Parte II

LUISA C. KLEUSER

(Secretária adjunta da Associação Ministerial da Associação Geral)

PROSSEGUIMOS no estudo iniciado o mês passado em O Ministério, no tocante ao nosso contato com outras denominações protestantes. O propósito dêste estudo em nossa revista é apresentar uns poucos pontos que podem auxiliar o obreiro evangélico a usar de tacto e ajudá-lo em seus contatos com essas denominações.

Episcopais

A Igreja Episcopal tem grande número de membros em todo o mundo. Segue o modêlo de sua mãe anglicana no estrangeiro. Aprendemos de W. Norman Pittenberg, historiador em Look, de sua denominação, que ela reconhece uma igreja “alta” uma baixa e uma “larga”, bem como uma variedade de liberalismos. “Os episcopais apelam para as Escrituras, a tradição e a experiência pessoal, bem como para a razão, em sua reivindicação da verdade da fé cristã. As diferenças de ênfase são bem-vindas na Igreja Episcopal, contanto que os pontos básicos sejam mantidos.” — A Guide to the Religions of America, pág. 54.

Se bem que as Escrituras sejam um campo de prova para a doutrina, a Igreja Episcopal não se apega à infalibilidade das Escrituras. Seu sacerdócio e sua orientação geral são Católicos. Existe uma fidelidade comum à sé de Cantuária. Entretanto, define-se como sendo tanto Católica como Protestante.

É de interêsse para os adventistas que a atitude dos episcopais quanto à bebida e ao jôgo é “não puritana.” Crê a Igreja Episcopal que Deus pretende que o homem goze a vida. Sôbre isto, bem como quanto ao jôgo de cartas e a dansa, a igreja mantém atitude liberal.

Conquanto alguns episcopais dêem ênfase ao segundo advento de Cristo, sua interpretação quase não é uma mensagem nos moldes da compreensão adventista. Com a crença na Natureza, mais do que centralizada na Bíblia, a igreja aferra-se à ortodoxia na Trindade e em doutrinas como, por exemplo, a da imaculada conceição. Tampouco apoia nem condena a confissão auricular. Temos para nós que isso dá idéia de conciliação. Mas há, também, elementos mais fortes nesta denominação que devemos reconhecer ao estabelecer contatos com seus membros. Doutrinas tais como a Trindade, a propiciação, morte e ressurreição de Cristo, são pontos mantidos em comum, e sugerem onde o obreiro evangélico pode começar a estudar a Bíblia. A instrução quanto à Ceia do Senhor exige reserva quando se instruem os episcopais. Neste caso convém estar bem informado quanto à história e as origens desta denominação.

A Igreja Episcopal possui o espírito missionário. Desempenhou parte importante no comêço da história da América. Tem algum orgulho em suas tradições nacionais. Nisto encontramos outros pontos de contato.

Metodistas

A seguir consideraremos a Igreja Metodista. O Dr. Ralph W. Sockman foi escolhido para estudar esta denominação na revista Look. Na qualidade de autoridade ministerial reconhecida, afamado no púlpito do rádio nacional por mais de vinte e seis anos, define êle os metodistas como “uma mistura singular de cristianismo do Novo Testamento, da reforma protestante e da influência de João Wesley.” As raízes do metodismo foram-no no anglicanismo. A denominação não é tão tradicional quanto individualista, o que justifica o seu fundador, João Wesley. O movimento começou com espírito de oração e com interêsse nos mais negligenciados. Êste grupo, o Grupo Santo de Oxônia, impunha regras de procedimento e de observância religiosa. Sua sinceridade e zêlo logo suscitaram outra denominação religiosa que, na América, se tornou na “Igreja Metodista”, nome proveniente de seus preceitos e hábitos devocionais metódicos.

O metodismo introduziu algumas mudanças e modificações do anglicanismo. Sua ênfase na graça e na santidade, seu cerimonial menos ritualista, seu interêsse intenso na temperança e na reforma, criaram no Novo Mundo, vários ramos de Metodismo. Havia ali solo excelente em que os direitos e as necessidades do indivíduo podiam expandir-se. Os nove milhões de metodistas nos Estados Unidos fazem parte dos catorze milhões e quinhentos mil existentes em todo o mundo. A denominação contribuiu muito para a civilização. Poderiamos acrescentar que o Exército da Salvação foi influenciado pelo Metodismo e é contemporâneo seu. No que tange ao seu método, absorveram os adventistas muito dos metodistas. Também o metodismo nos animou grandemente em nossos primitivos interêsses reformadores.

Possivelmente descobriremos que nossos bons amigos metodistas estão em perigo de perder seu primitivo zêlo por importantes reformas, tais como corrigir os hábitos da bebida e do fumo. No terreno da doutrina, reconhecemos uma superênfase na graça, em relação com a lei de Deus. Neste ponto é que devemos chegar a um melhor entendimento com os metodistas. Afirmam êles que os adventis-tas têm “outro evangelho” — a salvação pela observância da lei. Nossa ênfase na obediência a todos os mandamentos de Deus não deve eclipsar a verdade de que o homem é salvo pelo sangue propiciatório de Cristo, e não pela lei. Cremos, com os metodistas, que a obediência é meramente o fruto da salvação, por meio do sangue vertido no Calvário. Doutrinas análogas a esta são as da graça e da santidade. A verdadeira santidade é o viver cristão progressivo em cada ponto da luz revelada. Faz o metodismo confusão entre santidade e perfeição de natureza instantânea. Ao ensinarmos nossa mensagem, vale a pena ser compreensivo e mais bondoso do que dogmático. Muitos adventistas do sétimo dia tiveram suas raízes no metodismo.

Antes de terminarmos o estudo do metodismo devemos mencionar seus ensinos quanto à dispensação. O metodismo moderno está alerta para a profecia, mas adotou a interpretação católico-futurista, perdendo, assim, a fôrça da profecia. Estranhamente, as muitas ramificações de interpretações futuristas são confusas e contraditórias para o estudante da Bíblia que tem o conhecimento de que a interpretação histórcia é o único sistema certo. Os que crêem no arrebatamento esperam a breve volta de Cristo, mas infelizmente se têm descuidado do estudo do contexto das profecias do advento. Não são os metodistas os únicos nesse sentido. Outras denominações fundamentalistas se tornaram seguidoras do afamado Dr. C. I. Scofield como intérprete da profecia. Copiou êle o seu sistema, dos Irmãos de Plymouth, que reviveram o sistema futurista da Contra-Reforma durante as primeiras décadas do século dezenove. Nisso está a história da igreja arbitràriamente dividida em “dispensações” convenientes. A cronologia é definitivamente posta à margem. O ponto de vista escatológico centraliza-se em tôrno do anticristo da profecia e da volta dos judeus à sua pátria — a Palestina. Um rabinismo complicado deverá ser reinstalado após “o arrebatamento”, que ocorrería sete anos antes da “revelação de Cristo.”

Muito controverso é o contraditório ensino de que a dispensação da lei no Velho Testamento, é seguida da da graça, no Novo. A graça é interpretada como desobrigação da obediência aos Dez Mandamentos, e, mais especificamente, da observância do verdadeiro sábado. Pretendendo ser fundamentalista, êsse sistema de interpretação corteja o modernismo. Pretendemos, com tôda a humildade, que o adventismo tenha reconhecido o caráter enganador dessa confusão e possua uma forte mensagem profética para esta hora.

Denominação Pentecostal da Santidade

Existe hoje em dia uma nova ênfase sôbre os milagres e sôbre os dons da graça divina e de cura. Entretanto, o dom do Espírito Santo tem sido interpretado no “movimento de línguas”, com sua objetável confusão e muitas vêzes reprovável profanação da casa de Deus. Extremismos dêsses “alvoroços” proliferam nas zonas do interior. Os grupos “independentes” deliciam-se em seu individualismo e muitas vêzes repudiam sua origem cristã metodista. Nunca deve o obreiro evangelista ridicularizar êsses extremismos. Alguns sinceros pesquisadores da verdade poderiam ser assim facilmente separados, mas a Palavra de Deus ainda separa o joio do trigo. Possui o adventismo luz muito sensata e clara sôbre a verdadeira santidade. Possuímos um passado de experiência com tipos enganadores de santidade após o movimento de 1844. Insistem os adventistas em que o avanço na santidade também requer atenção ao regime alimentar, e que o viver saudável é importante no processo da santificação. Maior poder existe no viver saudável do que nas pretensões dos modernos “curandeiros pela fé.” Não devemos, porém, amesquinhar o verdadeiro dom de curar na igreja. Nesse ponto, também, a pessoa santificada observará o dia santificado de repouso. Nossos ensinos quanto ao sábado cristão pode constituir um apêlo real para os que buscam a santificação.

Quáqueres

Convém incluirmos neste estudo uma apreciação desta denominação religiosa. Quaquerismo foi o apelido pôsto aos seguidores de Jorge Fox na Inglaterra. Foi durante o turbulento século dezessete, no processo dos magistrados, em Derby, que êles “tremeram ante a Palavra de Deus.” Esta denominação exótica fêz as suas contribuições para a religião, especialmente no Novo Mundo. Pretendem os quáqueres formar um “terceiro caminho”, não sendo protestantes nem católicos. Com os evangélicos e os adventistas, mantêm êles firmemente que nos podemos aproximar de Deus diretamente, sem o sacerdote ou o pregador por intermediário.

Crêem os quáqueres que Deus é encontrado por meio de “iluminação íntima”. Foram êles primeiramente chamados Filhos da Luz e Amigos da Verdade, por manterem disposição para aceitar verdades reveladas e ainda por serem reveladas.

A simplicidade no vestir, a piedade no culto, e a comunhão espiritual distinguem-lhes a crença. Suas reformas valiosas, sua sã maneira de vida e sua filantropia sugerem um traço comum com o adventismo. Entretanto, temos para nós que a doutrina quáquer é falha em certeza. Necessita o quaquerismo de uma mensagem definida da iminente volta de Cristo. As doutrinas bíblicas precisam ser apontadas para o quáquer, com nova significação.

Notamos também, que “serviço”, — têrmo que os quáqueres empregam para o trabalho missionário — é uma atividade dignificante da igreja nestes últimos dias. Parece-nos que virá a hora em que nossos amigos quáqueres aceitarão a mensagem da breve volta de Cristo em pessoa. Se o instrutor quiser partilhar com êles esta mensagem precisam êles ver nela uma qualidade de absoluta sincerida-de.