CLIFFORD A. REEVES

(Evangelista da Associação do Sul da Nova Inglaterra)

QUANDO dois tímidos jovens se aproximam do pastor, pedindo-lhe que oficie na cerimônia nupcial, oferecem ao ministro a oportunidade de aconselhá-los para que conheçam tôdas as diferenças existente entre o matrimônio feliz e o que o não é. Alguns pastôres se estabeleceram a regra de não casar um par sem que hajam tido com êles uma entrevista prévia para nela abordar as condições básicas de um lar cristão feliz. Os jovens anseiam fervorosamente auxílio e orientação com o objetivo de que o consórcio tenha êxito, e respondem com sinceridade se sabem que o ministro é capaz, compreensivo, e está realmente interessado em auxiliá-los sem divulgar suas confidências.

Hoje em dia, quando os divórcios e os lares fracassados são coisa comum, quando milhares de consórcios aparentemente firmes, cambaleiam e permanecem de pé unicamente pela pressão social e econômica ou por crença religiosa, é dever do pastor preparar-se convenientemente por meio da leitura e estudo, para fornecer a tão necessitada ajuda. Aconselhar e ajudar a juventude em seu preparo para um casamento cristão, deverá chegar a ser uma parte absolutamente indispensável da obra pastoral.

Todo par, ao compreender antecipadamente a profunda significação da vida matrimonial, anela que sua união seja bela e fecunda. Estão interessados em saber quais são as suas probabilidades de êxito no matrimônio quando há tantos lares infelizes e fracassados. Quando os jovens pedem ao pastor que realize a cerimônia ou chegam a conversar acêrca dos planos de núpcias, êle pode sugerir-lhes discretamente que está interessado e habilitado para fornecer-lhes alguns conselhos. Por certo, o valor e o resultado dêsses procedimentos dependem, naturalmente, da participação voluntária dos jovens que irão contrair o enlace. Em seu livro intitulado “Pastoral Counseling”, (Conselho Pastoral), diz Carroll A. Wise:

“Nesta entrevista o pastor se torna emocionalmente acessível ao par. Tratará de formar uma amizade que proporcione confiança e liberdade para expor qualquer problema, se é que desejam fazê-lo. Êle, porém, há de considerá-los tais como se vêem a si mesmos. O ministro não deve perguntar nem sermonear. Se o par pertence à sua igreja, deverá êle haver já formado amizade com êles por meio de seus contatos pessoais. Se o par ê-lhe desconhecido, será oportuno que lhes diga que se sentirá feliz em com êles conversar acêrca … da adaptação conjugal, se o desejam.” (Grifo nosso.)

Quando fôr estabelecida essa relação amistosa, o pastor pode convidá-los para conversarem com êle, precisamente nesse tempo em que há grande neces-sidade de conselho e orientação. Assim haverá oportunidade de trazer à balha, com tato, os problemas que provàvelmente os jovens vacilam em expor. São vários os critérios dos ministros acêrca de quanto deveria dizer-se dos mais íntimos aspectos físicos do casamento. De minha parte, penso que o melhor procedimento consiste em encaminhar os jovens a um médico que se saiba ser cristão, preferentemente um do nossos médicos adventistas, casado e com filhos. Êle estará apto para dar todos os conselhos necessários no tocante ao preparo e adaptação física para o casamento e as relações sexuais. Em geral aconselho tanto o homem como a mulher a que efetuem um exame físico geral juntamente com o pré-nupcial, de sangue, exigido em vários países. Se cada pastor pudesse fazer os arranjos necessários com um médico capacitado que tenha desejos de cooperar com êste plano, e que cobre honorários razoáveis, muito se poderia fazer para auxiliar os futuros recém-casados.

Prefiro ter duas entrevistas com os noivos antes da cerimônia nupcial. A primeira pode realizar-se pelo menos um mês antes do casamento, e a segunda, umas semanas depois da primeira. Uma vez que o par sente confiança em falar do que mais lhes interessa, animo-os a interromperem a conversação em qualquer ponto para fazerem as perguntas que desejam. No final da primeira entrevista, depois de terminada a oração, entrego a cada um um bom livro acêrca do matrimônio e insto com êles para que ambos o leiam antes da seguinte entrevista. Alguns livros que servem par êste propósito são:

O Lar e a Saúde, de Ellen G. White.

Segredos de Um Lar Feliz, da Dra. Belle Wood-Comstok.

Segredo da Felicidade Conjugal, do Dr. Haroldo Shryock.

Na segunda entrevista menciono alguns dos assuntos tratados no livro que emprestei, e dêsse modo se abre o caminho para que façam as perguntas que possam haver surgido de sua leitura.

Entrevista Sugestiva

O que a seguir se sugere é uma conversação típica, que abranja assuntos que possam tratar-se com proveito numa entrevista com os futuros esposos. Por certo, podem surgir muito variadas perguntas e problemas que se animará a apresentar no transcurso da conversação. Esta pode ser introduzida, depois de um momento de oração em que se instará com o noivo e a noiva para participarem, juntamente com o pastor, das palavras registadas em S. Mat. 19:4 e 5: “Não tendes lido que Aquêle que os fêz no princípio, macho e fêmea os fêz, e disse: Portanto deixará o homem pai e mãe, e se unirá à sua mulher, e serão dois numa só carne?”

A maior felicidade conhecida sôbre a Terra encontra-se através do matrimônio em lar cristão. Essa felicidade, porém, não vem por acaso. Chega aos que desde o próprio dia de suas bodas tomam a determinação de ter êxito e de fazer da edificação de um lar cristão sua ocupação primordial na vida em comum.

Rodeados dos bons desejos de vossos amigos, os primeiros quilômetros de vossa viagem juntos serão fascinantes. Cedo, porém, a lua de mel submergirá no inquieto mar da vida. A cena de “raios de lua e rosas” transformar-se-á noutra de “raios de sol e pratos para lavar”. Então, enfrentareis as rudes realidades da vida.

O casal feliz, que é a espécie de casamento que Deus deseja que tenhais, não é alguma coisa que vos advirá por acaso ou acidentalmente. Ao contrário, é um prêmio excepcionalmente precioso que deve ser alcançado com o auxílio de Deus por meio de uma vida inteligente, desinteressada e de oração — vivida um para o outro.

Disse-se com acêrto que quando um homem e uma mulher se unem no santo matrimônio, sua união pode efetuar-se em um, dois ou três planos diferentes de vida: o físico, o físico e intelectual, e o físico, intelectual e moral. O plano de Deus é que vosso casamento, para vossa felicidade mais completa, tenha como resultado a união nesses três planos.

Quando o verdadeiro amor vos possui, é êle tão belo e profundo que se aproveita de tudo quanto sois e de tôda a vossa vida para expressar seu pleno significado. O amor verdadeiro santifica e ajuda a controlar o impulso sexual. Devemos lembrar-nos sempre de que Deus criou o sexo, e tudo quanto criou para nós, é puro e edificante, sagrado e belo, quando compreendido e empregado corretamente. Certo é que o sexo pode ser degradado, mas não é necessário que tal coisa aconteça. E se ides ao casamento sem a compreensão adequada da verdade divina do sexo, não estais plenamente capacitados para dar êsse passo. Um escritor cristão declarou que o sexo tem três propósitos para preencher na vida, a saber: o primeiro, é assegurar a perpetuação da raça humana; o segundo, proporcionar prazer ao espôso e à espôsa ao participarem de suas manifestações mútuas de amor; o terceiro, conseguir a identificação de ambos, já que promove a harmonia e os une até que cheguem a ser uma só entidade.

Essa união, no plano físico apenas, porém, não é suficiente para proporcionar o ideal de felicidade ao casal. Vossos interêsses mútuos devem abranger, naturalmente, o trabalho do espôso, o cuidado do lar, o desenvolvimento intelectual, a música, os entretenimentos, os amigos e muitos outros aspectos. Aos interêsses desta espécie é que me refiro quando falo da união no plano intelectual, social e cultural. Geralmente certo é que um espôso e uma espôsa que têm muitos interêsses e amigos em comum, vejam-se ligados mais firmemente e achem que a vida se lhes torna mais interessante.

Ao passo que a espôsa se dedica a atender à casa, também deve ampliar seus horizontes, a fim de estar capacitada para abordar inteligentemente diversos assuntos. A espôsa precisa de bom senso, de incentivo generoso da ambição, da capacidade de compreender o trabalho do espôso. A maioria dos homens não reconhece o papel importante que sua espôsa desempenha na formação de seu próprio futuro. Alguns patrões não empregam uma pessoa sem saber se sua espôsa será um elemento de êxito. Um comerciante de êxito disse, recentemente: “Detrás de cada homem de êxito existe uma mulher que sabe com precisão em que ponto êle necessita ser impelido e quando deseja ser animado. Ela deve animá-lo quando está deprimido e manejar as rédeas quando dá sinais de estar desenca-minhado, perseguindo coisas sem valor. Deve estar interessada na carreira do espôso, compreendendo que é sua própria carreira, e que ela pode levá-la ao êxito ou arruiná-la.”

Sobretudo, porém lembrai-vos de que vosso casamento não pode alcançar felicidade completa se exclui dêle a Deus. O matrimônio é uma instituição divina. Por isto incluí a Deus no lar que estais para estabelecer. Lêde juntos a Palavra de Deus, e juntos orai cada dia. Verdade inegável é que “a família que ora unida, permanece unida”. Não me chegou ao conhecimento que casal nenhum que orasse regularmente juntos, houvesse pedido divórcio. Portanto, fazei que vosso vínculo de união mais profundo esteja na região íntima da alma em que se encontram a consciência e os verdadeiros ideais. Dêsse modo, a divina mão protetora vos conduzirá e, por meio de Seu amor eterno, o amor que sentis um ao outro será fortalecido e firmado para sempre.

O matrimônio é a mais estreita e íntima das relações humanas, e por isto existe um processo durante o qual o homem e a mulher aprendem a viver em companhia e se ajustam mùtuamente. Devido a não haver duas pessoas iguais, pode esperar-se que quando dois indivíduos procedentes de lares diferentes e de temperamentos e gostos diferentes se enamoram, e posteriormente se casam, surjam divergências e devam fazer-se adaptações. Tendo isto em conta, perfeitamente normal é que por vêzes os esposos tenham opiniões radicalmente opostas. Às vêzes êsses conflitos em realidade aliviarão a tensão, e o matrimônio se verá fortalecido por essas diferenças quando adequadamente dirigido. Por certo sempre deverá ser lembrado que existe uma diferença entre os desacordos construtivos e os destrutivos. Nem sempre estareis de acôrdo, e por isso bom será que aprendais a dissentir com amor. Um velho filósofo deixou-nos para essas ocasiões, êstes bons conselhos:

“Nunca vos zangueis os dois ao mesmo tempo.

“Nunca faleis desprezivamente um do outro, quer sós quer em presença de terceiros.

“Nunca griteis, a menos que a casa esteja pegando fogo.

“Nunca lembreis ao outro os erros passados.

“Nunca vos encontreis sem dedicar-vos uma saudação amorosa.

“Nunca esqueçais as horas felizes de vosso primeiro amor.

“Esforçai-vos por atender tão a miúdo quanto possível aos desejos do outro.

“Nunca façais em público uma observação em detrimento do outro.

“Não permitais que o Sol se ponha sôbre alguma zanga ou discussão.”

Conta-se a história de um casal que estava sempre discutindo e altercando. Finalmente se traçaram um plano que lhes permitiría viver em paz. Decidiram que quando a êle lhe fôsse mal no escritório e chegasse a casa com vontade de explodir, derrearia o chapéu sôbre a testa, e dêsse modo a espôsa compreendería. E não importa o que êle dissesse, deveria ela manter-se em silêncio sem responder uma única palavra. Mas nos dias em que as coisas houvessem andado mal em casa e fôsse ela quem passasse um mau momento, levantaria o avental e, ao ver isso o espôso, não deveria dizer nada, não importa quantas coisas ela dissesse. Ambos seguiram êsse plano, e tudo parecia ir muito bem. Certa noite, porém, ao regressar êle pelo caminho do jardim, com o chapéu derreado sôbre a testa, viu abrir a porta a espôsa, com o avental levantado. Que iria acontecer? Que fariam? Fizeram a coisa mais judiciosa que poderia ocorrer — puseram-se a rir de boa vontade os dois.

Amigos, se existe uma verdade evidente é esta: O casamento de êxito é o resultado do propósito definido de êxito da parte de ambos. Temos que aprender a como viver com um espôso ou com uma espôsa. Não espereis perfeição. Um casal é o produto de um crescimento lento, e sua felicidade não chega repentinamente. Ambos tendes que esforçar-vos por ela. Não se casa a gente e imediata e automàticamente é feliz dali em diante. Certo é que a princípio o amor romântico tem muito que ver e proporciona profunda e estimulante experiência emocional quando a atração física atua com fôrça. Mas depois de um tempo começa a surgir em vossa relação conjugal um amor estável e seguro, uma profunda devoção mútua que vos une com mais firmeza, como resultado dos dissabores e alegrias partilhados por ambos na vida diária. Ambas essas espécies de amor são necessárias. Ambas devem combinar-se e completar-se. O amor romântico é desejável e necessário, mas o amor conjugal é absolutamente essencial para que o casamento perdure.

Setores Perigosos

Nas relações matrimoniais existem certos setores onde se originarão problemas, a menos que ambos estejais em guarda. A causa mais freqüente de dificuldades em qualquer sociedade é o dinheiro. Tem-se dito que nove décimas partes dos problemas e discussões entre esposos se originam em tôrno das finanças. Um escolho por cuja culpa naufragaram muitos casamentos é o desperdício. Para algumas espôsas — e esposos — é difícil aprender a viver de acôrdo com o rendimento familiar. Um espôso tacanho e mesquinho, que guarda no Banco tanto dinheiro quanto pode e vigia os gastos da espôsa, está dando lugar a dificuldades e rusgas, tão seguramente como quem, por causa de seu orgulho, gasta uma quantidade desproporcional de seus rendimentos em coisas consigo próprio. Ambos de-veis ter algum dinheiro de vossa propriedade exclusiva e que possais empregar sem dar contas ao outro. Depois de experimentar durante algum tempo o manêjo do dinheiro, dar-vos-eis conta de que na generalidade dos casos, a espôsa é, dos dois, a mais hábil nesse sentido.

Outro setor que dá origem a problemas é o das relações com os parentes. Conquanto não vos deis conta disso agora, já vereis que quando vos casais não o fazeis unicamente com a pessoa que amais, mais com tôda a sua família. Portanto, observai bem vossos futuros parentes; aprendei a apreciá-los e a compreendê-los. Isto não significa de modo nenhum submissão cega nem obediência a todos os seus desejos. Reservai vossos assuntos privados para vós mesmos. Resolvei vossos próprios problemas como vos seja possível. Não converseis a seu respeito com vossos parentes e amigos.

O Dr. Clifford R. Adams, em seu livro Preparing for Marriage, (O Preparo para o Casamento), sugere que vos façais algumas perguntas:

“Tendes em comum muitos interêsses e coisas que gostais de fazer juntos?

“Estais orgulhosos de vosso futuro companheiro ou companheira, e nada há do que a êle ou a ela diga respeito, de que devais envergonhar-vos ou pedir desculpas?

“Sentis forte desejo de agradá-lo, ou agradá-la, ainda que isto signifique abandonar vossas próprias preferências?

“Tendes absoluta confiança no que êle ou ela diz ou faz?

“Tem êle ou ela as qualidades que desejais ver em vossos filhos?

“Admiram vossos parentes e amigos íntimos a pessoa em quem tendes interêsse, e aprovam êles vosso casamento?

“Podeis discordar mas permanecer afáveis, amorosos e respeitosos, um para com o outro?

“Tendes muitos amigos em comum?

“Haveis-vos preocupado em pensar nos assuntos que se referem aos dois, em vez de nos que se referem a vós exclusivamente?

“Planejastes já, pelo menos em vossa própria mente, a boda, e imaginastes o que será o vosso lar?

Não são boas perguntas para conhecer o grau de preparo individual para o casamento?

O tempo está passando com rapidez. Mas antes de sairdes, quero contar uma história de dois recém-casados. Estavam êles abrindo juntos os pacotes que continham presentes, e apanharam um que continha um belo par de chinelos para a esposa. Sua surprêsa foi maior, porém, ao descobrirem que no pacote também havia dois pares de sapatos velhos. Oh! êstes são os meus sapatos velhos! disse a senhora. E êstes são os meus! exclamou o marido. Abriram impacientemnte um envelope, que contiha uma cédula de mil cruzeiros e uma carta do pai do espôso, que rezava:

“Querido filho: Ofereço êstes chinelos novos a ti e a tua espôsa, para que os usem na estrada da vida matrimonial. A princípio a vida conjugal poderá apertar e fazê-los sentir um pouco incômodos depois da novidade. Mas, à medida que passem os dias, as semanas e os anos, verás que êsses laços se vão tornando mais satisfatórios, mais perfeitos — tão confortáveis quanto os sapatos depois de usados durante algum tempo. De todo o coração desejo que ambos façam uma feliz viagem juntos.”