WINTON H. BEAVEN

Professor de Didática

OS dez anos passados testemunharam um grande e notável desenvolvimento — a redescoberta do pregador. Os seminários estão repletos, os teólogos são uma vez mais os grandes homens do mundo, e as igrejas andam regorgitantes. Com esta redescoberta da religião e do pregador como pastor, ocorreu a redescoberta do pregador como orador. Muita da pregação de hoje em dia é boa; a média é talvez mais elevada do que em qualquer tempo do passado. Existem muitos pregadores notáveis e uns poucos grandes.

Vários fatôres estão envolvidos neste ressurgimento. Por certo o desenvolvimento dos filmes, do rádio e, sobretudo, da televisão, desempenhou papel importante na elevação das normas do púlpito. Precisa o pregador competir, quer queira quer não. Mas tem havido um despertamento para o fato de que a pregação não é ainda o que ela deve ser. Se há pregador que duvide disto deve êle ler a denúncia erudita e desapaixonada sôbre a pregação, de Henry Steele Commager, The American Mind (Yale University Press, 1950.) Ao reconhecerem os dirigentes das igrejas as deficiências do púlpito, concentraram-se na elevação das normas da pregação. Temos que estar alerta para não ficar atrás neste movimento em direção a normas mais elevadas e maior eficiência!

Entre os ensinos divergentes dos líderes da “nova pregação” ressaltam alguns pontos fundamentais. Êles são tão antigos quanto a própria arte de falar, mas estão hoje recebendo novo polimento e nova ênfase. Exercem êles tanto apêlo e têm tanta aplicação aos púlpitos adventistas do sétimo dia quanto a quaisquer outros. Como sugestões para o aprimoramento da arte de sermonear, em seus aspectos externos, são-vos êles apresentados para a consideração.

Sêde Persuasivos

A pregação é uma forma de discurso público; envolve a técnica da introdução, conteúdo e apêlo. A perícia nesse sentido só é atingida com esfôrço considerável.

Existe um pensar errôneo de que a capacidade natural dispensa a instrução. Ao contrário, porém, só pode tornar a instrução mais eficaz. Verdade é que qualquer pessoa pode falar, mas há maneiras de falar. Todos podem pintar, mas vai muita diferença entre uma cavalariça e uma paisagem! Tôda pessoa pode cortar, mas muito diverso é o corte de um unha do do apêndice. Nenhum cirurgião pode competir comigo, se eu sou perito, a menos que aprimore sua técnica! Henry Ward Beecher disse em Yale, em 21 de fevereiro de 1872: “Nenhum conhecimento é verdadeiro conhecimento sem que se possa usá-lo sem conhecê-lo.” As-sim acontece com a boa técnica de qualquer espécie. Nenhum cirurgião se importuna com a técnica ao operar; nenhum bom músico pensa na técnica nó momento de execução; nenhum bom pregador deve preocupar-se com a técnica enquanto prega — cada um dêsses, porém, deve possuí-la!

Como é a vossa técnica? Estais aprimorando os vossos talentos com prejuízo do auditório? A pregação não vos torna necessariamente melhor pregador; a prática não vos torna necessariamente perfeito — pode apenas torná-lo permanente. Não existe substituinte para a boa técnica.

Quando essa necessidade de técnica é avançada, alguém menciona que a técnica não ganhou jamais uma única alma. É verdade. Não pode o pregador apegar-se exclusivamente à técnica. Tem de, também, possuir uma mensagem, e profunda convicção dessa mesma mensagem. Nenhum domínio externo da técnica, apenas, formará um pregador; preciso é haver amálgama da mensagem e da técnica.

Em ponto nenhum mais se evidencia a deficiência da técnica do que na voz do pregador. O “tom santo” é devastador. É possível ligarmos o rádio em qualquer momento e, noventa e nove vêzes em cem, dizermos de que programa se trata, sem que tenhamos compreendido uma única palavra — simplesmente pelo tom da voz. Poderá ser uma cansativa monotonia; poderá ser uma santidade carola; poderá ser uma oratória inflamada. Existem muitas variedades, mas em cada caso o padrão vocal trai o pregador. Tôda pessoa escuta hoje em dia boa espécie de discursos e instintivamente os reconhece. Precisa o pregador competir e adaptar-se. Se espera ser persuasivo, precisa, nessa conformidade adaptar a entonação da voz.

Um segundo problema existe para atingir a persuasão do púlpito: a de associar as idéias no sermão. Isso é chamado o arranjo do sermão. Muito tem sido feito recentemente para determinar a eficiência máxima da ordem das idéias num discurso. Apenas dispomos de espaço para mencionar três resultados de estudo e experiência, que condenam a organização do discurso costumeiramente seguida.

Primeira, das sugestões da prática da propaganda surgiu a idéia da ordem anticlimática. Com base em são princípio psicológico de que as coisas principais têm a primazia de impacto e retenção, os sermões são iniciados com a idéia principal e mais importante, com o propósito de destruir tôda oposição a uma idéia, por meio de assalto irresistível. Tôda propaganda é arquitetada com base nesse princípio, bem como muitas pregações de êxito.

Outra ordem de sermão com base neste princípio é encontrada na prática de Harry Emerson Fosdick. Não apenas põe êle os pontos principais em primeiro lugar, mas mede o tempo concedido a cada ponto, tendo em conta o princípio da fadiga física. O ponto um recebe 55 a 60 por cento do tempo do sermão, ao passo que o ponto três recebe apenas 6 a 8 por cento. Esta é a idéia do impacto inicial, mas a ela está ligado o reconheci-mento de que quanto mais tempo permanecermos sentados, mais cansados ficamos e menos capacidade temos para manter a atenção. O êxito extraordinário de Fosdick como pregador é, em certo grau, devido à sua ordem do sermão.

Um terceiro descobrimento psicológico é que a negativa é mais forte que a positiva. Se falais de oração e apresentais três argumentos favoráveis e três contrários, a negativa será invariavelmente lembrada mais tempo. Muitas demonstrações têm provado isto. A negativa atrai a atenção e dá lugar à dúvida. Assim, no arranjo do sermão, prejudicais vosso sermão com a inclusão de muita negativa, não importa onde a coloqueis no sermão. A positividade, afinal, não eliminará da lembrança a negativa.

Se quereis ser persuasivos, desenvolvei a técnica de discursos que seja comedida, e estudai o arranjo das idéias com vistas ao impacto máximo. A persuasão é uma arte, e todo bom pregador a estuda.

A Positiva

Ser positivo significa mais do que o arranjo de idéias positivas e negativas. Significa ter a convicção sem o receio de demonstrá-la. Conhecei o que credes; tende uma mensagem — não apenas profirais um discurso. Reinhold Niebuhr disse: “O conservantismo religioso fossilizou o evangelho, e o liberalismo religioso vaporizou-o.” Formulai vossa própria fé, apresentai-a, então, como uma convicção.

Um ex-membro da igreja fêz recentemente uma acusação: “Ninguém jamais insistiu comigo para ser bom, nem me disse por que eu deveria sê-lo.” Pode isso ser dito de alguém dentre nós? As gran-des doutrinas cardeais do cristianismo são em parte crença e em parte prática. Pedro Marshall orou: “Ó Deus, faz-nos firmes por alguma coisa, para que não caiamos por qualquer coisa.”

Sêde positivos. Pensai nos grandes oradores de nosso tempo, dentro e fora da igreja. São todos homens possuidores de uma mensagem de convicção fervorosa, proferida humildemente, mas com poder. Assim deve ser a nossa pregação.

Sêde Pessoais

Êste é o tempo do sermão improvisado, em que o pregador fala diretamente à sua congregação. Seu vocabulário está muito cheio de “eu”, “nós” e “vós.” Sabe êle que seu sermão é um apêlo feito à sua igreja; êsse é o único tempo em que êle pode atingir muitos que necessitam de soluções para os seus problemas. Assim, abordará as sua esperanças, aspirações, temores, fé e fracassos.

Mas, mais do que isto, será êle pessoalmente envolvido, também. O pastor sentirá o que fala. Será entusiasta. Não será como o pregador que sonhou que estava pregando e, despertando, verificou que realmente estava! Não podeis introduzir o sentimento, porém. A artificialidade é notória e derrota o seu próprio propósito. As pessoas precisam ser sacudidas, estimuladas profundamente, mas só podereis estimular outros se o estiverdes vós mes-mos. Para isso, precisais interessar-vos pessoalmente. Um apêlo à razão pode convencer da verdade, mas sòmente a emoção levará as pessoas a agir em conformidade com essa verdade. Sêde pessoais convosco e com vosso auditório. Partilhai vossos sentimentos tanto quanto vossos pensamentos.

Sêde Reais

A realidade significa mais do que a sinceridade sem adornos de artifícios. Significa realidade em tão grande escala que sobrepuge o têrmo comum. Ilustrarei o que penso: Suponhamos um pregador de olhar vivo, face radiante, corpo alerta e flexível. Está vivo da cabeça aos pés. Sua fala é fluente. O auditório escuta atento, sem pestanejar; segue com o olhar cada movimento, ouvidos fechados para todo outro som que não o de sua voz. Quando se alegra, êles sorriem; quando entristece, anuvia-se-lhes o rosto. E quando termina, retiram-se fazendo comentários uns aos outros. Sua apresentação é real!

Provàvelmente nenhum dentre nós viu jamais uma crucifixão nem um jovem ser imolado pelo próprio pai, como sacrifício. Ninguém dentre nós se ofereceu em resgate do irmão mais novo. Mas podemos apreender e apreciar tudo isso indiretamente, pelo poder da imaginação, e torná-lo realidade para nossos ouvintes.

Sêde reais! Esta qualidade de reviver e contar pode ser adquirida, cultivada e aprimorada. Meditai, contemplai; mas ao fazerdes, planejai pôr vida e realidade nesses grandes acontecimentos. Se quiserdes pregar com eficácia, precisais dominar essa forma de realidade.

Nossos paroquianos anseiam pela água viva; pedem para ser alimentados com o pão da vida. Temos que levar-lhos na maneira mais atraente possível. Temos que ser persuasivos, usando de técnica comedida e organização cuidadosa. Temos que ser positivos, pessoais e reais. Muitos pregadores, se quiserem atingir o alvo de todos os pregadores — o “bem feito” de nosso Senhor — tem que ter profundeza de consagração e convicção, e submissão em todo tempo Àquele que é o único que pode atingir os corações!

Há duas espécies de oração: a oração da forma e a da fé. A repetição de frases feitas e rotineiras, quando o coração necessita de Deus, é oração formal . . . Devemos ser extremamente cuidadosos em tôdas as nossas orações para proferirmos os desejos do coração e dizer sòmente o que pretendemos. Tôdas as palavras de retórica de que dispomos não equivalem a um único desejo santo. As orações mais eloqüentes não passarão de repetições vãs, se não expressarem os verdadeiros sentimentos do coração. Mas a oração que parte de um coração sincero, quando são expressos os desejos simples da alma, tal como pediriamos um favor a um amigo terrestre, esperando sermos atendidos — essa é a oração da fé.

O publicano que foi ao templo para orar, é bem o exemplo do crente sincero e pio. — B. E., nov°. de 1887.

É verdade que virão desapontamentos; temos que esperar a tribulação; mas precisamos confiar tôdas as coisas, grandes e pequenas a Deus. Êle não fica perplexo pela multiplicidade das nossas tristezas, nem sobrecarregado demais pelo pêso de nossos fardos. Seu vigilante cuidado se estende por todos os lares a cada indivíduo; Êle Se interessa em todos os nossos negócios e sofrimentos; toma nota de tôda lágrima. — B. E., 1o. de set°. de 1889.