AS pedras eram seguradas firmemente pelos escribas e fariseus, mortos em pecado. Algumas mãos estavam vazias, mas olhos presos a cérebros inclinados a ação assassina olhavam para pedras espalhadas aqui e ali, no meio do pó. Êstes “duplamente mortos” (S. Judas 12) filhos de Satanás, como ondas bravias do mar, vociferavam ao redor de Cristo e da pessoa condenada. Esta era a situação quando a mulher apanhada em adultério foi arrastada à presença de Jesus. O momento era tenso. Estava envolvido um ato de adultério. A humanidade perdida toma-se curiosa e excitada quando o ponto focal é o sexo. Hollywood cairia na falência sem dar ênfase a aspectos sensuais.

Uma Cobaia Humana

A conspiração abrangia um grupo de pregadores e líderes religiosos. A completa indignidade dêste episódio concretiza-se quando percebemos que havia ali um plano premeditado e pôsto em prática com a dupla finalidade de apedrejar tanto a Jesus como a mulher. Talvez os acusadores esperassem secretamente que a explosão repentina da violência do povo resultasse na morte de ambos. Êste pensamento nos abala por dois motivos. Primeiro, por que matar o Criador e Mantenedor da vida? Segundo, ficamos horrorizados com o fato de que a mulher era um simples joguête, uma cobaia humana, usada como ingrediente numa experiência explosiva para destruir o Senhor. A imaginação duma pessoa com um pouco de sensibilidade na consciência quase que explode ao testemunhar não sòmente o alvo final mas a fórmula usada para alcançá-lo. Esta história demonstra a “desumanidade do homem para com o homem!

Formigas e Círculos Sujos

Não havia o menor interêsse pela alma ou os sentimentos da mulher. Um daqueles dirigentes com pedras na mão seduzira a mulher. A exploração de sua vítima não tinha maior im-portância do que pisar numa formiga. As perversas ações dêles pareciam círculos sujos ao redor duma bacia. Que contraste entre êsses homens e o Salvador! A primeira diferença visível consistia em que Cristo estava plenamente despreocupado consigo mesmo ou com a turba revoltosa. Isto era singular. A maioria dos homens, inclusive os ministros, ao serem colocados em situação análoga, imediatamente pensam e agem em harmonia com leis de preservação própria. Seria uma batalha pela sobrevivência. Mas, para espanto de todos, Cristo pensa numa coisa apenas — na tremente adúltera inclinada diante dÊle.

Senhas Secretas

A segunda diferença visível é a maneira surpreendente como Êle derrotou Seus sanguinários oponentes. Nenhum dedo acusador. Nenhuma palavra flamejante de justiça. Nenhum apêlo por misericórdia. Nenhuma defesa para a mulher ou para Si mesmo! Apenas o silencioso rabiscar de palavras vividas, no pó. Senhas secretas que abriram recessos ocultos de sórdidas almas. Os olhos da turba leram cada palavra, cada frase. Os semblantes mudaram do ódio exultante para o terror quando seus vis caracteres eram expostos no varal da inspeção pública. Então Jesus Se pôs em pé. Deu permissão para efetuarem a execução, mas sob uma condição! “Aquêle que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire pedra.” S. João 8:7. Inclinando-Se pela segunda vez, Êle continuou a lançar o holofote da verdade sôbre Seus inimigos.

Desvanece-se o Falso Perfeccionismo

Dentro de poucos instantes aquêle canto especial do pátio do templo ficou vazio. Cada perfeccionista na multidão sentiu que era imperfeito e lembrou-se repentinamente de algum compromisso prévio. O forte protesto de Cristo contra o pecado manifestado em traçá-los na terra surtiu efeito não só sôbre os acusadores mas também sôbre a pessoa acusada. Além disso, ela julgou ouvir sua própria sentença de morte quando o Senhor disse: “… seja o primeiro que lhe atire pedra.” Quando ela ousou olhar em volta, seus acusadores já tinham ido embora! Ficou sòzinha na presença dAquele que não conheceu pecado! Achava-se agora sob o poder convincente da justiça de Cristo. A princípio era esta uma experiência apavorante. A pecaminosidade em presença da inocência. A imperfeição diante da perfeição. A impureza perante a mais absoluta pureza. Pecado é pecado, mas é ainda mais horrendo e terrível na presença dAquele que era completamente estranho ao pecado. Qualquer pessoa sob a menor convicção do Espírito Santo conhece os sentimentos de horror suscitados quando seu caráter é comparado com o caráter de nosso Senhor.

Milagre dos Milagres

Com a respiração contida ela aguarda a sentença punitória dessa Pessoa divina. Para seu assombro, porém, Cristo não a desculpou ou acusou! Êle a ressuscitou! Adveio-lhe esperança e auxílio quando o Senhor do poder proferiu as vivificantes palavras de perdão e recriação. “Nem Eu tão pouco te condeno; vai, e não peques mais.” Esta ordem foi o início de vida eterna para uma mulher que pouco tempo antes era incluída entre a escória da humanidade. Uma mulher que estava morta em pecado sentiu agora o poder ressuscitador de Jesus erguê-la para uma nova vida de beleza e obediência. Êste milagre de conversão eleva-se como o monte Everest acima de qualquer milagre de cura realizado por Cristo. Prefeririamos muito mais contemplar a restauração duma vida malograda e decadente a ver a cura física de uma perna paralisada.

“Restaura-me a Alma”

Com grata emoção ela lançou-se diante do Senhor” com o coração vibrando de amor e arrependimento. O Senhor partilhou com ela Sua futura experiência de ressurreição. Assim como a pedra seria arrojada de Sua tumba por poderosos anjos, o Senhor fêz com que aquelas pedras caíssem das mãos dos instrumentos de Satanás que clamavam por sua vida. Assim como o Senhor seria libertado da rochosa cela da morte, Êle livrou essa mulher de seus acusadores e de sua consciência culpada — uma prisão tão forte como um sepulcro. Ela estava livre, livre da condenação de Deus, livre da condenação própria, livre de sua enfermidade espiritual. Com o salmista ela podia declarar triunfantemente: “[Êle] restaura-me a alma!”

Matar ou Salvar?

Os ministros têm o privilégio de partilhar esta dinâmica notícia com o mundo. Natural-mente, partilhá-la com os outros significa que nós precisamos experimentá-la primeiro. Os dirigentes religiosos durante o tempo da permanência de Cristo na Terra rejeitaram êste maravilhoso poder. A rejeição conduziu ao terrível resultado de procurar condenar, matar, destruir e arruinar aquêles que deviam ter sido conduzidos a uma experiência de ressurreição. Êles deviam ter sido capazes de guiar pecadores da escravidão do pecado à liberdade da justiça em Cristo Jesus. Que lástima porém! Seu amor à exaltação, ao egoísmo e à comodidade levou-os a atos de destruição.

Registos nas Côrtes Celestiais

Hoje em dia o mundo não sente falta de sêres humanos que são justos aos seus próprios olhos, auto-suficientes, críticos. O testemunho contra as pessoas excede em muito o testemunho em favor das pessoas! Os livros de registo no Céu estão repletos de palavras, pensamentos e ações contra pessoas, enquanto ainda há grande quantidade de páginas em branco nos registos, para apontamentos positivos.

Surge a pergunta: Onde estão os que odeiam o pecado mas amam o pecador? Onde estão os que se acham dispostos a rejeitar uma vida de comodidade a fim de mostrar aos homens como ressuscitar de suas sepulturas de vício e maldade? Não necessitamos de débil escusa para o pecado ou de diminuição das normas. Precisamos, porém, de ministros e membros convertidos que saibam como estender braços amorosos ao redor de sêres preciosos que se encontram em êrro, e dirigi-los gentilmente a Cristo, a única esperança para os desesperados. Temos necessidade de homens que ajudem e amparem, ao invés de prejudicar e ferir. Creio firmemente que a maioria das almas que pensam um pouco sôbre sua própria condição espiritual sentem-se em extremo desamparadas e solitárias. Parece deveras inútil salientar quão fundo êles se encontram na cova do pecado a não ser que se possa dar maior ênfase à escada de ressurreição que lhes é acessível para erguer-se do lôdo da morte.

Colhêr Pessoas Não Pedras

Há uma torrente de material circulando pelo correio a respeito da perfeição. Poderíamos imaginar uma pedra nas mãos de alguém que conhece o poder da ressurreição de Cristo em sua própria vida? Pode alguém em cujo coração habita o Espírito de Jesus lançar uma pedra num ser humano? Se todos os verdadeiros cristãos pudessem ser reunidos numa gigantesca arena, e diante dêles fôssem colocados alguns pobres pecadores, ao mesmo tempo que ouvissem o desafio: “Os que não têm pecado atirem a primeira pedra,” não haveria um movimento sequer. Nenhum homem ou mulher convertido se inclinaria para pegar alguma pedra. O grupo todo permaneceria de coração contrito e mãos vazias. Se qualquer de nós tem pedras de condenação e hipocrisia nas mãos, deixe-as cair, e com uma mão apegue-se à mão de Cristo e com a outra agarre a mão da pessoa que espiritualmente se acha em necessidade.

Como ministros, auxiliemos nosso povo a parar de colhêr pedras e a começar a colhêr pessoas! Que os lábios cessem de bradar: “Você é um pecador!” e comecem a implorar: “Vai, e não peques mais!” Nunca devemos pregar um sermão contra o pecado sem oferecer ao pecador a esperança de que êle pode possuir uma vida restaurada. Nunca condeneis um só pecado sem dar instrução prática sôbre como
vencer o pecado. Nunca combatamos o mal sem que nós mesmos estejamos livres dêle e possamos apresentar aos outros o segrêdo da vitória. A melhor maneira de condenar o pecado é mostrar como Deus concede aos homens o poder de vencer o pecado. A maneira mais eficaz de fazer com que as pessoas odeiem o
pecado consiste em proclamar o imediato poder ressuscitador de nosso Senhor Jesus Cristo.
Quando sabemos isto por experiência própria, o mundo se maravilhará ao ver gravadas em nossa vida estas palavras de impressionante beleza: “E vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim.”
Deixai o Modernista Submergir-se

A certeza duma ressurreição literal dos mortos por ocasião da segunda vinda de Cristo é conhecida por aquêles que levam uma vida renovada aqui e agora! Os que duvidam da ressurreição futura são os que violam Seus mandamentos na vida diária. Aquêles que crêem são os que vivem em harmonia com Sua vontade. Os que negam o elemento sobrenatural do poder da ressurreição disponível aos corações hoje em dia, são pessoas derrotadas. Deixai que os descrentes se enfureçam e os cépticos vertam sarcasmos e dúvidas. Deixai o modernista submergir-se em sua própria presunção enquanto dilacera o próprio âmago da preciosa Palavra de Deus, negando o miraculoso poder da conversão. Os que rejeitam a experiência da ressurreição unem-se às fileiras dos que são impiedosos e destituídos de esperança.
Como coobreiros de Deus, precisamos ajudar aquêles que estão algemados por hábitos de condescendência, que se acham acorrentados ao pelourinho da dúvida e da incredulidade, que estão confinados ao sepulcro da derrota. “Saí! Soltai-vos! Desprendei-vos por ouvir e crer na Palavra do Deus vivo!” deve ser a nossa mensagem. Bradai aos ouvidos de Satanás as vivificantes palavras: Vivo “para Deus em Cristo Jesus” (Rom. 6:11).

Qual é a nossa mensagem, prezados pregadores? Derrota ou vitória? Vida ou morte?

Pecado ou justiça? Dúvida ou fé? Pedras ou ressurreições?