CARLYLE B. HAYNES

Ex-Secretário, da Comissão do Serviço de Guerra da Associação Geral

COISA que profundamente me interessou e impressionou, quando finalmente me decidi a freqüentar aquela série de reuniões noturnas na grande tenda, foi a maneira em que o pregador usava a sua Bíblia. Seu conhecimento da Bíblia era uma das coisas que mais se evidenciava.

Eu me recusara a ir a essas reuniões logo de início. A insistência de alguns de meus parentes fôra desatendida. Em tôda a cidade começou a circular a notícia de que grandes multidões, fora do comum, estavam assistindo. Dizia-se que o pregador era orador dos mais convicentes. Grande quantidade de amigos meus estavam assistindo. As reuniões causavam sensação na cidade. Tôda pessoa andava comentando o que ouvira.

Eu ainda me mantinha ausente. Eu sabia que muitos dos meus amigos não tinham conhecimento de que o pregador era adventista do sétimo dia, e eu não queria nenhum de seus ensinos. Eu pertencia a uma das maiores, e por certo a mais popular das igrejas da cidade, igreja de jovens, exuberante de atividade jovem, em que prazerosamente eu tomava parte. Nosso pastor era o ministro mais popular da cidade. Eu estava bem satisfeito com minha religião e com minha igreja, e não via motivo para ir em busca de coisas novas e diferentes.

Eu tivera a boa sorte de ser criado com profundo respeito pela Bíblia. Bem pouco conhecia dela, mas cria ser a Palavra de Deus, e centro da autoridade para a fé cristã. Nunca me ocorrera duvidar disto.

Quando por fim me decidi a freqüentar as reuniões da tenda, o que mais me impressionou, como já disse, foi a maneira em que o pregador manuseava a Bíblia. Não fazia êle declaração alguma sem corroborá-la imediatamente com a leitura de um passo bíblico para apoiá-la. Texto após texto era citado, e, com a máxima destreza, localizado sem a mínima hesitação. Todo o sermão me pareceu uma perfeita criação, belamente concatenado, com cada uma de suas partes disposta de forma a ligar-se exatamente com a seguinte, com articulação precisa, até completar-se harmoniosamente.

Fale a Bíblia

Foi a coisa mais convincente que eu já ouvira. Para qualquer pessoa que aceitasse a Bíblia como base de crença, nada mais ficava por dizer-se, nem mesmo uma pergunta a ser feita. Era completo. O assunto apresentado ficava liquidado definitivamente. E tudo porque o pregador encaminhava tôdas as coisas — e digo tôdas — para a Bíblia e fazia a Bíblia falar. Era a Bíblia que resolvia tôdas as coisas. Não era o ensino humano. Era a Palavra viva declarando a verdade do Deus vivo.

Naturalmente, voltei na noite seguinte. Eu tinha que saber se o discurso que ouvira fôra uma exceção. Seria o pregador capaz de manter a eficiência que alcançara no discurso que eu ouvira, ou tivera eu a sorte de presenciar uma brilhante exceção? Não, êle o fêz novamente. A maneira em que êle manuseava a Bíblia era-me a coisa mais fascinante que eu já vira. Êle parecia conhecê-la de ponta a ponta. Não havia hesitação para localizar o texto, mas o encontrava enquanto sôbre êle falava. Tôda declaração que fazia era sòlidamente confirmada por um passo bíblico. A estrutura que edificava estava sòlidamente alicerçada sôbre a rocha, a impregnável rocha da Palavra de Deus. Dela não se afastava em caso nenhum. O produto final tornou-se-me uma parte irremovível de meu mundo de crenças para todo o sempre.

Sem dúvida compreendereis que não me recusei a assistir a reunião nenhuma depois daquela. Ali estava eu cada noite enquanto durasse a reunião. Assim foi que cheguei a divisar nova verdade. Não pude resistir a semelhante coisa. Ela me persuadiu, conquistou-me, impeliu-me, compeliu-me a abandonar tudo mais e lançar minha sorte com êste povo, unir-me com seu movimento, dedicar-me à proclamação da verdade. Não foi o homem quem fêz isto. Foi a Bíblia — a Bíblia — transformada no centro de tôdas as coisas.

O tornar a Bíblia — não entretenimentos, nem quadros, nem meios visuais de instrução nem histórias nem contos quer dramáticos quer humorísticos — o centro da pregação sempre tem produzido os mesmos resultados: Sempre o fará. Por que sempre a substituímos por outra coisa? Não chegou o tempo de desprezarmos tôda outra coisa e restaurar a Bíblia em seu devido lugar de centralização de nossa pregação?

A Bíblia—Suprema no Púlpito, na Educação e na Vida

Tornai a Bíblia suprema no púlpito. Ela é o pão do Céu, com que os ministros de Cristo devem alimentar o seu rebanho. Recebam êles o “leite racional” da Palavra. Nada mais provê antídoto igual para o fanatismo, nem corretivo ao falso cristianismo, do que a Bíblia. Nada mais deve tomar-lhe o lugar. Cumpram os ministros a ordem de “pregar a Palavra.” Qualquer outra coisa é uma negação do sagrado encargo, e põe no maior perigo as almas que estão sob seus cuidados. Os temas que não sejam os bíblicos não tornam sábio para a salvação. Por meio das Escrituras inspiradas é que os homens de Deus são “perfeitamente instruídos para tôda a boa obra.” É pela Palavra de Deus que os homens são guiados de suas vagueações para o “bom caminho,” onde “acharão repouso para a sua alma.” Para que a obra de Deus avance de fôrça em fôrça e de vitória em vitória, precisa a Palavra de Deus ser entronizada na cátedra da instrução, e o evangelho eterno deve ser pregado do púlpito.

Tomai a Bíblia suprema na educação. Foi ela banida, e talvez devidamente, das escolas públicas, que não se destinam a instruir os homens para se tornarem súditos do reino do Céu, nem podem fazê-lo. Mas não deve a Bíblia ser amesquinhada nas escolas de instrução cristã. Sobretudo, deve ela ter curso eficaz na escola sabatina, e não ser suplantada por temas seculares. Não deve ela ser maquinalmente manuseada e ensinada, mas com nítida compreensão e consciensiosamente explicada e levada com amor ao coração. Só assim pode a nossa juventude ser devidamente instruída. Só assim pode a varonilidade e feminilidade da raça ser levedada com princípios salutares.

Tornai suprema a Bíblia em cada vida. Isto produzirá aquela justiça pela qual uma nação é exaltada. Sem a Bíblia não teria havido o cristianismo protestante. Sem o cristianismo protestante não haveria liberdade tal como a vemos no mundo hoje, nem o comércio, nem as indústrias, nem a riqueza, nem o progresso da civilização. Seus ensinos penetram a consciência de milhões de pessoas. Por motivo de sua presença os viciados são menos viciados; o crime, se não é extinto, é restringido; o ateísmo é rechassado pelo conhecimento de Deus; e os poderes do mal são mantidos em cheque. Exalte o povo a Bíblia e seus divinos en-sinos em sua vida, e a Nação estará fundamentada na verdade e na justiça de Deus.

O valor intrínseco da Bíblia nunca foi maior do que hoje. Sua influência benéfica nunca foi mais necessária do que hoje é. Entre as nações que se assentam em trevas e na sombra da morte, sua luz é necessitada com urgência. Para os milhões que agora não conhecem a Deus ela traz novas de um amoroso Pai celestial. Aos pecadores e desesperançados de tôdas as nações leva ela as boas-novas de que “Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores,” e que “pode salvar perfeitamente os que por Êle se chegam a Deus.” Suas “boas-novas de grande alegria” têm de ser levadas ao mundo todo. Ela não pertence a nenhuma classe nem nação; não é monopólio do pregador nem do estudante; pertence aos milhões de tôdas as raças e povos. Êles a ela têm direito. E a igreja de Cristo está comprometida por seus princípios fundamentais a não repousar sem que a Bíblia e sua gloriosa mensagem de salvação e do vindouro reino de Cristo estejam ao alcance de cada homem em todo o mundo.

Os que dentre nós a têm, como devem apreciá-la, amá-la, nela meditar e apropriarem-se de sua imensa riqueza de conhecimento e instrução — aquela sabedoria que “não se dará por ela ouro fino, nem se pesará a prata em câmbio dela”!