A ESTRANHA fascinação do fogo tem atraído as mentes dos homens desde que Deus Se agradou de Abel e de sua oferta (Gên. 4:4).
É impossível salientar demasiadamente a responsabilidade que temos em proteger as propriedades denominacionais dos danos causados pelo fogo. O dinheiro perdido por negligência pode fazer com que a mensagem não alcance muitas almas, por falta de fundos. Apreciamos os esforços do Departamento de Seguros dirigido por nossa denominação, e instamos com nossos leitores para que tomem especial interêsse em proteger devidamente as suas igrejas.
Necessidade de Fogo Espiritual
Ninguém desejaria que o edifício de sua igreja pegasse fogo, mas quem negaria a necessidade de haver um fogo espiritual em nossa organização? O freqüente simbolismo que nas Escrituras Sagradas é vinculado com o fogo, merece ser estudado. A Trindade é descrita por meio de expressões relacionadas com o fogo e seus efeitos. Lemos em Deuteronômio 4:24: “O Senhor teu Deus é fogo que consome.” A revelação de Deus numa sarça ardente impressionou profundamente a Moisés com a pureza e o poder do Senhor. Quando Se comunicara com Moisés no cume do monte. Sinai, o Senhor “descera sôbre êle em fogo; a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente.” Êxo. 19:18. “Dos céus te fêz ouvir a Sua voz, para te ensinar, e sôbre a Terra te mostrou o Seu grande fogo, e do meio do fogo ouviste as Suas palavras.” Deut. 4:36. A majestosa grandeza desta cena de fogo e fumaça confirmou a autoridade e dignidade do transunto do caráter de Deus — os Dez Mandamentos.
Ao descrever a aparência do Senhor, Daniel relata que Seu rosto era “como um relâmpago, os Seus olhos como tochas de fogo.” Dan. 10:6. A descrição que João faz de Cristo concorda com a de Daniel, pois êle compara os olhos de Cristo a uma “chama de fogo,” e as Suas pernas a “colunas de fogo.” Apoc. 1:14; 10:1. Nosso Salvador é apresentado como “fogo do ourives” (Mal. 3:2). Estas descrições estão em harmonia com o conceito da coluna de fogo que guiava e aquecia os israelitas à noite, durante suas vagueações pelo deserto.
Anjos, Criaturas e Palavra
Os anjos de Deus são comparados a “labareda de fogo.” Sal. 104:4. A visão que Ezequiel teve sôbre as quatro criaturas viventes foi tão admirável e fulgurante que êle as descreveu por meio de expressões relacionadas com o fogo e o relâmpago. “O aspecto dos sêres viventes era como carvão em brasa, à semelhança de tochas; o fogo corria resplendente por entre os sêres, e dêle saíam relâmpagos.” Ezeq. 1:13. Citando as palavras do Senhor, disse Jeremias: “Não é a Minha palavra fogo?” Jer. 23:29. A promessa de Deus a Jeremias é significativa: “Visto que proferiram êles tais palavras, eis que converterei em fogo as Minhas palavras na tua bôca, e a êste povo em lenha, e êles serão consumidos.” Cap. 5:14. A experiência dêste mesmo profeta que certa vez na vida pensou em deixar de pregar, ajudou-o a descobrir a natureza e a influência da Palavra de Deus em sua própria existência: “Isso me foi no coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; já desfaleço de sofrer, e não posso mais.” Cap. 20:9.
Portanto, uma das expressões mais usadas para descrever a Divindade e Seu programa de salvação, diz respeito ao fogo ou palavras equivalentes.
Fogo Simboliza Aceitação
Em várias ocasiões Deus expressou Sua aceitação de pessoas ou coisas pelo uso do fogo. O fogo passou através das partes divididas da novilha, da cabra, do cordeiro, da rôla e do pombinho quando Deus fêz um concêrto com Abraão, e os devorou (ver Gên. 15). Gloriosa demonstração de fogo do céu consumiu o sacrifício oferecido por Moisés na dedicação do tabernáculo. Tão impressionante foi esta experiência, que os israelitas “jubilaram e prostraram-se sôbre os seus rostos.” Lev. 9:24. Os pais de Sansão testemunharam a aceitação de seu sacrifício pelo fogo aceso por mão divina e pelo subir do anjo do Senhor nas chamas ardentes (Juizes 13:19 e 20).
Outra manifestação de fogo celestial ocorreu ao ser dedicado o templo de Salomão. Logo que êste admirável dirigente acabou sua oração dedicatória, em que implorara eloqüentemente as misericórdias divinas, uma labareda de fogo emitida por ordem de Deus “consumiu o holocausto e os sacrifícios; e a glória do Senhor encheu a casa.” II Crôn. 7:1. Os efeitos desta dinâmica demonstração de poder e glória impediram os sacerdotes de entrar no templo durante certo período de tempo. O impacto desta cena de esplendor levou os filhos de Israel a se encurvarem com o rosto em terra, e “adoraram e louvaram o Senhor, porque é bom, porque a Sua misericórdia dura para sempre.” Cap. 7:3.
O Profeta de Fogo
O nome de Elias e o fogo são quase sinônimos. A prova da supremacia de Deus ou de Baal baseou-se em fogo. “O deus que responder por fogo êsse é que é Deus.” I Reis 18:24. A natureza consumidora da conflagração do Carmelo é revelada pelo fato de que foram devorados a água, a terra, as pedras, a lenha e o sacrifício. Êste fogo especial não deixou dúvidas no coração dos espectadores a respeito de quem era o verdadeiro Deus. “O que vendo todo o povo, caíram de rosto em terra, e disseram: O Senhor é Deus! O Senhor é Deus!” I Reis 18:39.
O ferido Azarias que caiu dum quarto alto enviou mensageiros a Baal Zebube, deus de Ecrom, para saber se sararia ou não. Deus ordenou que Elias interceptasse êsses mensageiros com uma repreensão em forma de pergunta. “Porventura não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal Zebube, deus de Ecrom?” II Reis 1:3. A exigência insolente de Azarias em resposta a esta pergunta custou a vida de 102 homens. Dois grupos de cinqüenta soldados e um capitão cada um ouviram sua oração fúnebre dos lábios dêsse profeta de fogo. “Se eu sou homem de Deus, desça fogo do céu, e te consuma a ti e aos teus cinqüenta. Então fogo desceu do céu, e o consumiu a êle e aos seus cinqüenta.” Cap. 1:10. Não havia dúvida quanto a aceitação de Elias por parte de Deus. O Senhor o demonstrou por meio de fogo.
Partida em Carros de Fogo
A saída de Elias da Terra deu-se num carro de fogo, com cavalos de fogo (cap. 2:11). Eliseu, o sucessor de Elias, orou que os olhos de seu servo contemplassem uma cena semelhante em Dotã. O Senhor atendeu a êsse pedido, e o môço “viu que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu.” Cap. 6:17.
Gideão foi outra pessoa que participou da invejável experiência de testemunhar a aceitação por fogo. Êle viu o Anjo do Senhor estender a ponta do cajado e tocar a carne e os bolos asmos de sua oferta. “Então subiu fogo da penha,” e os consumiu (Juí. 6:21).
Davi teve de escolher entre três terríveis castigos. Isto se tornou necessário devido a sua própria ação insensata de numerar a Israel, e a decisão envolvia a vida de seu próprio povo. Êle precisou escolher entre a fome, a espada ou a peste. Davi preferiu cair nas mãos de Deus e não nas mãos dos homens. Por recomendação divina, êle comprou um lugar e holocaustos de Ornã. Construiu ali um altar, ofereceu sacrifícios, e o Senhor não sòmente deteve a praga, mas “lhe respondeu com fogo do céu sôbre o altar do holocausto” (I Crôn. 21:26).
Equivalente Moderno Para a Aceitação por Fogo
Em nossa época mais esclarecida (?) religiosamente, as experiências da aceitação por Deus através duma manifestação exterior de fogo são desconhecidas. Contudo, a aceitação divina não é menos necessária para a igreja hoje em dia do que vários milênios atrás. Será que a igreja deve dar evidência desta aceitação, apresentando o “ouro refinado pelo fogo?” (Apoc. 3:18). Dar-se-ia o caso de que uma congregação que possuísse êsse ouro de fé e amor fizesse a igreja parecer como estando em fogo? Será que se nós ministros déssemos o exemplo de dedicar a vida à tarefa de conseguir êsse ouro refinado pelo fogo, os membros seguiríam nossa direção?
Retroceder Significa Extinção
O simbolismo do fogo encerra valiosas lições para a igreja no tempo atual. O fogo é ativo, nunca passivo. Êle precisa avançar — retroceder significa extinção. Se êle permanecer inativo, deixará de ser fogo. O fogo não pode descansar, sempre está em movimento. Alastra-se, amplia-se e nunca poupa a si mesmo. O fogo nunca é auto-suficiente — sempre partilha com os outros. Nunca age por procuração. Existe por abranger a si mesmo. O fogo é entusiasta, não reservado. É inflexível na realização de seu objetivo. O fogo nunca busca a própria segurança. Nunca se detém a inquirir, mas continua queimando. Para viver, o fogo tem de consumir. Não pode viver do nada. O fogo preocupa-se apenas com uma coisa — queimar. Não pode ser afastado de seu propósito — êle queima tudo o que se encontra à sua frente. O fogo implica na entrega por parte daquilo que está queimando. O resultado é contagioso.
Nasceu Para Arder
O mesmo sucede com a testemunhadora igreja atual. Algemai-a, isolai-a, reprimi-a, lançai água sôbre ela, fazei tudo o que quiserdes contra ela, mas continuará a arder! Foi o que aconteceu com a igreja do Nôvo Testamento. A oposição apenas serviu de fole para transformar-lhe as chamas em gigantesco incêndio que aqueceu gloriosamente a Terra com o evangelho de Cristo. Uma igreja inflamada para Deus é uma das mais animadoras idéias que a mente pode conceber. Uma igreja de um só propósito, que avança constantemente, que é submissa e revela espírito inextinguível — êste é o plano divino para o Movimento Adventista.
Permita Deus que o simbolismo do fogo seja uma realidade espiritual em nosso meio. Assim como no santuário do passado, oxalá o fogo arda “continuamente sôbre o altar,” e não se apague (Lev. 6:13).
A igreja nasceu para arder!