PARTE III
LUISA C. KLEUSER
(Secretária adjunta da Associação Ministerial da Associação Geral)
PROSSEGUIRMOS com esta breve série de artigos sôbre nosso trato com as pessoas de outras crenças protestantes, buscamos fornecer alguma guia aos nossos obreiros que, no evangelismo, terão contato com crentes dêsses vários grupos religiosos, não meramente para informá-los dos fatos e práticas denominacionais, mas também para encontrar um elemento de aproximação cristã para partilhar a nossa mensagem da volta de Cristo. Havendo nós anteriormente estudado os presbiterianos, episcopais, metodistas e quáqueres, dediquemos agora nossa atenção aos batistas.
Os Batistas
Reconhecem os adventistas que muito têm em comum com os batistas cujas crenças também se centralizam na Bíblia. , A ênfase no Novo Testamento talvez mais do que no Velho, é atribuída ao seguinte: Os batistas consideram-se uma continuação da primitiva igreja do Novo Testamento, pretendendo alguns dentre êles que João Batista haja sido o seu fundador. Houve na Inglaterra uma corporação de batistas, antes de 1640. Surgiram grupos que se tornaram conhecidos por anabatistas (agora menonitas) porque insistiam no rebatismo, com base em que o batismo de crianças não é escriturístico. Roger Williams fundou a primeira igreja batista em Providence, Rhode Island, em 1639. Os batistas pugnaram pela separação da Igreja, do Estado, princípio que os adventistas aprenderam de seu fervor.
Os batistas são fundamentais nas doutrinas cristãs básicas. Dão ênfase à vida espiritual, mas dificilmente podem ser classificados como reformadores, na acepção adventista do têrmo. São evangelistas zelosos no país e no estrangeiro. Os princípios básicos batistas podem ser assim enumerados: 1) a supremacia das Escrituras e não da Igre-ja em assuntos de crença e doutrina; 2) liberdade religiosa; 3) o batismo de crentes e não de criancinhas. Notamos que nem todos os batistas apoiam a doutrina do castigo infindável no lago de fogo, mas muitos o fazem. Mantêm que os sacramentos são “ordenanças honrosas” mais do que sacramentos. A ceia do Senhor é um culto memorial sem graça sobrenatural. Com muitas de suas doutrinas os adventistas concordarão, mas não com tôdas.
No tocante à volta iminente de Cristo, apegam-se os adventistas a outra interpretação da profecia. A nossa é histórica, e a dos batistas, futurista, que é hoje conhecida por dispensacional. Vemos nesse ponto confusões crassas quanto à cronologia e a acontecimentos relacionados com o fim. Os batistas também esperam a breve volta de nosso Senhor, mas em grande proporção favorecem o dispensacionalismo.
O adventismo foi guiado à verdade do sábado pelos batistas do sétimo dia. Pode notar-se que, como grupo, os batistas não são rigidamente Calvinistas nem Arminianos. Existem entre êles bastantes marcas distintivas para dar lugar ao liberalismo, e a tolerância se encarrega do que o adventismo não poderia aprovar. Os batistas necessitam hoje de uma mensagem profética bem definida, tal como pretendem possuir os adventistas.
Discípulos, a Igreja Cristã
A seguir, sugerimos que Discípulos de Cristo, Igreja de Cristo e Igreja Cristã, usados indiferentemente, são o nome de uma grande corporação indígena nos Estados Unidos no início do século dezenove. “Historicamente, as igrejas de Cristo, que pretendem ser identificadas com a igreja do Novo Testamento, e vigorosos defensores da volta ao cristianismo do Novo Testamento, têm os mesmos antecedentes dos Discípulos de Cristo.” — Citado por Vergilius Ferm am American Church.
Por ocasião do recenseamento federal de 1906 êstes dois grupos foram classificados separadamente e cada um dêles tomou seu próprio rumo, seguindo os princípios que os têm apartado mais e mais. Mas há tanto antecedente comum que, para abreviar, consideramo-los uma única entidade.
A Igreja Cristã surgiu em Kentucky e Ohio com Barton W. Stone por chefe: os Discípulos surgiram em Pensilvânia e Virgínia,tendo por chefes Thomas e Alexander Campbell e Walter Scott. Êsses quatro líderes que tinham antecedentes presbiterianos, trocaram de pensar Calvinista para Arminiano. Estas igrejas dão ênfase ao evangelho da unidade dentro da Igreja Universal. Seus lemas são: “Nenhum credo além de Cristo, nenhum livro além da Bíblia, nenhum nome além do divino.” E também: “Nos pontos essenciais, unidade; na opinião, liberdade; em tôdas as coisas, caridade.” Em comum com outros cristãos têm seus liberalistas bem como fundamentalistas.
O batismo é feito por imersão. A doutrina do pecado original é repudiada. Mas ainda crêem na natureza pecadora do homem a menos que e até que seja redimida pelo sacrifício salvador de Cristo. Com normas mais elevadas, se bem que na prática não sejam reformadores, e não muito dogmáticos na doutrina, exercem influências em grandes áreas dos Estados Unidos. Quaisquer que fôssem as interpretações dadas por Campbell à profecia, nunca pôs nela grande ênfase em seus escritos. Neste ponto é necessário esfôrço para interessar os Discípulos. O reconhecê-los como uma fusão das crenças presbiterianas, batistas e metodistas, ajudar-nos-á em nossos contatos de evangelização. Também, uma tal amalgamação, sugeriría opinião muito flexível quanto às doutrinas que exigem uma posição presentemente. Neste sentido podem os adventistas ser um verdadeiro auxílio para êste grupo.
Os Morávios
Quando Martinho Lutero, fundador do luteranismo afixou suas noventa e cinco teses em Wittenberg, em 1517, os Irmãos Boêmios já estavam organizados havia sessenta anos e somavam cêrca de 200.000 membros em quatrocentas igrejas. As raízes morávias retrocedem até João Huss, da Boêmia. A guerra dos Trinta Anos e a contra-reforma absorveram-lhes os membros para as igrejas luterana, reformada e católica. Sob a chefia do conde Zinzendorf a igreja morávia assumiu feição decididamente devota em sua colônia Herrnhut, onde também se formou o espírito das missões de além-mar. Betlehem e Pensilvânia tornaram-se a base moraviana no Novo Mundo. Em novo solo perdeu ela a concepção luterana da igreja como um movimento dentro do Estado.
Os morávios nunca formularam um credo distintivo; uma fé centralizada em Cristo tem para êles muito mais importância do que um credo. Sôbre a importância da doutrina, admitem que “em parte conhecemos” (I Cor. 13:9); declaração que é muito significativa quando nova luz lhes é levada. Êles são fundamentalistas. Suas opiniões quanto à reconciliação, justificação, santificação e glorificação são idênticas às do luteranismo. Existe, porém, ênfase muito mais forte quanto a segunda vinda de Cristo. Seu culto é menos ritualista do que o dos luteranos. Quanto à ceia do Senhor existe a tendência para a interpretação dos emblemas segundo a Igreja Reformada. A comunhão, como no luteranismo, em geral inclui a cerimônia preparatória. O batismo é feito quer por derramamento quer por aspersão da água. Os morávios insistem mais na reforma do indivíduo do que em movimentos de reforma. Existe cooperação interdenominacional, e isto sugere interêsse na com-preensão das demais corporações religiosas. Existe muito terreno comum com o adventismo.
Os Luteranos
A igreja luterana na América foi influenciada pelo espírito dos morávios, que lhe inspirou maior devoção. Foram os luteranos mais relutantes do que os morávios para abandonar suas tradições de igreja oficial trazidas da Europa para o Novo Mundo. Durante muitas décadas pugnaram os luteranos por que o culto da igreja fôsse efetuado em sua língua materna, especialmente as várias línguas teutônicas.
Os luteranos têm culto ritualista. Poderiam êles ser comparados à igreja anglicana, com seu ritualismo “baixo” e “alto.” Convém notar que os luteranos crêem na instrução paroquial, e em geral não é difícil matricular os seus filhos em nossas escolas.
O batismo (aspersão de crianças), a ceia do Senhor e a confirmação são os três pilares, o gênio da comunhão luterana. O rito da confirmação — a aceitação pessoal do voto que os pais fizeram quando a criança foi aspergida — é fator forte para o apêgo dos luteranos à sua igreja. Uma instrução é, via de regra, ministrada pelo menos dois anos antes da confirmação, atuando o próprio pastor como instrutor e conselheiro pessoal. O catecismo luterano é ensinado meticulosamente a cada aluno que conte de doze a catorze anos de idade. Aprende êle, então, as origens históricas e a doutrina de sua igreja, e faz confissão pública de cristianismo bíblico por ocasião da confirmação. Tôda a experiência é gravada profundamente no jovem comungante, e é indiscutivelmente evangelista. Ela o estabiliza em tôda a sua vida. Êle não é fàcilmente persuadido contra as doutrinas de sua igreja.
Os luteranos são também fortes Trinitários. Os emblemas da ceia do Senhor sugerem um catolicismo modificado. Muita ênfase é posta na “presença” do Cristo, cujo corpo foi quebrado e cujo sangue foi derramado. A cerimônia da comunhão é mais do que um memorial; existe o elemento de mistério, talvez uma herança do catolicismo. Neste sentido a instrução tem que preceder a per-suasão. De fonte autorizada declara-se que o luteranismo não tem progredido doutrinàriamente desde os dias de seu fundador, Martinho Lutero. Em verdade, a maturidade da igreja produziu a maturação de sua posição dogmática original, mas os luteranos têm menos contato do que os morávios com outras denominações. Entretanto, muitos jovens luteranos estão quebrando barreiras antigas por meio de seus grupos de debates. Neste ponto po-dem os jovens adventistas ajudar com relações amigáveis com essa juventude luterana, que está demonstrando muito interêsse em nosso forte movimento pró-temperança. Também, nossas Dorcas serão bem-vindas em ocasiões de emergência e desastre, pois os luteranos têm fama excelente de ajudar a aliviar o sofrimento humano.