NATANAEL era amanuense no tribunal que ficava próximo de um de nossos postos missionários. Ao aceitar a verdade do sábado êle deparou com alguns problemas bastante difíceis. Foi-lhe feita a proposta de trabalhar a metade do dia de sábado ou perder o emprêgo. Em face da oposição e perseguição, Natanael apresentou seu pedido de demissão para não continuar a transgredir os mandamentos de Deus. Êle permaneceu firme diante de severa prova. O Senhor o abençoou, e o juiz logo o chamou de volta para assumir uma posição de maior responsabilidade ainda, que não exigia sua presença no sábado.

Quisera que a história de Natanael terminasse neste elevado ponto de lealdade, mas infelizmente não foi assim. Mais tarde êste homem que revelou uma atitude tão heróica para com a verdade do sábado abandonou a mensagem — como vítima de um ataque mais sutil por parte do inimigo. Nas horas vagas êle começou a comprar e vender propriedades e cereais. Esta nova atividade marginal não só fêz com que êle perdesse mais tarde seu emprêgo no tribunal mas levou-o a apossar-se com crescente avidez das riquezas dêste mundo. Seu amor à verdade foi sufocado.

Há quase dois milênios no passado o apóstolo Paulo já estava bem inteirado dos perigos da lealdade dividida. Êle esclareceu seu curso de ação na Epístola aos Filipenses. “Uma coisa faço,” declarou êste homem de Deus. “Esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” Filip. 3:13 e 14.

No ministério de Paulo não havia lugar para side lines, nem tempo para atividades que o desviassem de sua obra principal — proclamar o evangelho de Cristo a um mundo necessitado. A ordem divina pesava fortemente sôbre êle; era a paixão todo-absorvente de sua vida. Não havia dúvida em sua mente quanto ao estar êle servindo a Deus ou aos homens (Gál. 1:10).

A Concepção Inspirada de Paulo Sôbre o Ministério

Paulo considerava-se um dos consagrados mensageiros de Deus. Êle foi “designado e comissionado . . . não da parte dos homens mas por Jesus Cristo e Deus o Pai” (Gál. 1:1— Versão inglêsa de Phillips). O apóstolo declarou que os ministros foram “chamados para ser homens de Cristo” (Rom. 1:7 — idem). Êles devem ser “cooperadores” com Deus (II Cor. 6:1). Paulo sabia muito bem que o ministério não é uma profissão — é uma vocação, um chamado divino, a mais elevada vocação a que o homem possa aspirar. Existe grande diferença entre profissão e vocação.

O Pastor Haddon, o primeiro ministro cristão entre o povo Maori na Nova Zelândia, conhecia a diferença entre profissão e vocação. Depois que êle passara vinte anos no ministério, alguns políticos locais julgaram-no um candidato ideal para a Câmara Baixa do parlamento. Apresentaram sua proposta. O telegrama urgente enviado de volta foi o seguinte: “Agradeço a lisonjeira proposta para ser membro da Câmara Baixa. Lamento não poder aceitar pois já sou membro da Câmara Alta.” O ministro do evangelho é realmente membro da Câmara Alta. Esta elevada vocação não admite divisão de tempo para atividades inferiores. Hoje co-mo nos dias de Paulo deve ser ‘‘Uma coisa faço.”

O Ministério Evangélico — Uma Vocação de Tempo Integral

Quando alguém aceita um chamado para o ministério êle está aceitando uma responsabilidade de tempo integral. Explicando os diversos deveres que pesavam sôbre o jovem pastor Timóteo, o idoso e notável apóstolo Paulo aconselhou seu filho no evangelho a ocupar-se nêles. (I Tim. 4:15). O Dr. Phillips torna as palavras de Paulo ainda mais insistentes: “Dedica tôda a tua atenção e tôdas as tuas energias a estas coisas.”

A mensageira do Senhor realça o fato de que o ministério adventista não admite interêsses estranhos: “Não devem os ministros abrigar interêsses ao lado da grande obra de levar almas ao Salvador.” — Atos dos Apóstolos, pág. 365. Para os embaixadores de Deus não existe o sistema de oito horas por dia ou quarenta horas por semana.

Conheci um jovem que iniciava a carreira ministerial. Isto ocorreu durante a depressão financeira, em que as oportunidades eram poucas, os salários baixos e as despesas elevadas. Êste jovem pastor e professor lutava para manter-se com 65 dólares mensais, 35 dos quais eram ganhos por sua esposa que ajudava a lecionar na escola adventista local. Era preciso mobiliar a casa, adquirir um carro, comprar roupas etc., após considerável esfôrço financeiro para pagar os estudos no colégio.

Êsse obreiro transmitia um programa diário na estação de rádio local, além de seus deveres comuns. Os dirigentes da emissora ambicionavam os serviços do jovem pregador e um dia fizeram-lhe uma proposta. “Por que não fazer parte de nosso grupo de funcionários?” insistiram êles.

O obreiro lembrou-se do acúmulo de despesas, dos sapatos com a sola gasta, das calças remendadas.

— Os senhores me ouviram falar nos programas radiofônicos — objetou êle — e sabem que eu não trabalho aos sábados.

— Sim, sabemos tudo isso — declararam êles. — E sabemos também que não deseja abandonar a obra pastoral. Mas venha trabalhar conosco parte do tempo, e poderá prosseguir ainda muito bem em seu outro trabalho.

Foi então sugerida uma cifra atraente para firmar o acordo. O jovem pregador hesitou apenas por uns instantes. Sabia que Deus não permitiría que êle dividisse seu tempo como obreiro do evangelho. Sua resolução foi “Uma coisa faço,” e o Senhor o tem abençoado através dos anos.

A Hora Está Avançada

Segundo o que li certa vez na Review and Herald, um de nossos obreiros veteranos, depois de longo e fecundo ministério, estava preenchendo um formulário de pedido de aposentadoria. Naquele tempo era preciso responder à seguinte pergunta: “Nunca trabalhou nalguma outra coisa?” O idoso homem de Deus escreveu no espaço em branco: “Empenhei-me sòmente na obra do Senhor!” Que belo testemunho: “Empenhei-me sòmente na obra do Senhor!”

Agora que nos encontramos no limiar do mundo eterno, não deveria ser êste o sincero testemunho de cada ministro do Movimento Adventista? A profecia está-se cumprindo ràpidamente ao nosso redor. Por assim dizer, temos apenas alguns momentos para concluir a importante tarefa que o Senhor nos confiou. Ela requer tôda a nossa atenção. “As energias do ministro são tôdas necessárias para o seu alto chamado.” — Atos dos Apóstolos, pág. 366.

Escreveu Paulo certa vez: “Sôbre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!’’ I Cor. 9:16. Se o apóstolo sentia essa compulsão em seu tempo, com que urgência deveria o mensageiro do Advento encarar sua responsabilidade dois milênios mais tarde? Ouvi W. R. Beach dizer uma ocasião: “O ministério cristão é uma possessão, não uma profissão.” Quando a premência da hora atual se apoderar plenamente de nós não haverá tempo para atividades marginais. Declararemos enfàticamente com o apóstolo Paulo: “Uma coisa faço!”

As Atividades Marginais Fazem os Homens Negligenciar a Obra do Senhor

Muitos anos atrás, quando jovem administrador, eu cometi um êrro — um dentre os muitos através dos anos, sem dúvida. Fui persuadido a permitir que um jovem obreiro trouxesse um avião para o campo missionário. Havia amplas garantias, pensei, e, no mais, obreiros satisfeitos são obreiros mais eficientes. O irmão Fulano de Tal com certeza estava contente com seu avião — com efeito, tão contente que passava mais tempo no ar do que seria conveniente para seu programa de trabalho. Acabou pedindo demissão para poder gastar todo o seu tempo com o avião.

O obreiro que está preocupado com interesses alheios à obra — quer seja voar de avião, vender carros, lidar com imóveis ou empenhar- se em quaisquer outras atividades marginais — tende a negligenciar a obra do Senhor. Na verdade, não lhe é possível dar estudos bíblicos, fazer visitas missionárias, preparar sermões, administrar sua igreja, instituição ou associação e ter tempo de sobra para ganhar alguns cruzeiros adicionais. Alguma coisa terá de ser negligenciada; alguma coisa terá de sofrer detrimento.

O profeta Jeremias diz alguma coisa sôbre todo aquêle que negligencia a obra de Deus. “Maldito aquêle que fizer a obra do Senhor relaxadamente.” Jer. 48:10. Estas não são palavras minhas. São palavras de Deus. Deveriam fazer com que cada ministro que é tentado a dividir seus interesses refletisse cuidadosamente antes de transigir com tais engodos. Na obra de Deus o sistema deve ser: “Uma coisa faço!”

As Atividades Marginais Privam a Igreja de Deus do Talento Necessário

A igreja de Deus precisa urgentemente de homens capazes. Homens de múltiplos talentos são solicitados ao redor do mundo todo. O talento de administrar igrejas ou instituições é procurado constantemente em muitos campos nacionais e estrangeiros. Não obstante, alguns homens com êsses ambicionados talentos abandonam a causa de Deus e procuram ocupações mais rendosas. É verdade que alguns dêles permanecem na igreja e apóiam financeiramente a causa de Deus. Mas muitas vêzes não é “o que é vosso, mas sim a vós” (II Cor. 12:14) que Deus necessita.

Todos nós nos lembramos de homens talentosos que outrora foram obreiros competentes nas fileiras do exército de Deus, mas que se enredaram em interêsses estranhos à obra e mais tarde resolveram dedicar seus talentos inteiramente a atividades não pertencentes à denominação. A avidez por prosperidade material consumiu-lhes o fervor pela obra. As atividades marginais privaram a igreja de Deus de talentos sumamente necessários. Foi arriscado desprezar as inspiradas palavras: “Uma coisa faço.”

Olhares Voltados Para Sião!

“Os teus olhos olhem direito e as tuas pálpebras, diretamente diante de ti. Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam retos. Não declines nem para a direita nem para a esquerda.” Prov. 4:25.

Eis aí as ordens de marcha para os mensageiros do Advento. Mantende o olhar voltado para a frente! Nunca declineis nem para a direita nem para a esquerda! Não deve haver olhares de esguelha ou desvios para ganhos materiais. Temos uma tarefa a realizar, uma só tarefa, uma tarefa muitíssimo urgente. É uma tarefa todo-absorvente! É a mensagem do Advento a todo o mundo nesta geração.

Jesus deixou um exemplo para os Seus ministros em todo o tempo. Séculos antes do nascimento do Salvador na manjedoura de Belém, o profeta do evangelho predisse Sua inteireza de propósito: “Fiz o Meu rosto como um seixo” (Isa. 50:7). Jesus cumpriu estas palavras levando uma vida de irrestrito serviço para Deus: “A Minha comida consiste em fazer a vontade dAquele que Me enviou, e realizar a Sua obra.” S. João 4:34. Esta era a maneira de Cristo dizer: “Uma coisa faço.”

Graças a Deus pelos muitos milhares de ministros orientados por Cristo que compõem as fileiras do ministério adventista ao redor do mundo! Sòmente tais homens de um só propósito podem terminar a obra nesta geração. Acaso não seria uma bendita resolução que todos nós disséssemos em côro ao enfrentar o repto que está diante de nós: “Uma coisa faço,” e nos dirigíssemos resolutamente em demanda a Sião?

CONVÉM LEMBRAR

Que a língua não é de aço, mas corta.

Que o sono é o melhor estimulante — um calmante seguro para todos.

Que é melhor ser capaz de dizer Não do que conhecer latim.

Que existem homens cujos amigos são mais dignos de lástima do que seus inimigos.

Que o semblante alegre vale quase tanto para os inválidos como o bom tempo.

Que não é suficiente lembrar-se dos pobres, mas que convém dar-lhes algo que os faça lembrar de nós.

Que os homens muitas vêzes pregam dos telhados quando o diabo entra sorrateiramente pela janela do porão.

Que verdadeiros heróis e heroínas na vida são os que conduzem corajosamente seus próprios fardos e ainda auxiliam os que os rodeiam.

Que as palavras impetuosas tendem a aumentar a ferida causada pela injustiça, mas as expressões suaves aliviam a dor e o esquecimento remove a chaga.

— Seleto.