Dr. CLIFFORD R. ANDERSON

ERA uma radiosa manhã de primavera de um dia inolvidável. Tôda a Natureza resplandecia de formosura. Os passarinhos gorgeavam, os botões de flor começavam a abrir-se, as plantas lançavam rebentos e tudo transpirava alegria. Sentia-se o gôzo de viver.

Enquanto me regozijava na contemplação da cena, um auto se deteve junto à calçada e desceu dêle um jovem alto e bem apessoado. Era um vizinho meu que contava perto de trinta anos. Contemplou a paisagem, e um sorriso de satisfação lhe iluminou a face. Em todo o seu corpo se notava o vigor da mocidade; era atleta consumado, por natureza um guia de jovens. Seu corpo esbelto e os gestos agradáveis harmonizavam-se perfeitamente com o cenário dêsse belo dia.

Ao cruzar a calçada em direção de casa, abriu-se a porta e apareceu uma jovem encantadora; era sua espôsa, graciosa e atrativa. Resplandecia-lhe o rosto com o brilho da saúde. Era mãe de dois filhos e demonstrava em todo sentido as maneiras e a serenidade da mulher que fôra bem ensinada na arte de cuidar de si e de sua família. Não revelava nenhuma apreensão pelo futuro. Estava bem segura de si. No seu lar, a paz e a felicidade eram tão naturais como o ar puro e o alimento são. Dava satisfação o ver-se reunida uma família como essa.

Êsses jovens eram felizes porque haviam aprendido a ciência de viver. Para êles, a vida não consistia em uma existência monótona. Verdadeiramente desfrutavam dela. Essa espécie de felicidade não se adquire por casualidade. É o resultado direto da boa administração do lar. Êsses jovens tinham aprendido que a boa saúde é a maior possessão que no mundo pode desfrutar-se. Infelizmente muitos jovens não recebem educação nesse sentido, e, como resultado, grande número dêles se está destruindo lenta mas seguramente. Não compreendem o dano que ocasionam. Tampouco sabem que a maior parte das enfermidades que achacam a humanidade podem ser evitadas se se aprende a viver em harmonia com as leis da saúde. A vida pode chegar a ser muito bela quando aprendemos a viver em conformidade com êsses princípios.

“Mas, doutor — dirá alguém — eu não nasci com sorte, como êsses jovens que o Senhor está descrevendo. Ninguém tratou de ajudar-me em minha juventude. Meu avô era alcoólatra, e mamãe, uma neurótica incurável. Posso dizer que nunca tive uma oportunidade que me permitisse desenvolver-me.”

Pode ser que o tal tenha razão. Talvez quando jovem nunca haja tido muito a seu favor. Mas, pelo menos agora tem uma oportunidade. Verdade é que alguns podem haver tido melhores probabilidades que outros. Mas por estranho que pareça, nenhum de nós teve antepassados perfeitos. E o que é pior, todos temos cometido carradas de erros. Os fracassos que nos sobrevêm na vida, nem sempre têm por origem os erros de nossos pais. Com muita freqüência se devem mais ao nosso modo errado de pensar, do que às coisas que outros possam haver-nos feito quando éramos criança.

Permiti-me contar-vos a história de um homem importante que conheci na Austrália, faz alguns anos. Sua personalidade era notável. Tinha bela aparência e mente maravilhosa. Mas nem sempre havia sido assim. Quando jovem, não fôra muito robusto. Os antecedentes familiares lhe eram desfavoráveis. Antes de cumprir vinte anos, morreu-lhe o pai, deixando-o só, com o encargo de seus negócios. Como filho mais velho, teve que cuidar da mãe e de quatro irmãos. Dêsse modo, ficou-lhe interrompida a educação normal, e teve que sacrificar uma promissora carreira musical.

A perspectiva distava muito de ser lisonjeira quando se encarregou dos negócios do pai; mas reorganizou-os e não tardou em fazê-los prosperar satisfatoriamente. Aos vinte e cinco anos de idade consideravam-no negociante de êxito. Persistia, porém, essa debilidade desalentadora, cuja causa estava oculta em algum lugar do organismo. Estava desgostoso, e também estava-o a espôsa. Mas, como era mulher que dispunha de muitos recursos, decidiu fazer todo o possível para preparar-lhe alimento apetitoso e bem apresentado, com o objetivo de estimular-lhe o apetite. Apesar de todos os esforços, enfraquecia a olhos vistos; perdia pêso continuamente e minavam-lhe as fôrças. Aos vinte e nove anos se resignara a morrer, porque nem os cuidados médicos haviam dado resultado. Davam-lhe os médicos apenas três meses mais de vida. Com espôsa e dois filhos pequenos, a situação era desesperadora.

Foi então que conhecida conferencista de assuntos de higiene visitou a cidade. Ela própria estivera repetidas vêzes às portas da morte. Na idade de nove anos, ao voltar da escola para casa, uma colega maior atirou-lhe uma pedra que a feriu no nariz e, ao atirá-la ao chão provàvelmente lhe fraturou a base do crânio. Essa senhora sofreu terríveis dores de cabeça durante anos, tonturas debilidade e dor. Experimentara, também, o que significa estar “sem esperança”. Havia-se-lhe, porém, arraigado na mente a convicção de que ninguém precisa ficar feito inválido, nada mais que por ha-ver sido ferido.

Certa ocasião essa senhora estivera tão grave que seus parentes iniciaram os preparativos para seu entêrro. Mas eis que ela fala diàriamente a milhares de pessoas! Tudo isso aconteceu muito tem-po antes dos microfones e amplificadores. Que produzira essa mudança tão notável? Descobrira ela que a vida contém possibilidades ilimitadas para todos quantos, mediante a bênção divina, viverem em obediência estrita às leis higiênicas. E dêsse modo, de uma inválida desenganada que era, restabelecera-se até chegar a ser notável autoridade em matéria de são viver.

Assim foi que êsse jovem enfêrmo e sua espôsa foram escutá-la. Seu nome era Ellen G. White. Falou ela em linguagem como nunca dantes haviam êles escutado, das possibilidades maravilhosas existentes para todos quantos vivem em harmonia com as leis pró-saúde. Infundiu esperança, mesmo àqueles que tinham aceitado a idéia de morrer.

Depois da reunião, a espôsa pediu uma entrevista com a conferencista, com a esperança de encontrar a forma de ajudar o espôso moribundo. Depois de escutar o relato, com tôda a sua aparente desesperança, sorriu, e disse: “Senhora, seu espôso não precisa morrer. Tudo o de que necessita é que se lhe dê a oportunidade de viver! Não há dúvida de que os médicos fizeram o melhor que podiam, e, segundo o seu ponto de vista, o caso não tinha esperança. Ponha agora a sua confiança em Deus. Êle a ajudará. Siga Suas normas pró-saúde, estou certa de que seu espôso se reabilitará inteiramente.”

O coração da espôsa recobrou ânimo. Voltou para casa decidida a pôr em prática as instruções recebidas. Mudou o regime alimentar da família e todos os hábitos de vida. Transformou inteiramente o lar. Os quartos que haviam sido escuros e úmidos, converteram-se em habitações claras e bem ventiladas. O Sol entrou em caudais pelas janelas, proporcionando saúde e felicidade a todos os membros da família. E em seu próprio coração surgiu a satisfação de saber que podia ter parte na obra de resgatar da sepultura o espôso.

Não tardou o espôso a recuperar-se. O regime alimentar bem equilibrado começou a realizar maravilhas. Abandonou todo hábito prejudicial e a saúde melhorou rapidamente. Depois de algum tempo perceberam os amigos que em vez de morte prematura, êle tinha perante si um futuro brilhante. Abandonou os negócios para dedicar-se a escrever e fazer conferências. Dentro de poucos anos chegou a ser tão conhecido que conseguiu introduzir reformas importantes na constituição da nação australiana.

Ao estalar a Primeira Guerra Mundial, foi conhecido como um grande defensor das liberdades civil e religiosa. Seus livros foram tão lidos, que por seus conhecimentos e experiência, os governante e dirigentes educacionais buscaram-lhe o conselho. Além do mais, era músico excelente. Fundou várias instituições importantes e realizou os primeiros avanços em matéria de medicina preventiva. Viveu vida intensa e ativa por mais de cinqüenta anos, depois de haver-se resignado a morrer! Sem sombra de dúvida, foi o homem mais enérgico que conheci; parecia não cansar-se nunca. Na idade de oitenta e um anos, efetuou uma volta ao mundo proferindo conferências para vastos auditórios na Inglaterra, Estados Unidos e outros países. Sua vida foi plena de serviços, e abundante de verdadeiras satisfações.

Certa feita eu lhe perguntei qual era o segrêdo de sua assombrosa vitalidade. Respondeu-me com as palavras da famosa conferencista: “Não há limites para a utilidade daquele que, pondo de lado o eu, deixa o Espírito Santo atuar no coração, e vive vida inteiramente consagrada a Deus. Todo aquêle que consagra corpo, alma e espírito ao serviço de Deus, receberá continuamente novo caudal de faculdades físicas, mentais e espirituais.”

Não precisava dizer mais. Êsse homem, que há tantos anos passados se resignara a morrer, era um exemplo vivo de uma tal vida. Dedicara-se inteiramente ao serviço de Deus e da humanidade. Sem dúvida, era um dos homens mais felizes, sãos e nobres que já conheci. Era muito querido de milhares de jovens, muitos dos quais ajudara pessoalmente e tornara felizes. Viveu mais de oitenta anos, e até ao fim de sua vida longa e feliz, conservou mente juvenil e vigorosa. Se não houvesse seguido o conselho que em sua juventude lhe deu a famosa Sra. Ellen G. White, nunca teria conseguido restabelecer-se e viver.

Sei que esta história é verdadeira, por tratar-se de meu próprio pai. Êste é o motivo de eu querer partilhar convosco o gôzo e a satisfação de viver vida feliz como a que êle viveu.

Por que não decidirmos agora mesmo abandonar as coisas que contaminam o corpo e destroem a mente? Ponde em Deus a vossa confiança. Esquecei o passado e tôdas as suas fraquezas. Agora mesmo podeis começar a trilhar a estrada que conduz à vida melhor, porque vós também podeis ajudar-vos na obra de gozar saúde e felicidade.