escreveu acêrca das “correntes elétricas no sistema nervoso,” verificamos que o mundo científico está prestando atenção às fracas e pulsantes correntes elétricas que emanam do cérebro, cuja freqüência e tamanho variam com cada indivíduo. O que pode haver parecido inconcebível quando Ellen White escreveu em anos passados quanto às correntes elétricas do cérebro, vemos hoje ser corroborado pelos descobrimentos de homens sérios e estudiosos no campo científico.

A Influência Pré-natal

Em 3 de junho de 1953, apareceu êste tópico na imprensa: “O Feto Pode Ser ‘Marcado’ pelas Emoções da Mãe.”

Nova York (AP): As emoções da mulher grávida podem realmente “marcar” o seu filho que ainda está por nascer, tornando neurótica a criança, disse hoje o Dr. William S. Kroger, de Chicago. Pode a criança predispor-se para as doen-ças psicossomáticas, os achaques oriundos de distúrbios emocionais e não físicos, disse êle. Esta espécie de efeito não é o mesmo do das velhas histórias de que se a mulher se assusta de uma aranha, por exemplo, seu filho terá marcas de nascença.

Kroger, ginecólogo da Escola de Medicina de Chicago, comunicou à Associação Médica Americana alguns aspectos psicossomáticos da ginecologia e obstetrícia.

Estas palavras muito fazem lembrar aos adventistas do sétimo dia uma porção de declarações da pena da Sra. Ellen G. White no assunto da influência pré-natal. Cito a primeira dessas declarações do artigo por ela escrito em 1865.

Em gerações passadas, se as mães se houvessem informado quanto às leis do seu ser, teriam elas compreendido que o vigor de sua constituição, bem como o seu tono moral e suas faculdades mentais, estariam em grande medida representados em sua descendência. Sua ignorância neste assunto, onde tanto está empenhado, é criminosa. — How to Live, N°. 2, pág. 37.

O que se tornou inédito no item do Dr. Kroger é que por várias gerações foi geralmente aceito nos círculos científicos que o feto não é atingido pelos hábitos nem pelo estado mental da mãe. Isto parecia pôr as declarações de Ellen White, quanto à influência pré-natal, em desacordo com o mundo científico. Especialmente em A Ciência do Bom Viver, publicado em 1905, ela salientou êste ponto em têrmos claros e incisivos:

“O que são os pais, em grande parte, hão de ser os filhos. As condições físicas dos pais, suas disposições e apetites, suas tendências morais e mentais são em maior ou menor grau, reproduzidas em seus filhos. Quanto mais nobres os objetivos, mais elevados os dotes mentais e espirituais e mais desenvolvidas as faculdades físicas dos pais, mais bem aparelhados para a vida se encontrarão os filhos. . . .

“A responsabilidade repousa especialmente sôbre a mãe. Ela, de cujo sangue a criança se nutre e forma fisicamente, comunica-lhe também influências mentais e espirituais que tendem a formar-lhe a mente e o caráter. . ..

“O efeito das influências pré-natais é olhado por muitos pais como coisa de somenos importância; o Céu, porém, não o considera assim.

“Mas se a mãe se atém sem reservas aos retos princípios, se é temperante e abnegada, bondosa, amável e esquecida de si mesma, ela pode transmitir ao filho os mesmos traços de caráter.” — A Ciência do Bom Viver, págs. 323 e 324.

Dêsses aspectos mais gerais, Ellen G. White passa então para o assunto da alimentação, e diz:

“Muitos aconselham insistentemente que todo desejo da mãe seja satisfeito; assim, se ela deseja qualquer artigo de alimentação, mesmo nocivo, devia satisfazer plenamente o apetite. Tal método é falso e pernicioso. As necessidades físicas da mãe não devem de modo algum ser negligenciadas. . . . Mas neste tempo, mais que em qualquer outro, tanto no regime alimentar como em tudo mais, deve evitar qualquer coisa que possa enfraquecer-lhe o vigor físico ou mental.” — Págs. 324-326.

Da alimentação, passa então Ellen White para as atitudes da mãe e a importância de o marido e pai demonstrar amor e afeto.

“A mãe deve cultivar disposição alegre, contente e feliz. Todo esfôrço neste sentido será abundantemente recompensado, tanto na boa condição física como no caráter de seus filhos. O espírito satisfeito promoverá a felicidade de sua família, melhorando em alto grau a saúde dela própria.

“Ajude o marido à espôsa, mediante simpatia e constante afeto.” — Págs. 326 e 327.

Estas declarações de A Ciência do Bom Viver, que estiveram em desacordo como o pensamento dos círculos científicos durante muitos anos, mas foram corroboradas pela declaração de Kroger, foram postas em evidência ainda maior pelo aparecimento em fevereiro de 1954, de um artigo em Ladies Home Journal, que tinha por título: “Existe Influência Pré-Natal.” Debaixo do título aparece a seguinte nota explicativa:

“Há anos criam os cientistas que vosso filho vivesse uma existência isolada, protegida de tôda influência externa, mas isto não é verdade. Novidade excitante é que podeis controlar o desenvolvimento de vosso filho antes de seu nascimento.”

Êste artigo não foi escrito por nenhum neófito, nem por alguém que estivesse tentando um ingresso sensacional na imprensa, mas pelo Dr. Ashley Montagu, autoridade cautelosa. Num parágrafo que prefaceia o artigo e aparece em grifo, é devotado às várias opiniões mantidas por êsse médico, mundialmente famoso antropologista, biólogo social, conferencista e escritor. O artigo é longo, e só posso fazer umas poucas referências. Interessante é observar, porém, que êsse médico — o que é considerado um descobrimento extraordinário — apresenta os mesmos pontos que Ellen G. White salientou há já tantos anos. Escreve êle:

“Existe agora suficiente prova de muitas fontes para indicar que a criança ainda por nascer pode ser de maneiras várias afetada pelas alterações físicas da mãe e, se bem que a mulher não possa ‘marcar’ o filho por ver alguma coisa desagradável antes de êle nascer nem torná-lo poeta com ler Keats e Shelley durante a gravidez, há maneiras em que ela definidamente pode influenciar a sua maneira de proceder. Em grande medida dela depende, e dos que a circundam durante a gravidez, se a criança nascerá feliz, saudável, bem-humorada, ou um desajustado neurótico.”

Prossegue êle, então, numa tentativa de convencer os leitores:

“Se isto se afigura excêntrico ou estravagante, tende a certeza de que é estritamente científico como qualquer outra coisa por mim  escrita. A mulher que é perturbada durante a gravidez, que se deixa aborrecer indevidamente, que não vive sossegada e pacificamente no amor do marido e da família, pode estar em tal estado de tensão emotiva que sua economia nutritiva fica perturbada.”

Depois de apresentar uma ilustração documentária dêste ponto, declara o Dr. Montagu:

“Nesta como em tôdas as outras áreas da existência humana, o amor é a melhor garantia do crescimento saudável. Se a mãe é bastante amada, seu bem-estar provàvelmente estará garantido, e o bem-estar da mãe significa o bem-estar da criança que ela nutre.”

Volta-se então o Dr. Montagu para a questão da alimentação. Quanto a isto diz êle categoricamente :

“Por certo o assunto da alimentação da grávida não pode ser salientado com fôrça exagerada. Óbvio é que o feto pode ser influenciado pelo alimento que a mãe consome.”

Trata êle, então, da satisfação dos desejos da mãe no terreno da alimentação:

“Outra ‘história de senhoras idosas,’ muito repetida é a de que os desejos muito peculiares da grávida por certos alimentos seriam prejudiciais para a criança que está para nascer. A ciência, antigamente, ridicularizava êsse contrassenso, mas neste ponto também as senhoras idosas parecem ter razão, e estarem os cientistas mal-informados.

“Há agora prova de que muitos casos de alergia alimentar das crianças podem ser atribuídos aos hábitos de alimentação da mãe durante a gravidez. O Dr. Bret Ratner, de Nova York, e muitos outros pesquisadores, possuem disto provas abundantes.”

Sumariando seus descobrimentos feitos num período de muitos anos, declara o Dr. Montagu:

“Portanto, as futuras mães podem cooperar no desenvolvimento saudável dos filhos evitando a ingestão excessiva de qualquer alimento. Grave alergia pode desagradàvelmente afetar tôda a vida física e emotiva do indivíduo. … A saúde mental e física da criança começa com a saúde do feto. Seu cuidado começa com o cuidado do feto. Neste sentido, nada é mais importante do que a saúde e o bem-estar da mãe que o nutre.

“A criança tem que ser amada, mesmo antes de nascer, por uma mãe que seja amada. Isto, realmente, é o que se sabe neste sentido, e podia ser mais simples.”

Para nós, estas palavras soam muito semelhantes às citadas de A Ciência do Bom Viver, escritas meio século antes desta descoberta científica. Uma vez mais as pesquisas de cientistas esmerados de hoje fornecem prova que corroboram os conselhos da mensageira especial do Senhor.

Os Ovos

Outro ponto em que houve confirmação científica muito anos depois das declarações de Ellen G. White sôbre um ponto que abordava a alimentação com base científica, diz respeito ao assunto dos ovos como elemento medicinal. Em 1901, um de nossos médicos de além-mar sofria de anemia perniciosa, produzida por alimentação mal-orientada. Houvera abstenção prematura do uso de produtos lácteos, especialmente no regime alimentar isento de carne. Ellen White, em carta a êle dirigida, deu-lhe conselho que resultou na salvação de sua vida. Disse ela:

“Vosso apêgo aos sãos princípios está levando-vos a submeter-vos a um regime alimentar que vos dá uma experiência que não recomendará a reforma pró-saúde. … É necessário que façais modificações, e isto imediatamente. Ponde em vossa alimentação alguma coisa de que vos tendes privado. Tendes o dever de fazer isto. Consegui ovos de aves saudáveis. Usai os ovos, cozidos ou crus. Ponde-os, crus, no melhor vinho não fermentado que possais encontrar. Isto suprirá o que vos é necessário para o organismo. Não penseis que não é correto fazer isto. … Os ovos contêm propriedades que são agentes medicinais na neutralização de venenos.” — Counsels on Diet and Foods, pág. 204.

O doutor, que estava então iniciando-se na profissão, seguiu êste conselho. Usou ovos em suco de uva, o que lhe salvou a vida, e ao ser escrito êste artigo, o prezado e idoso médico ainda vive, se bem que aposentado, como testemunha da verdadeira reforma pró-saúde. A declaração feita por Ellen White nesta comunicação foi por ela repetida em sua declaração geral sôbre o assunto da reforma pró-saúde, que apresentou à Associação Geral em 1909. Nessa ocasião, disse ela:

“Não devemos considerar violação do princípio, usar ovos de galinhas bem-tratadas e convenientemente alimentadas. Os ovos contêm propriedades que são agentes medicinais neutralizantes de certos venenos.” — Test. Sel. [ed. mundial], Vol. III, pág. 362.

Os adventistas do sétimo dia leram e releram esta declaração e, se bem que fôsse aceita por estar entre os ensinos da Sra. E. G. White sôbre saúde, não possuía significação especial. Não foi senão após trinta anos que Mellanby mostrou, por meio de seu trabalho experimental, que na alimentação que consiste princípalmente de cereais existe uma deficiência de vitamina A, ou carotina, que ocasiona desmielinação das fibras nervosas (perda da isolação da fibra nervosa). A gema do ôvo contém vitamina A, e assim, o testemunho referente às propriedades do ôvo que neutraliza certos venenos, escrito antes de que as vitaminas fôssem conhecidas, foi corroborado cientificamente por cuidadosa pesquisa. E o Dr. G. K. Abbott, que aborda exaustivamente o assunto num artigo publicado em The Testimony of Jesus (ed. de 1934), por F. M. Wilcox, assinala que também foi descoberto que certos cereais não apenas têm falta de vitaminas, mas contêm “uma substância anticalcificante.” Esta situação se torna crítica em caso de alimentação deficiente em vitamina D. Cita o Dr. Abbott o Journal of the American Medicai Association:

“O próprio Mellanby foi o primeiro a mostrar que o efeito anticalcificante dos cereais ou extratos de cereais podem ser completamente anulados com a adição ao alimento de quantidades adequadas de vitamina D na forma de óleo de fígado de bacalhau, gema de ôvo ou gorduras irradiadas, ou pela irradiação do animal, ou mesmo do próprio cereal.”

Assim, em carta a um de nossos médicos, em 1901, Ellen G. White expôs dois fatos: que os ovos contêm propriedades medicinais, e que elas neutralizam certos venenos. Trinta anos mais tarde a pesquisa científica cuidadosa fornece a prova dessas declarações feitas com base na revelação. 

Certamente podemos dizer que Ellen G. White escreveu bem antes da ciência médica. E a recapitulação dêstes fatos não nos confirmam no coração a confiança na mensagem da pena profética, quer no sentido da teologia quer na orientação da Igreja, no viver cristão, no preparo para o encontro com o Senhor ou nas declarações de caráter científico? 

Mas, de todos os assuntos científicos abordados pelas declarações de Ellen G. White, o que é pôsto em foco justamente agora pelos artigos da imprensa é o hipnotismo. Isto será tratado em nosso próximo artigo de conclusão desta série.