UMA alma é de mais valor para o Céu do que um mundo inteiro de propriedades, casas, terras, dinheiro. Pela conversão de uma alma devemos taxar ao máximo os nossos recursos.” — Test. Seletos, Vol. 2, pág. 375. Pode-se fazer mais alguma coisa para reter os que se uniram a nossa igreja? Que podemos fazer para impedir o alarmante afastamento de Cristo e Sua verdade?

Devemos lembrar-nos de que a apostasia não é coisa nova. Houve apostasias na igreja de Israel, nos dias de Cristo e na igreja primitiva. Sempre tem havido Demas, Judas e joio. Não devemos permitir, portanto, que a presente situação nos desanime na obra em favor das almas.

O número de apostasias quase sempre se manifesta em proporção às adesões. Isto dá a impressão de serem os novos conversos que se afastam. Todavia, não são apenas os membros novos que se retiram, mas “a maioria dos apóstatas abandonam a igreja depois de terem sido membros durante dez anos.” — The Ministry, agôsto de 1961, pág. 17.

Seria muito melhor, e com certeza ter-se-ia um quadro bem mais claro, se as apostasias fôssem comparadas com a proporção de membros. Quando consideramos nossas normas elevadas, as dificuldades para obter o sábado livre, a natureza impopular de nossa mensagem e a oposição e perseguição que muitos de nossos membros têm de enfrentar, é surpreendente que nossas apostasias não sejam muito maiores. O diabo ainda odeia os que “guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus.” Não fôra a graça de Deus e Seu poder conservador, nossas apostasias por certo seriam bem mais numerosas.

O número de apostasias entre nós é, porém, muito menor do que em muitas outras igrejas. Disse um famoso escritor e pregador: “Se as saídas da igreja continuarem na proporção atual, logo haverá mais ex-cristãos do que cristãos.”

Os adventistas do sétimo dia mantêm apenas Setembro-Outubro, 1967 uma lista de membros ativos. Bem poucas igrejas fazem o mesmo. Por exemplo, uma senhora mórmon aceitou a verdade e escreveu uma carta para a Igreja Mórmon, dizendo que desejava ser excluída por se haver tornado adventista do sétimo dia. Êles recusaram aceitar o seu pedido de exclusão, afirmando que quem se torna mórmon, torna-se mórmon para sempre.

Conquanto as apostasias nos devam causar preocupação, existe amplo motivo para regozijar-nos por não serem muito maiores. O diabo certamente gostaria de ver uma porcentagem bem mais elevada.

Por que há Pessoas que Saem da Igreja Adventista e se Tornam Apóstatas

A culpa não está com a mensagem. Ela é eternamente infalível. Baseia-se na segura palavra da profecia. Surgiu no tempo certo e está realizando hoje em dia exatamente a obra que foi predita.

“Êles saíram de nosso meio, entretanto não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco.” I S. João 2:19. Devemos esperar perdas. Ingressam na igreja alguns que nunca deviam achar-se ali. Cada evangelista precisa lembrar-se de que nem todos os conversos são conduzidos à verdade pelo Espírito de Deus; o diabo leva alguns para a igreja. O joio é semeado entre o trigo, e “o inimigo que o semeou é o diabo” (S. Mat. 13: 39). Referindo-Se à rêde do evangelho, Cristo disse que ela “recolhe peixes de tôda espécie” (verso 47), dos quais alguns são bons e outros ruins. O próprio Cristo teve um Judas.

Perseguições. “Em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza.” S. Mat. 13:21. Em S. Mateus 13 Cristo cita muitas razões de apostasia.

Supor que os Jovens não Precisam de Instrução e Conversão

Heresias e confusão doutrinária. “Pois, certos indivíduos se introduziram com dissimula-

ção.” S. Judas 4. Assim como o ladrão penetra na casa, em tôda geração aparecem enganadores para despojar-nos de nossa fé na Palavra de Deus e em Sua verdade. Por isso, deveis batalhar “diligentemente pela fé” (S. Judas 3). Contudo, quando o servo de Deus ergue a voz contra o salteador, deve sempre estar preparado para enfrentar censuras por perturbar a paz.

Com freqüência os jovens são batizados com pouca instrução, e às vêzes sem instrução alguma. Supõe-se amiúde que os jovens já estão preparados por si. São considerados “acréscimos naturais.” Até quando adotaremos semelhante atitude contrária às Escrituras? Não existe tal coisa como “acréscimo natural.” Ninguém ingressa naturalmente na igreja de Deus. As pessoas precisam renascer de modo sobrenatural, pois do contrário nunca deviam ser batizadas. È um crime sepultar uma pessoa viva, e é igualmente incorreto que os ministros batizem indivíduos que não morreram para o pecado.

Nascer num lar adventista do sétimo dia não torna alguém adventista do sétimo dia, assim como nascer num hospital não o torna médico ou enfermeiro. Admite-se demasiadas coisas com referência a nossos jovens. Êles precisam de instrução e conversão como qualquer outra pessoa. Ter bons pais não é suficiente. Não é a graça que circula no sangue, mas sim o pecado.

Abraão, “o pai dos fiéis,” teve vários filhos (Gên. 25:1-6), mas apenas um dêles se tornou filho de Deus. A Palavra do Senhor está repleta de exemplos análogos de bons pais com filhos obstinados. Muitas apostasias resultam de serem os jovens batizados com pouca ou nenhuma instrução.

Convém Culpar o Evangelista?

As dissensões na igreja ofendem grande número de pessoas. Muitas apostasias originam-se ai. É fácil atribuir a “outro companheiro” a culpa pelas apostasias. A responsabilidade começa com o evangelista, mas com certeza não termina aí. O pastor do rebanho, o administrador e o membro de igreja participam todos da responsabilidade.

Convém culpar o evangelista? Sabemos que êle não é perfeito. Têm-se lançado severas críticas contra nossos evangelistas devido a perdas entre os conversos. Sem dúvida cabe-lhes a responsabilidade de procurar obter sólidas conversões para Cristo e tomar providências para instruir cabalmente os conversos.

Seria bom que o evangelista trabalhasse em estreita cooperação com o pastor e os oficiais de igreja. Pessoalmente, sempre tenho convidado os anciãos de igreja a assistir às nossas classes batismais, a fim de travarem conhecimento com os novos membros e também para se convencerem de que os conversos foram devidamente instruídos.

É interessante notar que mesmo a Apoio, “homem eloqüente e poderoso nas Escrituras’ (Atos 18:24), os irmãos expuseram com mais exatidão o “caminho de Deus” (verso 25), antes de escreverem “aos discípulos para o receberem” (verso 27). Convém seguirmos o exemplo da igreja primitiva, procurando fazer com que sejam abrangidos todos os aspectos da ver-dade. Nos séculos posteriores prevaleceu a frouxidão, e a porta da igreja se abriu aos que recebiam pouca ou nenhuma instrução. Milhões entraram por ela, e a igreja que principiou como a luz do mundo lançou o mundo na Idade Escura. Tal foi o trágico resultado de acolher multidões de pessoas que não tinham sido instruídas e não se haviam convertido. Temos de acautelar-nos contra isso na Igreja Adventista hoje em dia.

O evangelista também precisa sentir o dever de familiarizar os conversos com nossas publicações, tais como a Revista Adventista, O Atalaia etc., e incentivá-los a comprar nossos livros, especialmente os do Espírito de Profecia. Deve igualmente introduzi-los na Escola Sabatina e em seus privilégios de estudo da Bíblia.

Depois de Dez Anos

Recente pesquisa sôbre a questão do divórcio e os anos de mais perigo na vida matrimonial, efetuada por um jornal de Nova Gales, afirmou o seguinte: “Ao contrário da opinião popular, o primeiro ano da vida conjugal não é o pior. Apenas 10 por cento dos malogros propalados no tribunal ocorreram durante êsse período. Verificou-se que a época mais perigosa era a do sexto ao nono ano da vida matrimonial.”

Isto também é verdade com referência aos que se uniram com Cristo. “A maioria dos apóstatas abandonam a igreja depois de terem sido membros durante dez anos.” — Ibidem. Por conseguinte, a questão da apostasia é em grande parte um problema pastoral. Também é digno de nota que os apóstatas ou relapsos quase todos falam bem do evangelista que os conduziu à verdade, mas muitos acham que a igreja os desapontou. Não indica isso onde se encontra a principal debilidade?

O Pastor não é Infalível

“Isto é um problema pastoral” — Idem, novembro de 1952, pág. 11. De quem é a culpa? Do pastor? É-lhe confiada a tarefa de acrescentar e reter conversos. Mas o pastor não reivindica infalibilidade. Êle não é um superhomem. Não pode dirigir tudo. É impossível que seja bem sucedido em tudo aquilo que muitas vêzes lhe é exigido. A um pastor foi dada a seguinte instrução: “Faze a obra dum evangelista.” Cada igreja adventista do sétimo dia deve ser um centro evangelístico. Para realizar esta obra, o pastor tem de deixar muitas outras coisas aos cuidados de outras pessoas.

“Apascenta as Minhas ovelhas” foi a ordem dada por Cristo. A deficiência neste sentido é uma das maiores causas de apostasia. As ovelhas famintas se extraviam. As ovelhas que encontram boa pastagem não vaguearão por áridas colinas e vales secos. Quando a pessoa não encontra a satisfação espiritual que esperava encontrar na igreja, dirigir-se-á para outra parte ou voltará para o mundo, pelo menos para desfrutar por algum tempo os prazeres do pecado.

Culpar a outro obreiro não resolverá a situação. Resoluções transitórias não causarão proveito. O lavrador que não cuida de sua plantação colherá apenas ervas daninhas. Os bebês recém-nascidos na igreja não se desenvolverão “apenas por serem genuínos.” Não abandonamos uma criancinha a sua própria sorte com a desculpa de que “ela subsistirá se fôr digna.” Para sobreviver, os bebês precisam ser tratados com muito cuidado e alimentados corretamente, por longo espaço de tempo. Apascentai o rebanho de Deus sôbre o qual o Espírito Santo vos colocou como dirigentes. São pregados muitos sermões deficientes nas igrejas adventistas. Tenho muitas vêzes ouvido os membros dizerem isto. Bons sermões adventistas produzem bons adventistas. O que os tornou adventistas do sétimo dia também os conservará nesta igreja. Quando os que se converteram há pouco conseguem responder às objeções que lhes são lançadas por algum cavilador, é fortalecida sua confiança na verdade. A confiança substitui o receio e a incerteza.

Evidentemente, cabe ao ministro a maior culpa pelas apostasias. Deve êle ser um ministro da Palavra. Precisa alimentar o rebanho. A negligência de pregar em nossos cultos de igreja os grandiosos ensinamentos da Bíblia constitui a principal causa de apostasia entre os filhos de Deus, que foram adquiridos por sangue. Necessita-se de sermões — não de palestras ruidosas, simples exortações ou psicologia. Nossos irmãos querem saber o que Deus deseja que êles saibam e façam. É isto que êles precisam, e o que devemos dar-lhes. Nosso povo tem o direito de esperar receber auxílio e nutrição quando assiste ao culto de sábado.

“Se alguém fala, fale de acôrdo com os oráculos de Deus” (I S. Ped. 4:11), anunciando “o testemunho de Deus” (I Cor. 2:1). A negligência de pregar as grandes doutrinas e verdades da Bíblia é uma das principais causas de apostasia. Precisamos desenvolver novamente a forma de estudos bíblicos em que nossos membros usem suas Bíblias. Com demasiada freqüência êles são bombardeados com propaganda e promoção. Por que não planejar detrás dos bastidores o que se relaciona com os vários departamentos, e deixar o culto para a pregação da Palavra? Isto por certo é o “caminho mais excelente,” pois muitos discursos enérgicos não causam ardor naqueles que se acham espiritualmente famintos e débeis. As ovelhas famintas se extraviarão.

Devemos afastar-nos também da espécie de sermões usados em algumas igrejas. Nosso povo precisa ser alimentado com o pão da vida e não com o folhelho inútil de interpretações fantasiosas. Importa que verifiquemos exatamente o que Deus ensina numa passagem das Escrituras, e que ensinemos isto então sem procurar mostrar o que podemos extrair dessa passagem, envaidecendo assim o nosso eu mas não trazendo proveito para os ouvintes.

Nada será mais eficaz para fechar a porta da apostasia do que a salutar pregação bíblica.

Em virtude de as pessoas comumente amarem o evangelista ou aquêle que as conduziu a Cristo e Sua verdade, o pastor que com freqüência se refere ao evangelista granjeará a estima da congregação. Amiudadas visitas após o batismo também serão proveitosas, e não darão aos novos conversos a impressão de terem sido desapontados.

A falta de interêsse pessoal pelas novas pessoas como irmãos e irmãs na igreja também é um fator que contribui para a apostasia. “Todos ansiamos por um cordial apêrto de mão.” Temos a obrigação de ser guardadores de nosso irmão. Não podemos eximir-nos a essa responsabilidade sem pôr em perigo nosso próprio destino. Devem os novos membros receber a mesma acolhida afetuosa que teve o filho pródigo. Convém que recebam o mesmo cuidado que o corpo humano dispensa a seus diversos membros. “Tenham os membros igual cuidado uns dos outros.” I Cor. 12:25.

Leonardo Fletcher menciona ter ouvido Gipsy Smith dizer a um grupo de ministros em Londres: “Desejo abrir o coração para vós. Muitos conversos saem gelados da igreja. Quando as pessoas me dizem: ‘Venha pregar em nossa igreja; possuímos um belo órgão, um maravilhoso côro e a nata da sociedade,’ sei que isto não passa de nata gelada. A igreja que se considera em boas condições é perigosa para pessoas novas.

Nossas igrejas não estão plenamente livres dêsse mesmo perigo de frieza — em especial as igrejas maiores. Disse um não-adventista a um de nossos presidentes de Associação: “Vós adventistas sois um povo estranho. Agitareis o Céu e a Terra para fazer um converso. Amá-lo-eis, orareis por êle, dareis estudos em seu lar, levá-lo-eis às reuniões e fareis tudo para introduzi-lo na igreja; depois então, vós o tratais como ao diabo.” Conquanto isto não seja exato, talvez contenha um pouco de verdade.

Muitos abandonaram nossa igreja devido à maneira em que foram tratados pelos oficiais e membros de igreja. Evidencia-se pois que a todos nós cabe uma parte da culpa pelas apostasias, e cada evangelista, pastor, administrador, oficial de igreja e membro leigo deve participar da obra de reter os membros no redil de Cristo. Esta tarefa é demasiada para o pastor. Declarou Henry Ford: “Nada é essencialmente penoso se fôr dividido em pequenas parcelas.” Procuremos, portanto, salvar pelo menos algumas pessoas ao nosso redor, reduzindo assim o perigo das apostasias.“Não há limites à utilidade de uma pessoa que, pondo de parte o próprio eu, oferece margem à operação do Espírito Santo na alma, e vive uma vida de inteira consagração a Deus.” — O Desejado de Tôdas as Nações, págs. 180 e 181.