W. H. WICK

Pastor da Associação Norte da Inglaterra

Algumas vêzes, ao meditarmos em um sermão que escutamos de um pregador adventista, chegamos à conclusão desconcertante de que êsse sermão bem poderia haver sido pregado em outra igreja. Pode haver sido bom, e até constritor, e não obstante não verdadeiramente adventista. Nem uma boa dose de erudição, nem o domínio da técnica do sermão eficaz podem suprir a ausência dessa ênfase característica do verdadeiro sermão adventista. Não é assunto de método mas de atitude. É um algo que o pregador deve resolver de forma pessoal no retiro de seu gabinete. Porque se não é adventista em tudo, de corpo e alma, como poderão seus sermões levar o sêlo distintivo? Difícil é definir essa convicção ou compulsão interna que matiza tôda a vida. Não chega a ser a súmula total dos diferentes aspectos de nossa mensagem fundidos em um todo; melhor dito, é essa fusão que passa através da personalidade do pregador e surge na vida dêle, demonstrando-lhe o poder na própria vida. Dessa experiência procedem a convicção e o poder que o pastor manifesta no púlpito.

Um pregador pode ser o melhor adventista de sua igreja, e todo ministro deve sê-lo, e não obstante não conseguir que seu ministério e pregação possuam o sêlo caracteristicamente adventista. Para consegui-lo requer-se alguma coisa mais que mera sinceridade ou habilidade. Requer um plano esmerado. Pôr a ênfase no lugar devido, não precisamente em um sermão, significa algo mais do que pregar uma doutrina após outra até que mais ou menos sejam abrangidas tôdas. Significa interpretar para a congregação a significação das doutrinas, aplicando-as aos pormenores da vida prática. Significa expor perante os irmãos os princípios salientes que o mundo religioso professa, mas com o pensamento adventista claramente definido. Significa que todo o conteúdo da pregação seja planejado com esmêro e oração.

Suponhamos que acabamos de pregar nosso sermão do sábado. Os irmãos retiraram-se. Agora é o momento de pensar. Assombra a facilidade com que passa inadvertida a fraqueza de um sermão durante sua preparação. Não, porém, depois de haver sido pregado. Expressamos todos os nossos pensamentos sob a forma adventista? Poderia, o que dissemos no sermão, dizer-se em uma igreja não-adventista? Foram os alicerces de nossa mensagem claramente fundamentados na verdade adventista, de maneira que os irmãos tenham experimentado a necessidade de fazer um esfôrço especial?

Suponhamos, por exemplo, que nos encontremos no fim do ano, ou no término de nosso ministério em certo distrito. Que ouviu de Deus o povo, semana após semana? Receberam alimento bem balançado durante todo o período? Ou nossos interêsses ocuparam o primeiro lugar? Pregamos-lhes as coisas que nos pareceram mais importantes e descuidamos outras verdades igualmente vitais?

Não podemos estar certos de dar à igreja que servimos um programa equilibrado durante um período determinado, a menos que conservemos um registo exato dos sermões que pregamos cada semana. É possível descobrirmos que não pregamos sôbre os temas práticos da expiação. De maneira que, com uma oração no coração, empreendemos a tarefa de preparar o assunto. Talvez o fazemos sem muito esmêro, uma frase aqui ou um parágrafo ali que demonstraram como tôda a estrutura adventista repousa sôbre esta verdade fundamental. Ou, possivelmente, dediquemos todo o sermão para demonstrar que sem a crença no sacrifício e no sacerdócio de Cristo, nossas doutrinas carecem de significação. De qualquer modo que encaremos o assunto devemos perguntar-nos: “É êste, verdadeiramente, um sermão adventista? Revelam os princípios expostos a necessidade imperiosa de levar vida consagrada?” Se a resposta fôr afirmativa, podemos então pregar com tôda a confiança.

Esta necessidade de uma pregação nitidamente adventista não requer o abuso das citações do Espírito de Profecia. As palavras mais eficazes que podemos empregar em uma pregação são as nossas próprias. Se não possuímos a convicção de que Deus pode utilizar nosso estilo individual, nosso modo pessoal de expressar-nos, não experimentámos o chamado divino para o ministério. É possível pregar todo um sermão com base nos princípios expostos pelo Espírito de Profecia, sem citar textualmente nenhum dêles. Propomo-nos, por exemplo, pregar um sermão sôbre “Como Guardar o Sábado.” Podemos impregnar a mente dos conselhos da irmã White, e depois de havê-los assimilado, apresentar um enérgico sermão, do qual cada princípio procede do Espírito de Profecia. Será um sermão mais eficaz para nossos ouvintes porque chegou a ser parte de nós mesmos.

Ao citarmos alguma declaração, e devemos fazê-lo, façamo-la parte de nós mesmos e parte intrínseca do sermão. Não obstante, amiúde devemos apresentar nossos princípios a pessoas estranhas à nossa fé. Em tal caso, devemos citar o pensamento que nos inspirou, revestido de tôda a autoridade que possa dar-lhe a nossa pregação. Com tôda a certeza e firmeza podemos pôr ênfase sôbre a advertência divina que recebemos, sem fazer que nossos sermões sejam sêmilidos e, como resultado, sêmi-eficazes.

A Preparação dos Sermões Para o Sábado

Conquanto no transcurso do ano surjam ocasiões inesperadas que exigirão a pregação de um sermão, é conveniente observar a regra geral de preparar um programa básico dos sermões para o ano, bastante elástico para admitir as modificações necessárias. Se dedicássemos à pregação pastoral a energia e o tempo que empregamos na preparação de outras campanhas, nosso ministério da Palavra seria mais equilibrado e eficaz.

Há verdades específicas que devemos apresentar aos irmãos. A primeira e fundamental é o ensino acêrca da pessoa e da obra de Jesus, como Sacrifício, Sacerdote, Juiz e Rei. Para compreender Seu ministério devemos considerá-lo na sua totalidade. Devemos entender amplamente a significação de tôda a Sua obra. Ao analisar os diversos aspectos dessa obra devemos revesti-los de significação mais ampla. O todo constitui a doutrina adventista fundamental. De modo que o pregador adventista apresentará a significação do sacrifício de Jesus que, à luz de tôda a mensagem, adquire significado maior. Já vimos, e continuaremos vendo, os resultados desta maneira de pregar. Deveria ser-nos preocupação constante o fazer que nossas mensagens sejam mais convincentes.

As demais verdades características podem e devem apresentar-se subordinadas à pessoa e à obra de Jesus. Só assim serão tão eficazes quanto deveriam ser. Só assim terão o poder de subjugar e conquistar a vontade humana. Não temamos ler obras de autores não adventistas, mas tenhamos a certeza de que essa espécie de leitura contribua para a compreensão das peculiaridades de nossa própria fé, considerando as verdades que apresentam segundo o seu ponto de vista, através do prisma vantajoso de nossa fé. Assim conseguiremos encontrar novos e inesperados pensamentos que explorar e incentivos que utilizar.

O Propósito de Nossa Pregação

O pregador adventista recebeu a incumbência de preparar homens e mulheres para a volta do Senhor. Tôdas as verdades que ensine, cada sermão que pregue, devem orientar-se para êsse fim. As verdades que são comuns a outras igrejas, deverá êle apresentá-las à luz da mensagem adventista. A doutrina característica da igreja que êle, como ministro adventista, apoia, deverá convencê-lo de que o chamado divino é imperativo, se êle quiser ser um verdadeiro ministro. Sua pregação não será distintiva a menos que seu chamado para o ministério seja evidente, porque com a vocação virá a convicção do propósito de sua obra.

Naturalmente, à luz desta obra de preparar os homens para encontrarem-se com seu Senhor, alguns pontos no sistema da verdade que apresenta serão mais importantes que outros. Êle falará mais amiúde dos que são mais importantes. Embora se deva abranger tôda a mensagem, por-se-á a ênfase nas partes essenciais. De modo que a repetição se torna inevitável. Mas, quando quer que um pregador se veja na contingência de repetir uma verdade perante a mesma congregação, deverá êle propor-se fazê-lo de maneira nova e atraente, de modo que opere com a fôrça da novidade.

O pregador adventista é essencialmente apegado à Bíblia. Ela é a sua autoridade única. Êle é honesto na explicação do texto bíblico; quando em dúvida, desiste de empregar uma interpretação que lhe parece útil. Explica a Bíblia aos ouvintes. Seus apelos estão concentrados na Bíblia. Aprofunda-se além da superfície, vai além do visível em seu afã de desentranhar a significação fundamental das verdades que prega. Utiliza a Bíblia no púlpito. Sem tê-la ali e sem usá-la, sentir-se-ia perdido.

Se a mensagem é diferente, o homem também se comporta de maneira diversa. Prega com um propósito determinado e com convicção, não apenas para informar, mas para transformar as vidas e formar o caráter. Faz esforços para desenvolver voz agradável e personalidade atraente, séria, mas que desperta simpatia. Ao levantar-se para pregar, leva consigo o esprito de adoração, e a congregação espera com expectação. Deus sôbre êle verte Suas bênçãos. Seu ministério é poderoso.

Dê-nos Deus homens tais!