SYDNEY W. MATHER
(Takoma Park, Washington, EE. UU.)
COMO deve ser dirigida a parte musical de uma conferência de evangelização ou de culto de igreja, para que atinja os resultados almejados, e seja de proveito espiritual para todos? Não pensamos todos uniformemente quanto a êste assunto e a opinião quanto à música na igreja difere enormemente. Assim, o dirigente do canto, em sua primeira noite, deve arranjar o seu programa de forma a que a maioria o aprecie. Tem êles que sair do salão, ou da igreja enlevados e decididos a voltar.
Um dicionário define a música como “melodia ou harmonia; qualquer sucessão de sons de forma tal que agrade o ouvido; a arte de produzir sons harmônicos e agradáveis ao ouvido.” Uma definição de “musa” é “o poder do canto.” Um hino é um canto de louvor ou de adoração. Ao cantarmos hinos adoramos a Deus. O cântico evangélico e o devido uso dos hinos, é uma parte do culto tanto quanto a oração. A Sra. Ellen G. White em muitos de seus escritos salienta a importância espiritual do canto em nosso culto bem como em conferências públicas.
Boa parte da responsabilidade de encher ou esvaziar nossos auditórios de evangelização cabe ao diretor do canto. Creio que a parte do canto deva ser usada com cânticos animadores e que produzam felicidade, convindo lembrar que há entre os presentes algumas pessoas que aí foram em busca de animação espiritual. Se o culto os decepciona neste ponto, elas nunca mais voltarão. Esta circunstância deve tornar-nos muito humildes em nossos cultos, e fazer-nos orar muito mais quando preparamos a parte do canto.
Deve o diretor do canto reconhecer que, em primeiro lugar, o seu propósito é pôr o auditório à vontade. Deve êle não somente criar um ambiente jubiloso e feliz, mas também de oração, na expectativa de outras boas coisas. Os preconceitos têm de ser quebrados. Deve ser produzida a impressão duradoura de que o serviço de canto é uma parte do culto, e não meramente para encher tempo antes de o orador ocupar o púlpito. Isto é muito importante se quereis que vosso auditório chegue antes do comêço do sermão. Tem o diretor de côro tão grande oportunidade de influenciar os corações, com sua direção do canto, quanto o ministro com sua pregação. As melodias são muitas vêzes mais bem lembradas do que as palavras, pelo que deve êle escolher boas melodias e, sobretudo, auxiliar o auditório a interpretar a mensagem do hino ou do cântico evangélico.
Quando eu me tornei diretor de canto na Inglaterra, auxiliando os evangelistas que ali iam, provenientes da América e da Austrália, decidi que faria quanto me fôsse possível para conservar as congregações com os hinos que conheciam e apreciavam, bem como com algumas melodias e coros novos que eu queria introduzir. Deus Se dignou de atender às nossas orações. Durante essas reuniões memoráveis realizadas em partes diferentes da grande cidade de Londres, algumas das quais se prolongaram no mesmo teatro por espaço de dezoito meses, muitos centenares de pessoas chegaram ao conhecimento do poder salvador do evange-lho de Cristo. Várias igrejas novas se formaram então.
A música foi feita para servir a um propósito santo — elevar os pensamentos dos homens acima das coisas da vida, baixas e mundanas, e fixá-los em assuntos nobres, puros e elevados. Deve a música suscitar na alma devoção e gratidão a Deus. Que contraste entre o uso para adoração, da música sublime, e os usos indignos e baixos a que é muitas vêzes dedicada. Quantos usam êste dom para a exaltação própria, em vez de para a glorificação de Deus!
No livro Educação, págs. 167 e 168, a música é considerada “um dos meios mais eficazes para impressionar o coração com as verdades espirituais,” e “como parte do culto, o canto é um ato de adoração tanto como a oração. Efetivamente, muitos hinos são orações.”
Somos aconselhados a “cantar com o espírito e o entendimento.” — Mensagens aos Jovens, pág. 292. Não é o canto gritado o de que se necessita, mas Deus espera que Seus servos a quem Êle concedeu o talento da apreciação da música, bem como o dom do cântico, que usem de “entonação clara” e “pronúncia correta.” “Tomem todos tempo para cultivar a voz, de maneira que o louvor de Deus possa ser cantado em tons claros e suaves, sem os sons cuja aspereza ofende o ouvido. A habilidade de Cantar é um dom de Deus; seja êle empregado para Sua glória.” — Idem. (Grifo nosso.)
Ao reconhecermos quão importante é o bom cântico, devemos fazer o que nos fôr possível para melhorar as normas, e fazer de cada hino ou côro uma oferta aceitável ao Senhor, que, Êle próprio ao sair do cenáculo para ir ao Getsêmani, saiu cantando. Como Lhe deve ter ajudado aquêle hino a percorrer o caminho até ao Jardim e à cruz!
O povo dêste mundo pecador e deprimido precisa imensamente da alegria que vem com o cantar “com o espírito e o entendimento”. Todo soldado sabe como o andar se torna estranhamente mais leve se numa longa marcha um dentre êles se põe a cantar. O ajutório do canto lhe permite prosseguir a marcha, quando um momento antes lhe parecia impossível dar um passo mais.
Quantas vêzes não ouvimos expressões como estas: “Oh, não sinto vontade de cantar, estou muito preocupado.” Ora, como se porta uma chaleira quando no fogo? Põe-se a cantar, naturalmente. “Quando estiverdes submersos em situação bastante quente, pensai na chaleira e cantai.” A música é uma bênção quando usada no louvor e culto a Deus, e inspira a alma para manter-se na jornada para o alto.
Como dirigentes de canto devemos conhecer os hinos de maneira tal que indiquemos às congregações algum particular especial que as capacite a cantar com melhor entendimento. Os dirigentes de música, no preparo de seus coros ou conjuntos corais devem ser capazes de interpretar o poema que foi musicado de maneira que a devida ênfase seja posta nas palavras ou versos que mais ressaltem o pensamento vital da mensagem.
Cantar no culto da igreja ou no serviço de canto, que o precede, é uma das formas mais elevadas de participar do culto a Deus, e não apenas alguma coisa para preencher tempo! Uma pintura artística tem boa aparência num cavalete, mas quando bem-emoldurada adquire beleza maior. Considero o sermão um quadro, e a música, a moldura que o circunda e lhe faz realçar muito a beleza.
Tanto as pessoas assentadas entre a congregação quanto o diretor do canto, na plataforma, necessitam do mais amplo reconhecimento de que a música pode ser um forte elemento nas mãos de Deus para levar homens e mulheres a um melhor conhecimento de seu Criador e à mais ampla dedicação da vida a Êle. A música sacra incitar-lhes-á o coração para orar e preparar-se para cantar o cântico dos remidos no mar de vidro, e para juntar-se aos coros angélicos no louvor a Deus. Com a vista e o ouvido sintonizados com o Céu podemos discernir “linguagem nas árvores, livros nos cursos dágua, sermões nas pedras, e o bem em cada coisa.”